História A Dança - Capítulo XXX

Percy

Percy fecha os olhos, sentindo as lembranças o atingirem. Ele estava relembrando aquela conversa fazia dias e doía sempre que ele o fazia, mas ele também não conseguia não pensar mais nelas. Porque aquilo o marcou demais e Percy nunca foi bom em controlar os próprios sentimentos.

[...]

- Eu só acho que talvez fosse melhor que nos separásssemos. – Jason faz uma pausa, o que faz o coração de Percy bater muito rápido. – Você sabe que eu amo você e...

- Não! Jason, não, por favor. – pede com a voz trêmula. – Não faz isso comigo.

Percy segura o celular com força, tentando pensar coerentemente e respirar fundo. Mas tudo parece ter ficado branco por um instante e ele não sabe o que fazer, não consegue ao menos processar tudo direito.

Jason estava terminando com ele?

Parecia que uma parte dele ainda não tinha aceitado aquela ideia, como se ela fosse muito ruim pra ser verdade.

- Percy... – chama baixo do outro lado. Ele ouve uma respiração funda. – Eu só acho que isso vai acabar nos machucando mais depois.

Percy fecha os olhos com força, balançando-se pra frente e pra trás numa tentativa de tentar entender aquelas palavras. Não faz sentido em sua cabeça, simplesmente não faz.

- Mas, Jay, a gente tinha prometido passar por isso juntos. – diz com a voz embargada.

Ele se lembra do dia em que eles foram no parque de diversões e do momento em que Jason admitiu que estava apaixonado por ele. Percy tinha dito naquele dia que eles iam enfrentar as coisas juntos, que iam passar por aquilo juntos. E aquilo tinha sido uma promessa, então por que Jason estava a quebrando agora?

Percy não conseguia entender, nem um pouco. Seu coração estava apertado e ele podia sentir as lágrimas ameaçando escorrer por seu rosto.

- Juntos como, Percy? Eu estou do outro lado do país e só podemos nos falar por telefone. Mesmo que visitemos um ao outro, nunca vai ser a mesma coisa. – diz em tom sincero e aquilo faz Percy se sentir ainda pior.

Porque era doloroso ouvir a certeza na voz de Jason, perceber que ele realmente acreditava naquilo. E foi naquele momento que Percy sentiu a verdade, finalmente, se apoderar dele.

Jason estava terminando com ele. Estava acabando tudo.

Ele fecha os olhos, tentando não desmoronar, embora saiba que isso não vai durar muito tempo. Percy sente algumas lágrimas escorrerem por seu rosto, mas as ignora.

Como Jason podia fazer isso com ele? Como podia acabar com tudo?

Mas, no fundo, Percy entende o que Jason está fazendo. Em partes, pelo menos. A distância era um problema, mas ele achava que o amor deles fosse o suficiente pra superar tudo. Talvez não fosse, no fim das contas. O amor não supera tudo, não sem as pessoas se esforçarem.

- Eu amo você, Jay. Você sabe disso. E eu queria que tivesse um jeito de... – ele suspira e funga.

- Eu também, Percy. Eu também. – diz baixinho.

Percy sente o gosto das lágrimas em seus lábios e limpa o rosto numa tentativa frustada de tentar se manter firme. Ele precisava parar de chorar, precisava ter absoluta certeza de tudo aquilo.

- Então é isso? Você está terminando comigo? – e por mais que Percy tenha tentado parecer firme, sua voz saiu em tom bastante dolorido.

Ele levou a mão até o colar com o "J" inconscientemente, então contornou a forma do pingente com os dedos e ficou imaginando como seria sua vida agora. Jason não estaria mais com ele, não ia poder mais ouvir a risada suave dele e não poderia mais perguntar "Como foi seu dia?". Não, agora ele não ia poder mais fazer isso. E talvez se manter longe de Jason fosse mais difícil do que o término em si.

Porque, de uma forma ou de outra, ele sabia que não ia deixar de o amar. Assim como nunca deixou de amar Nico. A diferença era que eram amores diferentes e sentimentos diferentes. Mas o que ele sentia por Jason nunca ia morrer e Percy temia que talvez nunca diminuísse também.

- Eu... – ele faz uma pausa e Percy tenta não pensar que talvez ele voltasse atrás. – É isso. Eu estou t-terminando com você. – gagueja.

Percy fecha os olhos de novo e sente as lágrimas grossas escorrerem por suas bochechas. Ele funga, sentindo o coração doer de uma forma que ele nunca pensou sentir.

- Só não se esqueça, eu ainda amo você. – confessa sem saber mais o que dizer.

- Eu também amo você, peixinho.

E ouvir aquilo o fez chorar um pouco mais. Ele se segurou para Jason não perceber o quão mal ele estava ficando. Percy precisava ficar sozinho, apenas isso.

- Tchau, Jay. – se despede.

- Tchau, Percy.

E desligar talvez tenha sido uma das coisas mais difíceis que ele já fez.

[...]

Percy suspira, sentindo algumas lágrimas em seus olhos. Toda vez era daquele jeito e ele simplesmente não conseguia evitar, não conseguia impedir a onda de sentimentos que passava por seu peito toda a vez que ele se lembrava daquele noite. Simplesmente não conseguia.

Assim como não conseguia sentir raiva de Jason, porque Percy nunca foi bom em ressentir das pessoas. E ele sabia que ainda o amava.

Como ele podia odiar alguém que ele sabe que ama?

Percy se encolhe, encostando-se na cabeceira da cama e trazendo as pernas pra junto de si. Ele esconde o rosto entre os joelhos e respira fundo, pensando em coisas boas. Mantendo-se firme. Tentando não desmoronar.

- Percy? – chama alguém do lado de fora do seu quarto. – Posso entrar?

Percy levanta o rosto, reconhecendo a voz de Annabeth em sua porta. Ele limpa o rosto com rapidez e tenta parecer bem, embora saiba que ele não vai conseguir enganar a amiga.

- Pode entrar! – grita.

A porta é aberta e ele vê Annabeth entrar com um olhar neutro. Ela trás um prato em uma mão e segura uma sacola com a outra. Annabeth se senta ao seu lado e sorri de leve pra ele, colocando as coisas em sua cama e estendendo os braços.

Percy olha pra Annabeth e não resiste, ele se joga nos braços da amiga e afunda o rosto no pescoço dela, tentando não pensar em nada. Ele aproveita o carinho que ela começa a fazer em suas costas.

Os dois ficam apenas em silêncio e isso basta pra Percy se sentir melhor. Ele sabia que não precisava de palavras para saber o que Annabeth sentia e sabia que não precisava de nada além do apoio dela pra saber o quanto ela se importava com ele.

- Trouxe filmes. Vamos fazer maratona. – sussurra ela em seu ouvido.

E Percy gosta como ela não pergunta nada, gosta como ela simplesmente o intima pra fazer aquilo. Porque talvez fosse isso que ele precisasse naquele momento: distração.

- Super-herói? – pergunta baixinho.

- Claro. – responde se afastando e sorrindo, o que faz Percy sorrir também.

***

Depois que eles assistiram todos os filmes que Annabeth trouxera e comeram todos os cupcakes azuis que sua mãe tinha preparado, Percy simplesmente deitou a cabeça no colo da amiga e aproveitou o carinho dela em seus cabelos.

Ele não iria mentir, ainda não estava completamente bem. Mas se sentia bem melhor do que antes, porque agora ele tinha Annabeth para apoiá-lo. E ele sabia que podia contar qualquer coisa pra ela.

- Faz tempo que não fazemos isso. – comenta Percy baixinho.

- É, fez falta. Gosto de passar um tempo com você. – diz em tom sincero.

Percy acena com a cabeça de leve.

- Acho que acabei me focando muito no meu relacionamento com Jason, não é? – diz suavemente.

Annabeth o olha com suas íris cinzas e nega de leve.

- Nós dois andamos ocupados, Cabeça de Algas. Não seja idiota em se culpar. – diz sorrindo e fazendo Percy sorrir um pouco também.

- Okay, tentarei. – comenta divertido.

- Acho bom mesmo. – brinca.

Percy sorri e fecha os olhos, ronronando com o carinho de Annabeth em seus cabelos. Ele adorava quando ela lhe fazia cafuné.

- Sabe, ele foi um idiota. Mas acho que entendo o ponto de vista dele. – diz Annabeth olhando um ponto qualquer na parede.

Percy abre os olhos e suspira, encarando a amiga durante alguns instantes.

- É, eu entendo. Mas não posso evitar me sentir traído. Jason simplesmente desistiu da gente, de nós. – diz em tom triste.

Ele sabia que seria difícil um relacionamento à distância, mas queria que Jason tivesse pelo menos tentado. Talvez eles se machucassem mais no futuro, talvez aquilo acabasse com eles. Talvez e talvez.

Mas eles não iam saber se não tentassem e aquilo doía em Percy, saber que eles nem tentaram de verdade. Fazia parecer tudo uma mentira. E ele sabia que não era uma mentira. O que eles tinham vivido tinha sido real. Ele sabia que tinha.

- Entendo seu lado, Percy. Te conheço melhor do que muita gente e sei como você preza viver cada momento como se fosse o último. Mas, Cabeça de Algas, Jason estava pensando no futuro. Ele já estava se planejando, pensando nas consequências e entendo o que ele fez. Acho que teria feito o mesmo se fosse ele. – diz olhando em seus olhos e parecendo sincera.

Percy absorve as palavras com cuidado e suspira. Talvez era aquilo que todos diziam sobre ele e Jason. Eles se completavam e se complementavam, de alguma forma. Percy sempre fora impulsivo e raramente tomava cuidado em suas decisões, diferente de Jason. Ele pensava nas consequências, no futuro e gostava de ter o controle do que sentia.

Será que as diferenças que o tinham separado?

- Eu sei, Sabidinha. Entendo o que ele fez e jamais seria capaz de odiá-lo. Mas não consigo mudar o que eu sinto, não consigo ser como você e como ele. Não consigo planejar e ter controle. Simplesmente não consigo. – diz em tom frustado e cansado.

Annabeth toca seu rosto e o faz olhar pra ela.

- Eu sei, Percy. Sei como você é e comecei a perceber como ele é. Mas se vocês se amam, isso não importa. Vocês vão dão um jeito. – diz convicta.

Percy a olha atordoado.

- Você acha que nós vamos...?

- Digamos que eu andei conversando com Thalia. – diz vaga, mas sorrindo de leve.

- O que você quer dizer? – pergunta sem entender.

Annabeth ri.

- Segredo, Percy. Não se preocupe com isso, apenas descanse. – diz beijando sua testa.

Percy relaxa automaticamente, fechando os olhos e se aconchegando no colo de Annabeth. Ele confiava nela e se ela dizia que estava tudo bem, então estava. Além que ele era lerdo demais pra entender, o que quer que seja.

Percy sorriu de leve com o pensamento e deixou que o sono começasse a tomar conta de seu corpo e mente. Logo, ele tinha adormecido. E em seus sonhos havia um par de olhos azuis o olhando.