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História 3 Days, 1 Cat - I Am Not You


Escrita por: dear_nana

Notas do Autor


Tava demorando pra eu surgir do além com um capítulo focado em um personagem secundário.
Eu só queria entender porque eu amo TANTO escrever esses capítulos, sério, eu gosto muito mesmo :v acho que eu gosto de desenvolver personagem, hehe
Enfim, espero que você gostem, NÃO SE ESQUEÇAM DOS PERSONAGENS QUE EU APRESENTAR HOJE OK? Todos eles contribuem um pouquinho pra história :D

Capítulo 5 - I Am Not You


Naquela tarde Yunho retornou para sua casa rindo do vento. Descobriu em pouco tempo que San – o novo “servo” de seu melhor amigo – era muito gentil e divertido, principalmente quando fazia comentários que para ele eram inocentes, mas deixavam Wooyoung envergonhado sem motivo. Era muito engraçado ver o Jung sem jeito perto do espírito, ele tinha de fingir que estava confiante, mas perdia a compostura fácil fácil. Hilário o maior diria.

A casa dos Choi era um pouco distante dali, o suficiente para Yunho optar por ir de ônibus até lá. Naquele horário o transporte público estava consideravelmente cheio, eram quase sete horas e muitas pessoas saiam de seus trabalhos ou colégios, mas nada que deixasse o azulado irritado, estava acostumado com tanto movimento ao redor de si. Em seus fones tocavam algum pop-indie que nem se preocupara em lembrar o nome, apenas balançava a cabeça com a melodia viciante que grudaria na mente em pouco tempo. Revisava em silêncio os produtos que teria que encomendar para a agropecuária da família, eram mais marcas de ração do que podia se lembrar, mas cuidaria disso mais tarde. A noite já havia chegado quando desceu no ponto alguns minutos depois.

– Estou em casa. – Anunciou assim que abriu a porta de sua residência, retirando os sapatos antes de entrar.

– Hyung! – O pequeno Jongho exclamou alegremente, saltando da cadeira onde estava sentado para recepcionar o irmão.

Quem visse Choi Jongho se comportando de maneira tão adorável, nunca imaginaria que o garotinho era um peste na maior parte do tempo, sempre dando dor de cabeça para os pais e para o irmão mais velho mesmo que seu rostinho rechonchudo de nove anos o desse uma aparência serena. Dentro de seu corpo infantil tudo era uma grande bagunça.

– E ai garotão! – Exclamou bagunçando os cabelos castanhos do menino. – Como foi a tarde?

– Foi muito chata, o Seonghwa Hyung passou mais daquelas lições de história que eu não entendo. – Disse com um bico enorme. – Por favor, me leva junto com você da próxima vez, quero ver o Wooyoung também.

– Obrigada pela consideração Jongho, é ótimo saber que você gosta da minha companhia. – Disse o Park com a voz carregada de ironia.

– Não me leve a mal Hyung, mas ser bonito não te faz mais legal. – Alegou o menor empinando o nariz.

Yunho soltou uma risadinha com a astúcia do pequeno, mesmo que soubesse que aquele comportamento dificultava e muito a vida da família Choi. Foi uma surpresa geral quando, durante uma consulta ao psicólogo, o TDAH do caçula foi descoberto, o garoto sempre foi muito inquieto e ansioso em relação a tudo, reagindo mal quando contrariado e chegando a ser agressivo quando começou a frequentar a escola, mas quem iria imaginar que tudo aquilo em somatório com suas notas ruins eram fruto de um transtorno. O azar do pequeno Jongho era que os Choi não estavam dispostos a lidar consigo, mantendo o menino maior parte do tempo dentro de casa, contratando inclusive um professor particular – o respeitável Park Seonghwa, especialista em crianças com dificuldade de atenção – para que ele pudesse estudar sem trazer problemas para os pais. O irmão mais velho da família não costumava comentar sobre o transtorno, preferia fingir que estava tudo dentro dos conformes, talvez para disfarçar o quão culpado se sentia quando não podia dar a devida atenção ao menor.

– Você não terminou suas atividades Jongho, vamos nos focar em terminá-las, tudo bem? – O professor disse calmo como sempre, ajeitando os óculos redondos.

– Não diga essa palavra, me irrita. – Murmurou, voltando contragosto para sua cadeira.

– Qual palavra?

– Focar. – Pronunciou com voz enojada, revirando os olhos logo depois. – Todo mundo me diz isso como se eu conseguisse.

O jovem observava tudo calado, decidindo subir para seu quarto antes que o pai lhe cobrasse algo que havia teoricamente prometido que faria, mas nunca se lembrava de ter o dito. Foi com passos rápidos até as escadas, subindo os degraus a toda velocidade em direção ao quarto, quando abriu a porta sentiu o alívio o preencher. Mas foi uma felicidade passageira.

– Filho? Estava preste a te ligar, cadê o papel que você disse que traria? – A voz grave soou atrás de si tão áspera quanto uma lixa, quase amargurada. Yunho segurou-se para não suspirar de frustração, sabia que se o fizesse seria pior para o seu lado.

O Sr. Choi não era uma pessoa ruim, muito pelo contrário, mesmo com a aparência carrasca sempre se esforçou pra ser um bom pai, realizando os desejos dos filhos e sendo afetuoso quando achava necessário. Ele era ótimo, até descobrir que seu orgulho, o filho mais velho, era homossexual. Foi uma frustração inimaginável presenciar o homem reagir de maneira raivosa contra aquele que sempre foi “o favorito” só por causa de sexualidade, chegando a ignorá-lo por dias. Desde que contou a seus pais nada era o mesmo, apesar dele fingir ser. Pelo menos sua mãe aceitou sem problemas, a relação entre eles pode melhorar graças a isso.

– Eu não me lembro de ter dito algo assim. – Falou enquanto se virava, fazendo esforço para olhar o homem nos olhos. Sua reação foi característica, as sobrancelhas se juntaram e o lábio remexeu em reprovação. Aquilo significava algo como “eu não acredito que tenho um filho como você”.

– Você nunca se lembra de nada. – Disse rude, dando as costas para o azulado. – É melhor comprar papel para a impressora amanhã então.

Uma ameaça passiva. Foi assim que Yunho apelidou aquele linguajar, sempre em tom de ameaça ou ordem, mesmo que as palavras ditas não fossem tão hostis quanto poderiam ser. Respondeu um baixo “tudo bem, pai”, sendo prontamente ignorado pelo mesmo. Apenas adentrou o próprio quarto, batendo a porta atrás de si com toda a frustração que tinha em seu coração, estava mesmo cansado daquela relação. As vezes desejava nunca ter se assumido.

Se jogou na cama, tirando do bolso da calça o celular e procurando nele algum joguinho que pudesse o distrair, ou quem sabe o episódio de um dos desenhos bobos que assistia de vez em quando, a comédia leve e infantil nunca falhava em lhe deixar mais tranquilo. Foi enquanto procurava algo na Netflix que uma notificação acelerou seu coração: uma mensagem de um contato muito especial, salvo com vários corações. Era um garoto muito bonito e simpático, que aparecia com frequência na agropecuária por causa do enorme aquário que tinha em casa. A cada semana ele levava produtos para cuidar dos peixinhos, comida aos montes, filtros, as vezes decorações novas para o aquário e todo mês era um peixe novo que ia para a casa dos Song.

O garoto era tão adorável que foi impossível para Yunho não se ver encantado com ele, desenvolvendo uma pequena paixão com o passar do tempo. Depois que trocaram seus números passaram a conversar frequentemente, no início era somente sobre peixes, mas pouco a pouco o outro começava a demonstrar interesse pelo Choi também. Uma pena que nenhum deles era seguro o suficiente para fazer algo.

“Oi Yunho”

“Estava voltando do meu curso hoje e lembrei de você”

“Tinha um ursinho na vitrine de uma loja que era idêntico a você”

“Ele era azul e estava segurando um potinho de mel”

“Iti malia, que gay”

“Adorei”

“Pelúcias são tão fofinhas, eu teria uma coleção se pudesse”

“E daria nome pra todas elas”

“E qual nome você daria pra esse gêmeo perdido seu?”

“Hm...”

“Albert!”

“Azul me lembra Albert”

“Tudo bem então, você vai conhecer o Albert amanhã :)”

O garoto franziu o cenho, conhecer Albert? O que ele queria dizer? Estava pronto para questionar – com um sorriso enorme rasgando seu rosto – mas a porta de seu quarto foi repentinamente aberta, assustando-o com o movimento brusco. Por trás da peça de madeira branca estava Jongho com expressão assustada, os fios castanhos bagunçados, olhando para os lados como quem procura por abrigo. Com um baque mudo ele fechou a porta, correndo para debaixo da cama do irmão mais velho que nada entendia. O maior tentou até questionar, mas o outro logo interrompeu.

– Shhhh! – Colocou o indicador em frente aos lábios. – Seonghwa Hyung está uma fera comigo agora, não digo que estou aqui ou será o fim pra mim!

E sem mais explicações voltou a se esconder. Yunho piscou confuso, mas logo resolveu deixar pra lá, deu de ombros e voltou a se deitar, determinado a responder seu amado e matar de vez a curiosidade. Porém, como tudo que é bom dura pouco, o estudante levou outro susto quando a porta foi praticamente arrombada, dessa vez por Seonghwa, que não parecia nada feliz.

– Onde está o peste do seu irmão? – Perguntou soltando fogo pelas ventas. O mais novo engoliu seco, aterrorizado pela braveza daquele homem.

– Eu não sei, ele não veio pra cá. – Mentiu descaradamente. – O que ele fez?

– Esse capetinha se negou a fazer a lição e rasgou a folha que eu demorei horas pra preparar. – Disse o Park irritadiço. – Além de chamar o meu querido Yeosang de feioso, um ultraje!

– Desculpe mas, quem é Yeonsang? – O jovem perguntou hesitante.

– O meu filho é claro, o orgulho do pai. – Exibiu-o de peito estufado. – Ele é um garoto belíssimo, Jongho está alucinando por achá-lo feio.

O Choi estreitou o olhar, duvidando um pouco das palavras do mais velho, que pai não acha o filho bonito? Claro que ele faria uma boa propaganda do garoto, mas nunca se sabe. Resolveu deixar isso para lá, pois sendo verdade ou não, era rude ofender as pessoas assim, na cara dura.

– Eu sinto muito por ele e pela folha, você sabe que é difícil. – Começou meio incerto. – A minha relação com o pai também não está uma das melhores ultimamente, o transtorno de Jongho só piora toda a situação.

– Eu imagino, não deve ser nada fácil. – Colocou a mão sobre um dos ombros de Yunho, o olhando com certa ternura. – Tenho certeza que em breve as coisas vão melhorar, você é um bom garoto.

O jovem devolveu o olhar – não tão caloroso, mas pelo menos recíproco – e agradeceu, sorrindo e deixando a mostra os dentes branquinhos. Com o “sumiço” de Jongho, Seonghwa não tinha muito o que fazer na casa dos Choi, então resolveu ir embora e levar toda sua magnitude embora junto consigo, deixando a criança – que se mantinha fielmente escondida embaixo da cama – mais segura sobre a própria vida. Seu irmão subiu as escadarias com tédio, abrindo a porta do quarto de qualquer jeito.

– Ele já foi, pode sair agora. – Informou, dando passos lentos até cama.

Contudo, a demora por parte do menor foi muito mais longa do que o esperado, mesmo com a “barra limpa”, Jongho não queria sair de seu esconderijo. O hyung estranhou e muito, afinal seu irmãozinho era ativo demais para ficar quieto escondido. Resolveu conferir por conta própria o que estava ocorrendo, se pendurando nas cobertas para olhar na escuridão sob a cama. Foi então que presenciou o garotinho encolhido, algumas lágrimas escorrendo por suas bochechas vermelinhas em uma aparência febril. Espantou-se, sentindo o coração despedaçar com a cena.

– Ei, garotão. – Chamou, descendo de onde estava para visualizar melhor o menino. – Por que está chorando? O que houve?

Ele fungou, passando os dedinhos pelo rosto para enxugar as lágrimas. Vê-lo daquele jeito estava magoando profundamente Yunho, que se apressou em tirar o menino de debaixo da cama.

– E-Eu… – Começou fungando alto. – O pa-pai não gosta de n-nós.

– Jongho, isso não é verdade! O papai gosta muito da gente, ele só não sabe mostrar que gosta. – Explicou o mais velho, mordendo o lábio inferior.

– M-Mentira! – Gritou batendo o pé no chão. – Você só diz isso pra não m-me magoar porque eu sou def-feituoso!

O azulado se assustou com a declaração, arregalando os olhos ao que o menino terminou a sentença.

– Defeituoso? Quem disse que você é defeituoso? – Questionou indignado.

– Vocês sempre falam co-como se eu fosse um problema! – Acusou, lágrimas grossas molhando seu rostinho amargurado. – Papai e mamãe queriam um filho normal! Por que eu nasci esquisito?

Silêncio. Yunho não tinha resposta alguma para aquela pergunta, nem conseguia raciocinar direito o que o irmão dizia, era quase como se sua mente quisesse enganá-lo, fingindo que Jongho não estava se sentindo culpado, como se ele nem estivesse ali. A falta de resposta só deixou o menor mais frustrado, ele correu quarto à fora, deixando a porta escancarada e um choro alto e dolorido ecoar pela casa.

Yunho não podia culpá-lo. Não se sentia tão diferente de si.


Notas Finais


Espero que tenham gostado!
Até o próximo capítulo!


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