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História A Fire In a Flask To Keep Us Warm - Capítulo Único


Escrita por: conterstellar

Notas do Autor


Quando eu finalmente sai do AO3 e vim procurar fanfics em português mesmo de Enorace, descobri que nem tinha a categoria de MPHFPC e fiquei bem desapontada. Enfim.

Queria abençoar quem shippa esse casal assim como eu, se vocês estiverem por aí. Essa oneshot saiu de um headcanon bem comum no Tumblr sobre o que poderia ter acontecido em Cidade dos Etéreos naquela parte em que o Jacob fala que eles estão de costas um pro outro ao invés de se abraçarem.

Ah, mais uma coisa: O Spirit ainda tem esse negócio de que se é yaoi ou yuri, tem que por a classificação para mais de dezoito, então eu fiz isso. Juro que não tem nada de mais aqui, de verdade, e antes eu tinha colocado a classificação livre, mas... Só acho que vocês deveriam saber.

Bom.

Capítulo 1 - Capítulo Único


Orgulho era algo caraterístico de Enoch, embora não seja fácil de admitir para si mesmo. Ele desconfiava de que não poderia abandonar o tão famoso pecado capital para salvar uma vida, e não poderia dizer que ter tal informação era gratificante, de alguma forma.

Estava extremamente frio naquela noite, e o abrigo improvisado de Fiona era quase igual a nada, considerando que havia o trabalho de manter dez crianças mais a Srta. Peregrine, presa em sua forma de ave, longe da chuva. Enoch viu Bronwyn colocar Claire e Olive debaixo de seus braços fortes, aquecendo as duas menores do grupo com uma expressão protetora. Hugh e Fiona estavam enroscados um no outro do outro lado, muito focados em seu próprio mundo para perceber qualquer outra coisa, embora o garoto já esteja adormecido; e Jacob e Emma faziam o mesmo após um tempo. Millard estava deitado em algum lugar, o que fazia restar Horace, que se sentava de costas para Enoch, de braços cruzados e tremendo.

O esperado era de que os dois esquecessem suas personalidades orgulhosas por um breve segundo e se aconcheguem nos braços um do outro, vendo que Enoch tremia tanto quanto o garoto. Por um minuto, a peculiaridade de Emma era o que ele mais desejava, embora tenha decidido manter esse desejo um segredo.

A noite tinha um ambiente sereno, o único barulho sendo o ruído das folhas das árvores e dos suspiros sonolentos vindos das crianças que já haviam adormecido. Enoch tinha o olhar focado em um ponto aleatório a frente, e sua impossibilidade de dormir enquanto congelava lentamente o fez criar os mais diversos planos do que poderia fazer á seguir. Tinha a opção de virar-se para Horace e propor algo que beneficiaria os dois, ou poderia ficar acordado até amanhecer e o sol esquentar um pouco a terra, e então, talvez ele tenha alguns minutos de sono e conforto.

E era claro que Enoch iria com a última opção.

O problema estava tão longe quanto perto de Horace, mas ainda era confuso em sua mente e Enoch se recusava em pensar mais á fundo sobre isso, mesmo que as ideias estivessem dentro de sua cabeça e ninguém mais poderia ver além de si mesmo. Ainda assim, era um pensamento assustador, até mesmo para ele.

Enoch sentia a vibração do corpo de Horace contra o seu, e não era a melhor coisa para confortá-lo e afastar os pensamentos que insistiam em vir á tona, mas ele conseguia manter-se forte por aquele tempo indeterminado. Embora, ele havia visto Jacob e Emma, por fim, adormecerem, o que restava Horace e ele com os olhos arregalados e os lábios tremendo além de adquirirem uma coloração arroxeada.

Ao pensar sobre sua atual situação, Enoch imaginou se Horace não sentia medo de adormecer para mais uma premonição terrível sobre como qualquer um de seus amigos poderia morrer no dia seguinte. Não era algo que Enoch sentia com frequência, mas a simpatia por Horace acabou o vencendo a entreter á si mesmo e ao amigo pelo tempo que esperavam pelo melhor.

― Por que ainda está acordado? ― Enoch questionou, a voz soando fraca pelo frio que sentia e mais rude do que ele intencionava. Vapor saía entre seus lábios enquanto ele falava, e aquele era um bom sinal.

― Por que você está acordado? ― rebateu Horace, abraçando seu próprio corpo em uma falha tentativa de se aquecer.

― Da última vez que chequei, dormir seria como assinar uma declaração de óbito. ― respondeu, revirando os olhos em um ato petulante. ― E vir aqui foi a pior ideia do mundo. Acho que faria algo fora de minha personalidade se sobrevivermos até amanhã.

― Acredite, sobrevivemos. Quero ver você beijando uma das abelhas do Hugh, só para constar.

Enoch permitiu-se arquear o canto dos lábios, certo de que ninguém poderia ver. Eles mantiveram um silêncio por mais um tempo, os dentes batendo enquanto tremiam quietos e, de certa forma, teimosamente. Ambos ainda tinham um ao outro como último recurso embora se recusassem á conhece-lo.

― O que vai acontecer quando encontrarmos alguma fenda? ― perguntou. Pelo seu tom de voz, Horace soube que ele referia-se á sua opinião, excluindo as possibilidades que seus sonhos traziam. ― Não estou sentindo muito entusiasmo sobre isso.

Horace olhou para baixo e Enoch pode sentir o movimento de onde suas costas se encontravam. Estava cada vez mais frio á ponto de desvalorizar completamente a ideia inicial de Fiona ao protegê-los com seu abrigo, o que levava cor ás bochechas de Enoch ao perceber que estava cada vez mais perto de ter apenas uma opção – aquela que faria todo seu orgulho se esvair involuntariamente em segundos.

― Você não sente entusiasmo pra nada, Enoch. ― disse. Um silêncio de hesitação se estendeu e Enoch tinha certeza sobre o que se tratava, mas escolheu ignorar. ― Não acredito que ainda está chovendo! É o universo conspirando contra nós!

― Ou a mudança drástica de clima que faz as noites serem mais frias e chuvosas. Provavelmente é isso, mas não tenho certeza. ― Enoch disse sarcasticamente, mas Horace o ignorou. Ele estava seguindo o exemplo de basicamente todo mundo, o que frustrou o mais velho. ― E você disse que sobrevivemos até amanhã.

― Porque ainda temos uma opção sobre isso.

Ele quase não foi ouvido sob o barulho do vento e chuva contra as árvores, e Enoch desconfiava que talvez essa fosse sua intenção. O garoto decidia relutante entre esquecer o tom sugestivo de Horace e pensar mais do que devia na oferta implícita. Talvez, se Horace estivesse recorrendo desesperadamente á abraçar Enoch durante uma noite inteira para não morrer congelado, a ideia não fosse tão absurda, afinal.

Mas então, Enoch lembrou-se abruptamente sobre o porém e os detalhes. O problema não era o que seria inevitável naquele ponto, e sim, seus verdadeiros pensamentos em relação ao amigo – que, apesar de tudo, realmente era seu amigo, mesmo com as negações constantes de Enoch. Horace tinha muito mais significado do que ele gostaria de admitir, mas a realidade não seria discutida, pelo menos, não com a mente sã.

― Errado. Nem está tão frio. ― Enoch disse, dando de ombros em indiferença, mesmo quando seu lábio inferior ainda tremia. Aquilo contradizia o que ele havia afirmado, e o garoto quase conseguiu passar facilmente por isso se Horace não resolvesse olhar para o amigo sobre o ombro, as sobrancelhas franzidas enquanto o encarava. ― Quer parar? Você não estava tão cansado e fraco, e “ai, não consigo dar mais um passo”? Vai dormir! Se quiser, posso ajudar com isso.

Mas sua oferta soou diferente e distante do que ele realmente quis dizer, o que fez com que os olhos de Horace se arregalem ainda mais pela surpresa ao mesmo tempo em que Enoch percebera as segundas intenções que poderiam ser entendidas de suas palavras. Ele balançou a cabeça com uma careta antes de olhar de volta para Horace, que parecia tímido de repente pelo modo como desviou o olhar imediatamente.

― Você é bipolar ou algo assim...?

― Não! Eu quis dizer te nocautear, não... Ugh, esquece. ― Enoch bufou, sentindo suas orelhas queimarem. Ele esfregou as mãos sobre os braços freneticamente em uma tentativa desesperada de aquecer-se sozinho. Além do frio que sentia, suas pernas doíam por tanto correr por sua vida com as outras crianças, e, em parte, faziam parte da principal causa pela qual ele sentia tanto frio; vendo que sua calça ainda não havia secado após atravessar o rio gelado para chegar onde estava atualmente. Ele olhou para a direção oposta, e então se deitou com a cabeça no pedaço de musgo seco por Emma, e embora tenha feito seu melhor ao se encolher em uma bola, ainda sentia muito frio.

Ele soube um tempo depois que Horace também havia se deitado, contudo, o garoto parecia rígido demais para estar adormecido. E minutos depois, como se não pudesse piorar, o vento ficou mais forte, esfriando a noite e penetrando violentamente no abrigo, e então Claire começou á tossir e tremer, mesmo quando estava nos braços de Bronwyn com Olive, e a expectativa era de que estivesse aquecido o suficiente para nenhuma delas sentirem tanto frio.

Bronwyn cutucou Emma para acordá-la, devido á isso.

― Srta. Bloom, a menorzinha precisa de você. Acho que está ficando doente.

Emma murmurou algo para Jacob e aproximou-se de Claire, ao invés, para cuidar da pequena garota. Todos sabiam de sua probabilidade de estar seriamente doente, embora tenha as melhores tentativas dos seus amigos para ajuda-la á sentir-se bem. Eles precisavam encontrar uma fenda com uma ymbryne e precisava ser o mais breve possível.

Elas voltaram á dormir minutos depois enquanto Enoch ainda encontrava-se impossibilitado de fazê-lo – e não era por consequência do barulho da chuva do lado de fora, ou dos amigos se remexendo em seu sono enquanto gemiam por pesadelos. Talvez, se assim fosse, ele teria uma noite de sono melhor do que o esperado. A tentação de chamar Horace e aceitar sua oferta silenciosa estava o comendo vivo, colocando a ideia na sua mente de que se o garoto foi capaz de abandonar seu orgulho por um segundo, ele poderia fazer o mesmo.

Mas Enoch não tinha intenções de desistir tão cedo. Ficar abraçado á Horace era ferir seu orgulho e cruzar um limite extremamente perigoso; um limite estipulado por ele pelos últimos cinquenta anos enquanto ainda estavam seguros no orfanato da Srta. Peregrine. Ele havia feito promessas para si mesmo, e aconchegar-se ao garoto loiro seria quebrar mais de uma delas.

O que importava no fim era de que aquilo não iria acontecer.

Enoch podia sentir cada parte do seu corpo arrepiar-se com o frio, e o vento gelado contra sua pele havia chegado á um ponto de feri-lo com o choque. Ele duvidava que já sentisse tanto frio a ponto de ficar incapaz de manter-se parado por culpa das tremedeiras, mas não queria pensar sobre o passado ou até mesmo sobre as consequências eventuais do presente.

O silêncio contínuo por parte de Horace fez Enoch imaginar que este havia, enfim, adormecido, e a ideia o fez soltar o ar que nem imaginava segurar com certo alívio. Ele sentiu-se mais calmo desde então, mesmo sabendo que o frio ainda o impediria de dormir em paz, não importasse os fatos ao seu redor; a menos que o tempo esquentasse.

Ele permitiu que sua mente perambulasse por todos os lugares na esperança de que seja uma resposta de sucesso para que ele caia no sono, ou pelo menos, que o tempo passe mais rápido, mas a falha era clara como um cristal poucos minutos depois. Um vento mais forte e repentino então tirou sua concentração dos próprios pensamentos, fazendo com que ele mantenha-se em posição fetal e feche os olhos com força, sentindo o frio como se fosse o que determinaria seu fim, apesar daquela rajada ter sido momentânea.

Horace estremeceu assim como as outras crianças, mas com mais intensidade do que elas por não ter uma fonte de calor melhor do que os próprios braços. Enoch tentou ignorá-lo junto com a vontade de apenas virar e envolver seu corpo com seus braços, segurando-o firme contra o próprio, assim os aquecendo da mesma forma como desejavam secretamente.

― Enoch...? ― ele sussurrou, o que ocasionou em Enoch abrindo os olhos subitamente em surpresa e terror por saber que Horace não estava, de fato, dormindo como ele havia assumido. ― Eu não estava falando sério quando disse que preferia morrer á te abraçar.

― Você não disse. ― murmurou, franzindo as sobrancelhas como sua decisão final. Era isso ou revirar os olhos.

― O-Oh. ― Horace soou levemente espantado em compreensão, mas a expressão de Enoch ainda era severa, mesmo quando o garoto não podia ver. ― Todo mundo já dormiu. Tenho certeza que o Millard também. E morrer congelado não é o fim que pretendo ter, então se pudéssemos, uh...

Enoch manteve-se em silêncio como se questionasse todas as escolhas que havia feito. Ele inclinou-se um pouco para ter uma visão panorâmica sobre todos seus amigos adormecidos, embora não tenha tanta certeza sobre seus estados por culpa do escuro. Por fim, após hesitar por longos cinco segundos, ele decidiu-se de uma forma rápida, diferente de como costumava fazer.

Ele virou-se para Horace, encarando suas costas sem saber exatamente como deveria agir em seguida. Com os movimentos não exatamente silenciosos de Enoch, o outro garoto olhou por cima do ombro embora esteja deitado de lado, parecendo surpreso por vê-lo virado em sua direção, o que provavelmente significava que havia decidido largar seu orgulho pelo menos uma vez.

― Nós não falamos sobre isso, Somnusson. Ninguém pode saber. ― Enoch adiantou-se ao vê-lo o encarando de volta, seu tom de voz se elevando o máximo que podia, o que soou como a tentativa falha de um grito ao sair em um sussurro. ― É necessário para garantir nossa sobrevivência e isso é tudo.

Horace arqueou as sobrancelhas, mas ao invés de discutir com Enoch, ele virou-se de frente para o garoto, encarando seus olhos azuis ― e o único motivo pelo qual conseguia enxerga-los no escuro, era por ter ficado tanto tempo nas sombras que sua visão logo havia se acostumado – com certa relutância, e em parte, esperando nervosamente que garoto diga algo a mais. Com o silêncio, ele resolveu suspirar em incredulidade.

― E agora? Vamos nos encarar até o calor se transferir de um corpo para outro?

Enoch bufou, mas ainda permanecia imóvel se não fosse pelo modo como seu corpo tremia de uma forma incontrolável. Horace quase revirou os olhos para a hesitação insistente do amigo, e percebendo que este não daria o primeiro passo tão cedo, ele arrastou-se para mais perto e encostou as mãos em seu torso, ainda receoso embora tenha se adiantado quando parecia que nenhum dos dois o faria. Ele abaixou a cabeça para não olhar Enoch nos olhos, as bochechas coradas e os lábios franzidos pela audácia inesperada até mesmo pelo próprio causador.

― Parece que você não é tão covarde assim. ― Enoch murmurou, envolvendo a cintura de Horace com certo alívio, embora o medo por seus próprios atos ainda esteja presente. A reação não foi imediata, mas logo eles podiam fisicamente sentir o calor que seus corpos transmitiam, proporcionando o aquecimento tão desejado. Enoch ouviu as vozinhas cruéis em sua cabeça que diziam sobre ter desistido e como não deveria ter o feito desaparecerem gradativamente, pois além do benefício de um pouco de calor em uma noite fria, Horace provocava uma sensação semelhante á bolinhas de gude em seu estômago e Enoch percebeu que era agradável.

― Obrigado, babaca. ― Horace resmungou, mas se aconchegava nos braços do amigo de uma forma que apontava que não iria sair daquele abraço tão cedo. ― Não sei se esse é aquele momento em que discordamos do que todo mundo fala sobre nós. Mas mesmo se for, me desculpe, mas você não provou que tem, de fato, um coração.

― Na verdade, eu tenho vários. Ajuda á fazer com que minha peculiaridade funcione.

― Eu acabei de decidir que vou te ignorar.

E daquela forma, os dois finalmente adormeceram. Embora as palavras de Horace reflitam o que os próprios amigos costumavam dizer, Enoch sentiu o que eles chamavam de coração ser aquecido assim como seu corpo ao ter Horace em seus braços. E, silenciosamente, ele decidiu que gostava da sensação e queria mais daquilo, mesmo sabendo que não seria possível. Eles acordariam no dia seguinte antes de todo mundo para se separarem rapidamente, e então, nunca mais precisariam se abraçar outra vez por culpa do frio.

Mas a vontade de repetir aquilo todas as noites era um segredo de Enoch que ninguém precisava saber sobre.


Notas Finais


Espero que tenham gostado (se estiverem aí)

Eu tenho que parar de shippar coisas raras... Já não basta Valgrace (juro que já li cada oneshot desse par por ai), agora Enorace??

Bom, enfim. Bye bye.


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