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História A Destruição do Olimpo - O Ciúmes Dói.


Escrita por: MiniNicc

Notas do Autor


BOA LEITURA, AMORES!!!!!!!
Comentem no final

Edit1: Desenho meramente ilustrativo do Mundo Inferior.

Capítulo 64 - O Ciúmes Dói.


Fanfic / Fanfiction A Destruição do Olimpo - O Ciúmes Dói.

 

2 dias depois

 

Nos dois dias que se seguiram ao catastrófico encontro entre a sereia, Apolo e o Diretor do Acampamento Meio-Sangue, Nimuë resolvera ficar apenas dentro do Chalé de Poseidon. Na verdade esse fora um conselho da sua cunhada, Annabeth Chase, após presenciar o tumulto que o Acampamento tinha virado por causa das fofocas. Annie e Percy lhe convenceram que o melhor era ela se isolar no Chalé por um tempo, e deixar a poeira baixar. Deixar as pessoas se acostumarem com a notícia, e deixar que fofocassem o quanto quiserem, porém longe dos ouvidos já sensíveis e frágeis da sereia. Percy tinha medo que sua irmã não aguentaria mais tanto sofrimento e angústia na vida. A garota já tinha passado por muita coisa, não precisava ouvir o que as pessoas estavam falando de si por aí. Claro que algumas, em sua grande maioria, estavam lhe bajulando e chocadas pela grandiosidade do feito da sereia. Apolo era mais que um Deus para a maioria das garotas ali do Acampamento. Ele era um símbolo de beleza, de poder, de status. Era idolatrado, e o fato de sequer existir um boato de que a sereia ficara com ele, fez as pessoas ficarem boquiabertas. Só que o problema de meninas adolescentes invejosas é que elas podem sim ser malvadas quando querem, falando coisas que Percy tinha certeza que Nimuë não gostaria nenhum pouco de ouvir. Então a aconselhara a se isolar.

Porém não antes, é claro, de lhe dar um sermão de mais de meia hora. Ficara extremamente furioso quando descobrira que Nimuë havia sumido no dia anterior. E, ao procurar Quíron para explicações, o Diretor lhe avisara que sua irmã saíra do Acampamento por vontade própria naquela manhã. Acompanhada do Deus Sol, Apolo. De primeira, pensou que ela havia sido forçada. Sequestrada, ou algo do tipo. Mas o Diretor lhe garantira que não, pois ele tinha métodos poderosos o suficiente para controlar a entrada e saída do Acampamento. Sabia quem saía contra sua vontade, sabia quem saía por vontade própria, sabia exatamente horários de ingresso e saída de absolutamente qualquer pessoa que cruzasse a barreira mágica de Thalia. Então Percy apenas aguardara o retorno da sua irmã, que aconteceu somente na madrugada do dia seguinte. Ela, obviamente, não queria conversar. Queria apenas se trancar no seu quarto, e ignorá-lo. Queria simplesmente fingir que não tinha sido completamente inconsequente e irresponsável. Eles conversaram, discutiram, a sereia chorou e por fim se levantou e foi em direção a porta do seu quarto.

— Eu vivi 17 anos sem precisar prestar esclarecimentos pro meu irmão mais velho sobre o que eu faço ou deixo de fazer! — ela havia gritado consigo, pouco antes de virar as costas e entrar corredor adentro.

— Você tem que entender que isso não diz respeito somente a você! — Percy tentara explicar, falando algo que para ele era óbvio. E se Apolo tivesse lhe matado durante esse passeiozinho? Além de estar morta, esse fato ainda iria desencadear uma guerra no Olimpo que atingiria a tudo e a todos.

— Tudo o que eu faço na minha vida não diz respeito somente a mim, você já percebeu isso Percy? Se eu for lá fora dar uma cagada no mato agora, minha atitude em algum momento vai acabar desencadeando uma guerra entre o Deus da Bosta Líquida e o Deus do Cu Sujo. Então vê se me dá um tempo! — a sereia havia falado, por fim. E bateu a porta do quarto na cara do filho mais velho de Poseidon. Percy estava furioso, mas havia sentido vontade de rir com a analogia que sua irmã fizera.

E o pior de tudo é que era a mais pura verdade. A vida inteira da sereia era premeditada, e não havia nada que ela pudesse fazer sem que isso mexesse com todo o futuro do Olimpo e do próprio Acampamento Meio-Sangue. Era bem como o seu pai havia dito uma vez. Nimuë realmente era o Sol, e tudo girava ao redor dela. As vezes Percy tentava se colocar no lugar dela, e imaginava o quanto isso tudo deveria ser frustrante. A garota não podia nem namorar em paz, sem que todo mundo se metesse nisso. Sem que o mundo inteiro comentasse e fofocasse sobre. Pobre da sua irmã. E foi por isso, agindo em prol da paz, que Percy a chamara para conversar na manhã seguinte e fizera as pazes com sua irmã. Ele lhe aconselhara, juntamente com Annabeth, a ficar por ali mesmo no Chalé de Poseidon que eles lhe trariam comida no café, almoço e janta. A sereia aceitou. E, desde lá, dois dias se passaram. Parecia pouco, mas muita coisa tinha acontecido.

Muita coisa mesmo. Apolo havia lhe visitado inúmeras vezes. Sim, no seu quarto, em segredo, longe dos olhares e das fofocas. E escondido de todo mundo, inclusive de Percy. Eles passaram duas noites inteiras juntos, embora parecesse muito mais. Transaram de novo, diversas vezes. Sempre que tinha a oportunidade de sentar naquele homem, Nimuë sentava. Apolo era perfeito. Lindo que chegava a doer os olhos, e extremamente encantador. Querido, fofo, honesto, sensível e muito engraçado. Arrancava umas gargalhadas de Nimuë que ela não se lembrava a última vez em que havia sido tão feliz assim. De manhã ele precisava ir para o Olimpo, bem como literalmente dirigir o Sol. Mas, depois disso, voltava e passava o dia com a sereia. Além disso, Nimuë também havia falado com seu pai. Poseidon havia invadido seus sonhos durante a segunda noite, e a chamara para conversar na beira de uma praia. Nimuë não soube bem localizar onde era, mas de alguma forma sabia que era a praia preferida do Deus dos Mares. E ele estava tão a vontade lá, assim com fê-la se sentir tão a vontade também, que parecia que Poseidon estava acostumado a viver ali. Talvez vivesse mesmo.

Durante o sonho, a sereia abraçou seu pai e chorou. Chorou muito. Colocou todas suas frustrações para fora e, antes que Poseidon pudesse iniciar o mesmo sermão que Percy já havia lhe dado, a sereia confessou. Confessou o motivo pela qual havia escolhido abandonar Cathlon e retornar para o Acampamento Meio-Sangue, quebrando o acordo dele com Zeus. Contou à Poseidon que estava grávida do filho de Hades. Que a Profecia estava a caminho de se cumprir. Seu pai, ao ouvir a notícia, ficara em silêncio por longos segundos exibindo uma expressão impassível e completamente indecifrável. Depois, lhe abraçara novamente. Parecia com medo, não por si, mas pela própria filha. Não queria que nada de ruim acontecesse com ela, e temia por sua vida. Zeus jamais poderia descobrir isso, senão seria o fim. Poseidon sabia bem que seu irmão não iria aceitar isso. E que nem ele próprio seria o suficiente para segurar o irmão de matar sua filha, caso assim ele decidisse. Então, avisou a Nimuë que iria pensar em algum plano para protegê-la. Foi quando a sereia resolveu correr o risco e contar para o pai que já tinha um plano. Que havia feito um acordo com Hades, para que seu filho vivesse no Mundo Inferior sob a proteção do Deus da Morte até que a hora chegasse. Com isso sim Poseidon havia ficado furioso. Nimuë sabia que o pai era inimigo declarado do Deus do Submundo, mas mesmo assim resolveu correr o risco para contar. Não queria e nem podia mentir ou ocultar informações do seu próprio pai. Ele era, de longe, a pessoa mais interessada no seu bem estar e na sua sobrevivência. E, de longe, a pessoa mais capaz e mais poderosa para lhe proteger. Não iria mentir pra ele.

O Mundo Inferior é o único local onde Zeus não vai poder senti-lo ou atacá-lo, a sereia havia comentado. Tentando convencer o pai de que era um bom plano. Por fim, após longas horas de conversa, Poseidon cedeu e disse que iria conversar com Hades pessoalmente para resolver e entender melhor as intenções do irmão. Nimuë sabia que o Deus do Mundo Inferior não tinha oferecido esse acordo de graça, somente para proteger o filho da filha de um dos seus maiores inimigos. Ele não ganharia nada com isso. Entretanto, a criança estava destinada por Profecia a derrotar Zeus e ascender ao Olimpo como novo soberano. Era óbvio que Hades queria estar ao lado dele quando isso acontecesse. A sereia tinha consciência disso, e seu pai não precisou nem lhe explicar. Não precisou lhe dizer que seu irmão não dava ponto sem nó, e estava se aproveitando da situação. Mas, no fundo, a questão que ficava era: que mal tem? Se pelo menos ele vai proteger meu filho e permitir que ele viva sua infância e adolescência em segurança, qual é o problema?

Após seus dois longos dias com visitas recorrentes do Deus Sol, além de visitas de Scarlet e Danna, Nimuë também tinha contado toda a verdade para seu pai e seu irmão. Havia tirado do seu peito o peso de carregar essa notícia sozinha. O que eram pra ser apenas dois dias normais, haviam sido completamente diferentes e mudado sua vida. Muita coisa realmente havia acontecido. A única coisa que não acontecera fora o seu reencontro com Kael di Maggio. Ainda não tinha visto Kael desde que os boatos de seu envolvimento com Apolo começaram a circular pelo Acampamento. Perguntara para Percy se ele tinha visto a reação do filho de Hades, mas seu irmão dissera que não. Não vira nada. Apenas cruzara com Kael algumas vezes durante os treinos e as aulas, mas não tivera tempo para lhe perguntar “E aí, o que você achou do fato da minha irmã estar transando com um Deus Olimpiano?”. Nimuë rira da fala do seu irmão, e lhe dera um tapinha bobo no ombro. Porém logo perdera o sorriso, e se recolhera aos seus aposentos novamente. Estava com um pressentimento ruim em relação a Kael. Era quase como se pudesse sentir o quanto ele estava sofrendo, e o quanto estava brabo. Tecnicamente Kael di Maggio não tinha absolutamente nada a ver com a sua vida. Ele estava namorando com outra garota, então ele que fosse a merda. Mas, no fundo, a sereia nunca conseguia tirar ele da cabeça. E esse pressentimento ruim nunca passava. De que algo iria acontecer, ou de que ele estava mal por aí em algum lugar. Droga. Droga.

E a sereia estava certa, mesmo sem saber. Dois dias antes, Kael di Maggio havia entrado no pavilhão do refeitório e se sentado na mesa tradicionalmente junto aos filhos de Ares. Hector havia sido o primeiro a lhe encarar, com uma expressão mais estranha do que o normal. Todos estavam estranhos, Kael percebera. Não só ali, na mesa do Chalé de Ares. Mas em todas. A agitação era visível, e as pessoas pareciam mais animadas e falantes do que o costume. Di Maggio de início ignorou, mas depois não aguentou as encaradas patéticas e infantis que Hector e Deimos estavam lhe dando de cinco em cinco segundos. Como se fossem duas criancinhas se roendo para não comer um chocolate dando bobeira em cima da mesa. Virou-se para eles, e largou o garfo em cima da mesa.  

— Tem alguma coisa que vocês querem me contar? — Di Maggio perguntou, em voz alta. Chamando atenção de várias pessoas ao redor. Hector arregalou levemente os olhos, e engoliu em seco. Kael estranhou.

— Não, na verdade não — o filho mais velho do Deus da Guerra falou, dando de ombros. Deimos, sentado ao seu lado, lhe cutucou com o cotovelo. Lhe incentivando a falar. Di Maggio revirou os olhos, achando uma palhaçada todo aquele mistério. Provavelmente era bobagem, e ele não estava com saco pra isso.   

— É só uma fofoca que tá rolando pelo Acampamento, você provavelmente vai ouvir mais tarde — Hector complementou, lhe encarando com seus olhos azuis. Kael assumiu uma expressão incrédula.

— E daí, irmão? Desde quando eu ligo pra fofoca? — Di Maggio perguntou ao amigo. Aquilo ali estava muito estranho. Hector sabia melhor do que ninguém o quanto Kael estava pouco se fudendo pra essas fofocas e falatórios que sempre aconteciam no Acampamento. Nunca se metia, e nem fazia questão de saber sobre. Por isso imaginou que, se Hector e seus amigos estavam fazendo tanto mistério com relação a essa fofoca em particular, era porque algo importante acontecera.

— É sobre a sereia! — Deimos falou, por fim. Depois de longos segundos silenciosos que se abateram sobre a mesa do Chalé de Ares. Kael franziu as sobrancelhas, porém não estava surpreso. Imaginou mesmo que seria algo sobre ela. Era o único motivo para eles estarem tão receosos assim de lhe contar. Seu coração se acelerou um pouco, embora o filho de Hades não tenha deixado transparecer. Odiava ficar nervoso assim.

— Mas a gente não sabe se é verdade ou só boato — Hector complementou, tentando visivelmente amenizar a situação. Kael o encarou.

— O que que tem ela? — o filho de Hades perguntou, sem enrolar mais um segundo sequer. O que quer que fosse, queria saber.

— Ontem ela saiu do Acampamento sem permissão. E acabou suspensa por 1 semana! — o filho mais velho de Ares lhe respondeu, baixando o tom de voz para não chamar mais atenção ainda pra sua mesa. Muitos semideuses já estavam espichando o olhar e o ouvido para escutarem a conversa entre eles. Kael arregalou os olhos negros levemente, chocado com o que seu amigo havia lhe dito.

— Como é que é? Pra onde ela foi? Pro fundo do mar? — Di Maggio perguntou, confuso. Será que ela havia resolvido retornar para Cathlon? Kael não conseguiu evitar o embrulho que se formou no seu estômago somente com essa possibilidade. Com a chance dela sumir novamente, e retornar pro fundo do mar sem nem se despedir. Sem que ele pudesse lhe ver mais uma vez. Na verdade nem fazia sentido o filho de Hades ter esse sentimento, deveria desejar que ela realmente sumisse, para que assim ele pudesse simplesmente seguir sua vida e superá-la. Esquecê-la de vez. Mas, lá no fundo, não conseguia desejar isso. Não conseguia vê-la indo embora de novo. Era como se o seu coração ainda nutrisse alguma esperança de que um dia poderiam se acertar. Que algum dia ainda poderiam voltar a ser o que eram antes. Mas ela se fosse embora de novo...estaria tudo acabado de vez. Só a hipótese fez seu sangue gelar nas veias, e Di Maggio engoliu em seco.

— Não. Aparentemente ela foi pra Nova York — Deimos quem lhe respondeu, dando de ombros. O filho loiro do Deus da Guerra lhe encarou, com a expressão despreocupada e tranquila. Já Hector estava apreensivo. Ele conhecia Kael di Maggio melhor do que ninguém, e sabia o quanto o assunto Nimuë mexia com o filho de Hades. Talvez fosse o único que soubesse o quanto esse assunto ainda era delicado pra Kael. O único que havia acompanhado a fundo o quanto Di Maggio tinha sofrido com o término. Os outros, por mais que fossem seus amigos e irmãos e tivessem a consciência do quanto a história do filho de Hades e da filha de Poseidon fora forte e grandiosa, ainda sim agiam como se tudo já fosse página virada. Se acostumaram com o fato de Kael já estar há três meses namorando com outra garota, e alguns até supunham que a sereia já era passado. Era apenas sua ex-namorada, e a garota que havia vazado do Acampamento sem mais nem menos de um dia para o outro.

— Isso é impossível! — Kael falou, referindo-se ao fato de Nimuë ter ido para Nova York. Essa cidade ficava no centro do mundo humano, no meio dos mortais. Sendo filha de um dos Três Grandes Deuses e tendo o sangue forte como ela tinha, teria sido atacada em menos de 5 minutos. Jamais teria conseguido voltar viva para o Acampamento. Tinha alguma coisa que não estava encaixando nessa história.

— Ela não foi sozinha! — Hector falou, com uma pontada de desânimo na voz. Como se, no fundo, não quisesse estar falando sobre isso. Como se lhe doesse ter que admitir algo. Kael já estava com o sangue quente, e imaginou o rumo que aquele conversa seguiria. O coração começou a bater mais forte, e Di Maggio pode senti-lo pulsando numa veia no pescoço.

— Hector! — o filho de Hades chamou o nome do amigo, diante do silêncio que ele estava insistindo em manter. Se era pra saber, então que soubesse logo. Que arrancasse fora logo o band-aid.

— Ela foi com Apolo — o filho do Deus da Guerra bradou, finalmente. A frase foi pronunciada em um tom um pouco alto demais, porque Hector colocou as palavras para fora como se estivesse soltando o ar depois de minutos sem respirar. Como se ele estivesse segurando-as para não ter que admitir. Kael franziu as sobrancelhas, ignorando os vários olhares que se virarem na sua direção.

— Apolo? — o filho de Hades murmurou, como conseguiu. Mas Apolo era um Deus. Kael imaginou que Hector falaria o nome de algum semideus tipo aquele idiota que havia lhe provocado outro dia na Festa da Fogueira. Poderia lidar com isso. Na verdade se imaginou até rindo da situação. Mas Apolo? Apolo era um Deus. E não qualquer Deus. Era o filho mais poderoso de Zeus, o Deus-Sol e também conhecidamente o Deus mais jovem e bonito do Olimpo. Ele tinha fama de ser mulherengo, e um histórico de problemas amorosos ao longo de sua milenar existência. Kael ainda jazia com os olhos negros paralisados em um ponto aleatório da mesa a sua frente, tentando raciocinar sobre o que acabara de ouvir. Como assim Nimuë havia ido para Nova York com Apolo?

— Eles tão?... — o filho de Hades tentou fazer a pergunta óbvia, mas não conseguiu terminá-la. Era como se finalmente a sua ficha de que não estava mais namorando com a sereia tivesse caído.

É de conhecimento público que existem duas fases num término. A primeira, em que você literalmente termina com a pessoa. E a segunda, quando você vê seu ex com outra pessoa. Dizem que a segunda dói mais que a primeira, porque é quando você percebe oficialmente que está tudo acabado. Kael ainda não havia passado por isso, e não sabia o quanto machucava. Até agora, é claro. Se fosse qualquer outra pessoa, talvez o filho de Hades teria lidado melhor. Mas Apolo? Ele estava acima de si. Isso mexia diretamente no ego do filho de Hades. Kael nunca passara pela sensação de se sentir inferior a alguém em algum aspecto. Sempre era o mais bonito, o mais poderoso, e o mais badass entre todos ao seu redor. Gostava de ser temido, de ser respeitado, e admirado. Sabia que isso era puro ego, bem como uma bobagem sem tamanho. Mas agora estava incomodado. Estava incomodado pra caralho. Não podia competir com Apolo. O Deus mais bonito e poderoso do Olimpo? Não, definitivamente não. Será que Nimuë estava realmente com ele? Kael balançou a cabeça para evitar exatamente esse tipo de pensamento através sua mente. Não aguentaria se tivesse que imaginá-la no braços dele...

— São só boatos, Kael — Hector falou, tentando lhe tranquilizar. Tentando, novamente, amenizar a situação. Porém Deimos, ao seu lado, ignorou totalmente o clima e continuou falando.

— Eles passaram o dia inteiro juntos. E a noite também! Não sei não viu, com a fama que o cara tem duvido que sejam realmente só boat... — o garoto loiro foi interrompido por uma cotovelada forte de Hector direto no seu peito. Deimos chegou a se assustar, e calou-se imediatamente, olhando ao redor. Pensou que o cara estava ali, ou então a própria sereia. Mas quando não encontrou ninguém, fez uma expressão confusa para o irmão. Só depois percebeu que o problema era com Kael. O filho de Hades fez a última coisa que queria fazer, mas não conseguiu evitar. Sua imaginação foi preenchida com imagens da filha de Poseidon na cama com o Deus-Sol, imaginou os dois juntos em um momento íntimo, imaginou Apolo segurando a garota que um dia fora sua princesa nos braços. Sua sereia, sua namorada. Não. Não. Merda. Puta que Pariu. Isso foi o suficiente para fazer Di Maggio se descontrolar. Não imaginou que se descontrolaria assim, mas se descontrolou. Kael levantou da mesa, empurrando-a para frente com violência. Alguns copos e pratos espatifaram-se no chão, e se alguém não estava prestando atenção neles antes, agora estava. Di Maggio marchou para fora do refeitório com velocidade, e alguns dos filhos de Ares se levantaram da mesa também. Fazendo menção de ir atrás dele.

— Fiquem aqui! — Hector gritou, apontando para os irmãos sentarem-se novamente. E, sozinho, sob o olhar de centenas de semideuses curiosos, caminhou pelo refeitório até adentrar a Floresta do Norte atrás do filho de Hades. Era isso o que Hector não queria que acontecesse. Era isso o que estivera tentando evitar. O filho do Deus da Guerra sabia o quanto Kael di Maggio se tornava imprevisível e perigoso quando estava nesse estado. E, por mais que quisesse deixá-lo sozinho para internalizar a notícia, imaginou que seria pior do que tentar acalmá-lo e lhe dar um ombro amigo.

— Kael, espera — Hector bradou, ao finalmente avistá-lo dentro da Floresta. Ele estava parado, no meio das árvores, respirando descompassado. Parecia estar tendo um ataque de ansiedade, ou uma crise de pânico.

— Não chega perto! — Di Maggio bradou para o melhor amigo. Não queria machucá-lo, mas não estava conseguindo evitar que seu poder esvaísse de dentro de si. Sentiu uma onda fria ao seu redor, e deixou que a escuridão diminuísse a claridade do ambiente ao redor. Aquela área que antes estava clara, com um dia ensolarado bonito, agora recebia pouco a pouco uma nuvem preta de sombras e escuridão. Hector arrepiou-se completamente, mas não arredou o pé. Não permitiu-se sentir medo, embora o poder de Kael fosse exatamente isso. Dependendo da intensidade, o filho de Hades conseguia congelar completamente uma pessoa com uma onda de medo e pavor. Fosse ela humana ou semideusa. Fosse até mesmo um Deus. O filho de Hades não era um semideus normal, com poderes que derivavam dos seus pais. Kael conseguia alcançar até mesmo a integralidade do poder de Hades, principalmente quando estava descontrolado assim. Era tão perigoso quanto o próprio Deus da Morte, e Hector sabia disso.

— Kael, olha pra mim! — o filho do Deus da Guerra pediu, tentando se aproximar alguns passos do amigo. Ele ainda estava com a respiração entrecortada, e o peito subia e descia com rapidez. Como se ele estivesse sem ar. Kael levou as mãos à cabeça, perto dos ouvidos. E apertou, fechando os olhos. Hector imaginou que ele estava tentando livrar sua mente de pensamentos indesejados.

— Respira fundo — Hector o encorajou, com a voz amena — Me diz que dia nós ganhamos o nosso primeiro Caça à Bandeira juntos? — perguntou, usando um método que usava para acalmar sua mãe antigamente. Antes de vir para o  Acampamento, durante sua infância, Hector vivia com sua mãe Emily na cidade de New Jersey. Ela possuía uma doença chamada transtorno de bipolaridade combinada com síndrome do pânico, e frequentemente tinha ataques e se descontrolava. Hector desenvolveu uma técnica para acalmá-la, que baseava-se em perguntar-lhe coisas aleatórias. Para que ela colocasse a mente para funcionar, e se distraísse do que realmente estava acontecendo ao redor. O filho do Deus da Guerra aproveitou para segurar o braço de Kael di Maggio e sua frente.

— Não! — o filho de Hades reagiu, afastando o toque do amigo. Deu dois passos para trás, envolvendo Hector com uma fumaça preta e espessa. Uma escuridão sufocante. O primeiro instinto de Hector foi sair correndo dali, visto a onda de medo que tomou conta do seu corpo. Mas o filho de Ares fincou o pé no chão, recusando-se a ir a lugar algum. Queria ajudá-lo, e sabia que era a única pessoa capaz de fazer isso.

— Olha pra mim, Kael. Que dia foi que nós ganhamos o nosso primeiro Caça? — perguntou novamente, encarando-o profundamente. Hector não lembrava-se de ter visto os olhos de Kael tão pretos assim antes. Não estavam só escuros da forma comum, misturando-se com a cor da pupila de forma que ela ficava inidentificável. Estavam brilhando de tão negros e cintilantes. Di Maggio piscou, parecendo confuso, e agitado. Ele balançou a cabeça diversas vezes, tentando se concentrar. Isso era um bom sinal, Hector pensou. Ele estava pensando na sua pergunta.

— Foi dia 7, terça feira. Há três anos atrás — Kael respondeu, depois de alguns segundos. Hector quase sorriu, mas apenas assentiu com a cabeça. Encorajando-o a continuar.

— Isso. E o seu último Campeonato dos Dez, foi que dia? — perguntou novamente, estendendo a mão para Kael. Tentando se aproximar, e furar a barreira de escuridão e trevas que ele tinha montado ao redor de si.

— Foi numa sexta-feira —  Kael respondeu, com a voz menos entrecortada do que antes. Estava funcionando.

— Foi numa sexta feira, isso aí — Hector falou, dando mais um passo em frente. O filho do Deus da Guerra viu seu amigo recuperar, pouco a pouco, sua estabilidade. Kael respirou fundo várias vezes, e a escuridão ao redor se dissipou como uma neblina. Revelando acima de si o dia ensolarado e bonito novamente.  

— Respira — Hector o incentivou mais uma vez, postando-se na frente do filho de Hades. Kael o encarou, com os olhos menos escuros do que há momentos atrás. Hector chegou até mesmo a suspirar de alívio. Estava a salvo agora, não iria mais morrer nas mãos do seu amigo. Tudo bem que Di Maggio nunca lhe mataria, mas num ataque de raiva daqueles que ele costumava ter, tudo era possível. Nem mesmo seu melhor amigo estava livre. Era um perigo muito grande um semideus ser tão poderoso assim, e ainda ter problemas para controlar a raiva no mesmo pacote. Um dia isso poderia causar um acidente feio.

— Eu sinto muito, irmão — Hector falou, referindo-se a situação da sereia com o Deus Sol. Di Maggio havia murchado completamente o corpo, que antes estivera irado. Agora parecia somente...desolado. Completamente derrotado, triste, arrasado. Dos olhos negros dele desceram duas lágrimas, e Hector sentiu o poder daquele momento. Arrepiou-se. O filho do Deus da Morte era orgulhoso demais para baixar a guarda na frente de alguém, para chorar na frente de uma pessoa. Jamais chorava. Raramente se entregava dessa forma. Hector só tinha lhe visto chorar duas vezes. Quando sua irmã, Grace di Maggio, não retornara ao Acampamento após uma missão externa mal sucedida. Há três anos atrás. E quando a sereia fora embora do Acampamento, após terminar seu namoro. E agora ele estava ali novamente, com o rosto tão machucado que Hector sentiu vontade de chorar junto.

— Eu nunca mais... — Di Maggio tentou falar, mas as palavras lhe esvaíram. — Nós dois nunca mais vamos... — ele referia-se a sereia. Era como se finalmente a ficha dele tivesse caído. A ficha de que tinha perdido Nimuë, de vez. No fundo, Hector sabia que o que estava machucando Di Maggio era o seu ego ferido. Ver a sereia pela primeira vez com outra pessoa era o que estava verdadeiramente lhe machucando. Mas não fazia muito sentido, porque Nimuë já tinha sido obrigada a vê-lo com outra garota também. Kael estava inclusive namorando, e já tinha até mesmo beijado a garota na frente dela. Com certeza não tinha se importado com o quanto isso havia machucado a sereia. O problema é que no cu dos outros é refresco né, mas quando se sente a dor na própria pele...

Daí é outra história.

— Eu sei. Eu sei — Hector se limitou a dizer, colocando uma mão no ombro do amigo. Deixou que ele chorasse tudo o que precisava, e por fim o abraçou. Lhe apertando fortemente contra o peito. Agora não era o momento de fazê-lo entender que tudo isso que acabara de acontecer podia ser resumido apenas a uma palavra: Ciúmes.

E o ciúmes dói. Quando você ama uma pessoa verdadeiramente, como estava claro que Kael di Maggio amava, o ciúmes machuca de uma forma inexplicável. Quem sabia disso melhor do que ninguém? A garota que havia assistido, escondida atrás de uma árvore, toda a cena entre Hector e o filho de Hades. Tudo bem que um dos poderes de Ino era sentir a emoção e o sentimento das pessoas ao seu redor, mas ainda sim. A loira havia acabado de presenciar o ataque de ciúmes do seu namorado por causa de outra garota e pior: havia lhe visto chorar por ela. O coração de Ino só faltou ser esmigalhado quando se deu conta de Kael di Maggio jamais choraria assim por si. Foi o choque final que ela precisava levar. Foi o momento em que algo mudou, e a filha de Afrodite finalmente percebeu e admitiu para si mesma que Kael não sentia por si nem um terço de tudo o que sentia pela sereia. Doía muito se dar conta disso, e dava vontade de puxar o coração pela boca e esmagá-lo com o pé. 

Mas estava cansada de se enganar em relação a isso. Estava exausta de fingir que Di Maggio havia superado a maldita filha de Poseidon. Ino estava exaurida, machucada e completamente vencida. Não iria lutar por esse relacionamento falso mais nenhum segundo sequer.

Precisava lutar era por si mesma. 

 


Notas Finais


Próx cap teremos o reencontro de Kael e Nimuë, e um certo Deus vai ficar cara a cara com o semideus do submundo hein...
XÔ SPOILER.
Vamos ver o que vai rolar.


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