História A Capa - E o inverno começa...

O inverno chegou, o período das festas, da cerveja, dos visitantes desejáveis(dos indesejáveis também, é claro), a alegria acompanhava a cidade. O corre-corre da multidão sempre deixou Ella inquieta, seus pais correndo em busca dos ingredientes, dos preparativos, sem falar da cerveja encomendada dois invernos anteriores.

Como de costume, em ocasiões nada proveitosas como esta, Ella saia com sua cesta para colher flores, o pequeno jardim de lavanda da senhorita Duller ainda resistia os firmes e frios flocos caindo sobre eles, e como recompensa pelo esforço, a Mãe Natureza os retribuía com uma fragrância excelentemente peculiar que chamava atenção de Ella. Com movimentos rápidos, Ella puxava as flores do solo, dizia sempre que isto "Amenizava a dor em ambas". Naquele jardim Ella ganhava vida, torcia para que fosse assim para sempre, decidira que não iria reclamar dos mosquitos, nem das mariposas, libélulas e todo o reino animal que viesse ao seu encontro. O desejo que tinha sempre foi o de largar Alsfeld e viver com sua Avó, na verdade este desejo nunca lhe perturbou tanto, afinal, com  17 anos a maioria das jovens naquela época já haviam sido prometidas em casamento a algum Lorde ou até mesmo membro de uma família Nobre, mas Ella queria ser diferente, sentia que poderia ser, e que lutaria para ser.

- Ella ! Onde você está? - gritava sua mãe em todas as direções ansiando ser ouvida pela filha

-Estou indo mãe, espere só mais alguns minutos
Ao ouvir a troca de gritos, ligeiramente um dos cachorros da senhorita Duller se ergue e corre determinado em direção a Ella. Ella estava com a cesta repleta de lavandas e com alguns pêssegos que haviam caído sobre a própria cesta, o que dava ao cão motivos suficientes para investir contra a menina. Cercada, indefesa e com o coração (além da cesta cheia) nas mãos, Ella já se preparava psicologicamente para os futuros furos feitos pelos caninos afiados do cão. Ella sorriu e o cachorro inclinou-se, como se algo nela realmente pedisse para que ele parasse. Lentamente, Ella se aproxima, sincronizando perfeitamente seus passos delicados e a brisa das montanhas do norte da floresta. O cão recua rangendo os dente e rosnando, como se a garota pudesse realmente lhe acertar um golpe mortal com aquelas pequenas mãos rechonchudas e pequenas. Ella se agachou e voltou a tentar se aproximar:

- Não tenha medo amiguinho, não vou lhe fazer nenhum mal, eu prometo. - repetia 
O cão abaixou sua cabeça junto com suas orelhas e tronco, Ella se sentiu satisfeita, sorriu e abraçou o cão como a um urso de pelúcia.

- Te disse que não iria lhe machucar... Não precisa ter medo.
O silêncio se rompeu quando pela segunda vez Ella escuta sua mãe Margott gritando mais uma vez. O desanimo se instalou em seu rosto, não aguentava mais nenhum segundo em Alsfeld, o cheiro, as festas, até mesmo suas amizades de infância, "tudo cheirava como o odor medonho da cidade chata".Voltou,mas voltou decidida, hoje seria seu último dia em Alsfeld, não precisava prolongar a decisão, não tinha amigos, nem um amor, nem irmãos, era somente ela e sua cesta com o aroma silvestre de lavanda. Arrumou uma trouxa de roupas, pegou algumas frutas que já estavam apodrecendo (devido a exposição ao tempo) e tomou um par de galochas para neve.

Daquele momento em diante, Ella queria viver a vida livre, solta. Não como uma ovelha, não como um cachorro, ou um urso selvagem, mas como um Lobo.