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História 91 Dias de Outono - Terceira folha


Escrita por: azul46

Capítulo 3 - Terceira folha


Fanfic / Fanfiction 91 Dias de Outono - Terceira folha

Estava observando a face do mais velho já fazia uns dez minutos. Yoongi dormia pacificamente ao seu lado, com um dos braços caindo por cima de sua cintura. Yoongi parecia tão tranquilo dormindo. Também parecia que toda essa tranquilidade passava para Taehyung quando deitavam lado a lado. Ele não podia negar, dormia melhor acolhido pelo abraço do mais velho.

Estava ficando dependente desse contato.

Taehyung esticou um dos dedos e tirou a franja avermelhada da frente dos olhos dele. Queria pedir desculpas para Yoongi. Taehyung nunca quis gritar com ele, apenas saiu automaticamente. Não gostava quando o mais velho levantava a voz para ele, e dessa vez, foi Taehyung mesmo que levantou a voz e disse coisas sem pensar. Yoongi fazia tudo por ele, estava sempre ao seu dispor, sabia sempre o que dizer e como agir.

Taehyung se sentia ingrato.

Yoongi era para ele um irmão mais velho.  Diferente de Namjoon, Yoongi o ouvia, o entendia muitas vezes e, mesmo quando não conseguia entender, o aceitava e não desistia dele. Yoongi era doce, gentil e carinhoso à sua própria maneira. Mesmo não sendo muito aberto a contato físico, sempre acabava cedendo para agradar Taehyung.

Tinha que agradecer Yoongi de alguma forma.

Quando percebeu, já havia se aproximado e estava a poucos centímetros do rosto do outro. Seus lábios encostaram tímidos no rosto de Yoongi, em um toque tão leve que quase não existiu. Logo se afastou. Precisava levantar e se preparar para a escola.

Ficou um tempo procurando seu uniforme, até se lembrar de que o blazer e a camisa de manga comprida estavam arruinados por causa do molho de tomate. Taehyung suspirou. Teria que usar o uniforme de verão.

O garoto virou de costas para a cama e começou a se despir, sem notar que havia um par de olhos sonolentos lhe observando.

 

X

 

— Eu te levo para escola hoje. — Yoongi disse antes de levar a xícara de café à boca. — Meu carro está aqui na frente mesmo, posso te dar uma carona.

— Você não precisa ficar levando Taehyung por aí toda hora, a escola não é tão longe. — Namjoon resmungou. — E ele não é mais criança.

— Tudo bem Yoongi hyung, eu posso ir sozinho... — Taehyung disse baixinho, encarando o ovo frito que tinha no meio do prato.

— Eu insisto. Você vai pegar muito vento usando só essa camisa de manga. — Yoongi apontou para a camisa do uniforme de Taehyung.

— Ele sujou o outro uniforme, hyung, tem que arcar com as consequências agora. — Namjoon se levantou da mesa e tirou seu prato. — Está o mimando demais.

— É só uma carona até a escola, Namjoon, qual o problema disso? — O mais velho o lançou um olhar e Namjoon o respondeu da mesma forma. Taehyung permaneceu quieto, terminando seu café da manhã o mais rápido que podia para se ver livre daquele clima denso.

Não queria fazer Namjoon e Yoongi brigarem, eles eram melhores amigos.

— Tá, então leve o bebezinho para a escola. — Namjoon finalmente levantou a voz e quebrou o silêncio.

— É isso que eu vou fazer.

— Ótimo.

— Ótimo. — Yoongi se levantou e pegou Taehyung pelo pulso. — Vamos.  Você vai se atrasar.

Os dois saíram pela porta, deixando Namjoon com toda a louça para lavar.

 

X

 

— Yoongi hyung. — Taehyung desligou o rádio do carro e procurou os olhos de Yoongi. — Me desculpe por ontem.

O mais velho ergueu uma sobrancelha e logo depois abriu um sorriso. Não esperava que Taehyung o pedisse desculpas, a culpa não era dele.

— Você não precisa se desculpar, Tae. — Seus dedos se apertaram no volante do carro, e Taehyung prendeu a respiração por um instante. — Seu irmão é um idiota, eu devia saber que ele ia brigar com você por nada.

— Ele só tem muita coisa para fazer... — O mais novo desviou o olhar para seus dedos, que brincavam com os botões da sua camisa.

– E é um idiota.

— Se ele não tivesse que cuidar de mim...

— Nem continue falando. — Yoongi parou o carro na esquina da escola e virou o rosto para olhar propriamente para Taehyung. — Vá, entre logo na escola para não pegar muito frio.

— Tá bom hyung, obrigado.

Yoongi acenou com a cabeça e ficou observando o garoto até ele entrar pelos portões da escola.

Ele queria ter falado mais. Queria ter dito que Taehyung não era culpado pela situação em que eles estavam. Queria dizer que Namjoon não estaria melhor sem ele, que ele mesmo não estaria melhor se não tivesse Taehyung. Droga, será que era tão difícil dizer essas coisas? Taehyung precisava ouvir essas palavras e Yoongi não conseguia colocá-las para fora.

Talvez ele fosse um idiota também.

Assim que pensou no loiro, seu celular começou a vibrar no bolso. Era Namjoon.

— Tô dirigindo, seja rápido.

— Estarei The Min’s depois do meu trabalho, preciso falar com você.

— Sobre?

— Taehyung.

Yoongi desligou o celular.

Não queria desligar na cara do amigo, mas não estava com presença de espírito para ouvir o loiro. Estava chateado. Não, estava irritado com Namjoon. Era a segunda vez na semana que ele fazia Taehyung chorar por uma coisa boba, como o caso do uniforme. Os dois sabiam que o garoto era frágil e mesmo assim, Namjoon explodia por qualquer coisa. Yoongi sabia que os dois tinham problemas financeiros, familiares e outros tantos problemas que uma família de meio irmãos órfãos poderia ter. Mas Namjoon não fazia nenhum esforço para ser mais delicado com Taehyung. Não aproveitava o tempo que tinham juntos para conversar, mas insistia em brigar por coisas estúpidas como uma mancha de molho de tomate, ou um prato que o irmão mais novo teria quebrado acidentalmente na semana passada.

Yoongi estava cansado de confortar um Taehyung choroso. Estava cansado de ver lágrimas naquele rosto angelical, onde devia apenas estar estampado um sorriso sincero. Estava cada vez mais difícil ver o sorriso retangular do castanho. Yoongi conseguia ver que ele estava cada vez mais desanimado, mais magro e menos Taehyung. O mais novo já não era mais igual aquele garoto sorridente que Yoongi conheceu, e isso o preocupava.

Muito.

Namjoon estava ocupado demais para perceber todas essas mudanças no meio irmão, mas Yoongi via todas. Yoongi podia contar todas as rachaduras novas que estavam se formando no garoto. Bastava mais algumas para que ele quebrasse mil pedaços, assim como uma frágil taça de vidro. O mais velho fazia de tudo para manter todos os pedacinhos juntos, abraçando o garoto com gentileza, como se tentasse segurar todos os seus fragmentos. Mas ele sabia que não poderia nunca colar todos eles. No fundo ele sabia que não era ele quem consertaria tudo, que curaria tudo.

Yoongi sabia.

Mas se importava demais com Taehyung para o deixar como estava.

Taehyung precisava de alguém que estivesse sempre pronto para o acolher, e Yoongi seria esse alguém. Não para sempre, mas pelo menos até onde Taehyung o permitisse.

Yoongi suspirou, desligando o carro e batendo a porta.

Seria um longo dia.

 

X

 

Taehyung chegou à escola mais animado do que normalmente. Apesar do frio que sentia em seu corpo, pensar que veria Jeongguk o aquecia por inteiro. Estava acostumado a passar o dia sozinho, então ter finalmente uma companhia o deixava feliz.

Realmente feliz.

Taehyung andou pelos corredores com a cabeça erguida. Não precisava mais fingir que não existia, porque Jeongguk sabia que ele estava lá. O garoto novo não o ignorava e não fazia graça dele. Taehyung sentia que podia confiar em Jeongguk. Além disso, sentia algo diferente. Pensar no outro o dava um frio gostoso na barriga e uma sensação nova, algo que ele não conseguia decifrar. Era como se estivesse explorando uma terra desconhecida e como se Jeongguk fosse algum animal selvagem, algo novo.

Sim, Jeongguk era algo novo.

Chegando à sala, Taehyung abriu a porta com rapidez, fazendo todos os alunos olharem para ele. Assim que seus olhos se direcionaram para a carteira atrás da sua, toda a animação de seu ser se esvaiu.

Jeongguk não estava lá.

Talvez ele esteja atrasado, pensou consigo enquanto andava lentamente para seu lugar, agora com a cabeça abaixada. Taehyung queria pensar que estava tudo bem, que Jeongguk chegaria à escola a qualquer momento.

Talvez eu tenha chegado mais cedo porque vim de carro, repetia em sua cabeça para abafar o alto som das suas inseguranças.

Ele virá.

Sei que vai.

Jeongguk não apareceu para a primeira, nem segunda, nem terceira aula.

Já era horário de almoço quando Taehyung desistiu de esperar pelo outro. Jeongguk não viria.

Ele deve estar doente, pensava o castanho, andando em direção ao refeitório. Era apenas o segundo dia do garoto na escola, ele não faltaria por qualquer coisa. Pelo menos, Taehyung queria pensar que era isso. Não conseguia aguentar a ideia de ter outra pessoa o abandonando. Não, Jeongguk não faria isso.

Faria?

Desde pequeno Taehyung teve que conviver com abandonos. Seu pai biológico havia abandonado sua mãe logo depois de engravidá-la, mostrando-se um cafajeste, alguém que não merecia o amor de uma mulher tão doce quanto ela. Não conheceu o pai de seu irmão, mas sabia que ele havia abandonado a família para se concentrar em seus negócios, algo que cravou uma enorme ferida no coração de Namjoon e sua mãe. Ferida essa que havia sido amenizada com um novo amor, mas que no fim, não era mais do que um homem sem coração. Seu pai. Aquele que lhe deu a vida era um ser aproveitador, que apenas levou embora os últimos resquícios de saúde e amor que restavam em sua pobre mãe. Ah sim, nunca iria se recuperar da morte da mãe, outro abandono. A mulher não teve culpa, estava doente, exausta e de coração partido. Todo o dinheiro que recebia de seu trabalho duro ia para Taehyung e Namjoon, restando pouco para si mesma. Partiu magra, fraca e preocupada, sem saber como seus filhos seguiriam a vida sem ela.

Taehyung sentia muita falta da mãe.

Sentou-se à mesa mais afastada das outras no refeitório, pois não queria que o vissem com aquela expressão desolada. Sim, pensar em sua mãe sempre o deixava emocional. Taehyung desde criança foi sensível, porém ficava mil vezes mais quando se tratava de sua doce mãe.

Não queria pensar nela, não agora.

Depois que perdeu sua mãe, Taehyung achava que não podia perder mais nada. Havia até feito um amigo na escola, coisa que se tornou difícil para ele depois da perda.

Jimin.

Jimin era uma criança rechonchuda, doce, hiperativa e muito comunicativa. Encontrou Taehyung sozinho no parquinho e resolveu o chamar para brincar. Não levou mais do que uma semana para se tornarem inseparáveis. Estavam sempre juntos. Durante a aula, juntavam as carteiras e faziam as tarefas juntos, ajudando um ao outro. Brincavam juntos no recreio e lanchavam juntos. Jimin até dividia o lanche que sua mãe fazia quando Taehyung não tinha lanche algum, ou quando trazia alguma porcaria que ele podia comprar com o pouco que tinha.

Jimin era o melhor que amigo que Taehyung podia querer. Ele era generoso, gentil, cuidadoso e divertido. Ajudava Taehyung com todas as matérias, emprestava seus materiais e auxiliava Taehyung em tudo, sem nunca fazer perguntas muito pessoais. Jimin de alguma forma sabia que Taehyung escondia muitas coisas e que sofria com esses segredos, mas não perguntava nada até o castanho dizer por ele mesmo.

E ele disse.

Contou tudo a Jimin. Contou sobre seus medos, suas inseguranças, sobre a morte da mãe, sobre seu pai, seu padrasto, tudo.

E Jimin o aceitou mesmo assim.

Taehyung se sentiu traído quando o garoto simplesmente o abandonou, mesmo depois de tantos anos sendo seu melhor amigo. Foi tão repentino que ele demorou algumas semanas para se habituar.

Fazia agora dois anos que Jimin havia parado de falar com ele e Taehyung não sabia o motivo. Na verdade, ele suspeitava que Jimin havia finalmente se cansado dele, se cansado de seus problemas e seu jeito estranho. Jimin agora tinha outros amigos, amigos mais legais e mais felizes, amigos sem os medos e os problemas de Taehyung. Jimin agora andava com pessoas mais parecidas com ele, cheias de si, seguras e descoladas. Estava com pessoas que sorriam o tempo todo e que não eram fracas como Taehyung.

Talvez até seja melhor assim, Jimin parece estar feliz.

Olhou para seu prato cheio de comida e sentiu um embrulho no estomago, seu apetite havia ido embora.  Taehyung não queria pensar que talvez, Jeongguk também o abandonaria. Se depois de muitos anos sendo seu amigo, Jimin havia feito isso, então o que impedia Jeongguk? Eles se conheciam a pouco menos de um dia e Taehyung já havia se apegado completamente ao garoto.

Patético.

Você adora chamar atenção não é? A voz de Namjoon de repente ecoou em sua cabeça. Taehyung não gostava de ser tão dependente, não gostava de ser a pessoa carente que ele era, mas não podia evitar. Depois que perdeu sua mãe, a vontade de ter alguém perto, alguém que o acolhesse e o cuidasse era insaciável. Não sabia se era porque Namjoon não tinha tempo para ele, ou se Yoongi não era o bastante, mas não conseguia se sentir realmente satisfeito.

Talvez não tivesse achado a pessoa certa.

Talvez ainda não tivesse encontrado um amigo verdadeiro.

Taehyung acreditava em amizade. Queria mais do que tudo ter um amigo para quem ele pudesse contar tudo. Quando conheceu Jimin, achou que finalmente havia encontrado essa pessoa. Mas tudo desmoronou quando o baixinho o abandonou. Depois disso, Taehyung havia desistido de procurar amizades duradouras. Havia se contentado com Yoongi, o único que o levava a sério, que o apoiava e que o dava algum carinho.

Devia muito a Yoongi.

Porém, Taehyung era esperançoso. Não queria pensar que tinha perdido seu mais novo amigo, se é que ele já podia chamar Jeongguk assim. Ainda queria pensar que no dia seguinte, o garoto de cabelos negros viria para a escola e lhe mostraria aquele sorriso charmoso outra vez.

Tomara, Taehyung suspirou encarando seu prato intocado.

 

X

 

— Hoje o novato não veio não é? — Jiae empurrou o material de sua mesa e sentou-se, colocando uma perna sobre a outra e mostrando um sorriso forçado para Taehyung. — Sem ele você não tem com quem ficar, que dó.

Dó. Taehyung não gostava quando as pessoas sentiam dó ou pena dele.

Não disse nada, falar com Yoo Jiae não estava nos seus planos. Quanto menos conflito ele causava, melhor. Geralmente ele ficava sozinho na sala durante o intervalo, não esperava que ninguém aparecesse, muito menos Jiae.

— Por que você não fala hm? — A garota pegou seu queixo e levantou seu rosto. Olhar para aqueles olhos redondos cheios de maquiagem o deixava assustado. Jiae era bonita, uma das meninas mais bonitas da escola, mas Taehyung se sentia desconfortável. Sempre teve vergonha de falar com os colegas, especialmente com garotas. Além disso, Jiae era aquela que mais fazia piada dele. — Se acha bom o bastante para não falar comigo?

— Ele acha que só porque tem essa carinha bonita é melhor que a gente. — Kei se colocou ao lado da carteira de Taehyung e começou a brincar com seu longo cabelo liso.

— Você não acha um desperdício? Kei? — Jiae deslizou sua mão pelo rosto de Taehyung e abriu um sorriso sacana. — Um garoto tão bonito ser assim tão estranho. Eu podia até gostar de você se você fosse menos esquisito.

— Acho que ele nem gosta de meninas. — Kei tapou o rosto com uma das mãos e começou a rir. Jiae abriu um sorriso maior do que o mundo. — Talvez ele goste de outra coisa.

— Acho que eu sei exatamente do que você gosta. — Jiae se aproximou de seu rosto, e Taehyung jurou que ia ter uma parada cardíaca quando sentiu o halito fresco da garota bater em sua orelha. — Você gosta de garotos não é mesmo?

O quê?

Taehyung ficou em pânico. Não sabia o que fazer. Jiae estava quase em cima dele. Taehyung não conseguia respirar por conta do perfume forte da garota. E aquela pergunta? Como ele responderia tal pergunta? Se ele gostava de garotos? O quê?

Se eu gosto de garotos?

Não!

— Você deve ser um viadinho. — Kei disse baixinho e Jiae riu perto do pescoço de Taehyung.

— Vamos fazer um teste. — A garota que estava sentada em cima de sua mesa sorriu de canto. Jiae pegou uma das mãos de Taehyung e colocou por cima de sua coxa. A saia do uniforme era extremamente curta e algumas meninas faziam questão de colocá-las o mais para cima possível.

Taehyung ficou paralisado. Seu coração estava praticamente pulando para fora. Conseguia sentir o calor que vinha da pele clarinha de Jiae, mas ele não queria isso. Queria se desvencilhar da garota e sair correndo. Porém Taehyung não tinha força. Tanto sua força física quando sua força emocional estavam abaladas. Ele podia se desprender de Jiae se quisesse, mas estava tão nervoso que não conseguia se mexer.

Não satisfeita, Jiae subiu um pouco mais a mão do garoto em sua coxa, quase entrando por baixo de sua saia. Taehyung já estava mais vermelho que um pimentão quando ela tirou a mão dele de lá e descansou em cima de um de seus seios. Kei começou a rir alto e Taehyung queria desaparecer. Nunca havia tocado uma garota antes e não era assim que queria que fosse a sua primeira vez, na verdade, nunca havia pensando em tocar alguém assim antes. Ele tinha vergonha de falar com as pessoas, quem dera tocar nelas.

Uma lágrima solitária rolou seu olho abaixo, e Jiae resmungou algo que ele não entendeu.

— Você não sabe aproveitar uma oportunidade não é? — A garota disse baixinho, o veneno escorrendo por sua boca era quase visível. Ela tirou a mão dele de si e se aproximou novamente do ouvido de Taehyung. — É uma bicha mesmo.

— Realmente um desperdício. — Kei sorriu e sinalizou para que Jiae viesse com ela. — Não deviam aceitar esse tipo de gente na escola, que nojo.

— Pare com isso Kei, você vai fazer ele chorar ainda mais. — Jiae riu e deu um tapinha de leve no rosto de Taehyung. — Que tal você procurar a sua turma de gente esquisita e dar o fora? Ninguém quer alguém como você aqui.

Taehyung abaixou a cabeça, escondendo os olhos molhados debaixo da franja. Não queria ouvir mais nada. Queria que as garotas sumissem, ou que ele sumisse. Sim, queria desaparecer, cair em um buraco e nunca mais voltar para aquela sala de aula.

 — O que vocês estão fazendo? — Taehyung quis chorar ainda mais quando ouviu a voz do baixinho.

Jimin.

— Nada, Minnie, estamos só brincando um pouco com Taehyung. — Jiae jogou seu cabelo para trás e foi se jogando para cima do garoto. — Mas ele não sabe brincar, que chato não é?

— Que tal vocês irem comprar um café para mim? — Jimin piscou para as duas, depois entregou algumas notas. — Podem ficar com o troco, a gente se encontra depois da aula.

Kei pegou o dinheiro e saiu saltitando da sala, enquanto Jiae permaneceu parada. Ela cruzou os braços e soltou um alto “tsc”.

— Pode ser impressão minha, mas parece que você ainda se importa com esse idiota.

– Será que dá para você sair? — Jimin disse sério.

— Jimin, se por acaso eu suspeitar que você é como ele... Você já era.

— Vai logo.

Jiae sorriu amarelo e saiu da sala, batendo o salto de seu sapato com força no chão.

— Vai embora. — Taehyung sussurrou. Estava sem forças para dizer algo em voz alta. A última coisa que queria agora era falar com Jimin.

– O que elas fizeram com você? O que te disseram? – Jimin se aproximou dele e colocou uma de suas mãos sobre seu ombro.

Por que você se importa? O que isso muda na sua vida? Taehyung queria perguntar, mas as palavras não saiam de sua boca.

— Não precisa falar comigo se não quiser. — O baixinho suspirou. — Mas venha, vamos lavar esse rosto antes que a aula comece. — Jimin o pegou gentilmente pelo braço, fazendo Taehyung se levantar.

Seguiu o garoto pelos corredores da escola. Queria que aquilo acabasse o mais rápido possível, por isso não reagiu.

Sentir a pequena mão de Jimin na sua era muito nostálgico. Tal sensação o lembrava do dia que conhecera o garoto. Jimin o puxara pela mão da mesma forma, o levando para brincar. Taehyung sorriu fraco, lembrando-se de como ficara feliz aquele dia.

Pena que tudo isso se foi.

Jimin o levou até o banheiro e ligou a torneira. Taehyung podia fazer sozinho, mas nem se moveu quando sentiu as mãozinhas molhadas do outro em seu rosto. Fechou os olhos, não queria olhar nos olhos de Jimin.

Tinha medo do que poderia encontrar lá.

— Agora está melhor, não é? — Abriu os olhos apenas para ver um sorriso nos lábios do antigo amigo. Jimin estava sorrindo do mesmo jeito que sorria antes, daquele jeito que fazia seus olhos se esconderem em pequenas e apertadas crescentes.

Pare, por que está sorrindo assim?

— Você não pode deixar elas te fazem mal, Tae .— Jimin bagunçou seus cabelos, o que era engraçado pelo fato de Taehyung ser mais alto que ele. – Jiae pode ser bem malvada se você deixar.

Taehyung não disse nada.

— Eu sei que você não gosta de brigar, mas... — Jimin arrumou sua franja e deu uma última olhada em seu rosto antes de desviar o olhar. — Você tem que parar de ser tão gentil.

Nada.

— A aula já vai começar, vamos. — O mais baixo se virou e saiu do banheiro sem olhar para trás.

Taehyung ficou mais alguns segundos olhando para a porta, até que resolveu sair e voltar para a sala.

Passou o resto das aulas em silêncio, como sempre.

 

X

 

Foi o primeiro a sair. Queria evitar Jiae e Jimin. A única coisa que queria era se enfiar dentro do carro de Yoongi e esquecer tudo o que havia acontecido naquele dia.

Andou a passos largos até a frente do colégio, onde ficou parado aproximadamente uns dez minutos.

Nenhum sinal do carro de Yoongi.

Seus braços magros abraçados ao redor de seu corpo não eram o suficiente para manter o calor. Estava congelando. Existia um motivo para se usar o uniforme de inverno no frio. Mesmo que ainda estivessem no outono, o vendo gelado bastava para congelar todos os seus ossos. Não tinha um espelho, mas podia jurar que seus lábios estavam roxos de frio.

Yoongi não viria buscá-lo hoje.

Suspirando, Taehyung se pôs a andar em direção a seu apartamento. Não era uma longa caminhada, mas teria de aguentar o vento frio em seus braços desnudos. Vento esse que sacudia as arvores e fazia as suas folhas dançarem. Taehyung se sentia uma folha seca, leve, sem cor, sem graça e sem vida.

O vento podia o levar se soprasse com um pouco mais de força.

Chegando ao apartamento, Taehyung correu escadaria acima e se apressou para virar a chave na fechadura. Não sabia por que, mas queria que Namjoon estivesse em casa. Não queria ficar sozinho, não depois do dia que teve na escola.

Seria mentira dizer que ele se surpreendeu a encontrar o apartamento vazio.

Jogou a mochila no chão e correu para a cozinha. Faria ao menos um chocolate quente para se aquecer um pouco. É claro que não ficaria tão bom quanto o que sua mãe fazia, mas teria que servir. Tomou o máximo de cuidado para não quebrar nada e tomou sua bebida lentamente. Seus olhos se direcionaram para seu uniforme sujo, que estava pendurado no pequeno varal que ficava no canto da cozinha e ele suspirou. A mancha não havia saído e, pelo jeito, não ia sair tão cedo. Segundo as regras da escola, era proibido usar qualquer peça de roupa que não fosse do uniforme.

Teria que usar a fina camisa de verão pelo resto dos dias frios.

Depois de trocar as roupas para um conjunto de moletom mais quente, Taehyung se colocou no sofá da sala e ficou encarando a televisão desligada. Nem se importou em acender as luzes, deixando a atmosfera do apartamento ainda mais solitária.

Seus pensamentos se voltaram para Jeongguk.  Por que o garoto teria faltado aula? Será que estaria mesmo doente?

Taehyung estava preocupado. Queria saber sobre o paradeiro de Jeongguk.

Virou a cabeça e viu seu celular jogado no sofá.

Sim, ele tinha o kakao de Jeongguk.

Abriu a conversa que tinha com o garoto e ficou encarando o teclado. Devia escrever para o outro? O que deveria dizer? O que deveria perguntar?

Seus dedos gelados bateram contra a tela lentamente, digitando um simples “oi”.

Quase se arrependeu de mandar a mensagem. Depois de dez minutos, Jeongguk ainda não havia visualizado. Taehyung não queria parecer chato, nem desesperado, muito menos irritante ou estranho.

Estranho.

Tinha medo de ser mesmo o garoto estranho que todo mundo dizia que ele era.

Estava quase caindo no sono quando seu celular vibrou, o assustando um pouco.

 

E aí TaeTae?

 

Eu faltei hoje, desculpa por te deixar sozinho.

 

Você tem um tempo para conversar?

 

Seria mentira dizer que Taehyung não ficou feliz ao receber aquelas mensagens, porque ele ficou. De repente, a vergonha e o medo conversar com o garoto se foram. Conversaram pelo aplicativo sobre coisas aleatórias.

 Taehyung conversou com Jeongguk até pegar no sono, ainda segurando o celular em seus dedos.

 

Você está aí?

 

TaeTae?

 

Durma bem :)

 


Notas Finais


Agora assim que eu terminar três capítulos, posto mais três em um curto período de tempo. Soa bem?


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