Verdade seja dita: eu melhorei! Eu mesma me superei. Acho que minha barriga veio para me fazer perceber o quão belo o mundo pode ser. Tae estava sempre por perto, me aproximei do Jin, virei amante fiel da minha terapia, todos nos transportes públicos me cediam o lugar, as pessoas desconhecidas nas ruas sorriam para mim, as crianças tentavam passar a mão na minha barriga... O Universo começou a colaborar com a minha pessoa!
Nos primeiros 7 meses e meio da gravidez eu amadureci mais do que nos 22 anos anteriores. Eu mal conseguia me reconhecer sem aquele barrigão. É verdade que eu era uma bomba de hormônios ambulante, ficava uma pilha de nervos e em segundos estava toda chorosa, mas não dei muito trabalho, sem enjoos, desejos estranhos, ou dores. Ela não me deu trabalho, seu pai é que deu! Sim, era Ela, uma linda menininha.
E Jeon continuava a ser a pedra no meu lindo sapatinho de cristal. Perdi as contas de quantas vezes Yoongi, meu terapeuta, foi obrigado a interromper as sessões para me acalmar com um copo de água, ou eu acabei com a caixa de lencinhos dele, porque simplesmente eu não conseguia superar a raiva que o pai da minha filha tinha me feito passar quando eu descobri que estava grávida.
Essa raiva não passou nos primeiros meses, e ele tentava ao máximo não me irritar. Mas Rose, minha filha, não me dava outra escolha a não ser nos aproximarmos por ela. Não era culpa dela... Era de Taehyung, aquele tio cretino que não merecia ter meus abraços quando eu ficava emotiva assistindo a um desenho animado na televisão. Foi meu próprio irmão que colocou Jeon para morar dentro da minha própria casa, abandonando um apartamento lindíssimo para um Jin - sozinho e desajeitado - se acomodar.
Dividir a casa com um ex-namorado era ruim, mas dividir os biscoitos era muito pior! Eu me sentia jogando batalha naval quando o bonitinho escondia os pacotes. Eu fui uma grávida sem muitas vontades, mas as que eu tinha, tinham que ser atendidas de imediato ou acabaríamos no hospital, como muitas vezes fomos parar, por eu ter mordido com mais força -do que é considerado adequado- o braço do pai da minha filha. É, eu não amadureci tanto assim... Mas melhorei.
Com o tempo, parei de me importar com Jeon, ele não mais de incomodava. Até era bem solícito algumas vezes. E confesso que era lindo ver a forma como ele conversava com a minha barriga, ou ia rigorosamente a todas as consultas, se dedicando ao máximo a Rose. Isso fez com que minha mágoa amenizasse, eu sentia que ele estava se ligando a bebê, até mais do que eu, que demorei semanas para aceitar minha gravidez.
Não é fácil ser mãe de primeira viagem tão nova e sem emprego. Taehyung e Jeon é quem estavam me sustentando, enquanto eu me dedicava a estudar online e cuidar da minha gravidez. Sim, por incrível que pareça Jeon estava trabalhando duro, o que o mantinha ocupado por horas, e ele começou a estudar a distância, querendo ser alguém melhor quando Rose nascesse, o que me fez sentir um belo nada, pois eu não estava me preparando como ele, e não fazia ideia do que faria quando a tivesse em meus braços.
E se eu não conseguisse a amar ou cuidar dela? E se ela não gostasse de mim? E se eu a deixasse com Tae e sumisse no mundo, por não ser uma boa mãe? Bom, caso eu executasse a última opção, Tae me mataria, eu me mataria, e provavelmente Jeon me mataria! Disso eu não tinha dúvidas... Mas ainda assim eu me sentia insegura no aconchego do meu quarto, quase todas as noites, chorando. Seriam os efeitos hormonais da gravidez? Nunca saberia...
Numa dessas noites Jeon me encontrou encolhida entre os lençóis e ficou comigo, tentando me acalmar. Ele não era tão cretino assim, afinal de contas... Mas isso não mudou em nada o andar da carruagem. Na manhã seguinte foi como se nada tivesse em acontecido de fato. Eu estava sensível, apenas isso, e acho que ele entendeu o recado. Agradeço muito por ele ter me confortado da melhor forma que pode, isso me desarmou ainda mais naquele nosso mal estar de ex-namorados.
Com o tempo fui capaz de começar a rir e me divertir com Jeon, apesar de tudo. Nossa convivência ficou mais estável, e eu não quebrei nenhum vaso na cabeça dele. No máximo, arranquei uns fios do seu cabelo quando Rose nasceu. Oh sim, o parto... Nunca queiram passar por isso... Vale a pena, mas é de longe a experiência mais dolorosa da minha vida. Só que quando você segura aquele bebezinho nos braços, e ela tem seus traços misturados com o do pai, tudo parece sumir, só existe aquela criança tão perfeita, um sopro de vida, a melhor coisa que eu já fiz na minha vida. Eu já a amava e nem ao menos sabia...
(...)
Os primeiros meses de Rose foram de pura aventura, eu me sentia em um jogo de vídeo game onde nunca zerava. Era necessidade atrás de necessidade. Mas minha filha era tão maravilhosa, que mesmo em cacos eu sorria ao vê-la adormecida nos braços de um Jeon desmaiado na cama dele.
Aproximei-me para tirá-la de seus braços sem acordar nenhum deles, mas foi em vão, pois ele acordou sobressaltado e quase arrancou minha mão fora.
-Isso é que é proteção! – ri baixinho de sua reação, o tranquilizando quando me reconheceu, relaxando novamente o corpo sobre o encosto da cama. – Vou colocá-la no berço. -Ele apenas assentiu com a cabeça e esboçou um sorriso ladino, lindo, confesso.
Assim que terminei de arrumá-la no berço ao lado de minha cama, reparei que Jeon nos encarava sorridente do batente da porta, o que me fez inevitavelmente sorrir ainda mais enquanto analisava os traços da minha bebê.
Ele caminhou silenciosamente até o meu lado e também ficou debruçado perto do berço a admirando.
-Ela é linda... – sussurrou com uma voz grossa, mas que transpareceu todo o amor que ele sentia por aqueles centímetros de pessoinha adormecida. – Foi a melhor coisa que fizemos...
Ela era a misturinha perfeita dos traços dele com os meus. Seus olhos intensos foram puxados do pai babão, as bochechas mais rosadinhas eram de minha autoria, as mãozinhas também. Agora aquela boquinha desenhada perfeitamente, o queixo e os fiozinhos de cabelo que já exibia eram assinados por Jeon JungKook, não conseguiria nem negar. A bicha era bonita! Veio de supetão, mas chegou brilhando!
-Concordo. Nunca pensei que pudesse amar tanto ficar acabada e não saber o que fazer... – ele riu baixinho notando a veracidade dos fatos. Ambíguo, mas real...
Ficamos mais alguns minutos velando seu sono. Não sei Jeon, mas eu estava viajando sobre um futuro completamente desconhecido e incerto na maternidade. Quando ela dissesse sua primeira palavra, quando andasse sozinha... Eu estaria com ela em todas as descobertas, e seria a mulher mais feliz do mundo. A verdade é que agora Rose era minha filha, só ela e Taehyung me importavam mais do que a mim mesma. E quando chegasse a primeira menstruação? Ah, não, mais investimentos em absorventes e remédios para cólica...
Fui tirada de meus devaneios por uma ação inesperada e que me assustou a tal ponto, que um friozinho chato passou por minha espinha. Não era para o braço de Jeon estar me envolvendo de lado naquele momento...
-Je-on... – praticamente sussurrei atônita, tentando entender o porquê do toque indesejado, e me afastei pro lado, mas ele me segurou.
-É só um abraço. Não seja fujona... – ele falou baixinho e riu mais baixo ainda.
-Não gosto quando me toca. Sai. – o empurrei, até que delicadamente, e andei até meu armário para pegar as roupas de banho.
-Desculpa... – ele disse mais sério, mas em momento algum pareceu chateado ou algo do tipo, e saiu do meu quarto.
Ás vezes ele tinha esses momentos estranhos, mas ao contrário do que eu desconfiava antes, não havia nenhuma intenção por trás disso. Pois acredite, nesse tempo morando juntos, o que não faltaram foram oportunidades (não-criadas) para que qualquer um de nós tentássemos algum avanço no outro caso quiséssemos, mas não era o caso. Estávamos bem como ex e pais da meninha mais linda desse universo. Eu estava disposta a levar Jeon pelo resto da vida se fosse preciso, tudo para que ficássemos bem, para que Rose sempre estivesse feliz. Creio que desde que saiu da maternidade ela tem orgulho do pai que tem, mesmo porque desde que nasceu já seria forçar um pouco a barra, pois Jeon passou vergonha, de novo!
(...)
Acho que só senti o peso da convivência, do ser uma “família” quando Jeon adoeceu muito. Não era uma gripe, mas tampouco sabíamos o que era, foi diagnosticado como uma virose, e que seu corpo não estava preparado, por isso foi tão devastador vê-lo frágil daquele jeito. Ele tremia muito e mal abria os olhos. Fiquei dois dias e duas noites devotada a Rose a ele, preocupada que seu caso piorasse.
-Jeon... como se sente? – perguntei a ele que já se sentava na cama ainda suado pela febre que o abandonava.
-Mal... – pergunta idiota a minha, mas ouvir sua voz tão fraca me deixou desconfortável.
-Prefiro quando você rouba meus biscoitos. – confessei enquanto ajeitava a toalha de rosto molhada e dobrada sobre sua testa.
Ele riu fraco e tentou sorrir para mim, logo adormecendo naquela posição mesmo. Os remédios o deixavam sonolento.
O ajeitei melhor na cama e com minha mão ainda tímida toquei seu cabelo carinhosamente. Meu desejo era que ele melhorasse logo, vê-lo doente me deixava mal.
-Fique bem logo, Kook. – afaguei sutilmente sua bochecha sem acordá-lo e me aconcheguei ao seu lado na cama para tentar dormir, na esperança de que ele não tivesse mais nenhum pico de febre ou suadeira.
E ele de fato ficou. Mais disposto, mais gentil e mais brincalhão também.
-Obrigado. – assustei-me ao ouvir sua voz grave baixinha perto do meu ouvido, enquanto ele me abraçava pelas costas, mas sem me pressionar muito, um abraço sem aperto.
-Pelo quê? – me desvinculei de seu abraço e o olhei sem entender.
-Por ter cuidado de mim. – ele limitou-se a sorrir e a acarinhar brevemente de forma bem sutil minha bochecha, antes de se virar e rumar para o quarto de Rose, provavelmente para ficar com ela.
Ele era um bom garoto, não? Acho que toda a mágoa que eu sentia dele uma hora simplesmente desapareceria e viraria apenas uma boa história para contarmos a Rose e aos nossos netos um dia. Sorri com esse pensamento e fui tomar um banho para poder curtir meu domingo a noite com a minha princesinha em meus braços.
______________ JUNGKOOK _____________
Nada saiu como planejado, nem o término, nem a surpresa, absolutamente nada. Tudo saiu do controle, porque era ela, era sempre assim...
Terminei com a garota tentando ser legal, não mentindo e nem traindo ninguém. Não estava dando mais certo e eu fui homem o suficiente para assumir isso para ela. Eu já não me sentia tão ligado a ela, nem apaixonado de verdade, tinha passado...
Só percebi o quanto a machuquei rompendo no dia em que comemoraríamos nosso aniversário de namoro quando ela quebrou uma série de vasos tentando me acertar. E a partir dai cada mês da sua gestação eu descobria mais um pouco sobre como acabei com ela. Não era minha intenção naquela sexta-feira.
Assim como não era minha intenção ser pai. Mas no sábado de madrugada eu fui informado do fato por, ninguém mais, ninguém menos, do que a amiga/médica da minha ex-namorada. E o pior: em forma de felicitações. Ela não sabia que tínhamos rompido, que ela não tinha me dito absolutamente nada sobre gravidez... Eu quase fui parar no hospital depois daquela notícia, mas preferi ouvir primeiro da boca dela. Se ela sabia, por que não me contou?
Deu confusão! Muita. Mas ser aceito como pai foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Não foi fácil, mas me adaptei totalmente à chegada de Rose, até mesmo morar na mesma casa que elas. Minha menininha sempre me teria por perto, se sua mãe não me estrangulasse antes do parto.
Mas sobrevivemos, todos nós. E por incrível que pareça nos demos bem. A terapia que ela fazia estava ajudando e muito, e com o passar do tempo eu achei que estava ajudando até demais. Suspeitei que o tal terapeuta na verdade estivesse com ela além do consultório, mas Taehyung me tranquilizou quanto a isso. Depois de meses e mais meses fazendo terapia, eles pararam com as sessões, pois segundo ela “nos tornamos amigos e não deu outra... Mas logo encontrarei alguém em quem confiar.”.
De fato, ela estava melhor, mais calma, não me tratava mais daquela forma grosseira, mas passou a me ignorar um pouco, quando bem entendia... Ela tinha me superado. E foi um tanto quanto incômodo presenciar isso diariamente. Não que eu tivesse qualquer segunda intenção, mas comparar o nosso antes e o nosso depois era bem contrastante.
Ela foi a grávida mais linda, única! E eu, o pai mais babão. E tudo só se potencializou, do parto em diante (ao qual eu assisti, mas desmaiei no primeiro chorinho de Rose) tudo foi uma grande descoberta. Eu ficava exausto trabalhando, estudando e cuidando de Rose, mas era a melhor rotina que eu poderia ter.
Relacionamentos? É verdade que depois do nosso término me envolvi com 2 ou 3 moças, mas isso foi antes de eu ter sido “aceito como pai de Rose” pela digníssima senhora mãe dela, e só uma (que durou uma semana, já que perdemos o interesse um no outro e nos tornamos amigos) foi durante esses últimos 3 anos, em que eu estava convivendo com minha filha e a mãe dela, como uma família, sem de fato sermos uma.
Porém conviver como uma família não nos torna uma, de alguma forma? Era isso o que eu sentia quando via minha ex ninando Rose, era uma das cenas mais lindas que eu tinha a chance de presenciar quando chegava em casa cansado. A forma terna e cuidadosa como Rose era mimada pela mãe, era invejável. Ela sabia ser uma boa mãe, eu não tinha a menor dúvida.
-Chegou faz tempo? – ela me perguntou enquanto fechava a porta do quarto de nossa filha atrás de si.
-Um pouco... – sorri de lado e me escorei na parede de frente a ela.
-Por que não entrou para dar boa noite? Sabe como Rose ama seus mimos, não? – uma careta proposital em seu lindo rosto me provocou o meu riso silencioso para não acordar a bela adormecida ao lado.
-Ela já estava dormindo. Só vi você a mimando. – continuei a observar seu rosto, o cabelo preso e um rabo de cavalo casual um pouco desgrenhado, mas o suficiente para deixá-la atraente.
Ela me atraia, essa era a verdade. Ainda mais por ser a mãe de Rose, por ser quem era, por ser minha ex. Eu sabia que era muito egoísta da minha parte querer desfrutar dessa outra felicidade também. Sentia falta de um contato mais íntimo dela, um olhar mais carinhoso, ou qualquer sinal de que eu represento mais para ela, mais do que o Pai da Rose. Eu queria ser reconhecido como homem naquela casa, mas me sentia coagido por nossa história, e por todos esses 3 anos, onde essas coisas mais do que esfriaram entre nós, congelaram. Nada, nenhum sinal vindo dela. Ela tinha superado, tinha seguido em frente mesmo comigo ao seu lado todos os dias, 365 dias desses longos 3 anos e alguns meses.
E eu também não poderia por tudo a perder por um romantismo que nem tinha cabimento mais, então não questionei ou indiquei qualquer interesse (espero). Não sou muito bom em esconder o que penso e sinto, mas sou bom em evitar pensar nisso, e foi o que fiz nos últimos anos. Afinal, a vida com Rose já era movimentada o suficiente, mas ainda assim foi difícil não olhar sua mãe com outros olhos, com todos os meus sentidos possíveis. Eu a admirava e apoiava. Eu a queria. E eu não podia ter.
Eu não podia, mas Jackson a teve. Pensei que ela não teria disposição ou deixasse mesmo outro se aproximar, mas ela deixou, e ela quis. Não foi a coisa mais fácil encará-los trocando abraços ou beijos, nas poucas vezes em que estive presente quando ele a ia buscar para sair nos finais de semana. Eu não tinha nada contra Jackson, essa era a verdade.
Com o passar dos meses eles romperam, por iniciativa dela, que posteriormente eu fiquei sabendo por Jin que foi justificada por “Não era amor, Jin... Então deixei ir. Jackson é um cara para casar. E se eu não vou me casar com ele, devo mantê-lo como um bom e belo amigo que ele é...”.
Depois do término amigável, eu me senti ainda mais passível de comparações. Afinal, também sou um ex dela. E nosso término foi conturbado do início até onde pude aguentar, com direito a raiva, gravidez e dividir as despesas da casa.
-Jeon... – sua voz suave me chamava, e seus olhos transpareciam que ela estava preocupada comigo, eu só não entendia por que... Mas então percebi que eu tinha me perdido em pensamentos a observando.
Nesse momento também pude vislumbrar o quão próximo seu corpo estava do meu, uma de suas mãos pousadas em meu rosto e seus olhos um pouco arregalados esperando alguma reação vinda de mim.
-Estou bem. – disse baixo e sorri, logo colocando minha mão sobre a sua em meu rosto, e vi ela relaxar a minha frente.
Desencostei da parede assim que sua mão quis abandonar meu rosto, e fomos cada um pro seu quarto. Mesmo depois de 3 anos nós ainda estávamos nos adaptando um ao outro, e com sorte, ela não me ignoraria tanto daqui um tempos, anos quem sabe... Eu só precisava não ter presa. E de fato eu não tinha.
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