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História 9 meses - Emergência


Escrita por: Walflarck e AnneSadWalker

Notas do Autor


Desculpem a demora para publicar novamente, nos acabamos mudando muito da ideia inicial desse capítulo, por isso acabou levando mais tempo.
Também perdi um tempo confesso na confecção do vídeo trailer que poderá ser conferido ao fim da página que está disponível no Instagram dessa fanfic que foi feito pela @AnneSadWalker.
Bom, antes de iniciar queremos apenas agradecer ao carinho de todos que acompanham a fanfic e também a nossa staff (Tamy e uma outra pessoa fofa que vamos chamar aqui de Senhorita X).
Esperamos que gostem do capítulo... Segurem os corações que temos muitos eventos em um capítulo só.

Boa leitura ❤️

Capítulo 19 - Emergência


Fanfic / Fanfiction 9 meses - Emergência

Não acordar na manhã seguinte não era uma opção, porém ela consideraria ter sido uma opção melhor se houvesse algum tipo de escolha. Lutando para sair da cama, mais especificamente de debaixo das cobertas pesadas que tinham o cheiro de Ben, Rey percebeu que o pesadelo sobre o sequestro talvez não fosse grande coisa se comparado com a realidade que teria de viver agora. 

Abriu os olhos ainda teimosamente na esperança de encontrar qualquer sinal de que tudo foi um pesadelo. A discussão na noite passada só podia ser mentira ou algum engano recheado de frases que tinham o propósito de machucá-la por alguma razão desconhecida.

A mente lutou por um resultado lógico, quando mesmo tão determinada disse na cara de Ben que o esqueceria com todas as sílabas, as vogais e as consoantes necessárias ao tentar se proteger.

Respirou fundo e a cabeça latejou em protesto pelo esforço que fez. 

O estado de esgotamento era elevado, nada diferente do que se lembrava ter sentido meses atrás. Estranho, no entanto foi notar que todo desgaste com Ben revelava apenas que mais uma vez estava de volta à estaca zero, assim com antes, quando não existia ninguém para a proteger de dívidas enormes.

O ambiente parecia reforçar isso, pois estava tudo absolutamente igual a noite anterior com o silêncio e a falta do homem que era um porto. Para completar, a bendita fadiga que vinha incomodando não parava, e já estava associada com uma dor intensa de cabeça similar a enxaqueca de um bêbado.

Tateou embaralhada a cômoda ao seu lado, buscando um equilíbrio inútil para se erguer do aconchegante espaço. Nossa! Se já estava ruim quando estava deitada, aquilo tinha piorado em 1000% seu estado ao estar sustendo o seu corpo com relutância. 

Achou que ficaria melhor ao amanhecer, mas o seu estado não alterou tanto assim. O apetite passava longe, principalmente quando com o estômago estava se revirado e ela tapava a boca sentindo que a qualquer momento algo viria de sua garganta.

Prendeu a respiração para amenizar a vertigem, imaginando se alguém chegaria a ter aquela mesma sensação se fosse atropelado por um animal grande… A resposta era um sonoro "Não" mental, que se tornava um monólogo rotineiro dela mesma a dias.

Prosseguiu instinto na ideia de caminhar. Alguma coisa precisava tornar ao lugar.

Ao sair do quarto procurou o celular na bolsa. Encontrou o aparelho rapidamente e nele cinco chamadas perdidas de Hux. Intrigante como tantos contatos por parte do ruivo foram feitos em menos de duas horas, enquanto de Ben, bom, nem sinal…

O que ela esperava? Obrigou-se a ironizar seus próprios pensamentos.

Era hora de parar de se iludir, de colocar paranóias na sua cabeça que Ben apareceria e pediria "desculpas", mesmo porque sabia que "desculpa" não era uma palavra comum ou pertencente ao vocabulário do CEO. 

Além disso, havia o outro fator de que não se tratava de uma mera discussão o que aconteceu entre eles, já que Ben foi enfático, rude e usou palavras duras a colocando na posição inferior de mera contratada.

Ela tentava se distanciar mas, de algum modo, a mente teimosa voltava para o momento na sala.

Abalada, Rey se viu discando para o número de Hux, enquanto não parava de andar pelo espaço desconfortavelmente. Em parte sabia que o incômodo era também por parte dela saber que Ben não dormiu em casa, afinal havia escutado a porta bater. Ele nem pensou e saiu a deixando sozinha na primeira noite depois de ser libertada do cativeiro. 

A princípio, os pensamentos sobre o sequestro a assombraram, e achou que não fosse capaz de dormir, porque o cativeiro que viveu seria uma amarga lembrança que a atormentaria na primeira noite fora dele. Antes do evento passado nunca sentiu medo ao dormir e essa era primeira vez que achou que fosse temer os sonhos, imaginando que de algum modo iria voltar ou retroceder ao espaço que ficou por dias. Que belo engano...  

Houve preocupações que não a deixaram em paz, claro, porém todas sobre Matt e Ben. Foi assim que se viu preencher de tal modo que o trauma do sequestro pareceu pequeno. O muito de repente se tornou pouco, e a lógica, bom, poderia se aplicar inversamente. 

Coisas foram e vieram. 

Rey entendeu então que Ben terminou o que começou, ele fez um ajuste ao seu modo grosseiro. Foi isso não foi? O discurso sobre ela ter que ir embora, apenas para recordar que não passava de uma mera funcionária com quem havia dormindo.

"Proveitoso" era o adjetivo que havia usado, não? 

Foda-se! Por que deveria se importar tanto com as palavras dele? Ele não se importava com ela, com o quanto ela... Fez o que foi preciso pensando em Matt, sim! 

Usaria o recurso que estivesse à disposição para enganar-se e ultrapassar seus limites, ela não cederia ao que sentia por ele, e se falar que só fez amor com Ben por Matt ajudaria a aliviar a dor que sentia, então usaria essa mentira como apoio quantas vezes fosse necessária para esquecer a crueldade do empresário.

Acontece que na prática tudo é mais complexo que na teoria e ela sabia que parar de amá-lo de verdade de uma hora para outra seria impossível. Para os de fora ver esse amor seria considerado masoquismo, porém para alguém que amava de verdade era difícil pontuar que mesmo machucada e trabalhando todas as necessidades de afastamento ainda havia amor e esperança. A metade da mente de Rey parecia preparada para fabricar desculpas, o coração teimoso continua a pedir ajuda e isso sufoca como se não houvesse como respirar… Como se pela primeira vez ela fosse duas pessoas em uma só como acreditava que ele também era.

Não podia simplesmente parar o que sentia por ele, mas também não podia admitir que o amava. Os seus sentimentos eram complexos e não poderiam ser considerados como macarrão instantâneo, mudando quando conveniente, com apenas em alguns minutos de estímulo.

O que aconteceu a marcou, sim! E magoou certamente também. Queria sufocar o que sentia, mas levaria tempo... O que trazia também a sensação que havia parado de respirar para vida, não de forma literal, claro, mas sentimental.

Ben era como um buraco em sua pele, a sua ferida que talvez nunca pudesse ser cicatrizada completamente. 

"Oi… Bom dia" a voz se emanou cansada na ligação. Estava tentando iniciar o dia, colocar as crenças sobre seguir em frente de algum modo em prática. Um passo por vez... "Sim, eu ainda estou aqui no apartamento do Ben, não…" Rey parou de falar por um momento. A informação cruzou o outro lado da linha, de certa forma, mais surpreendente do que confessaria em voz alta "Não, não." A negação teve notas de quem não se importava com o comentário do advogado. "Não vejo problema nisso." semelhou com indiferença, mas completou: "Na verdade, foi mais rápido que imaginei." 

Era uma concordância dolorosa, o peito dela se afundou com as constatações do que ouviu.

Na cabeça o 1% de esperança restrito ao CEO acabava de morrer. 

Era lógico que Ben queria se livrar dela rapidamente. As ligações de Hux tinham essa finalidade, não? Por que outro motivo ligar nas primeira horas da manhã e informaria que estava providenciado o retorno breve dela ao Texas para o mesmo dia, ou melhor, para dentro de algumas horas? Estava claro que a sua presença havia se tornado um incômodo.

Resignação foi que sentiu ao absorver a ideia, talvez o fato dela não ter ficado grávida tenha sido o gatilho para Ben trazer a luz a personalidade verdadeira que sempre teve.

Em conclusão, seja como for, aquilo foi o melhor, pois significava dizer que não era apenas o fim da história, também era a melhor versão a ser seguida para todos quando ela já duvidava seriamente que tivesse conseguido exercer as funções exigidas de contrato. Se era difícil naquele momento se afastar do próprio Ben, alguma coisa denunciava que com um bebê isso seria ainda pior… Afinal, depois de toda aquela confusão, não tinha como acreditar que eles seriam uma família.

"Sim, eu estarei pronta em alguns minutos, então poderemos ir ao hotel para buscar as minhas..." Foi interrompida e guardou mais uma frase do advogado. "Eu…" ficou ainda mais surpresa com a oferta que soava a algo que não deveria ser rebatido "Bom se acha melhor, então, tudo bem…" O tom contradisse a própria frase, uma vez que claramente não estava confortável. Tentava não parecer, mas estava ficando cada vez mais difícil dançar com as certezas "Não tem nada fora do lugar mesmo, você pode pegar as malas. Sem problemas..." Emendou a frase como uma desculpa quando sentiu o ruivo inquieto do outro lado da linha. 

A culpa não era dele, não precisava escutar seus lamentos.

Depois disso foi questão de segundos para Hux fazer mais alguns acréscimos de concordância e combinar sobre o horário para buscá-la e finalizou a ligação.

Estava pesada, inquieta e triste.

Tomou coragem e entrou no banheiro para tomar banho, removeu as roupas e encontrou uma mancha na calcinha que a fez suspirar… Quando isso iria para de abrigar os seus pensamentos?

Continuou a observar a mancha, calculando que a menstruação deveria estar descendo com certo atraso o que era apenas mais uma confirmação que os exames que Ben mostrou eram verdadeiros. Ela balançou a cabeça afastando o vazio do peito. Não deveria ser ruim, ela deveria estar aliviada que não teria que dar um filho a ele, então por que estava internamente tão frustrada com aquele ponto escuro no tecido, que de tão intenso lembrava uma borra de café? 

Enrolou roupa na mão, jogou fora na lixeira com agilidade. 

CHEGA! - Gerenciou a si mesma. Estava decidida a pôr fim nisso.

*

Aguardar o advogado depois do banho era parte mais prática, o que pelos seus cálculos inclusive, já deveria estar para acontecer. Errada não estava, pois nem bem terminou de arrumar os cabelos atrás das costas como uma cascata castanha, ela escutou o som da campainha tocar.

Ao abrir a porta entretanto surpresa... Achou que fosse encontrar o advogado a pronta espera, porém deparou-se com outro alguém. O homem ali estava bem longe de ser quem imagino, não apenas pelos traços e porte, mas também pelos moldes internos.

"Poe?" foi impossível omitir a surpresa que sentiu, o ar quase faltou.

"Bom dia" ele respondeu com a mão no bolso ainda. "Me convidaria?" ele indicou que gostaria de passar pela porta. 

"Ah... Bom" a mente de Rey ficou embolada com a pergunta.

A briga com Ben não foi por causa de Poe? E se Ben chegasse encontrando aquele estranho em seu apartamento com ela? Se puniu pelos pensamentos estúpidos. 

O que deveria a Ben sendo uma funcionária? Não foi ele quem passou a noite fora e que disse que eram dois estranhos?

"Claro, por favor" deu um espaço ao se afastar. "Alguma novidade sobre as investigações? Foi por isso que veio?" 

"Não" foi rápido ao afirmar "Ainda estamos trabalhando no caso", não deu grandes detalhes. "Eu vim mais para ver como estava se sentindo hoje", confessou.

"Agradeço a preocupação." Rey se sentou para terminar de organizar a bolsa. 

"Devo ter vindo em uma hora ruim, você vai a algum lugar?" indicou a ação. 

"Sim" ela confirmou. "Hux virá me buscar, eu estou voltando para o Texas hoje."

"Tão repentinamente? Antes do término das investigações?" Achou estranho. 

"Na verdade não sinto que estou sendo de grande ajuda de qualquer maneira. Isso me deixa desconfortável também, então..." Rey não queria entrar no mérito do que acontecia com Ben e isso ficou claro pela sua hesitação.

"Você e ele não estão se entendendo muito bem pelo que notei" o investigador não precisava perguntar para estar certo, ele tinha o dom de farejar o problema. Naturalmente era preparado para lidar com informações curtas e chegar às próprias conclusões.

"Honestamente não preciso mentir, mas não quero que isso seja o foco de nossa conversa." Admitiu.

"Desculpe", insistiu "É que lembrei do que falamos ontem sobre você falar que o estava ajudando em uma encenação. Isso me deixou curioso, confesso, porque seus sentimentos me pareceram reais ao falar dele, assim como me pareceu real o fato que ele estava mesmo enciumado ontem. A beijou na minha frente como se estivesse querendo provar que eu não deveria chegar perto de você." Ele tinha razão, Ben parecia com ciúmes, mas do que adiantou quando depois a desprezou? Era tudo tão confuso.

O comentário fez Rey se levantar, seja qual fosse a resposta da confusão na cabeça de Ben, a última coisa que ela queria era falar dele e do que considerava ser uma atitude narcisista.

"Não quis ser invasivo." ele se desculpou no mesmo instante. 

"Tudo bem" ela o despreocupou. "Só não quero realmente falar disso" ele anuiu entendo que não era bom insistir com qualquer comentário. 

O telefone de Poe então tocou cortando o que poderia ter se tornando um ambiente constrangedor para os dois ocupantes naquela sala. 

"É da central" analisou o visor de chamadas "Pode me dar um momento?" E Rey afirmou com um aceno para que ficasse a vontade.

O investigador então se afastou e ficou rodando de um lado para o outro quando alguém falava do outro lado da linha. Era estranho observá-lo mudar seu semblante, ele não parecia bem. Mas Rey continuou na mesma posição e o viu afirmar, se irritar, porque o que quer que tenha acontecido não era nada bom.

"Está tudo bem?" Poe andou de um lado para outro antes de olhar para ela e responder ao desligar.

"Não muito, a pista sobre o seu caso acabou de ganhar complicações."

"O que quer dizer?" Rey se pegou com surpresa. Ficou preocupada se isso envolvia Ben.

"Um dos homens suspeitos pelo rapto, ao que indicavam as pistas foi encontrado em um galpão com a garganta degolada hoje cedo."

O coração de Rey se apertou de modo estranho. 

"Não... Isso não..." A incredulidade era evidente, talvez imaginando que o caso jamais fosse ser solucionado.

Poe notou que ela estava aflita, a segurou pelos ombros levemente e prosseguiu:

"Ei… Ei… Calma…" a apertou com confiança nos ombros "Confia em mim, eu vou resolver isso. Eu prometo" afirmou quando o toque firme nos ombros dela a fizeram quase não respirar.

Poe por um momento se esqueceu que não eram tão íntimos para agir assim, e ela o olhou fixamente quando o som alto da campainha fez ambos se afastarem.

"Deve ser o Hux" disse como uma explicação óbvia, embora mais do que desconcertada.

Foi uma sorte pular o constrangimento de pedir que não a tocasse, independente da intenção.

"Eu gostaria de levar você ao aeroporto, mas isso complica um pouco as coisas. Posso te ligar mais tarde?" ela assentiu. "Te mantenho informada sobre o caso, quando houver uma pista mais concreta."

"Obrigada, Poe" ele sorriu de modo leve pela gratidão sincera. 

"Não precisa agradecer." Ambos estavam agora na porta quando Rey a abriu. 

Poe já estava de saída quando Hux ficou parado para permissão de entrada, olhando o investigador como se fosse surreal estar ali. Tudo foi tão rápido e inesperado que ela nem se deu conta quando o moreno de grandes músculos se inclinou depositando um beijo em sua bochecha na frente do homem que acabava de chegar. 

Foi a sensação mais estranha que poderia sentir. Ela nem processou ao certo o embaraço, mas o roçar da barba dele ficou todo na sua face vermelha.

"Tenha uma boa viagem" E os olhos de Hux se arregalaram para a ousadia. 

Deus! Por sorte Hux não era Ben, porque se fosse ele teria tido um comichão de raiva.

"Bom dia, Doutor" O investigador disse com um sorriso feliz e presunçoso ao passar por ele deixando a mulher encabulada.

"Ele gosta mesmo de causar impressões nas pessoas, não posso dizer que das melhores..." Sua voz era baixa e ele nem percebeu que pulou o comprimento cordial e pacífico ao passar pela porta com um ar tão cansado quanto o dela. "Está pronta?" mudou de assunto com um olhar curioso.

Rey balançou a cabeça querendo esquecer e ignorar tudo tanto quanto Hux.

"E o Ben?" O questionamento a deixou robótica. Era como se não entendesse o comando acionado em uma caixa de controles.

Jurava que o advogado melhor do que ninguém soubesse onde estava o CEO já que eram amigos e sócios… Mas a pergunta indicou que tanto ela quanto Hux, não faziam menor ideia de aonde estava Ben. 

Rey comprimiu os lábios, abanou a cabeça e deu de ombros com um sorriso sem vida -decepção-. Embora não houvesse passado por algo parecido antes, ela imaginava que era assim que alguém se sentiria se tivesse pego o namorado em uma mentira, melhor, traindo com qualquer uma...

"Podemos ir?" O aspecto dela era de cansaço extremo, enquanto estava tentando fugir dos embaraços, da tristeza, decepção e seja lá que outras infinidades de coisas poderiam ser aplicadas a situação vexaminosa.

"Claro… A propósito, você já tomou café da manhã?" Hux quis fazê-la se sentir melhor. Estava fingindo ignorar os olhos tão intensamente maltratados, a forma como Rey andava com a cabeça para baixo, como se houvesse algum motivo para se sentir humilhada.

Em parte, ele se sentia responsável pela situação desmotivadora, tendo em vista que a ideia absurda de contrato foi dele e ele praticamente foi quem por tabela uniu Ben a ela. A resolução havia resultado em nada além do fracasso, em dois corações partidos.

Ele poderia dizer algo para aliviar as coisas, justificar que tinha quase certeza sobre as ações serem mentira, mas no que resultaria senão em uma catástrofe maior? Se Ben estava mentindo o motivo não poderia ser pequeno. Armitage tinha quase certeza que apesar de Ben não ter sido aberto sobre suas motivações, a vida de Rey estava em perigo ainda.

Era melhor ser racional, pensar muito bem antes de emitir opinião ou qualquer passo descuidado para que este não terminasse em uma linha sem volta.

Articulando-se do modo mais respeitoso que podia, Hux ficou ao lado dela passando as mãos em seus ombros.

"Não tenho fome" respondeu.

"Pois eu aposto que se mostrar a coisa certa vamos mudar isso" a apoiou nas passadas lentas. "A caminho do aeroporto tem uma excelente lanchonete, você vai gostar" ele tentou ser simpático conseguindo um aceno dela, o melhor esforço que ela fazia para não se entregar ao que ele sabia estar escondido no seu interior.

Seria complicado reparar tantos danos. Pensou em tudo, a noite toda, quase não dormiu. A manhã chegou e Hux continuava com os olhos vidrados, ignorando assim sem intenção até a própria indiferença que Rose fez ao se deitar na cama ao seu lado na noite anterior. 

Decidido, ele informou ao seu cérebro que teria que lidar com uma coisa de cada vez. Primeiro Rey, depois Ben e por último teria todo o tempo e disponibilidade para Rose e o bebê, uma vez que seria definitivo.

*

Se a manhã para ela não era fácil, Ben não teve um caminho tão diferente disso como já era previsível. 

Atirado para o lado da cama que ocupava, o corpo contorcido na região lombar, Ben havia demorado a pegar no sono na noite anterior. 

Mas olhando o lado positivo de toda aquela merda, pelo menos, ele teve o alívio do colo da mãe, onde chorou mesmo que se recusando a revelar o verdadeiro problema que deixava daquele modo. 

Por sorte, Leia foi sensata e não insistiu em explorar as motivações que ele possuía para emanar tanto desespero. Concluiu, que a mãe percebeu que o apoio era mais crucial do que esclarecimentos, optando assim pela descrição. 

Leia ficou ao lado do filho a noite toda, ela nunca foi tão presente como no momento que ficou fazendo carinho na cabeça do -completo homem- que ele era, enquanto ele colocava toda a angústia que tinha para fora… Ok, não era como se os problemas no mundo fossem se resolver, como se a dor que sentia fosse parar, mas pela primeira vez, não se sentiu só, o que já significava muito.

Ainda assim o que havia de resultado da noite para ele? Logicamente, o agora...

Ben era igual a um semivivo em aparência, acordando cheio de dores no corpo, a cabeça em frangalhos e o que era aquilo em seu rosto então que acabava de ver? Nem ele acreditou. Mas nada poderia ser tão claro quanto o espelho que estava de frente da cama quando saltou de onde estava agarrado ao próprio reflexo.

Nos olhos bolsas escuras predominaram e ele nunca se viu tão negro diante da vida. Era como se houvesse levado socos, chutes, sangrado, perdido, morrido... E ele ficou espantado com suas condições, pois era como perder a si mesmo, ou um parente muito próximo, um tipo de dor que não sarava, um tipo de dor que não tinha qualquer remédio receitável ou conhecido. 

Chorar durante tantas horas o deixou daquele modo destruído, descontente e sem vida. Também não tinha ideia que tinha empregado tanto empenho ao se aliviar com o choro, mas, para piorar, sentia que ainda conseguiria extrair mais de onde veio tudo aquilo se não tivesse jurado a si mesmo que era necessário parar…

Homens podem sofrer tanto ou mais que qualquer mulher por uma causa, por isso hoje ele não sabia de onde havia saído aquela ideia ridícula que eles não se feriam, que eles eram imunes ao sentir. Ele era um homem forte, embora incompleto em alguns termos, ciente que sofrer era uma condição normal e verdadeira de qualquer ser humano decente… Deixaria o não sentir para os psicopatas como Gregoriano Snoke… 

Apesar do pensamento mortal, a raiva acumulada e a dor, sabia que havia muito no caminho que escolheu. 

Ben precisava aceitar, aceitar principalmente que estava levando o mundo nas costas, e que as pessoas precisavam e esperariam de muitas coisas a seu respeito.

Procurou o celular, ao passo que entendeu isso e a mão foi tateando os bolsos da calça sem o encontrar. Não encontrando, revirou tudo… A cama, as cômodas, o banheiro da suíte.. Nada…

Praguejou que houvesse negligenciado algo importante, quase uma parte do próprio corpo. Foi neste momento que a mãe entrou no quarto após uma batida suave. 

"Bom dia querido." O mirou da porta "Desculpe vir assim deste modo sem lhe dar tempo a se recompor." 

Ao contrário dele, Leia Organa estava bem vestida, perfumada, assertiva. E Ben recuou alguns passos antes de passar a mão no cabelo sem jeito.

Se recompor em aparência talvez fosse o de menos, ou quem sabe nem tanto o quanto esperado dado as marcas no rosto, contudo um banho já seria uma tentativa para tentar voltar a ser um ser humano.

"Eu…" precisava continuar. "Acho que incomodei com o barulho, eu estou certo?" de fato, não foi silencioso na busca, o que gerou um sorriso espontâneo na mãe.

"Está tudo bem." Ela o despreocupou achando engraçado como ficou encabulado ao imaginar que a estava incomodado. "Eu acho que estava procurando por isso." Leia estendeu o aparelho. "Caiu no chão quando você veio para quarto ontem, mas não quis entrar para devolver quando o encontrei. Você parecia precisar descansar", ele assentiu agradecido por ela pensar em tudo antes de pegar o telefone da mão macia e unhas pintadas.

"Obrigado por isso" Ben sacudiu o aparelho para ela. 

Destravou a tela para iniciar as verificações e meu deus quantas ligações de Hux pela manhã. O dedo continuou a flutuar nos históricos, mas nem um sinal de que Rey houvesse tentado qualquer contato. Ele deveria se sentir preocupado? 

"Quer saber?" Indicou o aparelho tentando não pensar. "Não faz tanta diferença" se virou colocando o eletrônico sobre a mesa. "Eu vou tomar um banho" ele disse se virando desenroscando os punhos da camisa social.

"Filho… Está tudo bem" Leia garantiu que não havia vergonha que ele admitisse estar frustrado com alguma coisa "Sinto que não recebeu a ligação que esperava, não é mesmo?" A sagacidade da mãe foi precisa.

Ben se virou de imediato achando ter as palavras suficiente:

"Não acho que seja importante, mesmo porque essa ligação não resolveria as coisas." Confessou.

A mãe sorriu novamente entendendo-o melhor do que ele mesmo.

"Eu nunca o vi assim." Precisou observar. "Eu não faço ideia do que está havendo filho, mas sei que é necessário coragem para enfrentar as coisas difíceis quando desejamos chegar a algum lugar. Você sabe disso, não sabe?" Falou francamente. "A fragilidade às vezes nos abraça, ela não é vergonhosa, na verdade muitas vezes sentir a tristeza é normal… Também necessário." Completou sabiamente "O que não podemos é deixar que ela nos tire tudo, porque não podemos voltar atrás depois que perdemos o que é preciso por nossos medos." 

Medos -pronunciou na mente-. Ela saberia ou deduzia a verdade? Ele não sabia, por isso continuou:

"Por que resolveu me dizer isso agora?" Ben ficou intrigado com o conselho. Em sua vida toda esperou ouvir a mãe sendo exatamente aquilo que estava sendo no momento, apenas a sua mãe.

"Porque você é meu filho, e eu não quero que sofra como sofri. Não quero que cometa os erros que cometi." A adição na segunda frase foi o suficiente, Ben entendeu que isso tinha algo haver com Han, muito embora não pudesse especificar os motivos ou circunstâncias de porquê. "Ande, querido, vá tomar banho. Vai se sentir melhor logo e já vou estar lá em baixo o aguardando para o café" 

Ele assentiu.

*

Rey sentou-se na cadeira pela terceira vez, depois de ter pego o terceiro copo de iogurte de morango. Bebia com calma, beliscava alimentos aos poucos, o que deixava o acompanhante com os olhos estreitos. 

Hux por outro lado estava bebendo um café puro com chantilly, olhos às vezes no telefone, outras vezes em Rey ou quando não na televisão ao fundo do estabelecimento, local onde passava o jornal da manhã. 

Os pães de queijo separados, ainda estava ali, do lado, mordidos e frescos como se ele tivesse com pena de comer todos de uma única vez.

"Eu não consegui contato com o Ben, então deixei duas mensagens para ele" indicou o mobile ao deixá-lo na mesa para dar atenção a ela.

Rey concordou apenas.

Entretida, a moça de cabelos castanhos tinha duas frutas grandes descansando no pequeno estômago junto com o iogurte. Agora abria mais uma fruta para comer como se fosse outra pessoa e não ela. De onde surgiu tanta fome para alguém que nem queria sair da cama?

"Eu disse que iria gostar da comida, bastava a perspectiva." Hux ficou feliz de ver sua amiga comer com tanta vontade. "O que isso que está chupando agora?"

"Laranja" respondeu tapando a boca cheia, enquanto gomos vinham para fora. 

"Suco de laranja não é muito ácido para café da manhã?"

"Você está tomando café puro, um verdadeiro veneno e não estou recriminando" ele riu desastrado porque ela havia ganhado.

"Ok. Você tem razão… A Rose também odeia quando tomo café puro, mas bem que ela gosta de chupar a minha boca, depois..." A texana riu repentinamente quase  cuspindo os gomos da laranja sobre Hux.

Levou guardanapo à boca e quando a sensação passou, ela ficou corada pela frase que ele emitiu sem querer. 

"Oh! Desculpe, eu acho que fui indelicado." Ele riu discretamente também, só que diferente dela por ver que Rey estava embaraçada por algo que ele não diria em uma conversa nem com Ben.

"Não… Tudo bem. É só que foi um pouco estranho saber sobre essas coisas." Engraçado, ela nem se dava conta de possuir uma vida íntima o que dirá saber sobre a vida de terceiros. Eram amigos, bons amigos inclusive, mas nunca considerou como seria a vida particular do advogado.

"Mas confesso que ainda tem algo curioso sobre vocês" resgatou a pauta.

"O que?" Hux não ficou tímido que ela estivesse curiosa agora.

"Não sei se isso seria próprio de se dizer" hesitou.

"Vamos, pergunte, nós somos amigos. Não vou ficar zangado…" E ele enrugou a testa segundos depois a observando, então repensando a frase por não ver uma reação dela.

Rey era sempre tão tímida que ele se via obrigado a estimular, por isso para tornar as coisas mais agradáveis, ele fazer um tom encenado bem perceptível.

"Aliás, eu vou me sentir ofendido se não falar o que quer saber. Mesmo que seja sobre como são meus peitos debaixo dessa camisa" ele cruzou os braços como se estivesse nu tapando os mamilos.

Rey gargalhou, como ela iria recusar depois de tamanha atuação?

"Bom…" Molhou os lábios com saliva "É que quando você e a Rose começaram a namorar de novo, você parecia bem." Observou. "Mas ontem quando você conversou comigo estava diferente."

"Em que sentido?" Hux bebeu mais um gole de seu café, e ele era tão diferente de Ben, tão fácil de conversar.

Queria que Ben fosse mais aberto como o advogado, talvez facilitasse o lado dela.

"Cansado..." Rey apertou as mãos sobre a casca da fruta que deixou o cheiro cítrico no ambiente.

"Você tem razão." Não ocultou que estava certa na análise "Mas é porquê, eu ainda, estou tentando resolver uma coisa de cada vez, embora já esteja decidido sobre algo" 

Sentia-se à vontade para falar com ela, porque a recíproca era verdadeira, e ele, Hux sem dúvidas tinha em Rey uma amiga.

"Decidi que vou pedir minha demissão da Falcon definitivamente." Rey ficou confusa.

Seria por causa dela? Das brigas constantes? Se lembrava de como ele ficou bravo com Ben a princípio por no primeiro encontro sugerir que deveriam dormir juntos. Hux estaria saindo por fracassar com ela ou por princípio sobre achar que ele não estava tratando dignamente?

O homem de repente se deu conta, a obrigação de ser mais claro o atingiu:

"Isso não é apenas pelo contrato entre vocês… É que me dei conta depois de avaliar minha vida, que o meu atual desejo é começar a ser independente do Ben, dessa companhia..." Foi bastante sincero, ainda que não revelando que isso começou pelas observações da namorada. "Artículo que também seja o melhor para o próprio Ben neste momento, ele precisa de espaço." 

No fim da frase, viu Rey moer os lábios diante dos seus olhos como se fosse um modo de contrariar inconscientemente o que dizia ou ela pensava. Não estava emitindo uma única nota de observação ou opinião, ainda assim, o seu corpo todo falava através da compressão na linha labial e o olhar de preocupação sobre ele.

Quem queria enganar? Poderia mentir um milhão de vezes, Hux saberia que ela se importa com Ben, assim como também se importava com a amizade que eles construíram.

"Entendo… Eu entendo sua apreensão mesmo não querendo dizer isso ativamente." Ele se recostou na cadeira, cansado. A observação a fez abrir os lábios na tentativa de explicar, mas ele entendia e se antecipou. "Rey, eu juro, está tudo bem não concordar." A tranquilizou "Sei que não importa as besteiras que o Ben faz, nós sempre vamos ficar preocupados com ele..." Isso o fez hesitar.

"Na verdade, ele…" Rey queria ter as palavras certas, talvez tivesse, mas algo em seu estômago queimou. Foi uma ardência tão desconfortável que causava expressão de dor.

"Rey?" A chamou.

A expressão dela foi tão esquisita que Hux ficou levemente alarmado. 

"Você está bem?"

"Estou, eu estava sem comer a algumas horas, então deve ser por isso que meu estômago está doendo agora." justificou.

"Doendo?" O ruivo continuou a indagar.

"É bobagem, nada com o que se preocupar." insistiu parando.

Uma nova onda chegou, a queimação começou a piorar e algo veio rasgando-a por dentro.

"Eu acho que comi demais" anunciou se levantando em um pulo. Foi correndo em direção ao banheiro.

"Rey?" O ruivo correu em seguida atrás dela sobressalto.

Teve que acompanhar meio caminho, ver ela sair do campo de vista em disparada, ficar do lado de fora, preocupado que ela não conseguisse prosseguir o caminho pelo estado que estava. Ele teria algum remédio para oferecer que pudesse acalmar o estômago dela? Que merda! Não, ele não tinha já que não andava com essas coisas em seu carro.

"Minha nossa!" uma exclamação foi emitida por uma mulher que acabava de sair do banheiro acompanhada de outra, roubando a atenção de Hux. "Alguém precisa chamar um faxineiro urgente… Aquela garota simplesmente lavou o chão do banheiro de vômito!" A cara de nojo denunciou toda a sua repulsa.

"Com licença" Hux teve que dizer ao ver que a garota de nariz arrebitado soava dramática em excesso "É normal passar mal às vezes, não deveria ficar recriminando, mesmo porque é um banheiro" cruzou os braços. 

"E você quem seria? Vai dizer que sua namorada lá dentro?" A segunda mulher que acompanhava a primeira se meteu sem convite. 

"Amiga" corrigiu ele ríspido.

"Muito bem, pois se quer ajudar tanto, eu recomendo pegar um esfregão" completou puxando a mulher ainda mais antipática.

Hux abanou a cabeça não entendendo nada, afinal como mulheres podiam ser tão venenosas umas com as outras? Enfim, não mudava o fato que ele estava bem mais preocupado com as condições de sua amiga.

*

Ben chegou a Falcon atrasado. Nem tinha ido ao apartamento pegar sua pasta ou qualquer outro pertence de trabalho, estava evitando voltar para casa, ou melhor, evitando encarar Rey logo após a discussão da noite, onde ele colocou um fim em tudo.

"Bom dia, Sr. Solo" a secretária pessoal cumprimentou-o ao levantar da cadeira, com um pulo ao vê-lo chegar na entrada do imenso corredor que dava a sua sala.

Ele mirou a mulher, não fez muito mais do que acenar debilmente para a funcionária pessoal, respondendo de forma fria, porém cordial ao cumprimento. 

Hoje quem estava de plantão era Helena, que estava em cima dos saltos vermelhos da Gucci, item que conseguiu comprar a algum custo com os meses de trabalho. A mulher de cabelos curtos, o seguindo de um lado para outro ao falar:

"Lilian Jones da L.Airlines chegou mais cedo para a reunião dos acionistas", correu folheando um script com lembretes que fazia todas as amanhã. "Karg Lee da multinacional de Hong Kong, também ligou mais cedo, disse que conseguiu um excelente projetista para o protótipo HB1276", continuou, o seguindo como uma sombra que disparava informações a cada meio segundo. "Catarina Vany, também pediu uma hora do seu tempo, pois está com o contrato renovado dos equipamentos que foram comprados para filial de Chicago..."

"E Hux? Não era ele quem estava cuidando disso?" A pergunta fez a secretária parar de mexer nos papeis na mesma hora, procurando na mente a resposta para a pergunta que no ideal de Solo era lógica.

Contratos eram função do advogado, não do dono da empresa em específico.

"Senhor, Armitage Hux ligou de manhã, dizendo que iria resolver um assunto que foi solicitado pelo senhor mesmo. Ele disse que ligaria para esclarecer, algo relacionado a uma viagem ao Texas."

"Ligue para o Hux…" ele pediu sem pensar, e antes da mulher se virar como se houvesse levado um choque, retrocedeu a ordem. "Não! Não ligue para ele. Isso eu resolvo depois."

Na verdade estava constrangido, com medo de falar com Hux ao lembrar de como havia saído do apartamento. Se a relação com Rey ficou estremecida, com Hux o caminho não estava tão diferente assim.

"Ligue para o Tarkin do departamento interno de controle de vôo, quero falar com ele imediatamente. Depois contate Joonas Chewbacca necessito saber algumas informações."

"Como quiser Sr. Solo", a funcionária entendeu as ordens e saiu caminhando pelo outro lado do corredor.

Ben se sentou à mesa do escritório, que parecia mais mórbido que o normal, e mergulhou no que precisava se centrar, o trabalho. Ficou assim duas horas até a entrar a secretária novamente na sala.

"Joonas está aqui" anunciou formalmente.

"Solicite que entre, por favor." imediatamente Helena indicou para que o piloto entrasse no espaço. 

O comandante estava em sua vestimenta mais característica da empresa, alinhado no terno marinho com impecabilidade. Mostrava-se a vontade para cruzar o espaço e apertar a mão do empregador apesar da situação não ser exatamente um encontro entre dois amigos.

Não era muito comum Ben Solo inclusive manter contatos diretos com funcionários, mas não existia uma cláusula que inibisse uma conversa entre eles. Além disso, Ben não classificaria Joona Chewbacca como qualquer piloto da Falcon, mesmo que não tivesse um relacionamento como o que possuía com Hux, que consideravelmente era o seu amigo mais próximo.

"Senhor?" a formalidade mostrava que o homem loiro sabia manter a compostura, uma prática quase militar, que deixava as ombreiras da farda mais apropriadas. "Deseja falar comigo?"

"Sim, Joonas. Falei com Tarkin hoje cedo. Na verdade, eu quis fazer uma consultoria sobre uma decisão." advertiu. "Foi bom estar aqui por aqui perto também, uma vez que é melhor conversarmos pessoalmente do que por telefone."

"Desculpe, senhor, não compreendo" o loiro estava nitidamente confuso. "Não entrou em detalhes no contato mais cedo e agora fala que consultou o senhor Tarkin, por quê?"

"Bom. Deixe-me explicar." Fez uma pequena pausa, solicitando que ele sentasse. "Estou precisando de um piloto de minha confiança, pois desejo fazer algumas viagens particulares e como são assuntos confidenciais, eu estou pedindo exclusividade de seus serviços ao departamento interno." Ben mostrou-se determinado ao explorar as decisões. "Acontece que também sei que este tipo de oferta pode ser declinada, uma vez que não é uma obrigação da companhia fornecer uma piloto de tempo integral para estar disponível para mim"

"Bom se era isso que o preocupava, então saiba que pode contar com meus serviços se desejar. Não me importo de estar a sua total disponibilidade." ele foi agradável. 

"Eu imaginei que não iria se opor, por isso pedi que fosse o mais rápido possível."

"Já possui alguma viagem programada?" Ben assentiu a pergunta.

"Na verdade, duas" ele materializou. "A primeira para Hong Kong" explanou pegando o funcionário de surpresa com um itinerário que exigiria muito de seu tempo de fato. 

Tudo que estava fazendo era ganhar tempo para tirar o foco que ainda poderia permanecer em Rey por parte de Snoke apenas nele mesmo.

"Precisamos dar início ao plano de trabalho. Quero que prepare tudo que necessitar para as viagens, não poderá estar em casa por algum tempo." o homem assentiu.

"Providenciarei o que é necessário, assim que o cronograma sair pode me acionar quando desejar." Ben ficou satisfeito com a disposição.

Esperava que a estratégia funcionasse, que Snoke parasse de cercar Rey e Hux, portanto o melhor modo de fazer isso era se movimentar, ativar a curiosidade do acionista perseguidor.

*

Apesar do estado de Rey ter ficado abatido nas últimas horas, ela embarcou no vôo comercial da Falcon Airlines na companhia de Hux, rumo ao Texas. A missão do advogado era simples: deixá-la em segurança sem nenhum contratempo na fazenda que nasceu e tão arduamente protegeu.

Durante o tempo no ar, Rey dormiu a maior parte do trajeto, despertando praticamente pouco antes do pouso, algo que Hux estava agradecido, porque com a amiga acordada sentia que teria muito o que administrar pelo excesso de culpa que vinha o incomodado nas últimas horas.

A comunicação com Ben também durante este meio tempo foi escassa, resumida a poucas trocas de mensagens que faziam o ruivo sentir falta do tipo de homem que seu amigo era antes do sequestro de Rey Johnson.

Ficou batucando na bandeja da aeronave, escutando música, pensando no bebê que dentro de alguns meses iria vir ao mundo e em Rose claro… Estava doente de saudades da namorada, começando assim, a pensar nos seus traços volumosos, na sua boca, no seu corpo gostoso sob o dele. Mas ao contrário do que prendia, ao bolar meios de saciar os desejos sacanas que o levavam a ignorar até o modo como Rose vinha o tratando, Hux estava do lado de Rey indo para o Texas fazendo o papel do advogado do diabo. 

Tinha feito algumas ligações nas primeiras horas da manhã. A primeira para o hospital de Matt na Suíça, a segunda para hotel que Rey se encontrava hospedada e a terceira para a central do aeroporto.

Gerir um novo contrato, um último papel que deva garantias a Texana que ficaria em paz era essencial também para conclusão do processo, então Hux vinha fazendo algumas anotações pelo caminho sobre o que deveria ser colocado na proposta.

"Já pensou em ir para a Suíça por um tempo? Acompanhá-lo?" Rey resmungou cansada no banco do carro agora.

A mente de Hux não parava, mas a dela estava lenta nas últimas horas com um cansaço incompreensível para sua agitalibilidade diária. 

"Achei que já havia dormido bastante no avião, você está bem?" ele se forçou a lembrar que ela poderia ter passado a noite em claro. "Esqueça a pergunta foi um pouco idiota" ele sorriu a olhando, nem sequer havia se mexido, de qualquer maneira.

A cabeça de Rey estava escorada no banco, seu cabelo batendo entre a orelha e a face. Os olhos cerrados dando um aspecto angelical que fazia Hux entender em parte como Ben havia achado beleza na simplicidade dela. Claro que ela tinha um coração fantástico que a faria ser desejada por muitos homens, mas ele tinha que confessar que Rey tinha uma beleza externa e natural muito agradável.

Foi como mergulhar no tempo, ele na estrada ao lado da mulher que, a alguns meses, bateu em seu carro com milhares de cenouras. Deus! Ele conseguia lembrar da cena. Ela com a cabeça colada ao volante com sangue, depois como foi a encontrar no hospital falando da dívidas de família, as condições do tio… Lembrou de quando ele a defendeu de Ben pela primeira vez… De como ela estava na festa dos acionistas linda com o vestido branco que ele ofertou a ela tão insegura sobre si mesma ao mirar os demais…

Ela estava diferente, ali, agora, em sua visão. Embora, Rey fosse o que ele teria descrito como 'ela mesma' em muitos aspectos, algo havia mudado naquela mulher jovem...

Céus! Hux censurou-se em seguida porque estava ficando filosófico demais de repente sobre quem protegia.

Adorava Ben como um irmão, agora, ele também adorava Rey por ser tão carismática e ele queria muito conseguir fazer algo pelos dois, mas Rose estava do outro lado mostrando como era o amor e a formação de uma família, tudo que ele pela primeira vez não podia abrir mão. Isso era confuso quando ele se pegou pensando. Quem era ele ali naquele volante? Advogado? Amigo? Ninguém em especial?

Quais responsabilidades eram realmente dele? Achava que estava determinado a deixar a Falcon como coerentemente discursou ao quatro ventos para ele e para acompanhante, então porque olhar para Rey fragilizada o fazia querer voltar atrás, pisar em ovos com Rose sabendo o quanto errado isso poderia ser?

Hux dirigiu perdido entre os pensamentos e encontrou o caminho dentro da estrada, esperando resposta que não chegaram nem quando avistou a fazenda aparecendo no fim da tarde.

"Rey?" ele mexeu levemente no cabelo dela para a acordar assim que estacionaram, expondo a face branca. "Rey?" A face de Hux ficou mais próxima e ele a viu se contorcer em protesto como uma menina. Quis rir de o quão frágil ela era nessa situação, mesmo lembrando o quão forte e terminada poderia ser no seu papel, principalmente sempre que Ben a intimidava colocando-a no papel de mera contratada.

Rey abriu finalmente os olhos de repente com uma coceira na bochecha, Hux se assustou nesse momento pela proximidade, o que fez levantar a cabeça tão rápido que bateu no teto do carro.

"Aí." Protestou colocando a mão no local.

"Meu Deus, está bem? O que estava fazendo?" Ela nem bem prestou atenção já estava rindo dele, que ria de si mesmo ao mesmo tempo pelo embaraço.

"Desculpe iria te carregar até a sua casa se não se levantasse"

"Já chegamos?" Ela ficou mais surpresa quando ele anuiu com a cabeça dolorida.

"Sim, nós chegamos."

O som dos insetos, dos animais maiores preencheu os ouvidos da mulher que finalmente foi saindo do carro com uma expressão indecifrável.

"E você já vai embora?" Ela indagou com o olhar perdido quando ele também saiu do automóvel, batendo a porta do motorista.

"Assim que terminar de colocar suas malas lá dentro" ele afirmou.

"Não posso te oferecer um café? Um tempo pelo menos? Veio de tão longe, você deve estar exausto, principalmente depois de dirigir por tanto tempo.

Hux assentiu achando que não seria tão ruim assim ficar, uma vez que ele realmente precisava de alguns minutos para se recompor.

*

Depois de organizar as malas e tomar um café, Hux e Rey saíram para caminhar no espaço amplo do campo verdejante nos domínios da fazenda. O sol ainda estava no horizonte, mas seus raios eram amenos, beijando cada folha como se estas fossem um rio verde que vibrava com a brisa. Foi por isso, não foi? Foi por isso que estava ali divergindo da intenção de voltar logo. 

Acabou se conformando que o cansaço o vencia, que as coisas estavam mudando e que ele tinha medo dessas mudanças. Postergar pareceu mais viável, mesmo porque ele não sabia se Rey estava bem o suficiente para ficar sozinha depois daquela manhã. Além disso, ele estava se sentindo mais confortável do que jamais esteve em meses, talvez isso fosse por ela e pelo ambiente pacato.

Mudou de ideia, resolveu voltar para Nova York apenas no dia seguinte e Ben que se conformasse com isso, afinal a ideia era dele em princípio. 

Relaxou.

O cheiro que se emanou do campo era muito agradável, também o clima, porque o céu parecia livre de qualquer estrutura para atingir os corpos com força. 

A poucos metros observava um animal de couro manchado galopar a frente, feliz. O relincho demonstrava a alegria por ter a dona de volta, a mesma que observava-o exibicionista e exagerado, debruçada na cerca sobre a régua de madeira, com os cabelos ao vento. 

A expressão era serena e deixava Hux mais aliviado, embora estivesse preocupado ainda com a saúde dela desde as últimas horas.

"Eu senti tanta falta disso" ele não pensou encontrar uma verdade tão triste nos olhos verdes, marejados levemente pela brisa de vento e as emoções que irradiava de Rey. 

"Por mais incrível que pareça, eu também. Eu senti falta da fazenda mesmo nunca tendo ficado tempo o suficiente para desfrutar de tudo isso."

Foi gentil a observação e eles riram um para outro, um tipo de risada baixa, acanhada e um tanto cúmplice. 

O sol laranja-avermelhado tingia o firmamento de cores quentes como Hux nunca viu, a cada segundo se surpreendia mais. Ele quase resfolegou de pensar se o pôr do sol em Nova York era bonito assim, e se sim, talvez ele nunca tirasse tempo para apreciar a magnitude da natureza. Sempre de cabeça baixa mirando o aparelho celular, ocupado demais com os relatórios e contratos para prestar atenção ao redor.

Suspirou e mirou Rey de olhos fechados, sentindo o mormaço esquentar a pele dela e os cabelos finos voando com a brisa do ocaso, causando embaraços nas ondulações longas. Um enrugar nas sobrancelhas de Rey cortou a beleza da cena, era como se estivesse sentindo novamente muita dor. Hux não sabia dizer se a dor era física ou emocional. 

"Rey?" Parecia virar um hábito falar o nome dela tão espontaneamente como quem desejava atenção para checar se podia ajudar.

"Eu nunca me senti assim antes" a confissão era necessária.

"Se você ainda não está bem nós deveríamos ir ao médico logo." Colocou as palavras sem entender os motivos da frase.

"Não. Não é sobre isso que estou falando", sorriu, usando a mão para proteger os olhos da luminosidade forte enquanto o mirava. "Digo que nunca me senti assim sobre poder dividir meus medos, gostos e bobeiras com alguém." ela o cutucou com o cotovelo. "Eu nunca tive amigos, e os que tive me traíram… Voltar para cá só me faz lembrar disso a todo o momento."

"Não eram seus amigos, não de verdade" foi sincero. "Amigos não traem amigos. Essas pessoas que conheceu antes poderiam ser qualquer coisa, menos seus amigos. Mas não se assuste, é fácil ter pessoas querendo se aproveitar das outras e não pense que seja a única a sofrer por causa delas" Rey assentiu, concordando. O mundo de fato era cruel demais, cheio de pessoas dispostas a prejudicar os outros por caprichos.

"Independente do passado, eu me sinto bem agora... Saiba que, você é alguém que quero por perto mesmo depois de toda essa loucura de contrato ter terminado." 

Hux não evitou o sorriso enquanto apoiava o queixo barbudo sobre a madeira. Algo em seu ego estava inflamado por ela. 

"Eu também, Rey" eles continuaram a mirar o sol como uma boa dupla.

*

O amanhecer na fazenda era diferente do que ocorria no turbilhão da agitação da cidade, e Hux havia ficado pela noite, com o retorno programado pela manhã deste dia. Mas agora aqui estava ele, sentindo o cheiro dos grãos naturais de café se espalhando no ambiente da sala composta de madeira. As pálpebras se agitando e a retina demorando a se ajustar e ver Rey de costas com o cabelo preso em coque. 

"Bom dia, eu dormi muito?" ele se sentou no sofá quando ela colocou uma caneca branca a seu alcance com uma bebida preta;

"Sinceramente?" ela perguntou quando ele procurou o relógio de pulso "Não tanto quanto eu."

"Porra!" Ele disse indignado consigo e se levantando com um salto. "Nem acredito que dormi tanto."

"Apenas um pouco. Você estava tão tranquilo que fiquei com pena de o acordar, você está chateado por não tê-lo o feito?"

Ele apertou os olhos. A culpa não era dela se ele perdesse o avião, a culpa era dele mesmo que resolveu relaxar mais do que deveria ter relaxado, porque era um dos poucos momentos que podia se sentir um ser humano.

"São 09:00 AM e isso quer dizer que não chegarei a tempo, mas está tudo bem se pegar o avião da tarde..." se mexeu sentindo a vértebra reclamar no balanço do corpo. "Oh merda!" por pouco não foi um palavrão pior quando a dor se irradiou o incomodado.

"Certamente foi o sofá" ela percebeu o impediu de continuar o movimento, se sentando atrás dele. "Fica pior se mexer muito." Tocou nas costas do ruivo onde imaginava estar o problema. 

"Esqueça..." Ele pareceu uma criança brigando consigo mesmo em um resmungo inconformado. 

"Desculpe..." ela disse simplesmente envergonhada, por mais que a chateação dele não fosse com ela se sentia responsável pelo desconforto dele. "Foi por minha culpa o modo como dormiu."

"Não se desculpe, já disse que não é responsável pelas minhas escolhas" pediu rapidamente segurando as mãos dela ao se virar com calma e tornar a se encostar no sofá que o maltratou. 

Depois que ela o massageou até ficou mais suportável se mexer. 

"A culpa na verdade é minha. Sinto muito por toda essa confusão." admitiu. "Na verdade acho que estou irritado, porque só queria ter realmente feito a coisa certa para todos."

"Você fez" estava sinceramente grata. "Não perdi essa fazenda e o meu tio tem um tratamento hoje graças a você."

"Eu sei, mas não foi o suficiente para mim" estava pesado por dentro e por fora. "Acredite mim, se tivesse havido outro modo..."

"Não havia" ela o consolou "Sabemos disso, então não se culpe por coisas que não dependente de você também." Rey era quem estava pedindo. "Talvez o melhor nesse momento seja deixar como está. Sinceramente nem sei como ficam as coisas agora... A minha vida... Meu tio..."

"Quanto a isso, bom, eu tenho que falar com você. Eu já  emiti um novo contrato para você assinar pela noite." Ele falou. "Troquei poucas mensagens com Ben durante o trajeto para cá ontem, ao que parece ele estava resolvendo sobre algumas viagens de negócios. De qualquer modo disse que poderia adicionar ao contrato o que fosse necessário para garantir que possamos continuar a ajudar no tratamento do seu tio, um tipo de bonificação pelo incómodo, ou seja lá, o que ele classifica ter feito com você."

O brilho no olhar dela ficou quase escuro de tanta tristeza. Ele entendeu. Ela estava percebendo que Ben estava seguindo a sua vida e levando adiante, quando ela se sentia apenas uma lacuna.

"Na verdade..." Hux queria falar, não suportava vê-la daquele modo.

"Não... Não precisa explicar." Rey pediu se levantando repentinamente. 

"Olha, eu sei que..." Hux viu a garota vacilar em pé e se levantou rápido a segurando antes que perdesse o equilíbrio, a pele dela estava gelada quando a tocou "Rey? Está bem?" ele estava ficando preocupado com ela de verdade. Seria algum tipo de sintoma de desidratação? Sobrecarga emocional? "Estou começando a ficar alarmado com a sua saúde, você parece muito doente."

"Não foi nada" ela insistiu do mesmo modo que havia feito horas antes de estarem ali. 

"Rey sei que você está passado por muita coisa ultimamente, então ao menos como um amigo que quer o seu bem, deixaria-me ajudar?" ela assentiu, realmente não se sentia em condições de fazer nada naquele momento.

Hux se adiantou para a saída ao lado dela, que andou mais lentamente. 

"Espere, eu vou abrir a porta do carro para você. O sol está bem forte."

A deixou de pé entre as escadas de madeira e o carro estacionado, às mãos nervosas erraram o buraco da chave pelo menos três vezes. Mulheres doentes o deixavam nervoso, como Rose nas primeiras semanas de gravidez, pois ele ficava em pânico por não saber o que fazer com a pessoas, e bom, se havia um bom senso nesta conclusão é que estava na profissão certa, afinal ser advogado não o obrigava a socorrer enfermos. 

Do outro lado, Rey se esforçava para se manter firme e equilibrada, nunca havia se sentido assim, mesmo porque a noite havia sido péssima também, o que adicionava duas eventualidades em uma. As reviravoltas no estômago que duraram mais de vinte e quatro horas a fizeram correr diversas vezes até o sanitário para vomitar, até mesmo quando já  não tinha mais nada dentro do estômago para pôr para fora. 

Murmurou alguma coisa, quando sentiu uma pontada no baixo ventre. Levou a mão até a área que estava levemente dolorida e inchada, algo que ela reparou na noite anterior, mas que por não ser como a dor que sentia agora e por não querer incomodar Hux com um mero desconforto referente  às suas questões menstruais, deixou de lado. Mas agora era tão intenso que a fazia querer gritar...

Outra pontada mais forte a fez se curvar soltando finalmente um brado de dor, Rey  se curvou, de joelhos e segurou o ventre com força, as coisas estavam ficando confusas em sua mente.

"Rey?" Ouviu a voz muito distante e de forma vertiginosa,  embora Hux já estivesse perto o suficiente para ampará- la em seus braços.

*

O caminho para o hospital passou como um raio ao qual ele não conseguiu perceber quando seu único foco foi tirá-la o mais rápido que podia da fazenda. Embora o caminho fosse longo, ele achou ter chegado em menos de trinta minutos no local. 

Agora, extremamente preocupado e nervoso se pegou esfregando o rosto com as mãos,  quando notou estar chorando, Por que estava se sentindo responsável? Deveria ter deixado que ela ficasse em Nova York a viagem para aquele lugar deveria ter piorado seja lá o que ela tivesse. 

Céus, ele estava se culpando diversas vezes, porque era muita pressão. Ele sempre de algum modo era o ponto racional. 

Se não fosse por Ben, ele sem dúvidas teria agido com mais cautela, prestado atenção nos sinais, mas ao invés disso, ele estava ali no hospital, em uma sala de espera aguardando qualquer tipo de notícia. Irritado e gritando com qualquer um que ligasse para ele.

Hux não queria ser incomodado, pois se sentia triste pela amiga. Se fosse ele em uma situação similar, o hospital ligaria para seus pais, sua namorada ou até mesmo poderiam ligar para Ben, mas e Rey? Para quem ligariam se ela estivesse sozinha? Se ele já tivesse partido, ela estaria sozinha e desamparada, exatamente como prometeu que não a deixaria.

Rey não possuía família ou amigos próximos, não o suficiente para apoiá-la como confessou na última conversa com ele.

O aperto no peito o fez levantar depois de meia hora aguardando na sala.

Poderia jurar que suas pegadas pesadas estavam perfurando o chão branco da enfermaria de tanto que caminhava apreensivo pelo local.

"Céus,  eu devia tê-la feito parar em um hospital mais cedo, antes que as coisas chegassem a esse ponto." dialogava ignorando os olhares do outros acompanhantes daquela sala, que assim como ele aguardavam notícias de algum paciente.

Achou que àquela altura, já deveriam ter coletado o sangue dela e levado para alguma análise. Por que estavam demorando tanto?

O médico que fez exames biológicos e práticos nela, finalmente chegou, depois de quase Hux pensar que poderia invadir uma sala para exigir algum tipo de notícia.

"Sr. Hux?" ele foi até homem com agilidade "A paciente foi diagnosticada com um inchaço abdominal proeminente e dores intensas na região. Já foi medicada e também tivemos que aplicar um calmante leve, pois estava bem nervosa depois que a tiramos de perto de você. Ela sofreu algum trauma recente? Suspeitamos que possa ser um quadro de estresse pós traumático."

Hux lembrou do sequestro que sofreu, de Ben a destratando, Poe a cercando e dele mesmo tentando tirá-la de Nova York… Do tio enfermo dela. O que ele diria ao homem? A vida de Rey era uma bagunça insuportável que nem ele fazia ideia de como ela suportava, porque em seu lugar não teria suportado.

Anuiu brevemente com a cabeça.

"Muito bem, ao que parece seu quadro está estabilizado, principalmente depois de conter o sangramento que detectamos nos exames. Mas precisamos de mais tempo para estabilizar a paciente. Ela deve ficar em observação para garantirmos que não houve consequências maiores."

"Sangramento?" Estava perturbado "Não entendo. Ela esteve nesse hospital a algumas semanas.  Foram feitos exames, não é possível que ela tenha ficado tão doente em tão pouco tempo." Hux murmurou pensativo.

"Mas ela não está necessariamente doente, Sr. Hux" o ruivo ficou surpreso.

"O que quer dizer?"

"A paciente está grávida." Revelou o médico.

*

A psicanalista, Rose Tico estava tendo uma manhã daquelas, nem bem chegou ao escritório e viu as inúmeras ligações perdidas de Armitage. Ignorar foi fácil, afinal, estava completamente chateada com o vai e vem do trabalho dele, assim como o fato que Hux passava mais tempo no escritório ou no apartamento de Ben, do que em casa com ela.

Dessa vez, o ruivo tinha ultrapassado a exosfera da tolerância "Rosística", quando optou por fazer um itinerário que incluía uma viagem ao Texas. Tudo bem, trabalhar era algo comum, ela também trabalhava, mas o advogado já havia passado dos limites a tempos.

Retirou os óculos que usava e colocou na mesa, do lado do notebook, ao qual usava para escrever sobre uma pesquisa recente de seu campo de atuação.  Análises sobre como sonhos podem afetar a qualidade de vida das pessoas, em mais específico os pacientes com que conviveu durante os últimos 5 anos.

Nem tudo era preto no branco, curto ou longo, e isso demandava tempo para analisar com calma. Se tudo desse certo, inclusive iria apresentar uma dissertação em Atlanta em um fórum de psiquiatria e psicologia aplicada.

Continuou a navegar pelos dados, planilhas, sites e até vídeos antigos que havia feito após sessões quando se deparou com um descritivo não tão antigo sobre uma pessoa, que indiretamente a tirava do sério.

"Achei que havia apagado esse ficheiro" Teve que recolocar os óculos novamente para ler o que escreveu.


Apontamentos sobre a última sessão me levam a crescente que os complexos deste homem devem ser profundos. 
Dificuldade de extrair emoções, impulsões para resguardar informações. Apresenta impaciência ao falar sobre si mesmo, embora use-se de palavras em tom supérfluo e dissociado, sem grandes detalhamentos pessoais. Intenso quando quer e curioso, no entanto que os estudos seriam mais simples se Ben Solo apresentasse maior disponibilidade para a cooperação na sessão, o que não o faz.
Está foi a quarta visita depois de dias de ausência, ele continua do mesmo modo como das outras vezes. Assim como nos acompanhamentos anteriores, ocultou o que o incomoda sem demonstrar o que afeta de verdade. 
Concluo, mesmo assim, que os seus pesadelos são reflexos inconsciente de um fator externo. 
Os fatos de medidas desesperadas geram na parte sensorial uma sensação confusa de perigo, o que o leva a recordações antigas e profundas. Ele permanece a não dividir comigo em nenhum aspecto o que aconteceu com ele, mas detecto que são memórias tão primárias, que fica evidente que esse trauma se relaciona a infância. 
A minha pergunta agora é: Por que ele continua a ter tais lembranças durante o sono? Por que esse trauma o afeta tanto e parece fazer parte de algo que construiu sua própria personalidade? No meu singelo parecer superficial, se remete a uma tentativa desesperada de proteção.


A mulher batucou com os dedos nas teclas pensativa. Era muito inclusivo ao que vinha fazendo até ali. Havia no entanto alguns poréns... O principal, que parou de estudar Ben por causa do que vinha sentido com Hux, o que indicava uma péssima coisa da qual sabia perfeitamente. 

A mistura de sentimentos e ressentimentos não era saudável para o trabalho dela.

"Molly" apertou o bipe da secretária com a intenção de comunicar. "Suspenda as minhas próximas consultas, eu estou de saída."

O que Rose tinha na cabeça a ajudaria não somente a avançar em respostas, mas também era confronto sobre seus sentimentos torcido por Hux e por ela mesma. 

Pegou a bolsa branca na cadeira e saiu do escritório rumo ao lugar que menos achava provável de pisar.

*

Antes de entrar na sala que Rey estava Hux comunicou-se com o escritório da Falcon Nova York, solicitou a um assistente, que este imprimisse documentos e levasse a reunião programada às onze da manhã daquele dia, bem provável que Ben nem estivesse na reunião, uma vez que deveria estar a caminho da China pelo que ouviu falar.

Tornou a ignorar tudo, se voltando para as particularidades de informações que agora possuía em mãos. Rey estava grávida? Como era possível? Até onde ele sabia os procedimentos de inseminação haviam sido um fracasso sem tamanho.Como era possível que houvesse um bebê dentro dela? Somente podia ser um engano.

Ele estava confuso, tentando juntar as peças também cogitou se ela não havia sofrido algum tipo de violência no cativeiro e isso o fez sentir-se enjoado só de pensar, não, ela não podia ser vítima de tamanha crueldade, mesmo porque pelo que médico falou ela teria quase 3 semanas. Neste caso não seria possível ser filho de um sequestrador… 

Ele buscou se acalmar.

Ben e Rey vinham agindo de modo estranho, principalmente Ben, então isso só podia significar uma coisa… Conhecendo Rey, ele não podia acreditar em outra coisa senão na óbvia verdade que ela se entregou ao CEO.

Em definitivo isso confundia as coisas, ele precisava falar a Ben, mas sentia que pela forma como estava tudo… Não era uma opção ainda, não antes de falar com ela.

Entrou no quarto aonde Rey estava, pálida, abatida, com um tubo de soro fino engatado no braço. Hux foi lento, sentiu os olhos lacrimejando novamente com raiva de si mesmo por ter permitido que as coisas fossem tão longe para ela.

Sozinha… Desamparada… Rejeitada… Grávida… 

"Fiquei sabendo que ela está esperando um bebê. Parabéns." A enfermeira sorriso ao vê-lo entrar se dirigir a ela. "Tenho certeza que saberemos que está tudo bem e logo ela dará à luz a um bebê saudável" 

Nem havia percebido a presença da mulher que discursava ao terminava de colocar medicamentos em uma bandeja. Pelo tom, se sentia à vontade o que indicava que não fazia ideia do tormento que aquela mulher grávida passava, assim como também que ela estava confundido ele como o possível pai. 

-Parabéns-  ela disse? Repetiu mentalmente a si mesmo.

O que importava se confundiam a relação deles? Isso acontecia com muita frequência e ele não se incomodava, desde que isso não afetasse em nada o modo como eles se olhavam.

"Ela deve ir para casa amanhã se tudo ocorrer bem" e ao acionar a informação o deixou sozinho. 

*

O dia correu intenso no escritório da Falcon, muitas atividades sendo executadas ao mesmo tempo por diversos funcionários que caminhavam de um lado para o outro em desespero, executando ordens e pareceres. Os importantes acionistas, chamando a atenção em contrapartida se organizavam para a importante reunião mensal, que prometia mudar novamente os rumos da empresa.

Estavam todos articulados em seus assentos, prontos para iniciar as discussões, quando Ben Solo para a surpresa de todos e de Gregoriano Snoke, que estava localizado na ponta dianteira da mesa de reuniões chegou. 

Contavam que havia partido para a China logo cedo, mas então, de última hora mudou os planos sem comunicar a ninguém.

A face de Amilyn Holdo, que presidia a reunião com os acionistas foi o que interessou ao arquear a sobrancelha e fazer uma indicação de permissão para ele entrar. 

"Atrasado?" Snoke jogou a pasta transparente que segurava sobre a imensa mesa a frente. Um imenso projetor gráfico pairava, esboçando as métricas atingidas pela companhia e apresentava estática depois que a pasta arremessada tinha ficado presa nos fios.

"Na verdade, no momento certo" Ben respondeu. 

Não queria criar divergências profundas com o homem logo cedo, já era difícil ignorar o que fazia com ele passar por debaixo dos panos, entretanto seu sangue era azul e ele não podia deixar Snoke ficar o humilhando e provocando tão descaradamente. 

"Estava revendo o relatório que vou apresentar aos nossos associados chinês sobre o novo projeto. Achei que a reunião seria importante para coletar algumas métricas importantes." complementou.

"Projeto HB?" Holdo indagou, ignorando qualquer outro que pudesse se manifestar, em principal Snoke.

Ben assentiu. 

"Eficiente." Elogiou a iniciativa.

Não era uma surpresa que Ben Solo fosse tão esmerado no trabalho, uma qualidade que mostrava que a competência era proveniente do berço, muito embora, a permanência do sucesso de ser bom administrador devesse-se unicamente a esforço próprio.

"Discordo", objeto Snoke, "digamos que não esteja fazendo mais nada do que obrigação, afinal, eu devo lembrar a todos que ele foi quem envolveu a nossa companhia em um escândalo. Tenho mesmo que lembrá-los? Esforço, projetos arrojados são o nossos esforços para tirar a Falcon Airlines da poça de lama que foi colocada por ele" a pedra no sapato continuou impondo constrangimento.

"Na verdade, Snoke, eu que devo lembrá-lo." Amilyn se posicionou mais reta, assumindo a sua postura de liderança. "Esforço e arrojos são o que mantém qualquer companhia viva, independente da crise. Portanto se quer continuar nesta reunião, eu aconselho que mantenha a postura guardando suas opiniões para compartilhar quando solicitadas, pois no momento, eu quem estou presidindo a cadeira principal" a sala quase não respirou com a seriedade daquela mulher. Ela era alta, mas a forma como ela fala a fazia se tornar ainda maior em cima de qualquer adversário.  

"Muito bem" ela se articulou ao centro "Aproveitando que este ponto foi levantado logo de início. Há alguns pontos sobre a administração desta empresa que necessitamos discutir antes de apresentar as métricas."

Seria propício caso eles resolvessem anunciar uma eleição emergencial novamente, não seria surpreendente, não quando Snoke plantava a semente a dias, articulando com os acionistas menores e agitando apoios para assumir a cadeira principal da companhia.

Tanto esforço, perdido pelo maldito nariz quebrado, porque Holdo era ardilosa como raposa… Mas ele teria sua chance, não estava perdido, não depois quando podia obrigar até a Ben dar seu voto a seu favor.

Ele se armou debaixo da carapaça de um homem respeitador, quando o sorriso cínico estampou sua boca levemente.

"Como todos sabem, atualmente, eu estou a frente da companhia por situações emergenciais. Me esforcei muito desde então pela paixão que tenho por ela e o respeito a família que fundou, e bom... Nos colocarmos em posições necessárias quando estas se mostram" a presidente justificou.

Assim, os ânimos de Snoke ficaram mais profundos. Ali estava... Era aquela a sua chance…

"Por isso, eu..."

"Deixe que complemente..." Foi assim que surgiu a terceira voz interrompendo Holdo e atingido completamente a sala.

As cabeças se viraram em direção a porta causado perplexidade, excerto Holdo.

Ali parada estava Leia Organa, o tempo se marcando em cada ponto do seu rosto, ainda que estivesse linda com sempre foi com os cabelos em um coque esmerado e com um conjunto verde que favorecia completamente a sua pele.

Choque foi o que se estabeleceu a seguir, quando andou pelo espaço ganhando toda a atenção. 

As pessoas murmuravam, se perguntavam se era quem achavam ser. Parecia algo surreal demais para acreditar, por isso a sensação era que aquilo tudo se tratava de uma pegadinha, uma cena de filme bem elaborada em um roteiro louco de um cineasta bem excêntrico.

Todos sabiam que Leia poucas vezes havia ido presencialmente a empresa, já que nem mesmo quando Han Solo faleceu havia aparecido para discursar, o que era mais do que estranho.

A vida pessoal da família repentinamente parecia exposta naquele momento, aberta para discussões, mais importante do que a situação da companhia e isso aos olhos de Ben que assistia parecia perturbador. 

Agora ele entendia o fato da mãe ter prolongado aquilo… Ela só queria proteger o bem da família depois da morte de Han.

"O que Holdo quer dizer, é que esta empresa pertence a minha família por quase três gerações. E eu estou aqui para assumir a posição de presidente." Não deixou que os outros questionassem suas intenções, foi rápida e direta.

No entanto ao terminar, viu que as ações foram poucos efetivas, uma vez que muitos ainda se viravam para perguntar opiniões, tornando assim a sala um enxame de abelhas, onde se destoavam apenas as figuras de Leia, Holdo, Ben e, por mais macabro que fosse, Gregoriano Snoke.

Isso era o tipo, um imenso -ha-ha-ha-, pelo menos, pois por essa o acionista chantagista não esperava nem em seus mais loucos sonhos.

Leia Organa, a própria, rebelde que não lutava por nenhuma causa que não fosse a própria estava se posicionando com deveras interesse por algo que nunca esteve tão imersa. 

Então é assim que se faz história? Quando se contradiz a própria linha de raciocínio? 

Bom, no passado Han Solo era quem administrava cada ponto daquele lugar como se fosse sua vida, por vezes, parecendo se importar mais com a Falcon do que com Leia ou com Ben. 

Agora o jogo virou e a princesa com interesses incompreensíveis para administração central que roubou o próprio marido e que tinha habilitação diplomática, retornava mais uma vez.

Significava incluir, em outras palavras, mediante a toda essa loucura, que Snoke seria carta fora do baralho da presidência pelo menos por um tempo…

Isso aliviou Ben que não esforçou-se para esconder o sorriso, ao olhar para o inimigo do outro lado da mesa, que ao contrário dele tinha os olhos fervendo como quem gritava: "Seu grande filho da puta!"

Novamente retrocedendo, Snoke agora tinha Leia para enfrentar em seu caminho, ciente que já teve empecilhos maiores, ainda assim, não conseguia esquecer o amargar do gosto da derrota por ter a presidência escorrendo pelos dedos.

"Então se todos estão cientes, vamos começar a debater sobre o contrato que me foi trazido por Lor San Tekka, um de nossos colaboradores da indústria de combustível alternativo."

Ben se acomodou a mesa, longe o suficiente de Snoke, e ainda assim na distância necessária para ver suas mãos contorcidas sobre o apoio da cadeira. Claro que ele estava eclodindo de raiva por dentro… Demoraria a passar….

Bom, Ben não sabia como Leia pretendia gerir as coisas, porém estava indiferente a isso naquele momento, na verdade ele estava mais grato de ter o seu apoio que o permitia salvar o que poderia estar perdido por causa da falha com o bebê.

"Comecemos." Indicou ela. 

*

Ao fim da reunião Ben já tinha explorado várias ideias, contraditado. Estava exausto por isso, porque apesar da mãe ser a presidente, ela não tinha ideias tão claras como ele espera, o que o levava a outro ponto, a viagem a China que permanecia de pé.

Era imprescindível permanecer com a ideia, mesmo porque manter a cabeça ocupada aliviava a dor que sentia ao deixar Rey seguir a sua vida toda vez que tinha um tempo de sobra para materializá-la ali.

Pela primeira vez, ele precisava de tempo, um espaço maior, precisava também reavaliar o que era certo e errado… Precisava acima disso de um plano para desmascarar Snoke de uma vez por todas, uma tarefa que seria o seu maior desafio de vida. 

Terminava de organizar os relatórios pendentes em uma pasta em sua sala quando viu justamente o acionista de barba passar a porta acompanhado de um homenzinho magro em seus calcanhares, anuído com a cabeça sem parar. Lógico que Snoke deveria estar armando um plano para se livrar de Leia, obviamente, ele ficou quieto a reunião toda o que era um sinal ruim na opinião de Ben.

Abanou a cabeça para a afastar a negatividade. 

É claro que avaliar Snoke era seu trabalho, o dever para a segurança de todos. Ele levaria isso até o fim, mas teria tempo suficiente para isso em um avião a caminho de Hong Kong.

Terminou de fechando a tranca da maleta no exato momento que veio até ele um rapazinho franzino com o ar ofegante. Ele estava com os olhos arregalados para o homem e a secretária chegou logo depois.

"Desculpe Sr. Solo, eu tentei impedir, mas ele foi muito rápido." justificou ao chefe que tinha uma clara estranheza.

"Eu peço desculpas" ofegou novamente "Pensei que não iria conseguir chegar a tempo" o rapaz deveria ter uns dezenove anos pelo que Ben calculou. Desengonçado para o seu tamanho grande, muito magro para o seu porte e tinha uma pele tão branca que as poucas marcas de sol o deixavam vermelho. Os cabelos espetados davam o ar rebelde e mais jovial, embora a camada de gel usada tivesse a intenção de abaixar os fios teimosos. "O Sr. Hux pediu que entregasse pessoalmente esses itens para a reunião e também para a viagem." O homem passou os maços embrulhados a Solo que o olhou de cima abaixo.

O suor escorria no rapaz, então seria falta de educação jogar sobre a mesa e fazer de conta que não havia importância seu esforço? Bom seria isso que ele faria em outras épocas sendo racional, umas vez que Hux estava usando outra pessoa para fazer um trabalho que tinha sido específico ao solicitar a ele.

Apertou o envelope nos dedos com raiva, então em seu tom mais diplomático de quem continha a frustração, perguntou:

"Aonde está Hux? Por que não trouxe pessoalmente? Iríamos discutir sobre isso hoje." A insatisfação de Ben foi além do profissional, ela foi para com o amigo, alguém que o estava evitando desde a briga no apartamento. Fracamente era uma criancisse desnecessária e portanto gerava insatisfação. Logo ele, metódico. 

"Bom há uma explicação..." O rapaz quase gaguejou pelo modo como Ben o tratou com a fala dura como se fosse o culpado.

"Pois muito bem" Ben arqueou a sobrancelha desconfiado. "Comece a falar." Ordenou.

"Então… O Sr. Hux disse que ainda estava no Texas, ao que parece algo grave aconteceu com uma amiga..." E os olhos de Ben se arregalaram no mesmo minuto. 

Tudo que veio em sua mente foi ela... Rey... Não! Não poderia ser Snoke de novo, poderia? Disse que a deixaria em paz.

"Que amiga?" Ben o pegou pelos ombros sem perceber já começando a sacudi-lo. Os olhos fixos no rapaz que se mostrava assustado pela reação exagerada do CEO.  "Ande. Me diga qual o nome dela."

"Eu... Eu não sei..." gaguejava apavorado, tremendo o chefe. "Acho que o sobrenome era Joane… Jone… Joh.... Johnson..." Ben não pensou, ele simplesmente fez. 

Largou tudo o que tinha na mão e saiu correndo porta fora.

"Rey..." Ele falou mentalmente.

O coração estava maltratado quando as pernas se sacudiam pelas escadarias. 

Soltava o ar à medida que descia, checado as chaves que deveriam estar no bolso. Pegou também o celular para discar para o advogado, no total mais de seis chamadas efetuadas sem sucesso até alcançar o estacionamento do prédio empresarial. 

Movimentou-se em busca do mercedes.

Entrou no veículo frustrado por nenhuma resposta e muito puto, mandou uma mensagem esbravejando com o sujeito em um áudio malcriado ao tirar o veículo da garagem:

"HUX, SEU BABACA! ATENDE O TELEFONE!"

Ao sair, Ben estava tão imerso, que não viu quando pela cancela de entrada ao seu lado, Rose Tico inseriu um ticket para entrar no estabelecimento da Falcon com um crachá de visitante. 

Passou a subida a toda velocidade.

Não tendo notícias a solução seria única, concluído que teria que procurar ele mesmo as respostas. 

Desistiu de Hux, então ligou para Joonas solicitando que estivesse na pista da Falcon em menos de vinte minutos, o que deixou o piloto surpreso com as mudanças de planos e rota mais uma vez. 

Alguma coisa errada estava acontecendo e ele não gostava da sensação de novamente estar no escuro.


Notas Finais


Link instagram 9 meses com vídeo trailer direcionado: https://www.instagram.com/tv/CEhG2dpgcDP/?igshid=ky0o6ue10d02

Esperamos que tenham gostado, até o próximo capítulo.


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