wooyoungoodlilboy

Taehyun não é muito fã de números, pois sempre se questionava se ele próprio era um ou zero. No entanto, em certo dia que a Terra congelou, por dez minutos, às exatas dez e dez da noite, Beomgyu e sua fixação por cálculos e estrelas vieram para mostrar que há lirismo e há poética e há amor bem quentinho no meio daquela miríade torpe de zero e um.

São três da manhã de algum Qualquer-Dia de quarentena. Haseul liga para Sooyoung, graças à sua insônia, e as duas divagam, pela milésima vez, sobre o que farão quando a coisa toda a acabar. Se acabar.

Às 00:00 — supondo que fosse 00:00 —, a luz, após demorar quase-uma-eternidade, alcançou com sucesso os olhos de Lee Jooheon. Assassinou o banho lunar pueril, a iluminação decadente as construções; capturou minha atenção, coração, alma. Era de um castanho-escuro, nem quente como o inferno, nem frio como o mercúrio dos termômetros. Morno. Como se todo o outono se escondesse naquele círculo nebuloso. Uma supernova achocolatada. Finalmente vi algo que me despertasse interesse.

Wong Kahei namora Jung Jinsoul: uma espécie de garota-galáxia que possui uma personalidade de acordo com cada planeta a dia da semana. Isolada graças à (hashtag) quarentena do choronavírus — e fadada em tédio, torpor e desesperanças, quase beirando à loucura —, Kahei passa a narrar, detalhe por detalhe, o seu relacionamento com o Sistema Jinsoular e as suas múltiplas facetas cósmicas.

Desde sempre a vida de Choi Beomgyu é azul: azul-melancolia, azul-pobreza, azul-mesmice. Há anos trabalhando nesse farol na pontinha da praia, com a cacofonia repetida do mar traiçoeiro e uma única canção (azul) estancada na mesma estação por eras, Beomgyu pensa que a tristeza tem o cheiro salino do mar, e a cor é o azul-insosso que lhe sufoca todos os dias.

Se Choi Soobin, com seus sorrisos (de covinhas!) e personalidade afável, é o Sol, então Choi Beomgyu, ostentando sarcasmo afiado e senso de humor meio peculiar, é a Lua, ambos unidos por rotinas ociosas do cotidiano indiferente, entrelaçados por um fio vermelho-indissolúvel… dos fones de ouvido de Beomgyu. E todas as vezes que Yang toca Yin, cálido e gentil, Beomgyu se sente preenchido, como se o desastroso encontro com Soobin resultasse num eclipse particular — um equilíbrio coberto de paz turbulenta, êxtase e noites de estrelas mecânicas sobre as pontes de um viaduto decadente e esquecido.

Quando Jinsoul mira o seu olhar cansado, bem longe de mim, é que se pode destacar um triunfo cintilante das suas íris carameladas.

Kang Taehyun, rapaz marciano de bochechas coradas e coração valente, certa tarde veranil, acorda com essa proposta tentadora: se chegasse em Urano e obtivesse um amuleto extremamente valioso que repousa nos mares gelados e anis, ganharia cinco cristais lunares, o que é considerado f-o-r-t-u-n-a lá em Marte...! A proposta é prontamente aceita, ainda que, na companhia de certo rapaz jupiteriano, a.k.a Choi Beomgyu, e dentro de uma nave-espacial feita de goma de mascar, a viagem seja bastante melancólica e desesperançosa, prontamente narrada através dos seus relatos fugazes como poeira estelar.