História 365 Dias de Escrita - 24 de Fevereiro

Cabine

Não quero mais isto. 

Sim, é verdade quando digo que te amo, mas sei que aos teus olhos nunca passei de um pedaço de carne bom para ser comido nas horas vagas. E me dói admitir. 

Tive de criar coragem para escrever, porque nunca consigo dizer o que preciso dizer olhando pra você. Sua presença me desconcerta e meus lábios tremem, de forma que não consigo falar uma frase completa sem me desmanchar. 

Diz que me ama, mas não demonstra o tal amor. E amor limitado ao peito para nada serve. 

Confesso que nas outras vezes eu até cheguei a acreditar que um dia você quizesse realmente ficar comigo, que me assumiria andando de mãos dadas a mim. 

Mas já fazem quase dois anos que a gente se conhece e temos que nos encontrar escondido por causa da sua mulher; por causa da sociedade. 

Sei – você sabe – que não é certo o que fazemos. Não é certo enganar alguém assim. E é por isso que não quero mais... 

Vim até aqui porque te amo, mas paro aqui porque você não me ama. 

Se amasse teria largado sua vida confortável para viver comigo, e isso não tem alguma coisa a ver com chantagem porque eu não quero mais. 

Amor tóxico faz mal, e se tu diz à tua esposa que a ama mesmo dizendo o mesmo para mim, quem garante que não fará o mesmo comigo?

Não sei o que se passa em tua cabeça e, no fundo, não me importo mais em saber. 

Eu só quero que engula estas flores e cartão –  deixados em meu portão – e vomite-os para a tua próxima amante. 

A cabine do meu peito está fechada para canalhas, então dê a meia volta e saia da minha vida. 

Não irei me lamentar por um dia ter tocado estes teus lábios, mas, acredite, este erro eu não mais cometerei.