Fanfics de Boku no Hero Academia (My Hero Academia) - Tags Angst e Bakutodo sem o personagem Tetsutetsu sem a tag Midoriya

Shouto tem uma espécie de vida dupla.

De um lado está Momo, com quem ele é casado, e os dois estampam frequentemente as capas de revistas familiares, ostentando seu saudável relacionamento. Isso não passa de uma mera conveniência para ambos, um comum acordo.

Do outro lado, ele tem Katsuki, a pessoa por quem é apaixonado desde a época da escola, com quem mantém um outro tipo de acordo, que é difícil e doloroso para ambos, mas é o que podem fazer dentro de suas realidades

Em um mundo incapaz de reconhecer todas as formas de amor, Shouto e Katsuki irão precisar lidar não apenas com o preconceito alheio, como também com seus próprios conflitos internos para que possam encontrar a felicidade que tanto desejam.

O sangue sempre acabava nele, mas o jovem de cabelos bipartidos sentia como se fossem mãos alheias, o coração palpitando também era o seu, deveria ser, mas poderia muito bem ser o de outra pessoa. Ele estava sempre ali, mas ao mesmo tempo, não estava. Sentia como se apenas espiasse do lado de fora, como um passageiro.

Um deslize o coloca Todoroki Shouto face a face com um renomado psiquiatra, e ele aprende exatamente por qual motivo Bakugou Katsuki orgulhosamente sustenta esse título há anos.

Bakugou estava cansado de expelir tantas rosas, de vomitar tantas pétalas vermelhas como seu sangue, de olhar para o bicolor e sofrer sem a reciprocidade.

Conforme ia caindo rapidamente de uma altura que parecia nunca acabar, como em um sonho ou uma fantasia, ele via vários clipes de diversas realidades. Algumas eram linhas do tempo que havia cruzado, outras eram todas as possibilidades perdidas, ele nunca conseguia manter a conta.

A única coisa que Bakugou sabia — soube disso desde o primeiro momento — era que ele faria qualquer coisa para salvar Todoroki, mesmo que isso significasse quebrar as leis do tempo e destruir as estruturas do universo.

Após dezoito anos preso na torre com uma maldição, Shouto achou que a única companhia que teria seria novamente a flor que sempre achava misteriosamente na sua janela naquela monótona data todos os anos. Felizmente ele estava errado dessa vez.

Katsuki e Shouto construíram uma relação estável e sólida ao longo dos anos. Os dois se amavam intensamente, isso não era nenhum segredo. Eles também pareciam ter encontrado um equilíbrio entre o heroísmo e suas vidas pessoais, e sentiam-se gratos por ter um ao outro nessa trajetória. Eles tinham tantos planos. Sonhos que queriam conquistar lado a lado. Eram jovens ainda, com toda uma vida pela frente para alcançar essas coisas que tanto almejavam, não era preciso ter pressa.

Pelo menos era isso que eles achavam.

Mas a realidade da vida é frágil e bastante impiedosa, e Katsuki Bakugou, de todas as pessoas, deveria saber que nada poderia ser tomado como garantia.

Katsuki tinha um relacionamento estável e seguro com Eijirou. Não havia espaço para dúvidas e incertezas.

Ele também sabia que no momento em que visse Shouto Todoroki em sua frente outra vez, todos os "e se" que haviam sido abandonados anos atrás retornariam a sua mente.

Nem sempre as coisas são tão fáceis quanto parecem.

Naquele verão, Katsuki queria apenas que tudo voltasse ao normal. Queria que tudo voltasse a ser como dois dias atrás, quando ele, Shouto e Deku iriam pegar suas bicicletas, apostariam uma corrida até a pedreira e mergulhariam no lago para se refrescar, como sempre fizeram. E ele teria entendido os sinais, teria percebido o que significava aquela expressão no rosto do bicolor na última vez em que se viram.

Ele teria impedido tudo aquilo, se ao menos soubesse, mas agora já era tarde demais para isso. Katsuki Bakugou foi deixado com um coração partido e um buraco no peito que, honestamente, não achava que iria se fechar tão cedo, ou se um dia sequer aconteceria.

Todoroki queria, do fundo de seu coração, com todas as suas forças, dar uma nova chance a Bakugou para eles dois poderem ter uma vida juntos, felizes. Mas como o melhor aluno da turma de Física desde o fundamental, Shouto sabia que a soma de todas as forças, no fim, resultava em zero. E era isso o que bastava ele ter de conhecimento para saber que decisão tomar a respeito desse relacionamento desgastado por tantas idas e vindas.

Shouto fez Katsuki encará-lo, com as duas mãos em seu rosto; o toque de sua pele era cálido e aterrador, e ele sentia como se o gesto pudesse juntar os pedaços de si e torná-lo novamente um só. Como se a realidade ao seu redor não estivesse ruindo.

Ser um herói, naquele momento, parecia apenas uma quimera, um faz de conta infantil.