Até então, o mundo nunca tinha sido tão árduo em suas costas. Nada o tinha feito chorar tanto como este dia. Sequer fazê-lo ter vontade de apodrecer junto de seus antepassados.
Howaito está aflito. Não. Muito mais do que aflito, pois se encontra em total agonia ao sentir o seu próprio sangue escorrer por sua pele. Seus olhos, antes cintilantes da cor do mar, se encontram temerosos ao ver a face da própria morte sorrindo para ele, limpando a, tão esperada, última lágrima de sua face. De sua boca, que ousava o seu último suspiro, saiu sangue, tão avermelhado quanto as dos olhos famintos da morte, que espera paciente a hora de sua refeição.
Porém o garoto se mantém firme. A cada chicotada em suas costas, ele gritava, berrava, em esperanças de abafar a sua agoniante dor. E quando não se via mais a hora, ele abria os olhos, em busca de seu povo, que era obrigado a ver a sua própria tortura. Sendo mais exata, a sua própria morte.
-Isso, meus caros, é o que acontece com ladrões, hipócritas e traidores.
“Quem ousa ultrapassar minhas regras, sofre a mais árdua punição. E confesso, este é um homem forte! Ou deveria dizer de sorte?”
Alexander I levanta seu braço esquerdo, permitindo mais chibatadas, que talvez finalizasse a própria vida de Howaito, pois dessa vez não houve gritos, muito menos gemidos, mas um sussurro:
-Vai...se foder.
O Rei, um tanto revoltado, se demonstrou surpreso, dando um grande sorriso de puro sarcasmo, levantando o rosto caído do menino para encará-lo melhor.
-O que disse? - ele questiona deixando ressoar curtas risadinhas pelo grande pátio ao qual se encontram. - Espere um momento, deixe eu chamar o meu querido amigo, pois é ele quem consegue falar com os mortos - nesse momento, todos os seus guerreiros que se encontravam em suas devidas posições riam junto de seu Rei.
-Para quem se denomina como o melhor, é uma grande decepção saber que é incapaz de um luxo desses.
O silêncio se alastrou na hora, e um tapa forte foi ouvido por todos, assim como também foi visto mais sangue espirrar para o chão, amedrontando as crianças as quais estavam por perto.
-Mate-o.
E com isso, Howaito foi tirado das correntes e jogado para o chão, humilhado e imerso em sua própria desgraça, ouvindo todos de seu povo, também escravos, aterrorizados, pedindo por misericórdia pelo pobre garoto.
Dessa vez, não era a morte que sorria, mas sim o próprio rapaz, que não sentia mais medo de sua situação. Estava incapaz de sentir, incapaz de ver sua própria realidade, somente a observar o céu nublado em sua cabeça. Porém, faíscas brilhantes o ofuscou de todos seus pensamentos melancólicos, aquecendo o seu peito como se lhe proporcionasse mais força, mais vida, mais alegria. Logo em seguida, uma lembrança: a sua própria família reunida consigo nas noites das luzes, antes de toda a desgraça acontecer.
Sendo assim, um sorriso maior ainda surgiu em seu rosto, e com toda a alegria que sentia, pôde dizer contente e aliviado:
“Sim, eles ainda lembram de mim.”
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