Nara-Camila

De repente aquela velha tristeza sem fim tomou conta de mim novamente. Sem quê nem porquê, ela simplesmente veio e disse que queria passar umas horas por aqui. Já sendo minha conhecida – até amiga, diria – deixei-a passar a noite.

Hoje eu chorei. Chorei as lágrimas que há muito estavam escondidas, sufocadas em mim.

Muitas vezes estamos parados, desanimados, sem coragem de seguir. Olhar para frente, por quê? Já que tudo o que tem lá é a mesma escuridão de sempre. Chegamos até galopando em todos os nossos erros, em cada decisão, em cada escolha.

Olhou o celular: 20h15. A essa hora ele já tinha voltado do trabalho. Começou a discar o número dele, mas desistiu. Tinham se falado muito nos últimos dias. Estava com medo de que enjoasse dela ou qualquer coisa assim.

O barulho insistente do alarme do celular já o chamava há mais de dez minutos, mas ele ainda não acordara. Chegou tarde de sua ronda na noite anterior. Agora, na verdade, deveria estar de folga, mas como precisava de dinheiro para pagar a pensão de seus dois filhos, cobria o plantão dos colegas para ganhar um extra. Aquela vadia tinha conseguido arrancar uma grana preta dele nos tribunais.

Que saudade do cheiro, do toque, do gosto. De sentir seu calor tão perto inebriando e entorpecendo os sentidos. Que falta me faz te sentir... Por onde anda? Há tempos que não ouço falar de você...

Simplesmente o Nada. É isso que percebo cada vez que olho em volta... Alguma coisa em mim mudou. Não sei exatamente o que, mas mudou... Cadê aquela garota popular da escola com seus 16 anos? Transformou-se em uma mulher deprimida e solitária...

Ela já não sabia mais como agir... Tudo parecia estranho. Todos pareciam desconhecidos. Por que sentia não mais pertencer àquele mundo? Não sabia a resposta dessa pergunta.