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História A Flor da Pele - Desabafo


Escrita por: Crisvogt

Capítulo 3 - Desabafo


Regina saiu do banho, e podia sentir o seu sexo pulsar. O desejo quase irracional que sentia por Emma, voltou a lhe perturbar. Sabia que não o sentia por essa Emma em sua sala, sentia por sua melhor amiga de adolescência. Essa Emma, ela nem ao menos conhecia, como poderia desejá-la?

Regina deixou o apartamento, ainda perturbada pelas lembranças vívidas de um tempo feliz e trágico. O primeiro amor, a gente nunca esquece, é o que dizem. A primeira decepção também não. E Emma era os dois.

Andou até o bar e encontrou Gold o dono, varrendo o salão. Gold havia começado a abrir para o almoço. Fazia uma comida caseira de primeira, e estavam aos poucos, conquistando um público fiel.

– Minha Regina! – Gold exclamou ao ver Regina descendo a rua em sua direção. – Não está muito cedo pra você, não? Hoje é sábado. Foi chutada da cama? - Gold realmente a conhecia muito bem. Nunca a vira sair tão cedo de casa num sábado. Ela era uma criatura da noite, que se esforçava imensamente em se adequar aos hábitos diurnos do restante da humanidade.

– Quase isso, Gold. Quase isso. – Ela se aproximou e colocou um sorriso no rosto. – Vim pedir um favor.

– O que eu não faço por você, hein?! – Gold sorriu e a abraçou.

– Não vai prometendo sem antes escutar o pedido. – Brincou. – Vai que eu peço pra você casar com uma mulher?!

– Só se essa mulher for você, meu bem. – Piscou para ela, arrancando uma gargalhada de Regina. – Até porque eu sei que não vai rolar sexo. Vai ser casamento só de fachada. – Gold era Gay assumido.

– Só assim mesmo. – Regina sorriu. – Preciso do seu carro emprestado. Juro que é jogo rápido, trago ele à tarde.

– Fique à vontade, querida. Mas você sabe como o meu carro é temperamental, então… boa sorte. – disse entregando as chaves do seu fusca azul Royal.

– Pode ficar tranquilo! Eu sou Fred Flintstone. – Regina piscou e guardou a chave no bolso. – Volto mais tarde.

– Pode deixar. E não se preocupa com a hora. Não vou precisar dele hoje. E vê se aparece hoje à noite… karaokê, meu bem!

– Ok. Eu venho. Desde que você não me obrigue a cantar. – Devolveu já se dirigindo à rua.

– Não posso prometer nada! – Gritou para Regina que já atravessava em direção ao velho fusca.

Entrou no carro, e depois da terceira tentativa, conseguiu ligar o carro. Em princípio, Regina dirigiu sem rumo. Precisava pensar, e dirigir era uma ótima válvula de escape.

Após dirigir um bom tempo, se deu conta de para onde estava indo. Acelerou, com os vidros abertos e ao som de “Stand by Me” na versão de John Lennon. Parou em frente a um prédio alto com fachada verde. Estacionou em frente ao bar que ficava ao lado, desceu do carro, comprou algumas cervejas e se dirigiu à portaria. Subiu até o terceiro andar, e bateu à porta. Foi uma Wendy muito descabelada, e vestindo somente uma camiseta branca e calcinha preta, que a recebeu.

– O que você está fazendo aqui num sábado de manhã? – Vendo as sacolas nas mãos dela, completou – E munida de álcool?

– Precisando da minha melhor amiga. – Regina respondeu fazendo cara de culpada.

– Entra. – Wendy abriu espaço para ela passar. – E é bom ser importante. Não, melhor, interessante, picante, surpreendente.

– Ok. – Regina respondeu e se encaminhou para a cozinha. Guardava as cervejas, e pegou uma para ela. – Nada como um café da manhã saudável. Saúde! – Regina ofereceu a própria garrafa para um brinde.

– Saúde. – Brindaram e beberam. – Então! Pode começar a falar. Onde é o incêndio?

Regina olhou para baixo. Não tinha certeza em como começar. Nunca havia mencionado a Emma para Wendy. A única pessoa com quem conversara sobre isso, tinha sido Anna. Quando percebera que estava se apaixonando, abaixara a guarda e contara a sua história.

– Eu vi um fantasma! – Disse e encarou a amiga.

– Ok! Qual tipo? – Wendy fazia o esforço de acompanhar. Conhecia bem Regina para saber que muitas vezes, dizer certas coisas, dependia de um esforço.

– Um que eu nunca pensei em reencontrar. – Suspirou resignada.

– Quem? – Wendy ofereceu um amendoim a ela.

Regina andou até a janela, e sem coragem de virar e encarar a amiga, falou.

– Emma. – Conseguiu soltar o nome que estava preso na garganta.

– Emma? Não me lembro de nenhuma Emma. – Disse já se dirigindo à sala com outra cerveja, um pacote de amendoim, e outro de castanha de caju nas mãos. – Traz as azeitonas e o queijo.

As duas sentaram no chão, em volta da mesinha de centro e colocaram os aperitivos ali em cima. Regina também não havia comido nada, então as duas se entregaram ao pequeno lanche.

– Emma foi minha primeira. – Continuou como se não tivessem interrompido a conversa.

– Uau! Jura? – Abriu um sorriso. – Eu nunca mais vi a minha primeira! Ela era amiga da minha mãe, um mulherão.

– Foco, Wendy! É a vez do meu fantasma. – Chamou a atenção da amiga, jogando-lhe uma azeitona.

– Certo. Me fala da Emma. – Pediu cruzando as mãos sobre o colo e a encarando.

– Ok. – Respirou fundo antes de começar. – Emma era minha amiga de escola. Eu me apaixonei loucamente, nós vivemos uma relação escondida, turbulenta e cheia de altos e baixos, e ela trucidou o meu coração e jogou no lixo.

Wendy a olhou surpresa. Nunca havia visto a Regina admitir que alguém tivesse chegado tão perto a ponto de ser capaz de destruí-la. Em geral, quem quebrava os corações alheios, era ela. Talvez aí estivesse a explicação para isso, ponderou.

– Bom saber que você deixou alguém chegar perto o bastante pra fazer um estrago. – Lhe sorriu.

– Ah, valeu! Muito obrigada por entender e analisar a minha dor. – Regina se jogou para trás, recostando no sofá.

– Dor? Ainda dói? – Wendy se surpreendeu.

– Não. – Regina respondeu rápido. Rápido demais – E sim. Eu não sei. Eu acho que estou assim porque fui pega totalmente de surpresa.

– Onde você encontrou essa criatura?

– Na minha casa. – Esperou pela reação da amiga.

– O que? – A expressão de espanto no rosto de Wensy, fez um sorriso dançar nos lábios de Regina.

– Na minha sala, hoje de manhã. Ela é amiga de Kristoff, namorado de Zelena. Veio passar uns dias lá em casa. – Ah, a ironia estava ali. Regina continuava a mesma. Mesmo em se tratando de um assunto que a tirava do eixo, não deixaria cair à fortaleza que levara tanto tempo construindo.

– Você está de sacanagem?! – Wendy exclamou, deixando cair um pouco de cerveja no tapete. – Putz, amiga! Isso é que é destino.

– Que destino, Wendy?! Coincidência infeliz, isso sim! – Regina virou mais um pouco de cerveja pela garganta.

– Não mesmo. Destino com certeza. Você tem alguma pendência com essa mulher pra ela aparecer dentro da sua casa assim. Karma, amiga! Não falha nunca.

Regina sacudiu a cabeça em negação, mas não respondeu. Conhecia as crenças de Wendy e sabia que não iria adiantar discutir.

– Ok. Sem karma então. – Wendy se rendeu. Sabia que este não era o melhor caminho para chegar a Regina. – Eu preciso de um pouco mais de informação se você quiser a minha ajuda.

– O que você quer saber? – Regina perguntou, já sentindo receio do que viria a seguir. Tudo bem que já tinha aberto as feridas àquela manhã, quando se deixou inundar pelas lembranças desse amor, mas falar dele, falar parecia trazer pro concreto, real.

– Você disse que foi uma relação turbulenta. Por quê?

– Porque nós éramos jovens em uma cidade pequena e provinciana, onde a palavra lésbica até hoje, é sinônimo de doença infecciosa. – Regina falou irritada. Era difícil pra ela voltar àquilo. A sua adolescência não fora fácil, e passara os anos seguintes todos, tentando curar os traumas de não se sentir aceita, de achar que não pertencia. Fazer o caminho de volta às memórias, era mais duro do que ela pensara que seria.

– Eu entendo. Mesmo tendo crescido aqui, não foi fácil pra mim também. – Wendy falou calmamente.

Regina sabia disso. Conhecia a história da amiga, tudo o que ela enfrentou ao se assumir. Ela não falava com os pais até hoje, tinha brigado com a irmã mais velha, e acabou por fazer de seus amigos e sua irmã mais nova, sua família. E ao mesmo tempo, era uma das pessoas mais dóceis e bem resolvidas que Regina conhecia. Talvez por isso também, a tenha procurado.

– Me fala mais. – Spencer pediu após alguns minutos de silêncio. – O que aconteceu entre vocês?

Ainda de olhos fechados, com a cabeça recostada no sofá, Regina contou como se deu conta de que estava apaixonada pela melhor amiga, a luta interna para aceitar isso como fato, e como se aproximou de Emma. Falou também, da resistência da mesma, dos medos partilhados, dos sonhos, das aventuras. Quase um ano vivendo um amor, que para elas, era proibido, até que foi descoberto.

– Eu não tinha medo. Eu acreditava que o que a gente sentia bastava. Eu era jovem e rebelde, e nada nem ninguém poderia ser capaz de nos separar.

– Mas não foi bem assim… – Wendy falou.

– Não, não foi. – Regina respirou e encarou a amiga. Pegou o resto da cerveja, e virou. – O irmão mais velho dela nos pegou na cama. Nós abusávamos. Vivíamos uma na casa da outra, dormindo juntas e arriscando que descobrissem. Com tudo o que estávamos vivendo, eu mudei minha postura, eu sabia que as pessoas notavam a diferença em mim. A Emma, não. Ela continuava sendo a filha perfeita, estudiosa, dedicada. Os pais dela não eram os maiores fãs da nossa proximidade. Eu aprontava no colégio, enfrentava meus pais. Fiz um discurso inflamado na escola, a favor da anarquia. Nesse dia eu achei que a Emma fosse ter um treco. – Sorriu com a lembrança. – Mas quando ela estava comigo, ela era forte. Tinha uma personalidade vibrante. Nós bancávamos as loucas e destemidas. Fugíamos as regras. Éramos mais que namoradas, éramos parceiras mesmo.

– Mas quando pegaram vocês, ela negou?

– Não no primeiro momento. Nós tínhamos decidido enfrentar as nossas famílias e a sociedade. Eu saí de casa, fui morar com uma tia minha que tinha um sítio nas proximidades, e ela ficou comigo. Mas os pais dela pressionaram, e então me deixou e voltou pra casa. Nós ainda tentamos ficar juntas, mas o medo de perder a família foi mais forte, e ela me deixou.

Wendy a olhava, e Regina podia sentir que ela estava procurando as palavras certas para não magoá-la. Ela diria que entendia a reação da Emma, e olhando de fora e friamente, ela também era capaz de entender. Sentir a perda é que não foi nada fácil. Ela se dispusera a enfrentar tudo para viver aquele amor, e não foi correspondida a altura. Isso ainda doía. Com o tempo, passou a aceitar e entender a atitude da Emma. Ela tinha uma família que ela não queria decepcionar. Ela perderia muito mais que Regina, que há muito tempo havia decidido que a opinião dos seus pais não era importante para ela.

Regina abriu um sorriso ao ver a luta interna da amiga. Wendy era extremamente lúcida e tinha o dom de ser capaz de ver sempre os dois lados de qualquer situação. Sabia que ela queria apaziguar a dor, mas também fazê-la enxergar.

– Está tudo bem, Wendy. Eu também entendo que ela tenha me deixado. Mas isso não quer dizer que não tenha sido muito difícil. – Regina falou se erguendo e indo em direção a cozinha.

– Eu imagino. Já namorei mulheres que não queriam se assumir, e é uma merda.

– É uma merda. – Regina voltou com mais duas cervejas e entregou uma garrafa a Spencer. – O que mais me revoltou, foi ter que enfrentar tudo sozinha. Eu estava disposta a enfrentar o mundo, mas ao lado dela. Esse era o plano…

– Esse era o plano. Eu sei. – Wendy lhe sorriu tristemente. – Vai ficar tudo bem, você vai ver. Você é uma mulher forte, independente, inteligente, linda. Não deixa a adolescente sofrida tomar conta de você. Ela deve ficar no passado ao qual pertence. Ela também fez você ser quem é. A dor e o sofrimento nos fazem maiores, mais fortes. Deixa a amargura de lado… tem gosto ruim. - Wendy sorriu e a abraçou. Regina se deixou abraçar, consolar. Já se sentia mais forte. Mas rever Emma, abrira feridas que ela julgara esquecidas, que na verdade, estiveram lá o tempo todo. Talvez Wendy estivesse certa, talvez ela precisasse enfrentar esse fantasma do passado, para seguir livre no futuro.

As duas passaram a tarde juntas. Conversaram sobre tudo e mais um pouco, e Regina se sentiu mal em ter trazido seus problemas para a amiga. Wendy, assim como ela, tinha uma proteção forte. Não permitia que qualquer uma entrasse e bagunçasse a sua vida e o seu coração.

Quando já estava anoitecendo, Regina convenceu Wendy a acompanhá-la ao bar de Gold. Zelena já havia ligado duas vezes atrás dela e querendo marcar um programa para a noite. Ela era jovem demais quando tudo aconteceu, e como na época, Regina também fez de tudo para proteger Emma, ela nunca soube quem havia sido o seu amor de adolescência, nem a razão para ela ter se assumido. Por tanto, ela também não via mal algum em uma reunião de amigos de longa data.

Por volta das vinte horas, elas chegaram ao bar. Regina ficou aliviada ao constatar que sua irmã, o cunhado e a ex-namorada, ainda não haviam chegado. As duas se dirigiram a uma mesa de sinuca no fundo do bar, e Gold chegou trazendo as cervejas e os aperitivos. O bar ainda estava vazio, e Wendy correu para escolher a seleção musical. Esta noite, rock anos oitenta. Regina a encarou e balançou a cabeça. Aquilo não daria certo.



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