1. Spirit Fanfics >
  2. A Espada do Destino >
  3. Camélias

História A Espada do Destino - Camélias


Escrita por: Areque e Biana_v

Notas do Autor


Esperamos que estejam gostando, pois cada capítulo é escrito com muita dedicação para vocês.
Neste em especial finalmente as barreiras serão quebradas e teremos um estreitamento de laços muito importante, masssssss que também poderá trazer consequências futuramente.


Tenham uma boa leitura e até as notas finais 😉

Capítulo 22 - Camélias


Fanfic / Fanfiction A Espada do Destino - Camélias

Não te quero senão porque te quero,

E de querer-te a não querer-te chego,

E de esperar-te quando não te espero,

Passa meu coração do frio ao fogo.

“Soneto LXVI – Pablo Neruda”

 

A ceia seria servida em poucas horas e Medina veio aos aposentos lhe preparar a tina para o banho e retirou-se logo em seguida costumeiramente atarefada. O koviriano passou as mãos sobre os cabelos negros úmidos jogando-os para trás e se permitiu encostar a cabeça sobre as bordas fitando o teto pensativo, a luminosidade dos raios de sol atravessavam as pequenas fissuras do telhado. Ainda estava confuso por estar no meio de elfos e feiticeiras. Por que não se lembrava de como havia ido parar naquela batalha? Por que queria capturar os filhos de Filavandrel aén Fidháil? Tudo aquilo não fazia nenhum sentido. Molhou o rosto com as mãos e suspirou frustradamente. Não adiantava ficar remoendo tal assunto, pelo menos não por enquanto, apesar das explicações de Triss e Filavandrel sobre os fatos buscaria as respostas que necessitava no seu devido tempo.

Também tinha o dever de acertar as coisas com sua futura esposa, Cerys an Craite que assim como ele, havia ficado acamada recuperando-se de seus ferimentos nos dias que se seguiram após a batalha. Havia conseguido visitá-la apenas dois dias para verificar como estava seu estado de saúde e combinaram de conversarem e colocarem os acontecimentos em dia assim que pudessem. Entretanto, estava estranha e fortemente atraído por Ellinfirwen e por isto travava uma batalha interna em seu íntimo entre o desejo e o dever. Seria mesmo certo avançar com a filha de Filavandrel? Afinal, por mais que não fosse de sua livre vontade, tinha uma responsabilidade com Cerys. Suspirou longamente outra vez com o turbilhão de impasses que o cercavam. Assim que terminou seu banho, aproveitou o tempo antes da ceia para tratar de tais assuntos com a skelligana. A princesa élfica franziu o cenho sentido um estranho incômodo em seu peito ao avistá-lo cruzar o corredor e adentrar nos aposentos da humana ruiva.

— Alteza...

A Aen Seidhe assustou-se com o chamado repentino colocando a mão sobre a região do coração.

— Triss Merigold... Assustou-me — não havia percebido a aproximação da feiticeira que sorriu pela extremidade dos lábios singelamente.

— Peço desculpas, não foi minha intenção. E pode chamar-me apenas de Triss.

— Como queira. Não tive a chance de lhe agradecer por toda a ajuda que tem prestado a nós, com certeza as coisas teriam sido bem piores sem você e suas companheiras. Ainda que haja diferenças entre as raças, vocês lutaram ao nosso lado com bravura, eu reconheço isso e ofereço minhas condolências pela perda de suas irmãs de magia.

— Não há o que agradecer. É o mínimo que poderia fazer, vosso pai estendeu a mão e ofereceu-nos abrigo e proteção quando ninguém mais se dispôs a fazê-lo nestes tempos sombrios que nos cercam. E todos nós perdemos muito nesta batalha, mas se ainda estamos aqui é por uma boa razão.

Ellinfirwen sorriu debilmente com um meneio de cabeça em condescendência.

— Ellin, podes chamar-me apenas de Ellin. Não há necessidade de formalidades — esclareceu. Verdade seja dita, nunca gostou de tantas formalidades para com sua pessoa, só sentia-se na obrigação de aceitar por ser a filha do rei.

Triss assentiu com um sorriso, em seguida olhou em direção da porta pela qual Doretarf havia adentrado.

— Parece que eles têm muito o que resolver — constatou a feiticeira.

— Por que diz isso? — indagou a elfa com grande curiosidade.

— Quando acessei as memórias do príncipe de Kovir e Poviss, revelaram-me que ambos são noivos.

A elfa engoliu em seco com os olhos arregalados, pega totalmente de surpresa com tal revelação. Tentou em vão dissimular sua inexplicável decepção após deixar transparecer sua feição atônita com a informação sobre o compromisso de Doretarf e Cerys, pois Triss sorriu de canto dando-se conta do que se passava com a mesma. Apesar de que não deveria ser uma surpresa para Ellinfirwen já que em uma corte os indivíduos praticamente já nascem comprometidos por conta das alianças de interesse por parte dos patriarcas de suas famílias. Mas ainda assim, não conseguia reprimir esta sensação de desapontamento que havia tomado conta de seu ser.

— Noivos? — indagou quase em um sibilo após um instante de silêncio, porém logo retomou seu ar de seriedade após pigarrear. — Bem, que sejam felizes bem longe daqui. Tenho que tratar de alguns assuntos com Chireadan, com sua licença — despediu-se da feiticeira, retomando seu trajeto com certa urgência.

Triss observou-a reflexivamente desaparecer no corredor. Muito intrigante Ellin... Vossa mente não é um livro aberto como o restante, não consegui ver o que estava pensando... — confabulou consigo mesma em seu íntimo após a tentativa falha de acessar o subconsciente da Aen Seidhe.

O koviriano aproximou-se com cautela da skelligana que encontrava-se sentada à beirada da cama penteando as madeixas soltas caídas sobre os ombros, a mesma trajava um longo vestido de seda com mangas longas e justas na tonalidade creme adornado por alguns detalhes prateados bordados nas mangas e saia.

— Doretarf? — indagou surpresa ao notar sua presença, deixando a escova de cabelos de lado. — Aconteceu alguma coisa?

— Não se preocupe, não aconteceu nada. Apenas queria aproveitar o tempo que temos antes da ceia ser servida para conversarmos. Afinal, temos muito o que tratar. Posso? — indagou o príncipe apontando para um banco de madeira próximo à cama. Cerys anuiu com a cabeça e ele sentou-se sem demora. — E então, como você foi parar sob a proteção de Filavandrel? — questionou com grande curiosidade.

— É uma longa história...

— Eu tenho tempo o suficiente para ouvi-la. Por favor, conte-me tudo.

Cerys suspirou pesadamente antes de prosseguir, lembrando-se de todo o inferno que passara até ali.

— Bem, para começar, meu pai morreu em batalha contra Nilfgaard nas encostas de Cintra. Mas isso não foi o pior... — ela pausou cerrando os punhos em cólera. — Meu irmão... Traiu a nós, a sua própria família. Ele foi o responsável por convencer meu pai a ir para a guerra, levou-o a uma armadilha... — uma lágrima escorreu dos olhos da ruiva. — Por culpa de meu irmão, o mago Terorah de Nazair, conselheiro de seu pai, lhe cortou a cabeça e a mandou de volta como um maldito troféu...

O koviriano esticou o braço e com o polegar limpou as lágrimas gentilmente. A skelligana afastou-se minimamente, fungou e retomou o semblante austero.

— Eu sinto muito, Cerys... — murmurou ele condolente.

— Hjalmar me expulsou de Skellige, como se eu não fosse absolutamente nada. Esteve de complô com o mago todo este tempo, contra mim, a sua própria irmã. Meu sangue ferve quando lembro do sorriso de satisfação de ambos... Fui jogada em um portal, sentenciada ao banimento nos confins do mundo, estava ferida e sem rumo. Foi então que me encontrei com os Scoia’tael, que mesmo após algumas desavenças me acolheram em sua morada. Depois, houve a batalha em Loc Muinne contra os exércitos redaniano e kaedweni que nos obrigaram a fugir e procurar abrigo mais adentro nas montanhas.

Doretarf fechou os olhos por um momento para assimilar todas as informações que lhe foram despejadas.

— Eu não fazia ideia de que Terorah estava presente em outras cortes. Meu pai confiava cegamente nele, foi traído e assassinado fria e covardemente. O mesmo aconteceu comigo, fui banido... sem direito a retorno. O maldito regicida usurpou o trono de meu pai e forjou minha morte perante o resto do Continente.

— Então somos dois que queremos a cabeça daquele filho da puta em uma bandeja de prata — declarou a ruiva cruzando os braços. — Mas divergirmos em um assunto, alteza. Nosso noivado.

O príncipe endireitou-se sobre o banco e suspirou.

— Este era o ponto que queria chegar... — observou ele. — Ficaria extremamente honrado em desposá-la, no entanto, não irei obrigá-la a casar-se apenas por questões de dever. Quero que me diga o que deseja fazer quanto a isto — solicitou seriamente.

— Nossos objetivos diferem, Doretarf. Não me vejo sentada em um trono como um simples enfeite, tampouco ficar subjugada a qualquer homem. Quero retornar a Skellige e retirar meu irmão do poder, quero lhe ensinar a devida lição de honra e lealdade. E preciso trilhar este caminho sozinha.

— Pois que assim seja — assentiu o koviriano compreensivamente. Doretarf não podia negar a si que de certa forma ficara aliviado pela decisão sensata da skelligana em não prosseguir com uma união onde não havia nenhum outro sentimento envolvido senão o de amizade e apreço. Apesar de tudo o que ocorreu a ambos, ao menos agora poderiam fazer suas próprias escolhas sem qualquer tipo de imposição por parte de suas famílias. — Já que nossos pais foram mortos, não há mais nada que nos prenda a esta obrigação. Respeitarei sua decisão Cerys an Craite, entretanto mesmo seguindo caminhos diferentes ofereço minha amizade a você e recursos para Skellige assim que conseguir recuperar meu lugar de direito.

A ruiva sorriu singelamente e colocou a mão sobre a do príncipe.

— Também será bem-vindo as ilhas de Skellige. Não gosto de admitir, mas você é um verdadeiro cavalheiro.

— Acho que é minha maior qualidade — brincou ele com um sorriso descontraído. — Bem, creio que já esteja na hora do jantar — levantou-se colocando as mãos nos bolsos.

— Tens razão, estou faminta, mas primeiro deixe-me trocar as vestimentas — Cerys levantou-se também.

— Fique à vontade — brincou o koviriano passando a sorrir-lhe matreiramente.

A ruiva o encarou com a sobrancelha arqueada e apontou em direção da saída, convidando-o a retirar-se.

— Comporte-se como o príncipe que é e não como um animal em época de acasalamento. Nos encontraremos no salão.

Doretarf manteve seu sorriso intacto e obedeceu sem olhar para trás.
 

(...)

 

Após a ceia, Doretarf decidiu sair um pouco da enclausura da edificação e tomar ar fresco um pouco afastado das torres de vigília para que não incomodasse ninguém com sua presença, a fim de que pudesse ficar a sós com seus pensamentos e refletir acerca de tudo que acontecera até então. A vegetação era de um verde intenso e no ar pairava uma fragrância apimentada, muito diferente das florestas de Kovir. As grandiosas árvores decíduas eram esparsas com galhos longos, finos e graciosos, as folhagens exibiam um tom verde-oliva. A casca dos troncos era de um cinza-escuro e áspera ao toque, onde havia rachaduras. O tronco descascava e desprendia-se em lascas finas.

Deitado com a cabeça apoiada debaixo das mãos, ele observava o céu em tons pastéis do entardecer, anunciando a chegada da noite por entre as brechas das volumosas e extensas copas. De repente, o farfalhar de folhas o fez levantar de sobressalto imaginando que pudesse ser algum animal selvagem, porém para sua surpresa avistou Ellinfirwen correndo afoita em sua direção. A mesma trajava uma camisa de linho em tom verde musgo com um colete de couro marrom escuro por cima, calças pretas de malha e botas do mesmo tom do colete. As madeixas aloiradas presas em uma longa trança lateral frouxa.

— Estrangeiro, meu irmão passou por aqui? — questionou ofegante parando defronte a ele.

— Não. O que aconteceu? — perguntou com preocupação.

— Desapareceu. Há longas horas que não conseguimos encontrá-lo, sequer apareceu para a ceia e todos estão desesperados a procurá-lo. Ele não costuma ficar sumido por tanto tempo... — respondeu com certa aflição na voz, entretanto fez uma pausa para recuperar o fôlego. — Pensei que pudesse estar com você pelo apreço que possui.

— Infelizmente não, a última vez que o vi foi no desjejum. Neste caso, ajudarei a procurá-lo — concluiu já se retirando dali.

— Para aonde vai? — questionou a Aen Seidhe sem entender, fazendo-o cessar os passos e voltar-se a ela novamente.

— Tenho uma ideia de onde o pequeno príncipe possa estar — revelou Doretarf de forma enigmática.

— Irei com você, afinal trata-se de meu irmão — determinou decidida a não ser contrariada e o humano não fez questão em opor-se.

Caminharam por longos minutos em silêncio, aquela altura o sol já havia desaparecido do horizonte, dando espaço para uma lua crescente esplendorosa e um céu límpido forrado de inúmeras estrelas cuja luminosidade não se fazia necessário o uso de qualquer tocha. Atravessaram a ponte de pedra construída recentemente que cruzava a nascente das águas do Pontar, que desciam em uma cachoeira pelas paredes da montanha até o rio, caminharam mais um pouco em direção oeste por entre os arbustos pisoteando em galhos e folhas secas até chegarem na clareira onde haviam jogado bola dias atrás, a luz da lua chegava em pequenos fachos de luminosidade devido as altas árvores que circundavam o local. Avistaram então o pequeno elfo sentado sobre a extensa rocha maciça ao centro do local. Doretarf aproximou-se com cautela e logo o garoto sorriu ao avistá-lo, no entanto, quando desviou o olhar para sua irmã mais atrás, franziu o cenho e vociferou em cólera:

— Eu não quero ver você, Ellin! Vá embora! — levantou-se em um rompante com os punhos cerrados.

— Elden... — murmurou a princesa sem entender a reação arisca do irmão. — Vamos conversar. O que eu fiz? — cessou a aproximação, vendo que ele fazia menção de retirar-se dali a qualquer momento.

— Eu sei que você me odeia. Eu sei! — o menino elfo berrou em uma mistura de angústia e irritação.

— Do que está a falar? De onde tirou uma coisa absurda destas? — questionou Ellinfirwen ainda mais perdida da razão de Elden estaria agindo de tal forma com ela como nunca havia feito antes. — Eu o amo.

— É mentira! Mentira! — exasperou o pequeno e fungou limpando as lágrimas em seguida. — Eu ouvi sua discussão com o papai. Ela morreu por minha causa… — os prantos voltaram a escorrer pelo delicado rosto de tez alva e maçãs rosadas. — Se não fosse por mim, a mamãe estaria viva. E você me odeia por isso. Eu sei! Eu ouvi, Ellin! Que você estaria feliz se ela estivesse viva.

— Elden, você entendeu errado — argumentou ela com o coração apertado e um denso nó se formando em sua garganta. — Eu estaria mais feliz sim se nossa mãe estivesse viva, mas isso não significa que eu não queria que você estivesse conosco. Eu o amo mais do que a minha própria vida.

— Mentira! — rebateu o garoto irredutível, nem um pouco disposto a ouvir as explicações da irmã. — Cale a boca, Ellin. Eu a odeio! Eu a odeio! — sentenciou por fim correndo e engalfinhando-se por entre os arbustos.

A princesa apertou a camisa na região do coração pela dor da culpa que a consumia completamente, contendo-se ao máximo para não desabar em prantos na frente do koviriano, mas com os olhos já marejados.

— Irei atrás dele — prontificou-se Doretarf que até então escutava a discussão em silêncio sem interferir.

— Também irei — pronunciou-se Ellinfirwen com a voz embargada.

Assim que deu o primeiro passo, sentiu seu braço ser segurado, impedindo-a de prosseguir.

— Não. Com todo respeito alteza, só irá agravar mais a situação — alertou o príncipe firmemente.

— Mas...

— Por favor — interrompeu-a limpando uma lágrima solitária de seus olhos que não havia conseguido conter. Sem que a mesma esperasse, puxou-a para si em um abraço breve, porém forte e complacente, sentindo o perfume de flores silvestres dela que tanto entorpecia-o. A Aen Seidhe totalmente surpresa pela atitude do humano, permaneceu sem reação por poucos segundos, mas a necessidade de reconforto a fez aceitar o gesto e retribuir instantaneamente na mesma intensidade. — Fique aqui e nos espere, por favor. Dê-me apenas um voto de confiança — pediu-a da forma mais sincera.

A filha de Filavandrel fitou-o por um instante pensativa, decidindo se atenderia ou não ao pedido. Por fim, concluiu que seria o melhor a se fazer naquele momento delicado apenas assentindo com um meneio de cabeça. Doretarf sorriu e sumiu sem perda de tempo por entre os arbustos, caminhou apressadamente desviando de galhos secos e raízes de árvores robustas e não demorou muito para ouvir um choramingo vindo de uma extensa e grandiosa árvore. Emaranhado nas raízes que mais pareciam uma espécie de gruta estava o jovem elfo com o rosto enterrado sobre os joelhos.

— Quer conversar? — perguntou agachando-se defronte a Elden.

— Vá embora — rosnou o rapazote entre soluços. — Não quero conversar com ninguém.

— Está bem, mas eu ficarei aqui com você — o koviriano sentou-se ao lado. — Não se importa se eu ficar aqui e em silêncio, não é mesmo?

— Vá embora — repetiu o pequeno enfaticamente. — Sei que está aqui apenas porque deseja a Ellin, não porque goste de mim de verdade.

Doretarf suspirou.

— Se isso fosse totalmente verdade, eu estaria neste exato momento com ela e não sujando minhas nádegas. Não achas?

Elden levantou a cabeça e encarou-o com os olhos cheios de lágrimas.

— A mamãe... — soluçou o pequeno príncipe com tom choroso na voz. — A mamãe morreu por minha causa. O papai e a Ellin me esconderam a verdade.

Doretarf o puxou para si em seu colo e abraçou-o lhe afagando os cabelos loiros.

— Creio que ambos tiveram suas razões para lhe omitir tal informação, provavelmente porque queriam evitar que se sentisse culpado como está agora. Não foi sua culpa, Elden. Tudo em nossas vidas acontece por uma razão, por mais doloroso que possa ser certos acontecimentos. Se vossa mãe não está aqui hoje, é justamente para que você pudesse estar e tenho certeza de que se ela pudesse voltar no tempo, escolheria o mesmo destino para preservar a sua vida, pois não há nada mais precioso do que a vida de um filho para uma mãe — o koviriano suspirou mais uma vez sem cessar as carícias no jovem, que soluçou novamente. — Não coloque a responsabilidade da morte de vossa mãe nas costas.

— Mas a Ellin acha que foi culpa minha... — declarou com a voz embargada.

— Ela certamente não acha isto. Ouça, quando estamos com nossos nervos a flor da pele, muitas vezes acabamos agindo impensadamente e dizendo coisas que não são o que realmente sentimos e que não gostaríamos de ter dito.

O pequeno elfo passou quase uma hora chorando nos braços de Doretarf até que o cansaço o atingiu. O príncipe de Kovir e Poviss levantou-se carregando-o nos braços e caminhou de volta em direção da clareira onde Ellinfirwen os aguardava. Assim que os avistou, ela pôs-se de pé em um salto limpando as lágrimas que havia derramado enquanto estava sozinha.

— Estava preocupada, você demorou muito. O que aconteceu? — indagou um tanto aflita.

— Ele está bem, apenas chorou demais e adormeceu — apaziguou-a colocando delicadamente o rapazote sobre o gramado próximo a ela e o aconchegou ajeitando-o o gorro debaixo de sua cabeça para deixá-lo confortável. Houve um longo período de silêncio entre ambos enquanto a elfa afagava levemente as madeixas do irmão adormecido. — Quer conversar?

Doretarf ofereceu-se solícito, estendendo a mão para ela, que hesitou em aceitar.

— Por que eu me abriria com alguém que mal conheço?

— Porque não sou seu inimigo e estou aqui para o que precisar — explicou o koviriano pegando cuidadosamente a mão da princesa. — Pode confiar em mim. Sei que em momentos como este às vezes tudo o que precisamos é desabafar com alguém. Prometo que nada do que me disser sairá desta clareira.

Conduziu-a para a extensa rocha, afastando-se um pouco de Elden, mas permaneceram a uma distância segura em que pudessem vigiá-lo. Dali era possível ouvir a torrente de água cair pelas cascatas incessantemente com o silêncio da noite. Ele encarou-a seriamente esperando por uma resposta após sentarem-se. A Aen Seidhe tentou arduamente, porém não conseguiu conter sua melancolia e acabou por desabar em prantos segurando fortemente a camisa dele.

— Acabei discutindo com meu pai e lhe despejando coisas horríveis impensadamente — revelou-o em meio as incessantes lágrimas. — Insinuei que a morte de nossa mãe foi por culpa de Elden... e ele acabou ouvindo a discussão... — fungou fazendo uma breve pausa tentando arduamente se acalmar. — Hoje é o dia em que ela faleceu, havia sido acometida por uma grave doença durante a gestação e acabou não resistindo ao parto. Sei que nada disto foi culpa dele, acabei ficando fora de mim pela dor e angústia da perda, pois apesar de já se fazerem muitos anos, ainda dói profundamente. Deuses... Ele é só uma pobre criança privada pelo destino de ter o amor e carinho da própria mãe e em vez de apoiá-lo e confortá-lo, o magoei... — soluçou sentindo que iria sucumbir em prantos novamente e segurou fortemente sobre as vestes o medalhão de prata que carregava em uma corrente ao pescoço. — Eu morreria inúmeras vezes por este pestinha...

Doretarf a abraçou ternamente acariciando-lhe as costas com uma das mãos. Apenas ficou ali em silêncio, respeitando seu momento de sofreguidão. Ellinfirwen por sua vez, naquele mesmo instante em que fechou os olhos e concentrou-se apenas nos toques de Doretarf pôde então sentir o suave perfume de sândalo dele que não havia percebido antes, fazendo-a inebriar-se com tal aroma.

— Não precisa sentir-se na obrigação de ser forte o tempo inteiro, alteza — aconselhou ele, quebrando o silêncio após alguns minutos, tirando-a de seu estado de inércia. — Nem tudo está em vossas mãos. E tem o direito de estar brava ou chateada com o destino. Às vezes fazemos coisas que nos arrependemos e que não há conserto, como brigar com o pai sem saber que será a última vez que o verá e não ter a chance de pedir perdão — lembrou-se do inclemente dia em que perdeu o próprio pai. — Mas em vosso caso há... — desvencilhou-se do abraço, ficando a uma curta distância. — E ele está aqui para você pedir-lhe perdão — olhou em direção do menino, fazendo-a voltar o olhar para o mesmo também. — Ambos se amam profundamente, não há espaço para mágoa ou rancor. Ele apenas está ressentido momentaneamente, mas irá entender e perdoá-la. Elden é uma criança com um coração de ouro — acariciou-a na maçã do rosto limpando o rastro de lágrimas.

— Acha realmente que ele me perdoará? — indagou fungando.

— Tenho certeza — assegurou sem cessar as carícias próximas de seus lábios róseos.

Sua respiração quente atingiu o rosto dela com delicadeza quando aproximou-se mais. Aquela inexplicável sensação desta vez começou a incendiar no peito da elfa de uma forma avassaladora que nem ela mesma tinha certeza do que se passava quando estava na presença daquele humano. Acabou afundando involuntariamente a cabeça no peitoral dele, que envolveu-a novamente em seus braços.

— Eu só... só queria que ela estivesse conosco. Evitaria muito sofrimento neste dia fúnebre. — murmurou com a voz chorosa umedecendo a camisa do príncipe. — Perdoe-me, estou encharcando suas vestes — fungou novamente à medida que secava as lágrimas.

— Eu não me importo — tranquilizou ele dando todo o conforto que podia para amenizar seu sofrimento, ainda que minimamente. — Pode ensopá-la se isso a aliviar ao menos um pouco, pode até gritar e espernear. Estarei aqui para apoiá-la, pois sei exatamente o que está sentindo.

Ellinfirwen abraçou-o necessitadamente, desejando que o koviriano não a deixasse sozinha naquele momento em que sentia-se tão perdida e vulnerável. E por incrível que pareça a dor em seu coração estava aos poucos amenizando, sendo preenchido por outro sentimento, deixando a angústia decrescente e distante até que os prantos cessaram. Permaneceu nos braços dele ouvindo seu coração bater freneticamente no peito por longos segundos como se fossem um calmante para seu espírito.

— Alteza... — chamou-a quebrando o silêncio.

— Ellin... — interrompeu corrigindo-o. — Chame-me de Ellin.

Ele elevou a extremidade dos lábios com a declaração fazendo-a sorrir-lhe singelamente de volta.

— Preciso dizer-lhe algo antes que não possa mais fazê-lo... — murmurou ao ouvido dela, provocando-lhe um arrepio na espinha.

— O quê? — sibilou intrigada, afastando-se minimamente para fitá-lo olho no olho.

— És a mulher mais fascinante que já conheci... — confessou Doretarf colocando uma mecha solta dos cabelos dela atrás da orelha. — Não digo isto apenas por sua imensa beleza, mas também por sua garra e determinação. E principalmente... — fez uma pausa sem desviar o olhar. — Pelo amor e dedicação que possuí por sua família e seu povo. Isto é deveras admirável. Estou realmente encantado por você, Ellin... Vossa presença me provoca sensações inexplicáveis que nunca senti por nenhuma mulher — pegou delicadamente uma das mãos da elfa e a depositou sobre a região do coração. — É assim que me sinto quando estou ao vosso lado — a princesa pôde sentir os batimentos tão acelerados como se o coração dele fosse explodir a qualquer momento. — Sei que não é o melhor momento para fazer tal declaração, mas creio que não teria outra oportunidade.

— E... eu... — gaguejou pega totalmente desprevenida por tal declaração, levando a mão que outrora estava no coração do homem ao rosto do mesmo deslizando sobre a barba recém-aparada. O corpo formigava com os toques carinhosos do príncipe, um arrepio invadiu-lhe o estômago bruscamente, os batimentos do coração acelerados em um ritmo descompassado à medida que as hipnotizantes irises azuis esquadrinhavam seu rosto. — Nem sei o que lhe dizer...

— Não precisa dizer nada. Entendo perfeitamente que esta não é a hora para falar disto, só necessitava que soubesse.

— E quanto a Cerys an Craite? — quis saber lembrando-se da cena em que o presenciou visitando os aposentos da skelligana. — Estão noivos... Não estão? — questionou não conseguindo disfarçar a frustração em seu semblante. — Quer apenas divertir-se comigo antes de assumir seu compromisso?

Em um primeiro momento Doretarf ficara surpreso por Ellin saber sobre seu noivado, mas logo se deu conta que ela provavelmente tomou conhecimento sobre este fato devido sua mente ter sido revirada ao avesso por Triss ou que Cerys pudesse ter revelado a Filavandrel que naturalmente tal informação acabaria chegando até a mesma.

— Cerys e eu não somos mais noivos, decidimos romper com o compromisso já que nossa união fora apenas um arranjo de nossos pais para promover uma aliança diplomática entre os reinos. E já que infelizmente não estão mais vivos, não há mais razão para prosseguirmos com este dever. Não existe nada entre nós além de amizade e apreço, não se preocupe, ela não representa ameaça alguma para você — concluiu com um sorriso convencido.

— Ah, pelos deuses... — resmungou ela revirando os olhos. — Eu não estava sentindo-me ameaçada.

— Quer dizer que possui plena confiança em vossos encantos? — indagou sedutoramente.

— Exatamente, posso seduzir quem eu quiser. — murmurou de volta de forma provocativa.

— Gostaria muito de vê-la tentar... — ele soltou um sorriso encantador.

— Eu não preciso, pois acabou de me confessar que caiu perdidamente em meus encantos.

— Bem... O que posso dizer? Creio que tomei um caminho sem volta, mas ainda que tivesse não retornaria, pois, não me arrependo de me render a este sentimento indescritível.

A princesa jogou o corpo para frente em um abraço involuntário, extasiada com as carícias em suas costas. Estava com os sentimentos a flor da pele, agora ainda mais intensificados pela confissão do mesmo, que inexplicavelmente também despertava seu interesse. Ela afastou de leve o rosto e as irises esmeraldas e azuis mergulharam uma na outra e foi como se o tempo parasse para ambos como sempre ocorria quando seus olhares se encontravam profundamente.

Atiçada por um impulso vindo do interior de seu âmago, roçou os lábios nos dele com o desejo reprimido desde a situação cabulosa que tivera com o koviriano dias atrás, com o atrevimento do mesmo com suas provocações insinuantes a respeito da instigação de Elden para que ambos se beijassem. No referido ocorrido Ellinfirwen de fato chegou a considerar em seu íntimo aquela proposta ousada, embora inocente aos olhos de seu irmão, pois naquele momento de proximidade com o humano sentiu uma intensa vontade de descobrir como seria o gosto da boca dele e agora, esta vontade só estava ainda mais forte de uma maneira que fugia ao seu próprio controle.

Ao mesmo tempo, condenava-se por derrubar suas barreiras dando-o qualquer tipo de abertura, no entanto, era algo que não conseguia evitar quando estava perto dele. O que havia naquele homem que conseguia tão facilmente deixá-la vulnerável a ponto de sentir-se desnorteada como se pisasse em um solo totalmente instável, podendo despencar a qualquer momento? Seria aquele belo rosto detentor dos olhos azuis-celestes que refletiam a calmaria de um céu límpido de verão envolvendo-a em sua áurea magnética? Aquele sorriso irritante que a cativava inconscientemente? A ousadia e atrevimento dele em provocá-la sempre que possível? Ou todo este conjunto de fatores que ela denominava como charme de quinta?

Doretarf em um primeiro momento fora pego de surpresa, permanecendo estático, ficou hesitante em correspondê-la, pois imaginava que tal atitude fosse apenas o resultado de um ímpeto impensado por conta de seu momento de vulnerabilidade, entretanto após a segunda investida da Aen Seidhe ele acabou cedendo completamente, não conseguindo conter sua tentação. Ajustou-a em um movimento rápido fazendo-a montar em seu colo e passou a beijá-la com voracidade, suas línguas explorando-se em cada milímetro do interior de suas bocas.

O gosto do primeiro beijo era levemente salgado devido ao rastro de lágrimas de Ellinfirwen, mas que logo foi dissipado pelo sabor viciante daquele enlace. Ela deslizou as mãos por debaixo da camisa de linho cinza que ele trajava, acariciando-lhe a extensão do peitoral até o abdômen, enquanto o mesmo apalpava-a nas nádegas sobre a calça com fervor, suas intimidades a roçarem em total atrito por cima das vestes fazendo com que o desejo que queimava dentro de seus seres naquele intenso momento de gana os tirassem qualquer razão. Ele deitou-a delicadamente sobre a rocha colocando o peso de seu corpo sobre o dela, mordiscou-lhe o lábio inferior e separou-se, fitando-a em uma fração de minuto de lucidez.

— Ellin... — sibilou recostando suas testas dando-lhe um último selinho.

Afastou-se em seguida ajeitando a camisa e permaneceu em silêncio por alguns instantes fitando o vazio de forma reflexiva. Ela, por sua vez, sentou-se também e lhe tateou as costas sem entender a mudança repentina de atitude.

— O que foi?

— Não quero aproveitar-me de vosso momento de fragilidade — suspirou e voltou-se a ela novamente tocando-lhe a maçã do rosto com delicadeza. — Se realmente existir algo que sinta por mim, quero que me diga quando não estiver tentando escapar de sua tristeza.

— Doretarf eu... — engoliu em seco, ainda sentindo-se perdida e, ao mesmo tempo, entorpecida pelo turbilhão de sentimentos que invadiram seu ser. — Não sei o que pensar, nem o que de fato sinto dentro de meu coração. Nunca me senti tão confusa em toda minha vida...

— Não se preocupe, não é minha intenção pressioná-la de nenhuma forma. Terei paciência para esperar que descubra o que de fato sente em seu coração, ainda que não seja a resposta que espero — declarou por fim com um sorriso tranquilizador à medida que lhe afagava uma das mãos. — Temos de voltar, no entanto, andar na mata a noite com uma criança é perigoso.

— Tens razão, poderíamos retornar por conta própria, porém não quero arriscar a segurança de meu irmão. Certamente meu pai enviará reforços para nos encontrar e escoltarem-nos de volta. Precisamos apenas aguardar e torcer para que nenhum animal selvagem apareça, já que será um tanto árduo defender a nós três apenas com uma adaga se for mais de um — concluiu ela passando brevemente a mão sobre a bainha na cintura que guardava a lâmina.

Doretarf assentiu e ambos retornaram para junto de Elden se aconchegando junto ao mesmo, o koviriano a ficar no meio servindo de apoio para Ellinfirwen que descansou a cabeça sobre o peitoral robusto do mesmo.

— Pode descansar se quiseres, provavelmente demorará um pouco até que nos localizem — murmurou ele fitando a lua em sua plenitude luminosa. — Não se preocupe, ficarei atento para garantir que estamos seguros, não estou com sono.

— Também não estou... — declarou a Aen Seidhe observando o céu igualmente. — Hoje seria um dia difícil e doloroso, mas não me sinto mais assim graças a você. Queria apenas lhe agradecer pelo que fez por nós dois... Olhe para mim — pediu tocando gentilmente no rosto do moreno, voltando-o para si. Suspirou brevemente procurando as palavras certas em sua mente na tentativa de achar a melhor forma de se expressar. — Além disso... queria pedir-lhe desculpas por minhas atitudes arredias. Não tenho sido nada amistosa com você desde que nos conhecemos...

— Está tudo bem, compreendo perfeitamente suas desconfianças a meu respeito, só está zelando pela segurança de sua família e de seu povo. Mas se a fizer sentir-se mais tranquila, desculpas aceitas... — murmurou singelamente passando a acarinhá-la na extensão do braço.

Ambos permaneceram longos segundos admirando-se até voltarem a fitar os astros no céu noturno. O vento soprou de forma amena e trouxe consigo uma dúzia de pétalas de camélias brancas que dançaram com a brisa e caíram lentamente sobre o trio e ao redor. Não demorou muito para que o som de passos aproximando-se apressadamente fizeram ambos levantaram-se de sobressalto. Detrás das árvores e arbustos uma luminosidade foi intensificando-se e logo surgiu Neldor que surpreendeu-se ao deparar-se com Ellinfirwen junto ao estrangeiro.

— Ellin, está bem? Estávamos preocupados com o sumiço de Elden e depois o seu. Este humano lhe fez algo? — questionou o elfo com a mão firme sobre a empunhadura da espada, encarando-o com severidade, enquanto a outra segurava a tocha acesa.

A princesa logo sentiu a tensão crescendo no ar entre ambos, Doretarf por sua vez preferiu manter-se em silêncio para não criar um conflito caso fosse se pronunciar.

— Estou perfeitamente bem. E ele fez, sim, fez mais do que qualquer um de nós esperávamos, se dispôs a ajudar a procurar meu irmão e conseguiu localizá-lo — saiu em defesa do príncipe koviriano a fim de esclarecer as coisas.

— O importante é que você e Elden estão bem — o elfo suspirou aliviado largando a empunhadura.

Neldor então assoviou com a mão livre e logo mais dois brotaram repentinamente da vegetação com suas tochas a iluminarem o caminho, ambos dissiparam a preocupação de seus rostos ao avistarem os filhos de Filavandrel.

— Venha, vosso pai ficará aliviado em ver que estão a salvo. — declarou Neldor pegando-a pela mão e afastando-a de perto do humano.

Doretarf virou-se para apanhar Elden nos braços, que ainda dormia profundamente no gramado, porém Neldor adiantou-se e o fez antes como se quisesse proteger o jovem dele.

— Já fez o suficiente — declarou o Aen Seidhe encarando-o com recriminação.

O koviriano nada retrucou, apenas colocou as mãos nos bolsos e deu um passo para trás dando passagem para o outro. Retornaram para a morada com os dois Scoia’tael guiando-os a frente e Doretarf logo atrás, mais afastado, que observava Neldor e Ellinfirwen caminhando lado a lado.


Notas Finais


Eu ouvi um Amém?! Nosso guerreiro finalmente conseguiu transpor a muralha da Ellinfirwen, confessou seus sentimentos e ainda de quebra deu uns amassos na princesa élfica 🤭 Doretarf merece o prêmio de guerreiro do ano, pq olha, o bichinho foi insistente viu. Masssss toda ação tem sua consequência. Qual será a consequência que esse estreitamento de laço trará para ambos? Continuem acompanhando, ainda tem muita história pra rolar (e muita confusão) com esses dois 😉
Agradecemos por acompanharem até aqui e nos vemos no próximo capítulo ✌️


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...