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História 3 é um número ímpar - Único


Escrita por: azul46

Notas do Autor


Ficou uma porcaria me desculpem.

18+ apenas pelo yaoi

Capítulo 1 - Único


A primeira vez que eu cogitei sentir algo a mais por Hoseok, foi aquela vez em que estávamos todos no nosso café costumeiro, conversando e fazendo apostas bobas para ver quem ia pagar a rodada de macchiato. Jimin teve a brilhante ideia de desafiar Hoseok a beijar na boca a pessoa que ele mais gostava naquele estabelecimento e o idiota realmente o fez, pegando todos de surpresa quando simplesmente virou-se na cadeira e tascou um beijo barulhento em Yoongi.

Acho que não era só Jimin, mas todos nós achávamos que Hoseok gostava daquela garçonete bonitinha que sempre ficava corada quando ele piscava de um jeito charmoso, ou quando ele jogava cantadas horríveis para cima dela. Mas não, Hoseok beijou Yoongi e todos nós ficamos perplexos, tirando é claro nosso esperto maknae. Olhei para Jeongguk e o vi rolar os olhos e continuar jogando em seu celular, como se aquilo não o surpreendesse nem um pouco. O resto de nós estava com os olhos e boca abertos e trocávamos olhares questionadores, incluindo o próprio Yoongi, que estava tão vermelho que eu quase me levantei para pegar o extintor de incêndio para tentar esfriá-lo um pouco.

Quando as coisas se acalmaram e Yoongi já estava satisfeito com a série de insultos que havia vomitado para cima de Hoseok, eu senti aquela coisa estranha no peito, algo como pequenas agulhas me pinicando simultaneamente. Então Hoseok gostava de Yoongi? Ou foi apenas uma brincadeira de mau gosto? Hoseok e Jimin sempre tiveram um senso de humor meio estranho, constantemente nos humilhando e exagerando no contato físico normal entre homens em um lugar público. Mas se isso realmente foi uma brincadeira, havia passado dos limites.

Yoongi permaneceu quieto, encarando a xícara de café com creme que ele segurava em mãos, enquanto Hoseok conversava com Jimin do mesmo jeito hiperativo e solto de sempre. Taehyung estava vendo algo com Jeongguk no celular e Namjoon estava me encarando daquela forma que ele sempre fazia quando percebia algo de errado comigo. E só naquele momento em que o vi direcionar aquele olhar para mim, eu percebi que realmente havia algo de errado.

E isso envolvia Hoseok.

 

Porém, só fui compreender realmente o que era quando na semana seguinte, no mesmo local do incidente, Hoseok apareceu de mãos dadas com Yoongi, anunciando para os céus e à terra que estava namorando oficialmente. Yoongi deu de ombros e simplesmente sentou em seu lugar de sempre, de frente para mim, o que tornava a minha situação ainda mais difícil. Hoseok se sentou ao seu lado e para a minha infelicidade não largava aquela mão magra e pálida. Eu ainda não sabia o que era aquilo que eu sentia, mas tinha certeza de que não gostava nem um pouco. Hoseok parecia estar sorrindo mais e de um jeito diferente do de antes. Frequentemente ele lançava um olhar para Yoongi e um pequeno sorriso que lhe fosse devolvido, deixava-o nas alturas e eu conseguia ver isso em seus olhos, em seu corpo, em seus movimentos e todo o conjunto de seu ser. Tudo isso doía bem fundo no meu peito, a ponto de eu achar que talvez eu estivesse doente e precisasse consultar algum médico.

 

E foi quando Hoseok deu um segundo beijo em Yoongi, que eu percebi o que era a sensação ruim que eu estava sentindo. Ciúmes. Sem perceber, franzi as sobrancelhas e deixei se instalar em meu rosto uma expressão nada satisfeita. No entanto, só percebi que estava fazendo isso quando Hoseok olhou para mim e logo desfez o sorriso. “Está tudo bem?” ele me perguntou e eu balancei a cabeça, forçando um pequeno sorriso em seguida e afirmando que sim, estava.

Mas não era só Namjoon que havia percebido que não, não estava tudo bem. Naquele momento eu tinha a atenção dos maknaes e de Yoongi. Eu em senti sufocado com tantos olhos me observando, tentando entender o porquê de eu estar de cara amarrada. Claro, eu sempre fui o mais velho e sempre tomei conta de todos, com sorrisos gentis e sinceros que apareciam em meu rosto tão automaticamente quanto essa expressão insatisfeita, que se formou quando finalmente descobri que gostava de Hoseok mais do que eu imaginava.

 

No inicio tentei ignorar tal sentimento, porque para mim era algo passageiro. Afinal, quem seria capaz de não gostar de Hoseok? Quem seria capaz de não sorrir igual um bobo vendo o garoto sorrir? Quem seria capaz de não se encantar com a sua risada escandalosa e sua gentileza com as outras pessoas? Comecei a tentar me enganar, dizendo para mim mesmo que aquilo era apenas uma fase, que aquela admiração logo voltaria a ser a nossa bela amizade de sempre. Só que ficava difícil com a quantidade de tempo que Hoseok passava colado em Yoongi, incomodando o garoto até levar um cascudo ou até ser xingado dos mais diversos nomes. E eu ficava apenas observando, nunca fui muito de falar e brincar tanto quanto os outros então era normal. Parecia normal. Ficava olhando para os dois, uma mão apoiando minha cabeça sobre a mesa de nosso “clubinho” – o sótão da casa de Namjoon – e outra se afundava em uma tigela de amendoins. Não conseguia entender por que Hoseok gostava de Yoongi, era obvio que os dois não combinavam em praticamente nada. Hoseok era barulhento e até um pouco irritante, vivia se esfregando em todo mundo e não parava quieto um instante. Já Yoongi, raramente se levantava para participar das brincadeiras e preferia ficar em seu canto, cochilando, ouvindo música ou mantendo uma conversa calma com Namjoon. Então, por quê? Seria mesmo ditado se mostrando verdadeiro? De que os opostos se atraem? Soltei um suspiro, enfiando mais uma porção de amendoins dentro da boca.

 

Tá certo que eu também não era tão parecido com Hoseok, mas nem de longe era tão rabugento quanto Yoongi. Doía meu coração quando via o mais baixo empurrá-lo para longe, ignorá-lo e direcionar-lhe palavras duras. Hoseok não merecia isso, ela era precioso e gentil demais para ter que aguentar o “para sempre de TPM” Min Yoongi, apelido dado por cortesia de nosso Jeongguk, o qual eu nem sabia que conhecia o significado de TPM. Não sei se era por causa do ciúmes, mas os dois juntos não parecia dar certo. Parecia errado e eu sentia aquelas pontadas no peito toda vez que os via juntos, toda vez que via Hoseok forçar um bico em seu rosto e todas as vezes eu via que ele estava realmente chateado. Yoongi não era para ele e eu sentia isso, mas não poderia fazer nada realmente.

 

Um dia,  fiquei cheio de guardar tantas coisas para mim, nunca fui bom de esconder sentimentos e – para o meu desgosto – sempre fui muito sensível em relação a eles. Não sabia mais o que fazer com o ciúme e com a vontade de ter Hoseok para mim, de colocá-lo nos meus braços e niná-lo até que ele dormisse. Era algo diferente do instinto maternal que eu tinha sobre os mais novos, sobre todos eles, era algo diferente. Queria proteger Hoseok de tudo, queria que seu sorriso mais sincero fosse por causa de mim, queria que sua risada escandalosa se combinasse com a minha e que ele viesse se enroscar em mim quando se sentisse carente.

Estava tão incomodado com o segredo que eu guardava que quando vi, já estava chamando atenção de Jeongguk, que no momento estava jogado no sofá, rindo de algo que provavelmente Taehyung havia mandando pelo celular.

– Diga hyung – Ele me respondeu, sem tirar os olhinhos redondos da tela brilhante.

– O que você faria se gostasse de alguém que já estivesse com outra pessoa? – Perguntei, como que m não queria nada, chegando perto dele e sentando ao seu lado. Péssimo ator que eu era, recebi um olhar torto e uma sobrancelha arqueada – Sabe, só supostamente.

– Sei – Ele bloqueou o celular e o deixou piscando debaixo de uma almofada, para prestar atenção somente em mim – De quem você gosta hyung?

– Eu disse supostamente! – Tentei ficar calmo mas, outra vez, como péssimo ator que eu era, acabei forçando demais um riso que não deixou duvidas ao garoto que eu estava mentindo – Tá você me pegou.

– Fala logo – Vi seu sorriso maroto se formar em seus lábios e respirei fundo, me perguntando mentalmente por que eu não fui dizer isso para Namjoon e não para a criança na minha frente. Provavelmente Namjoon saberia me ajudar melhor, mas no momento era isso que eu tinha.

– Eu gosto do Hoseok... – Disse baixinho e Jeongguk me lançou novamente aquele olhar, como se eu tivesse dito algo muito sem noção.

– Sério? – Ele me olhava incrédulo, sorrindo como se tivesse ouvindo uma piada muito sem graça – Tá zoando?

– Não, eu estou falando sério – Confirmei e ele soltou uma risadinha, logo ficando sério novamente ao perceber que não era brincadeira. 

– Nossa hyung, apenas... Nossa.

– Por que “nossa hyung”? Qual é o problema?

– É que foi inesperado, meio improvável até – Ele deu de ombros e pegou o celular novamente, que continha umas 500 mensagens não lidas de Taehyung – Nunca iria imaginar que você gostasse do Hoseok hyung, vocês não combinam.

– Como se ele e Yoongi combinassem... – Disse involuntariamente, tapando a boca logo em seguida. Jeongguk desviou o olhar do celular e sorriu maliciosamente para mim, daquele jeito que em lembrava que ele não era assim tão inocente.

– Hyung está com ciumes – Não foi uma pergunta e sim uma afirmação. Eu estava com ciúmes – Não que eu já não tivesse percebido antes, hyung é muito obvio.

– O que eu faço? – Desistindo, me joguei contra as almofadas – Não aguento mais isso.

– Eu não sei hyung – Ele simplesmente voltou a digitar freneticamente no celular – Eu não sei de nada lembra?

– Ótimo, estou pedindo conselhos amorosos para alguém que nunca beijou na vida – Bufei e levantei a cabeça apenas para sentir uma almofada bater nela.

– Você que pensa – O garoto sorri malicioso de novo e me mostra uma foto que Taehyung acabara de lhe mandar, com a legenda “estou entediado” seguido de uma carinha triste – Vou indo hyung, boa sorte com esse seu problema.

– Obrigado por nada – Fiz uma careta e Jeongguk me direcionou um olhar triste.

– Devia contar para ele.

– Por que acha isso?

– Não sei – Ele deu de ombros e abriu a porta de meu apartamento – Parece ser o certo, Hoseok hyung vai entender e você não precisa ter medo de estragar a amizade e blá blá blá, isso aqui não é um drama – E com isso, saiu pela porta e a fechou atrás de si.

 

Apesar de ter muita vontade de contar para Hoseok, eu simplesmente continuei tocando a vida como antes. Tentando ignorar as borboletas no estomago quando ele sorria para mim, tentando suprimir a vontade de abraçá-lo quando o via triste e principalmente, tentando controlar o sentimento ruim cujo nome era ciúme.

Tudo estava indo bem – na medida do possível – até o dia em que Namjoon teve a brilhante ideia de irmos até uma boate, já que Taehyung havia finalmente chegado a maioridade e queria comemorar de alguma forma. No começo me senti mal por deixar Jeongguk emburrado em casa, mas acabei concordando e os acompanhando até a boate que Yoongi e Namjoon frequentavam.

Estava tão escuro e tão barulhento que quando eu vi, estava sentado sozinho à mesa. Sozinho que eu digo, o único acordado, pois Taehyung estava apagado em cima da mesa gelada porque, é claro, os idiotas o obrigaram a tomar um porre. Namjoon e Yoongi haviam tomado conta do som, do palco e da mesa do DJ, Jimin estava dançando em algum lugar na pista de dança e Hoseok estava fora do alcance de meus olhos.

Ao contrário dos outros, eu nem havia bebido muito, pois era o mais velho e tinha que estar sóbrio para tomar conta dos outros. Estava quase me levantando para tirar Taehyung aquele lugar quando senti Hoseok sentar ao meu lado e colocar os braços ao redor de minha cintura.

– Hyung você não quer dançar? – Ele me perguntou rindo, claramente bêbado – Eu arraso na pista de dança.

– É eu sei, mas você sabe que eu sou péssimo – Tentei me desvencilhar dele e empurrar delicadamente, fazendo Hoseok colocar um bico nos lábios.

– Então vamos só ficar aqui – Ele se sentou o mais certo o possível ao meu lado e apoiou a cabeça na mesa – Ih olha só, Taetae apagou – Seus dedos bagunçavam o cabelo castanho do mais novo e eu não consegui segurar,mas soltei uma risada fraca – Dorme neném.

Fiquei um tempo divagando e ouvindo Hoseok falar asneiras, coisas que não faziam sentindo e cantando partes de músicas que eu não sabia se existiam ou se ele estava inventando na hora. Observava como seus cabelos negros caiam bagunçados sobre seus olhos cansados, como sua boca abria e fechava e como sua voz soava tão doce mesmo que estranha por causa do álcool. Meus olhos passavam pelas grandes curvas de suas bochechas, pelo seu nariz comprido e chegando finalmente na pintinha em seu lábio. Nunca tinha percebido antes o como o rosto comprido de Hoseok me agradava, como suas feições sempre alegres me deixavam sem ar e o quão facilmente eu me perdia no mar escuro de seus olhos castanhos. Hoseok era bonito de um jeito diferente, era charmoso sem nem tentar e beleza que vinha de seu sorriso era maior que a de qualquer modelo por aí.

Estava sorrindo sozinho e observando Hoseok, que apenas me toquei que ele estava olhando para mim quando senti sua mão quente encostar em meu rosto. Congelei no lugar, sentindo minhas bochechas queimarem e aquelas malditas borboletas fazerem cócegas em meu estômago.

Hoseok sorriu, aquele sorriso que fazia seus olhos se apertarem e que tornava possível de se ver todos os seus grandes dentes brancos.

– Jin hyung é muito bonito – Sua voz saiu rouca e grave, seguida de uma risadinha abafada e logo eu não vi mais nada.

Seu rosto estava tão perto do meu e eu sentia seu halito quente, com cheiro de álcool, bater em meus lábios e suas mãos passarem por meus cabelos. Estava em pânico. Não sabia o que fazer, só queria que Taehyung acordasse e eu tivesse um motivo para parar Hoseok. Só queria criar forças para empurrá-lo, forças para fechar os olhos e parar de sentir seu olhar pesado sobre meu. Mas nada disso veio, ao contrário, senti seus lábios finalmente diminuírem a distancia entre os meus e selar lá um simples beijo.

Acabou tão rápido como começou, um pequeno encostar de lábios, nada mais e nada menos. Hoseok sorriu mais uma vez e se aconchegou ao lado de Taehyung, caindo no sono logo em seguida.

Nunca fui de falar palavrões, mas naquele momento me permiti enterrar as mãos nos cabelos e soltar um dos muitos que já tinha ouvido Yoongi falar.

– Estou fodido.

 

E estava mesmo, porque assim que vi Yoongi, lembrei do que havia acabado de acontecer. O garoto simplesmente sorriu para mim, aquele sorriso gengival fofo que indicava que ele estava realmente feliz. Eu me senti a pior pessoa do mundo inteiro naquele momento. Depois de colocarmos os garotos adormecidos no taxi e arrastar Jimin para fora da boate, Namjoon e Yoongi não paravam de tagarelar sobre o que haviam aprontado no palco. Não prestei muita atenção, não porque eu não queria, mas porque eu não conseguia. Hoseok estava com a cabeça apoiada no ombro de Yoongi e sua mão ia solta por cima de suas coxas. Não conseguia não olhar para Hoseok e por consequência, não conseguia parar de me lembrar do beijo. Fora tão de leve e tão rápido que eu queria pensar que ele nem tivesse acontecido.

Mas eu sabia que sim, Hoseok havia me beijado.

Só que eu tinha uma desculpa, na verdade, ele tinha. Hoseok estava bêbado, não estava pensando direito. Em circunstâncias normais ele não teria me beijado, porque ele estava namorando Yoongi... Certo? Não se beija uma pessoa quando se namora outra, não é mesmo?

 

E eu achei que o beijo não fosse algo importante, até aquela tarde do dia seguinte, quando apenas Hoseok veio para o café.

Meus joelhos tremiam por debaixo da mesa de madeira do lugar. Não conseguia tomar um gole sequer do café sem pensar no par de olhos castanhos me observando. O café estava praticamente vazio, para o meu azar, e os outros garotos estavam tentando distrair Taehyung e Jimin por causa da forte ressaca que os atingiu quando acordaram pela manhã.

Hoseok mantinha seus olhos em mim, tomando um gole ou outro de seu macchiato. Instintivamente, levantei o dedo para tirar um pouco de creme do canto de sua boca. Sempre fazia isso com todos os garotos porque eu tinha uma certa mania, então era normal, mas naquele momento, tal gesto deixou o clima ainda mais tenso.  Quando percebi o que estava fazendo tentei encolher o braço e fingir que nada havia acontecido, mas Hoseok decidiu que seria legal brincar com meus sentimentos e segurou minha mão na sua, puxando meu braço e fazendo meu corpo se inclinar por cima da mesa.

E de novo senti seus lábios sobre os meus, só que dessa vez o gosto era de café e creme. Dessa vez ele moveu seus lábios um pouco e estava com os olhos fechados. Fechei os meus também e me deixei levar outra vez. Não demorou muito para ele se separar de mim, ainda segurando a minha mão.

– Por favor, me diz que você está bêbado – Disse baixinho, pedindo aos céus que ele estivesse no mínimo confuso por causa da ressaca, ou com sono, ou com qualquer coisa que eu pudesse usar de desculpa para ele ter me beijado novamente.

– Estou completamente sóbrio hyung – E ele sorriu, fazendo-me derreter com aquela coleção de dentes e com aquelas ruguinhas que se formavam sobre seu nariz.

– Por que você me beijou? – Desviei o olhar, sem força para separar nossas mãos. Sabia que era errado continuar caindo nos encantos de Hoseok, Yoongi não merecia isso.

– Ontem? – Ele perguntou e eu confirmei com a cabeça – Não sei.

– E hoje?

– Hoje foi porque eu quis te sentir outra vez – Ele dizia calmamente, brincando com a xícara sobre a mesa.

Eu estava tenso, não sabia o que dizer e nem o que sentir na hora. Metade de mim se sentia feliz por saber que Hoseok havia gostado de me beijar e a outra parte se sentia mal, por tê-lo deixado fazer isso outra vez nas costas de Yoongi. Não queria ser cúmplice nisso e sabia que eu devia parar Hoseok e fazê-lo pensar direito.

Mas não foi nem isso que aconteceu.

 

Acabamos sentados no sofá da minha casa, Hoseok abraçado em mim e desabafando diversas coisas que eu nunca imaginei que fosse ouvir de sua boca. Falava sobre Yoongi, sobre a faculdade, sobre seus pais, sobre si mesmo, seus sentimentos e tudo o que o afligia. E eu me vi ali, ouvindo e dando conselhos como sempre fazia, só que dessa vez, abraçado em Hoseok e acariciando-lhe os cabelos, como eu desejava fazia alguns dias. Ao mesmo tempo que parecia bom, eu me sentia mal por fazer aquilo. Não era nada demais mas sentia como se estivesse traindo Yoongi.

Achei que fossemos falar sobre o beijo, mas Hoseok não tocou mais no assunto. Ao invés disso, deixava mais beijos doces em minha boca e meu rosto e se aconchegava mais e mim como se estivesse me namorando, e não a Yoongi. A cada segundo eu me dizia mentalmente que devia dar um fim naquilo, mas outra parte de mim me mandava relaxar e curtir a presença de Hoseok.

E assim se sucedeu por dias.

 

Yoongi estava ocupado com o fim do semestre na faculdade, estava cheio de trabalhos para fazer e eu já devia imaginar que Hosoek recorreria a mim. Ele me chamava para tomar um café, ou me ligava e perguntava se podia passar na minha casa, ou simplesmente chegava perto de mim e se colocava do meu lado, se abraçava em mim como se fosse uma criança abandonada e eu deixava. Deixava ele fazer tudo.

Muitas vezes, Yoongi até estava presente e Hoseok ia até mim e me dava um abraço, ou ficava agarrado comigo por um tempo e o outro garoto nem ligava. Hoseok sempre se agarrava em todo mundo então ninguém realmente percebeu a diferença, apenas Jeongguk e eu, é claro, pois éramos os únicos que sabiam da minha condição. E eu não conseguia, não conseguia dar um “chega para lá” em Hoseok, ou começar uma conversa séria com ele, simplesmente não conseguia.

Sempre que pensava em acabar de vez com aquela brincadeira, eu me lembrava de seus olhos carentes olhando para mim, ou de como seus beijos me deixavam flutuando no ar, ou como seus abraços tão quentes me faziam sorrir instantaneamente. Eu era fraco. Tudo que ele não conseguia de Yoongi, Hoseok vinha encontrar em mim. Um carinho, uma palavra, um ombro para chorar, alguém que cozinhasse para ele e alguém que ficasse agarrado nele no sofá por horas, apenas ouvindo sua respiração. Hoseok estava comigo e Yoongi simultaneamente e eu deixava.

Até o dia em que não consegui mais suportar o peso da culpa.

 

Estávamos eu e Yoongi no clube, só nos dois.  Namjoon, Hoseok e os outros haviam saído para tomar sorvete e eu – por idiotice minha – resolvi ficar para trás. Yoongi estava sentado no sofá velho do sótão, entretido com a sua câmera, sem suspeitar da avalanche de sentimentos que eu guardava dentro de mim. Olhar para seu rosto sereno me dava ânsia de vomito, por saber que eu e Hoseok estávamos juntos sem que ele soubesse. A cada pequeno sorriso que ele dava ao passar as fotos, meu coração doía por pensar em quantos beijos dei em Hoseok e quantos sorrisos roubei dele, sorrisos que deveriam pertencer apenas a Yoongi.

Eu era o outro e estava deixando rolar.

O garoto então desviou a atenção das fotos e olhou para mim, uma expressão confusa e adorável em sua face pálida.

– Está tudo bem hyung? – Perguntou, deixando seu lado preocupado que raramente aparece me envolver em um mar de culpa – Você parece abatido.

– Não, está tudo bem, sério – Tentei parecer convincente a aparentemente, Yoongi acreditou, balançando a cabeça e abrindo aquele sorriso gengival novamente – Sempre que tiver algo te incomodando, pode me contar ok? Sei que você é o mais velho e não gosta de nos preocupar, mas às vezes precisamos tirar o peso das costas.

Era oficial, não podia mais guardar aquele segredo.

 

Novamente, estava batendo na porta de Jeongguk, porque ele já sabia da história e seria mais fácil contar para ele. Fora que, Namjoon é muito próximo de Yoongi ele com certeza iria me dar um sermão.

Jeongguk demorou um pouco mais abriu a porta, ele estava como normalmente ficava em casa, de regata, calça de moletom e com os pés descalços. Entrei no apartamento e notei a TV ligada em algum videogame e Taehyung jogado no sofá com um controle nas mãos, babando em uma almofada.

– E aí hyung – Jeongguk sentou-se em uma das cadeias da mesa de jantar e me encarou, percebendo que eu queria muito dizer algo importante – Pode falar, tudo bem.

– Hoseok me beijou – Disse de uma vez, rápido e sem pensar duas vezes, como se arranca um curativo – E eu deixei.

– Isso é mal – O garoto pressionou os lábios em uma linha reta e desviou o olhar – Vocês estão saindo?

– Sim.

– Yoongi sabe disso?

– Não.

– Algum de vocês planeja contar?

– Hoseok nunca tocou no assunto, mas eu sinto muita necessidade de contar só que... – Escondi o rosto com as mãos, frustrado e com vergonha de tudo que fiz – Eu não sei como fazer isso, não quero magoar ninguém e não sei como Hoseok reagiria.

– Você devia falar com Hoseok primeiro e entrar num acordo – Jeongguk disse sério, me fazendo erguer a cabeça e olhar para ele novamente – Precisam dizer juntos.

– Mas e se ele não quiser?

– Vocês não podem ficar nisso, os três precisam conversar!

– Mas e se eu quiser continuar com Hoseok? – Já estava praticamente explodindo, queria manter minha relação com Hoseok, mas não desse jeito, não pelas costas de Yoongi – Se Hoseok não está nem falando sobre isso, talvez ele esteja bem namorando ambos.

– Três é um número ímpar – De repente, escutamos a voz grave e rouca de Taehyung. O garoto estava esfregando os olhos e se colocando sentado no sofá. Encarei seus olhos sonolentos certamente com um ponto de interrogação tatuado no rosto. Do que ele estava falando?

– Traduz Tae – Jeongguk dirige a palavra para o outro e ele sorri pequeno, tirando seus olhos de Jeongguk e os voltando para mim.

– Três é um numero ímpar, um sempre fica sobrando – Ele disse, chamando Jeongguk com a mão e esperando o garoto sentar ao seu lado no sofá para continuar a falar – Nunca vai dar certo se continuar assim, não enquanto não ficar par.

Parecia bobo pensar no meu problema desse jeito, mas era Taehyung então eu não poderia esperar outra coisa. Jeongguk olhou para mim com um sorriso no rosto e concordou com a cabeça, tomando o garoto nos braços e cochichando algo para ele que eu não entendi.

É claro, três é um número ímpar. Hoseok não podia ficar comigo e Yoongi e nós três não podíamos continuar com isso, nunca daria certo. Números ímpares quando divididos, nunca dão um valor exato. Por isso parte de mim estava bem e parte não. Por isso parecia tão certo e ao mesmo tempo tão errado.

E no final, não ia dar certo de qualquer forma, mesmo se continuássemos levando as coisas como estavam.

Por que três é um numero ímpar, um sempre sobra.

 

Estava decidido, iria conversar com Hoseok e se ele não quisesse contar, eu mesmo contaria.

 

– Hyung! Mas se a gente simplesmente parasse? Eu prometo que nunca mais faço nada hyung, por favor! – Hoseok se agarrava ao meu braço e pedia inúmeros “por favor” para eu não contasse sobre nosso segredo para Yoongi.

– Não dá Hoseok, não vou conseguir continuar a ver a cara dele todo dia sem admitir o que fizemos.

– Mas nem foi nada demais, eu só estava um pouco carente hyung – Aquele maldito bico nos lábios estava lá e eu não sabia se era forçado ou não.

– Então você estava comigo porque só estava um pouco carente? – Perguntei, segurando a vontade de deixá-lo ali no meio da rua e me trancar no quarto pelo resto do dia – Hoseok eu gosto de você de verdade e por isso acabei me deixando levar, por favor não me diga que você me enganou esse tempo todo.

– Eu não te enganei eu só... Só estava confuso – Hoseok se encolheu todo e eu soltei um suspiro – Yoongi nunca tinha tempo para mim e você é tão mais carinhoso, eu me senti acolhido e seguro em seu abraço e não podia evitar mais correr para você, sinto muito.

– É eu também sinto muito – Por mais que estivesse chateado, não podia ficar inteiramente bravo com ele – Mas você tem que descobrir o que você sente.

– Eu sei.

– Você tem que escolher, Hoseok.

– Escolher o que? –Seus olhos se arregalaram e eu fiz uma careta. Hoseok sabia muito bem quando se fingir de inocente e colocar aquela carinha de “não sei de nada” no rosto.

– Entre mim e Yoongi e tem que ser agora.

– Mas hyung...

– Nada de “mas hyung” – O puxei pela orelha e fomos andando até o café, onde eu havia marcado com Yoongi para uma conversa casual entre amigos.

Mas é claro que não seria só isso.

Sabia que Hoseok era um pouco infantil, só não sabia realmente o quanto. Quando ele estava comigo e Yoongi sempre tomava o lugar dos maknaes e agia como um. Estava com a cara amarrada desde que chegamos lá e eu tinha vontade de pisar no pé dele até que ele fizesse uma cara decente. Yoongi alternava o olhar entre nós dois, sem nenhuma emoção estampada em seu rosto. Eu estava nervoso, mas determinado a fazer a coisa certa.

– Então, vocês me chamaram aqui para... – Ele finalmente quebrou o silencio, tamborilando os dedos sobre a mesa.

– Temos que te contar uma coisa – Comecei, olhando para Hoseok e o encorajando a fazer o mesmo.

Hoseok parecia um filhotinho abatido e meu coração doía no peito, mas tinha que ser feito e não poderia esperar. Queria que ele mesmo começasse a falar, já que ele era quem namorava Yoongi e não eu, mas Hoseok simplesmente ficou quieto. Sentia seu nervosismo crescer mais que o meu e seu rosto estava tão assustado que eu tive vontade de abraçá-lo e tirá-lo dali. O peso do olhar de Yoongi sobre o dele era tanto, que até eu estava começando a me sentir intimidado.

– Se o que vocês querem falar é sobre Hoseok estar me chifrando por trás, eu já sei – Tanto eu quanto Hoseok fomos pegos de surpresa. Yoongi já sabia? Jeongguk havia contado a ele?

– Como você sabe? – Hoseok tomou coragem para perguntar e Yoongi soltou um suspiro.

– Eu não sou idiota e nem cego, Hoseok – O garoto se recostou na cadeira e cruzou os braços – Estava só esperando algum de vocês tomar coragem e me dizer na cara.

– Bom, é isso – Eu disse baixo, sentindo uma vergonha que nunca havia sentido perto deles – Eu sinto muito.

– O que você vai fazer? – Ouvi a voz tremula de Hoseok meu coração se partiu em mil pedaços ao ver seus olhinhos melancólicos olharem para Yoongi.

– A pergunta é, o que você vai fazer – Yoongi respondeu simplesmente – Eu conheço vocês dois a muito tempo e eu gosto de vocês, se você tivesse me traído com qualquer outra pessoa eu já tinha te chutado faz tempo – Ele faz uma pausa e olha para mim, um tanto decepcionado – Mas eu sei que vocês devem ter uma boa razão e estou disposto a perdoar os dois...

– Sério? – Hoseok levantou a cabeça e começou a sorrir novamente, mas Yoongi continuava sem demonstrar emoção alguma.

– Apenas se você escolher de uma vez por todas o que você quer – O garoto pálido completou e Hoseok parou de sorrir. Ele alternou o olhar entre nós dois e eu me permiti sorrir, nem que fosse difícil naquela hora.

– Três é um número ímpar – Repeti as palavras de Taehyung porque era a única coisa que veio a minha cabeça naquele momento.

Hoseok sorriu, daquele mesmo jeito que sorrira para mim depois de me beijar a primeira vez, e eu sabia...

Essa seria a ultima.

 

O fim do semestre finalmente havia passado e todos nós estávamos mais tranquilos. Os mais novos estavam de férias na escola, Yoongi havia entregado todos os trabalhos e Hoseok finalmente estava conseguindo passar mais tempo com ele. Nunca mais tocamos naquele assunto, porque não precisava, estava tudo bem.

Pelo menos para os dois.

Jeongguk veio se sentar ao meu lado e se encostou em meu ombro, como ele e Taehyung sempre faziam quando me viam triste. Realmente, apesar de não sentir mais aquele peso no peito, eu ainda estava chateado por não conseguir ficar com Hoseok. Mas estava levando isso como dava, afinal, tudo havia voltado a ser como antes.

– Hyung, o que você faz quando você gosta de alguém que já está com outra pessoa? – Jeongguk me devolveu a pergunta que eu tinha lhe feito aquele dia, como se quisesse saber o qual foi o resultado daquilo tudo.

– Eu não sei – Respondi, respirando fundo e voltando meu olhar para o casal – Aceitar, passar para a próxima talvez... O que você acha?

– Eu não sei de nada hyung – Jeongguk se aconcheou em mim, mas logo se afasta, percebendo Taehyung parado na nossa frente com um sorriso no rosto. Então Jeongguk me mostrou um sorriso caridoso e seguiu com o outro para algum lugar que não me interessava.

De fato ele não sabia mesmo, e era até bom não saber. Gostar de alguém que já tem outra pessoa não é uma coisa muito boa. Eu também não sabia o que fazer, mas sabia que enquanto os números fossem pares, as coisas podiam dar certo mesmo com alguns imprevistos. Mas sendo ímpares, provavelmente não daria certo.

Por enquanto, estava bem sendo apenas um, enquanto eles eram dois. Quem sabe um dia não possamos ser quatro, ou seis. Qualquer numero par.

Porque três é um numero ímpar.

Um sempre fica sobrando.

 


Notas Finais


nem me perguntem


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