História - Your eyes dont lie - - I was loving

— Pois é... obrigada — gaguejou Camila, sem saber o que responder.
— Ah, más que distração a minha! Nem sequer me apresentei a você — disse a mulher, rindo. — Eu sou Ally Ogletree. Meu marido, Troy, trabalha para Lauren, ou pelo menos estava trabalhando. E é justamente por isso que estou telefonando para Lauren... para dizer a ele que o médico falou que Troy poderá voltar ao trabalho só daqui a um mês. Amanhã ele vai ter alta do hospital.
— Fico contente em saber que ele está melhor — respondeu Camila, imaginando se Lucy conhecia ou não o casal Ogletree
— Acho que Lauren nem deve ter contado a você o que houve com meu marido. Ele não costuma falar de trabalho em casa. Troy sofreu um acidente de automóvel e ficou muito ferido. Está hospitalizado há três meses. Lauren tem sido nosso anjo da guarda, providenciando condução para que eu vá ao hospital e volte, pagando todas as despesas.Além disso, tem feito companhia a Troy, animando-o bastante, pondo-o a par de todas as transações que vêm sendo feitas na firma e repetindo sempre que o lugar dele está garantido para quando se recuperar e puder voltar. Isso sem falar que Troy tem recebido o ordenado todo mês, apesar de não estar trabalhando. Lauren não deixa que mostremos nossa gratidão, mas para você eu posso falar quanto devemos a ela e o quanto somos gratos por tudo o que tem feito por nós!
A descrição que Ally Ogletree estava fazendo de Lauren como uma patroa atenciosa e cheia de considerações não se coadunava com a imagem que Camila fazia dela: uma mulher autoritária, mandona e impiedosa, que apesar de tudo não deixava de ter seu charme.
Ainda estava se refazendo da surpresa da descoberta desse novo aspecto da personalidade dela quando desligou o telefone e ouviu Denton entrar pela porta da rua. Ele passou por ela e cumprimentou-a com um aceno.
— Uma tal de Ally Ogletree acabou de ligar procurando Lauren — disse Camila para ele, seguindo-o pelo saguão de entrada.
— A esposa de Troy? — perguntou ele, ajeitando os óculos de aros pretos.
— É. Ela pediu para avisar Lauren que o marido dela vai sair do hospital amanhã e só vai poder voltar ao trabalho daqui a um mês.
— Ainda bem! Puxa, que alívio! — Ele ergueu as sobrancelhas num gesto expressivo. — Só Deus sabe como Lauren e eu temos trabalhado para compensar a ausência dele. Não sei se agüentaríamos por muito tempo mais trabalhando por três pessoas!
— Esse senhor Troy ocupa posição importante? — perguntou Camila, curiosa.
— Era ele que estava tratando das negociações na América do Sul, antes de sofrer o acidente, por isso Lauren teve de assumir pessoalmente o caso. Foi mais ou menos na época em que Lauren conheceu Lucy.
Assim que falou o nome de Lucy, Denton lançou um olhar arrependido e sem jeito para Camila, como se pedisse desculpas.
— Ah, sei... bem... — Camila respirou fundo, com medo que o assunto mudasse de rumo e fosse vir à baila o fato dela se ter feito passar por Lucy. Resolveu, portanto, pôr um ponto final na conversa. — Quer fazer o favor de dar o recado de Ally a Lauren quando ela chegar?
— É claro.
Lauren não chegou para o jantar. Vera e Camila fizeram a refeição sozinhas, enquanto Denton comeu apenas sanduíches sem querer sair do escritório para não perder tempo. Só por volta de dez horas, quando Camila subia as escadas para ir se deitar, é que Lauren voltou. Ela olhou rapidamente para seu relógio de pulso e disse apenas um "boa noite" com ar ausente antes de continuar até o escritório onde Denton ainda estava trabalhando.
Camila deitou-se mas ficou virando de cá para lá na cama, cochilando de leve e acordando, esperando inconscientemente ouvir os passos de Lauren no corredor. Até que uma das vezes que acordou olhou para o relógio de cabeceira. Os ponteiros fosforescentes marcavam três horas. Camila ergueu-se da cama, vestiu o roupão de cetim cor de marfim e saiu silenciosamente no corredor, pensando em ir até a cozinha tomar um pouco de leite quente para combater a insônia.
Quando chegou ao fim da escada viu que a luz do escritório ainda estava acesa. Não era possível que Lauren estivesse trabalhando até aquela hora! Era tão tarde! Na ponta dos pés Camila foi até a porta, mas assim que olhou para dentro viu Lauren sentada à escrivaninha. Sobre uma cadeira estava o Blazer dela. A camisa apertada estava aberta revelando um pequeno decote . Ela tinha um ar cansado e passava a mão pela testa enquanto falava ao telefone.
Mesmo sem ter feito barulho a presença de Camila chamou sua atenção
e Lauren olhou para ela.
— O que está fazendo acordada a essa hora? — perguntou, tapando o fone.
— Não consigo dormir... — respondeu ela com voz macia, segurando a gola do roupão para que ficasse mais fechado no decote. — ... eu ia indo até a cozinha tomar um pouco de leite quente.
— Se você fizer chocolate quente eu também tomo — disse ela, como se ordenasse, e retirou a mão do fone para continuar a conversa telefônica enquanto Camila se retirava em silêncio, indo para a cozinha.
Quando ela voltou com uma pequena bandeja, trazendo duas fumegantes xícaras de chocolate, Lauren já havia desligado o telefone. Ela passou a mão pelos cabelos e ergueu-se.
— Coloque a bandeja ali, perto do sofá.
Obedientemente Camila foi até o sofá de couro e colocou a bandeja na mesinha de carvalho que ficava bem em frente. Pegou sua xícara e ficou parada em pé, sem saber se devia ou não ficar. Lauren afundou-se nas almofadas de couro e ergueu os olhos, surpresa ao ver que Camila continuava em pé. Depois achou graça.
— Não fique aí parada como um coelho assustado prestes a fugir. Sente-se e me faça companhia.
Ela escolheu uma poltrona e acomodou-se, segurando a xícara com força para que a mão não tremesse. Lauren parecia tão cansada! Estava inclinada para frente e apoiada nos joelhos, como se quisesse evitar recostar-se e relaxar, sabendo que dormiria imediatamente.
— Você precisa mesmo trabalhar até tão tarde assim? — murmurou
ela.
— Tarde? — Ela sorriu com o canto da boca. — Aqui podem ser três horas da madrugada, mas em Londres são nove horas da manhã.
— Era para lá que estava telefonando? — perguntou Camila, admirando a mão elegante, de dedos finos, que levava a xícara aos lábios.
— Hum, hum, era — respondeu Lauren recolocando a xícara na bandeja.
Depois apertou a testa com a ponta dos dedos.
— Você está com dor de cabeça?
— Não chega a ser... É mais tensão.
Camila titubeou, querendo se oferecer para massagear o pescoço e ombros dela, para que ela relaxasse um pouco e perdesse aquele ar abatido, de cansaço. E que tinha medo que ela interpretasse mal seu interesse. Afinal, acabou criando coragem.
— Gostaria que eu fizesse uma massagem em seu pescoço?
Ela ergueu as sobrancelhas negras e olhou-a de soslaio com ar interrogativo, um certo brilho de ironia no olhar. Depois, sem dizer nada, estendeu-se no sofá, aceitando a proposta. As mãos dela tremiam quando tocaram de leve os músculos tensos do pescoço de Lauren. Então começou a massagear devagarinho e o nervosismo foi desaparecendo à medida que a invadia uma enorme sensação de prazer resultante daquele contato. A massagem foi ficando mais firme e segura e ela sentiu Lauren ir relaxando aos poucos. Quando começou a massagear as têmporas, ela fechou os olhos. Camila aproveitou para examinar com minúcia as linhas do rosto dela.
Quando percebeu, pela respiração dela, que afinal tinha adormecido, parou a massagem e contemplou-o com um sorriso, ao constatar como parecia bem mais jovem com os traços assim suavizados. Sem fazer o menor barulho foi até a outra extremidade do aposento e pegou a manta que estava dobrada em cima de uma cadeira: Voltou, passou perto do sofá abraçando a manta contra o seio e olhou Lauren com ar sonhador. Uma sensação cálida e agradável tomou conta de seu coração e uma enorme ternura a invadiu ao perceber que tinha se apaixonado por Lauren. Ela a estava amando! Aliás, só agora percebia, mas há muito tempo que começara a amá-la, só que se recusara a admitir, até aquele momento.