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História A Little Bit In Love With You (Ryujin - ITZY) - Left, Right, Left


Escrita por: Michs_

Notas do Autor


gente sete da manhã e eu postando alguém me ajuda não é meme

Capítulo 8 - Left, Right, Left


Fanfic / Fanfiction A Little Bit In Love With You (Ryujin - ITZY) - Left, Right, Left



 

[...] 



 

  23:00 


 

  Me joguei sobre a cama e respirei fundo. Tínhamos acabado de chegar no hotel, e a primeira coisa que fiz foi ir direto para o quarto e tomar um longo banho. O vôo durou pouco mais de onze horas, então acabamos por nos deparar com a noite mais uma vez, por causa do fuso horário, e isso cansou não apenas a mim, como todas as garotas e os staffs também. 

  Durante os dias que ficaríamos aqui, Yuna seria a minha companheira de quarto. Agradeci por ela ter aceitado meu convite, pois precisaria muito do bom humor dela para que eu pudesse me entreter e suportar os próximos dias. 

  Era ela quem estava tomando banho agora, então eu estava praticamente sozinha naquele quarto. 

  Ajeitei melhor a cabeça no travesseiro e me cobri com o edredom, puxando mais para perto o moletom azul que guardei com tanto carinho na minha mala durante o percurso. Envolvi aquela peça com meus braços e inalei o perfume com força, não demorando muito para fechar os olhos e aproveitar melhor a sensação. 

  Depois de longos segundos assim, logo comecei a me sentir ser levada pelo sono. 

  Eu estava realmente muito cansada e precisava dormir, pois logo pela manhã teríamos uma série de entrevistas, então o moletom da Alex serviu como um ótimo catalisador no processo para que eu pegasse no sono, pois, com aquele cheiro, me sentia cada vez mais relaxada e calma. 

  O abracei ainda mais e sorri fraco ao me lembrar de sua dona. 

 

  Ter pego aquele moletom foi uma ótima ideia… 


 

[...]



 

  Dois dias depois: 


 

  Okay, primeiramente, vamos aos fatos:  

 

  Dois dias se passaram desde que chegamos nos Estados Unidos. Nas primeiras vinte e quatro horas, Minji deixou que eu e as garotas aproveitassemos a viagem como turistas, e por isso apenas voltamos para o hotel quando já havia escurecido. Foi uma ótima experiência, pois além de estar explorando um lugar novo, eu estava fazendo isso ao lado delas, que sem sombra de dúvidas eram as melhores pessoas para dividir esse momento. E durante a noite, ficamos todas juntas em um quarto só, gravando alguns vlogs e fazendo nossas costumeiras idiotices. E somente depois de termos bagunçado o suficiente para que Yeji se "irritasse", Yuna e eu resolvemos voltar para o nosso quarto para dormirmos, já que no outro dia teríamos alguns compromissos. 

  Acabei ficando tão satisfatoriamente cansada que, naquela noite, eu nem ao menos me lembrei de dormir com o moletom da Alex. Eu tinha me lembrado dela algumas vezes durante o dia, mas não chegou perto de ser como anteriormente. E eu considerei isso uma vitória, se quer saber. Era um pouco cedo para arriscar dizer, mas, se continuasse assim, pensei seria muito fácil passar dez dias longe dela sem ter algum tipo de contato. 

  

  Mas, é como nos ensina o ditado: tudo que é bom, dura pouco. E mais uma vez eu estava errada. 

  Tudo o que não senti no primeiro dia, me foi enfiado goela abaixo logo que acordei na manhã seguinte. E não é como se tivesse acontecido num piscar de olhos, porque não foi; tudo começou quando resolvi dar uma ingênua atenção para a minha curiosidade, e por isso acabei gerando consequências que vieram quase que inteiramente por culpa minha, e eu tive que lidar com o peso daquela responsabilidade sem poder transferir para outro alguém. E isso me irritou um pouco... 

O que aconteceu foi que, enquanto tomava café ao lado de garotas ainda mais preguiçosas que eu, tive a brilhante ideia de checar minhas redes sociais depois de me ver entediada pelo silêncio. E, claro, como nada conspirava ao meu favor por tanto tempo, a primeira coisa que me deparei foi com uma publicação de um certo alguém. Uma atualização dela

  E, bom, tudo estaria dentro dos conformes se não fosse pelo caráter apelativo daquela foto. E, acredite em mim, era muito apelativo.

  Não sei exatamente o que se passava na cabeça da Alex, mas ela realmente se achava no direito de postar uma foto ao lado de Luca sem dar a mínima para os danos que poderia causar a quem olhasse. Sem exageros, eu contei ao menos cinco mini ataques de surto interno ao olhar aquela foto antes de me acostumar melhor. E não era para menos; tudo ali era um grande crime contra a humanidade. A forma como ela estava abraçada com ele, iluminada pela luz do sol e com aquela feição de que tinha acabado de acordar, as mechas de cabelo que caíam perfeitamente em seu ombro, e aquele sorriso que parecia brilhar mais que o próprio sol… Francamente, ela não sabia que era imoral fazer esse tipo de coisa?! Não era tão difícil assim. Custava ter o mínimo de senso e guardar esse sorriso só pra mim?  Que inferno… 

 

  E, bem, como já é praticamente óbvio, em decorrência disso o meu dia foi fadado ao fracasso antes mesmo de ter começado, e falo isso no melhor sentido da frase. 

 Contudo, não fora de tão ruim assim. O lado bom de ser uma idol que ainda não podia ter redes sociais oficiais em meu nome, era que eu poderia me esconder atrás de um perfil qualquer sem ninguém saber que era realmente eu. Tanto que eu tinha seguido Alex em quase todas as mídias sem ela nem ao menos desconfiar que eu era a dona daquelas contas. E então, o que eu fiz? Exatamente. Curti todas, digo, todas as publicações dela de uma única vez, desde a primeira até a última, sem exceção. Por que? Para a parabenizar por ser tão bonita sem que eu precisasse a dizer da minha própria boca. Levei todo o período do café da manhã para fazer isso, mas creio que valeu a pena. 

  Confesso que fiquei curiosa para saber qual seria a reação dela quando notasse que um perfil dedicado à Hamtaro tinha a stalkeado com tanta dedicação. A imaginei esboçando uma daquelas costumeiras feições de estranheza, o que me fez rir um pouquinho e sentir meu coração ser amaciado por pura paixão. 

  Só não esperei que aquele sentimento fosse me consumir durante todo o dia. No começo foi delicioso, confesso; a sensação do frio na barriga ao me lembrar do beijo era prazerosa, mas gradativamente foi se tornando algo maléfico para o meu bem estar. Remoer a lembrança dos lábios dela nos meus foi bom até que eu me desse conta de que não aconteceria de novo no plano físico nos próximos dias, e isso sugou toda a minha animação para seguir o dia. Resultado: mau humor. Não vou dizer que foi horrível, pois consegui deixar isso em segundo plano durante as entrevistas e as gravações que tive com as garotas, mas, querendo ou não, aquele sentimento ainda estava lá, me seguindo como uma sombra. 

  

 

E hoje não estava sendo muito diferente. Acordei, comi, tomei banho, passei a tarde autografando álbuns… tudo enquanto pensava nela. Parecia a melhor das maldições, ou talvez a pior das bênçãos.   

  

  —Ryujin. - Minji me entregou mais alguns álbuns para assinar. - Conversei com a sua vizinha, ela disse que Byullie está voltando a comer aos poucos e que ele já está bem melhor. 

  —Oh… - Coloquei uma mão acima do peito e suspirei em alívio. - Que bom…  

   Byullie tinha ficado doente logo no dia seguinte à nossa viagem, e como ele e Dallie estavam sob cuidados da nossa vizinha, acabei ficando sem escolhas a não ser torcer para que ele melhorasse. Ela o levou ao veterinário e pelo que parece tinha sido apenas algo que ele comeu e que não tinha feito bem para seu organismo, o que era menos mal, mas não me amenizava a preocupação. Eu também estava morrendo de saudade dos meus gatos, e saber que um deles ainda por cima não estava bem era quase como enfiar uma faca no meio do meu coração. 

 

  —Ele vai ficar bem, não se preocupe. - Lia massageou meu ombro com um sorrisinho compreensivo. 

  —Assim espero… - Respirei fundo e assisti Minji se afastar para fazer a milésima ligação de trabalho no dia. 

  Estávamos terminando de assinar os últimos CDs. Era por volta das seis da tarde e estávamos em uma das salas que o hotel oferecia para pequenas reuniões. Só estávamos eu, as garotas e Minji ali. 

  —Toma aqui… - Yeji deslizou um álbum em minha direção pela mesa com um sorrisinho insinuante. - Seu pedido especial. 

  —Obrigada... - Sorri da mesma forma que ela e ergui meu queixo em provocação, aceitando de bom grado o álbum que já tinha sido assinado por todas com exceção de Lia. - Ei... - Me virei para ela. - Pode assinar esse, por favor? 

  —Posso… - Concordou sem dar muita bola, mas logo que abriu o livro de fotos, um sorrisinho cresceu em seus lábios. - Oh… - Me olhou de canto e começou a escrever acima de uma das suas fotos individuais. - É para a Alex.

  —É que ela insistiu… sabe… - Soltei uma risadinha sem graça. - Coisa de gente louca.

  Essa foi, literalmente, a mesma explicação que dei para todas elas. 

  —Sei… - Soltou algumas risadinhas e fez cara de quem estava aprontando conforme escrevia. 

  —Não precisa se esforçar muito, é só a Alex… - Dei de ombros e olhei ao redor, controlando minha vontade de espiar o que ela tanto escrevia ali. 

  —Só a Alex, não é, Ryujin? - Ironizou e fechou o livro. 

  —Claro… - Estendi minha mão para que ela me devolvesse. 

  —Uma pessoa como qualquer outra. - Me entregou depois de enrolar alguns segundos. 

  —Exato. - O peguei e logo me levantei da mesa, andando até a minha bolsa no canto da sala para o guardar em segurança enquanto ouvia os cochichos delas.

  Quando me virei para retornar ao meu lugar, me deparei com quatro pares de olhares me secando. Chaeryeong, Lia, Yeji e Yuna, todas me olhando com expressões  sugestivas. As encarei de volta com grande estranhamento, me mantendo parada no meu lugar sem dizer nada. Foi bem constrangedor, principalmente se levar em conta que ficamos meio minuto em completo silêncio. Eu tinha perdido algo...?

 

  —Ryujinnie… - Yuna foi a primeira a se pronunciar, e agora tinha uma feição mais infantil. - Você tem algo para nos contar? 

  Olhei ao redor devagar. 

  —Ham… não…? - Comecei a brincar com meus dedos. 

  —Certeza? - Chaeryeong levantou as sobrancelhas e piscou várias vezes.  

  —Não que eu saiba... - Engoli o ar e cocei a nuca. 

  —Acho que ela precisa de uma ajudinha… - Yeji olhou para as garotas num ar cúmplice e tornou a me encarar. - Vou estreitar um pouco as coisas para você. - Arrastou os álbuns para o lado para poder apoiar os cotovelos na mesa. - Eu e as garotas estamos curiosas para saber o que você e a Alex fizeram quando você a visitou naquele dia. 

  Desviei meu olhar imediatamente para o chão e dei de ombros numa resposta rápida do meu corpo. 

  —Vimos um filme, comemos sorvete… nada demais. - Respondi com a voz um pouco mais baixa do que planejei. 

  —Só isso? 

  —Só isso. - As olhei de volta, esperando do fundo do coração que fingissem acreditar. 

  —Hmmmm… Vocês se beijaram? - Yuna perguntou de supetão. 

  —O que?! Não! - Neguei com as mãos e arqueei as sobrancelhas. 

  Desde quando ela se tornou tão direta assim?!  

  —Nem um selinho?! - Yeji imitou minha expressão. 

  —Não! 

  -Ryujin… 

  —Não aconteceu nada, acredite!  

  —Ah, pare de mentir! - Lia bateu com a palma da mão na mesa. - Nós já sabemos que vocês se atracaram até não poder mais! - Fingiu um tom bravo, arrancando risos de Yuna e Chaeryeong. 

  —Se já sabem, por que querem que eu diga então?! 

  Não pensei para falar dessa vez. 

  Todas elas se calaram por um momento, e meu coração errou uma batida. Yuna arregalou os olhos e fez um O com a boca, intercalando os olhares entre mim e as garotas até começar a sorrir e apontar o dedo indicador em minha direção.  

  —Então você admite mesmo que se beijaram?! - Quase gritou, desencadeando assim uma série de exclamações exageradas das outras. 

  —Waaa, Ryujin! - Lia bateu algumas palminhas e usou de um tom fingidamente maduro. - Sempre pensei que você fosse meio banana pra esse tipo de coisa, mas acabou me provando o contrário. Estou orgulhosa! 

  —Tzzz! Eu sabia que aconteceria uma hora ou outra! Essa é a minha garota! - Yeji se juntou à Lia nas palmas. 

  

  As encarei com grande constrangimento. 

 

  Céus… por que?

 

  —Aquele moletom azul é o dela, não é? - Chaeryeong estreitou os olhos para mim, balançando a cabeça em negativo. 

 

  Fitei a parede branca atrás delas, tentando não me deixar levar por todo aquele falatório. 

 

  —A Ryujin está apaixonada, nhown! - Yuna juntou as mãos e formou um bico. 

  

  —Ah, pelo amor! - Reclamei e passei a mão pelo rosto. - Vocês enlouqueceram. - Apontei para todas elas e me esforcei ao máximo para não rir da simulação de Lia e Chaeryeong de como teria sido o meu beijo com o de Alex. - E eu não vou deixar que façam o mesmo comigo! - Comecei a andar na direção oposta, rumando até a porta. - Eu vou tomar um ar! 

 

  —Ryujin, ela beija bem?! 

 

  Revirei os olhos e ignorei a pergunta, não demorando para enfim sair daquela sala para longe daqueles comentários sem noção. 

  

  Deus, por que elas tinham que ficar sabendo disso?! 

 

    

  

  

[...] 


 

  No dia seguinte:  


 

  19:30 

 

 

 

  Me sentei na cama de pernas cruzadas, trazendo junto comigo meu celular e o moletom azul. 

  —Não vai tirar sua maquiagem? - Yuna perguntou enquanto limpava seu rosto com um lenço descartável em frente ao espelho. 

  —Depois eu tiro… - Respondi com pouca emoção e larguei o moletom em meu colo para poder mexer em meu celular. 

  —Hm… e você está bem? - Me olhou pelo reflexo com desconfiança. 

  —Claro que estou… por que não estaria? 

  —Eu não sei, você está tão estranha hoje… até as garotas perceberam. 

  —Eu não estou estranha. - Neguei com a cabeça e soltei uma risada sem graça. - Só estou cansada. 

  —Mas durante o dia todo…? - Andou até sua cama para pegar um de seus cremes faciais. 

  —É pelo fuso horário. - Dei de ombros e voltei a atenção para a tela do celular. 

  —Hm, sei… 

  Fingi não ter reparado na forma como ela me olhou antes de retornar ao espelho, e depois de ter respondido algumas mensagens, passei a não saber mais o que fazer para resolver a frustração dentro de mim. 

  Visitei todas as redes sociais, tentei jogar alguns dos meus jogos preferidos, procurei algum filme para assistir… Nada estava adiantando. E nada parecia bom o suficiente para mim. Parecia que tinha algo faltando, mas claramente não tinha! Quer dizer, tudo bem que eu estava sentindo a falta da Alex, mas seria absurdo relacionar aquele meu imenso tédio à ela. Era humanamente impossível que, só por não estar falando com ela há alguns dias, eu estivesse me sentindo tão desligada de tudo e todos! Fala sério, tínhamos nos conhecido há dois meses! Seria ousadia de qualquer pessoa sugerir que todo o meu dia estava sendo alterado por causa de apenas uma pessoa que conheço há tão pouco tempo…  Eu só precisava descobrir o que era essa coisa dentro de mim que estava me atrapalhando, e então poderia resolver logo de uma vez. Só isso. Afinal, eu estava nos Estados Unidos com as garotas! Tinha todas as oportunidades para me divertir! Por que eu estava com aquele mau humor todo? Não fazia sentido…  

  

  Revirei os olhos e bufei com força, movendo meu polegar direito sobre a tela do até que estivesse frente à minha lista de contatos. 

  O primeiro número da lista já era o de Alex. 

  —Mas que droga… - Resmunguei baixinho. 

  —Falou comigo? - Yuna me olhou de canto. 

  —Não…  

  Suspirei ao ver a foto dela junto ao seu contato. Ela precisava mesmo ser tão bonita? Aquela metida... 

  Num momento de súbita insanidade, tive vontade de excluir aquele contato para que a tentação de a ligar ficasse menos perturbadora, como também tive uma imensa vontade de apertar o botão verde para enfim ouvir aquela voz. Mas não fiz nenhum dos dois. Não tinha a coragem de excluir o contato dela, pois eu não sabia se estaria dando tanta importância para meu ego nos próximos dias, mas também não tinha a covardia suficiente para a ligar tão cedo assim. Pois afinal, eu conseguia, sim! Oras, o que eu fazia dois meses atrás, quando Alex não tinha aparecido para bagunçar toda a minha cabeça?! Eu conseguia me divertir, e meus dias eram ótimos! Então, se eu estava muito bem naquela época, conseguia fazer o mesmo agora! 

  Determinada e ligeiramente irritada, larguei meu celular de qualquer modo acima do meu travesseiro e baixei meu olhar para o moletom azul. Eu não poderia mais ficar dormindo com ele todas as noites. O que eu era? Uma criança, por acaso?! Que precisa de um pedaço se pano para dormir? 

  "Esse moletom patético…" xinguei mentalmente antes de, com grande arrogância, o jogar de qualquer maneira acima do criado mudo. Depois inclinei meu corpo para trás e apoiei as mãos no colchão, encarando o teto para me entreter. 

  Era só o que me faltava… depender de um moletom idiota. Eu não precisava dele. Nos últimos dois meses a minha saúde mental não estava muito boa, mas não era tão grave ao ponto de precisar ficar cheirando uma roupa feito uma psicopata esquisita… não, definitivamente não. Até porque, que coisa de gente brega, roubar o moletom da pessoa por quem é apaixonada para ter a sensação de que está na sua presença. Pff… isso existia mesmo? Me parece o tipo de coisa que só acontece em filmes clichês de romance adolescente… e dos ruins! Que conceito batido… até parece que esse tipo de coisa faria diferença pra mim… 

  E, não, eu não estava apaixonada pela Alex, se é isso o que pensou quando leu o último parágrafo. Foi apenas modo de falar… não me interprete da forma errada e não tire conclusões precipitadas, por favor. Eu não estava apaixonada, não mesmo. Só… gostava dela. E, claro, por falta de opção, pois afinal, existiam tantas pessoas mais legais que ela por aí... Poderia encontrar dez Alexias na esquina do nosso prédio, talvez versões até melhores e menos irritantes… Sorte a dela que nos víamos todos os dias para os ensaios, e sorte em dobro por eu ser tão caridosa e aberta para a dar uma chance… 

  Humpf… 

  —Unnie, você está bem mesmo? - Yuna se virou para mim com uma feição receosa. 

  —Sim! - A olhei de imediato. - Por que? 

 —Você está com uma cara ainda pior agora… 

—Eu só estava pensando, não se preocupe.

 —Ham… okay… - Se levantou e se dirigiu até o banheiro, me deixando sozinha com meus pensamentos. 

  Precisava aprender a controlar melhor as minhas expressões. Yuna costumava me conhecer muito bem, e na maioria das vezes ela sempre sabia o motivo do meu incômodo sem eu nem ao menos dizer. Se continuasse assim, certamente ela correria para contar isso para a Alex, já que eram tão grandes amigas.

  Ergui meu rosto um pouco para olhar o meu reflexo no espelho. Realmente, eu estava parecendo mais do que brava. Tentei sorrir, relaxar os músculos, amenizar um pouco a feição… mas acabava ficando ainda pior. 

  —Mas que droga… - Relaxei meu corpo e parei de olhar para meu reflexo. Até minha aparência estava começando a me irritar. 

  Eu era uma idol, o mínimo que eu poderia saber fazer era fingir que estava tudo bem e mascarar minhas emoções, mas nem isso estava conseguindo.

  Respirei fundo e repeti mentalmente todos os xingamentos que conhecia. 

  Que coisa mais frustrante! 

 

  Quando passei a rodear meus olhos pelo grande quarto, por pura coincidência do destino parei o olhar mais uma vez no criado mudo, naquela peça de tecido azul que tanto havia despertado a minha recente raiva. O olhei desde a ponta de suas mangas até o último fio da touca. Eu deveria jogar ele no lixo, isso sim… esquecer de uma vez. Depois compraria outro para a Alex ou diria que perdi. Não era algo malvado a se fazer, e passei a cogitar muito essa possibilidade. Quem sabe, talvez… 

  Me obriguei a tirar meus olhos dali e ignorei o meu coração, que por uma razão desconhecida insistia em me dizer que eu precisava do moletom. Quanto drama… 

  Descruzei as pernas e comecei a balançá-las fora da cama por pura ansiedade, esperando que caísse do céu alguma solução milagrosa para o meu problema. Era pedir muito? 

 

  Prendi o ar dentro dos pulmões e contei até cinco. Olhei de rabo de olho para o moletom, completamente contrariada. Algo ali estava chamando a minha atenção… 

  Continuei o encarando com grande desprezo, balançando ainda mais as pernas pela tensão. O moletom me olhou de volta, implicitamente me desafiando.

  Olhei melhor para ele, ele olhou melhor para mim… Parecia até um pouco simpático agora.  Mas não, não seria dessa vez. Eu podia ficar sem ele, sabia que sim…  

  Prendi o lábio inferior entre os dentes e levantei um pouco o meu queixo, deixando claro quem era superior ali.  Eu não seria vencida pela tentação de um trapo qualquer. Não mesmo. 

  Endireitei minha postura e passei a me sentar melhor acima do colchão. Ansiosa, usei as minhas mãos que estavam livres para batucar em minhas coxas, fazendo algum tipo horrível de música sem ritmo e sem coordenação. Quase que de automático meus olhos mais uma vez foram contra as minhas ordens e persistiram em se focar na roupa ao meu lado. Uma voz irritante na minha cabeça começou a ganhar força, me dizendo repetidas vezes para pegar o moletom, já que não tinha ninguém olhando. 

  Céus, como eu conseguiria resistir se até a droga da minha consciência estava remando contra a maré?! 

  Droga… 

 

  Parei tudo o que estava fazendo de supetão, e o encarei  como se tivesse feito algo horrível para mim. Estreitei os olhos e esbocei grande desgosto. 

  —Que se foda tudo isso. 

  Falei para mim mesma, e num impulso totalmente irracional peguei o moletom e, em questão de poucos segundos, eu já estava deitada sobre a cama com ele em meus braços.  Formei um bico infantil em meus lábios e respirei de muito mau grado, apertando mais a peça contra meu corpo. 

 

  Amanhã, sem falta, eu iria jogar esse moletom no lixo. 


 

  Guarde e aguarde o que estou dizendo. 



 

[…]



 

  Dois dias depois: 


 

  06:30 


 

  —Meninas, a checagem de som é em cinco minutos. Não esqueçam os fones de retorno, por favor. - Minji apareceu na porta do camarim apenas para nos dar o aviso, e saiu apressada logo que terminou. 

  Estava começando a ficar com pena dela, Minji estava enlouquecendo com toda a correria de compromissos, e mesmo assim conseguia fazer um ótimo trabalho. Não apenas ela, como todos os outros staffs também. 

  —Certo! - Todas respondemos em uníssono. 

  Estávamos um pouco cansadas, pois tivemos que acordar muito cedo para nos apresentar num programa matinal. Mas o que realmente estava tomando conta de todas nós era o fato de que seria ao vivo, então teríamos que tomar cuidado dobrado para não cometer erros, além de tentar controlar o nervosismo à flor da pele. Mas estávamos nos saindo muito bem. O feedback era muito positivo em todas as áreas, então não poderíamos estar mais felizes com o trabalho. 

  —Ryujin, fique parada por um instante. - Areum de aproximou de mim com alguns pares de brincos. 

  Oh, eu não mencionei que ela veio junto com a gente? Pois é, eu acabei descobrindo há pouco tempo também, durante um de nossos compromissos. 

  Não sei exatamente o que deu na minha cabeça para pensar que a nossa principal estilista não nos acompanharia durante a promoção, o que me fez pensar que, além de burra, eu também era uma grande idiota. Se tivesse somado dois e dois, não precisaria ter feito todo aquele drama para a Alex, pedindo para que ela não desse bola para Areum por medo de se envolverem amorosamente, e assim minha dignidade não seria afetada. Mas já era tarde demais, e eu não sabia dizer se preferia Areum aqui ou na Coreia. Por um lado era bom saber que ela estava longe da Alex, consequentemente não tendo perigo algum de investir em algum encontro ou coisa do gênero, mas, por outro, ter que olhar para ela quase todos os dias e por obrigação ter que interagir era um pouco demais para que eu pudesse lidar. 

  Me desculpe, mas eu não conseguia superar as coisas tão facilmente. Toda vez que olhava para Areum, minha mente me recordava da forma como ela olhou para Alex e demonstrou seu interesse, e por isso eu não conseguia ser sinceramente simpática com sua pessoa.  Mas, quem sabe, depois de um tempo eu passasse a não ligar mais para isso. Talvez tenha sido apenas um desejo passageiro de Areum, e talvez Alex já nem despertasse mais tanto interesse nela… 

  —Esse é melhor. - Sorriu depois que analisou a aparência de um dos brincos que ela própria tinha colocado na minha orelha. - Hmm… nossa. - Aproximou seu rosto de mim e respirou pelo nariz. - Adorei seu perfume. - Sorriu ainda mais e pegou os brincos de volta. 

  —É? - Balancei a cabeça positivamente e atuei no meu mais simulado sorriso, a assistindo andar de volta para a mesa com seus acessórios. 

  Mas que droga. 

  Olhei para meu corpo, aquele não era o meu cheiro. Era o cheiro da Alex; eu estava usando o moletom dela naquela manhã. 

  Esqueça o que eu disse sobre talvez deixar de lado o lance da Areum. Esqueça completamente. 

  Me amaldiçoei por longos segundos e fiz questão de prometer para mim mesma que não usaria mais aquele moletom quando tivesse que sair do quarto de hotel.

  Respirei fundo e andei até uma outra mesa onde ficava a comida, e peguei um pedaço de bolo para matar a pouca fome. 

 

  Você deve estar se perguntando o porquê de eu ainda estar com o moletom da Alex se, dois dias atrás, eu havia dito que o jogaria no lixo. Então… houve uma pequena mudança de planos. Me dói ter que dizer uma coisa dessas e também fere muito o meu orgulho, mas a questão é que acabei me dando conta de que não conseguiria desapegar daquela peça de roupa enquanto estivesse aqui. 

  Ontem foi um dos piores dias para mim, se quer saber. Quase liguei para Alex umas  quatro ou cinco vezes durante a tarde, e foi insuportável ver as horas se passarem tão demoradamente apenas para me torturar ainda mais. A minha única forma de escapismo foi passar o dia todo ao lado de Lia e Yuna, que por si só conseguiam ser barulhentas o bastante para me tirar um pouco da realidade. Quer dizer, foi até que bem divertido, e como eu adorava a companhia delas, foi um grande bônus. Porém, mesmo assim, eu precisei do moletom de Alex para não ceder à tentação de a ligar. 

  Mas, tudo bem… esse já era o sexto dia, faltavam apenas quatro. E quando finalmente voltássemos para a Coreia, eu estaria livre para matar toda aquela saudade e poderia esfregar na cara da Alex que, sim, eu consegui ficar dez dias sem conversar com ela. 

 

  Parecia um ótimo plano para mim. 


 

  —Meninas, vamos? - Yeji deu um pulo para fora do sofá e encarou a todas nós com um sorriso confiante. 



 

[...]



 

  No outro dia:



 

  09:45


 

  Desliguei o chuveiro e massageei a nuca, encarando o teto e me deixando levar pela grande sensação de alívio depois de momentos tensos naquele banho. 

  Sonhei com a Alex noite passada. 

  Não sei se acabei atraindo por meio de todos os meus pensamentos dos mais variados tipos em relação à ela, mas tenho que dizer, foi um sonho e tanto. 

  Descarte pensar que foi um sonho inocente, porque com certeza não foi. Tanto que, quando acordei, tive que vir direto para o banho. Quando me olhei no espelho, meu rosto estava num rubor fora do comum, e mesmo assim eu não soube interpretar como algo ruim. Fiquei impressionada com a criatividade do meu subconsciente para bolar um sonho daquele, principalmente quando havia sido tão real e palpável. Sempre que eu me tocava, era como se eu me lembrasse da sensação dos dedos dela passeando pelo meu corpo, e foi uma experiência de auto ilusão incrível. 

  Yuna ainda estava dormindo quando decidi lavar meu corpo para me aliviar do calor, mas acabei demorando tanto nesse processo que ela até mesmo já tinha acordado, pois ouvi seus barulhos do outro lado da porta. 

  Francamente falando…? Não me arrependi nem um pouco de ter tido aquele sonho, muito menos me irritei com o meu subconsciente pela provocação. Inclusive, eu estava disposta a ter mais daquilo, se fosse possível. Mas, isso era um assunto para tratar apenas quando eu fosse dormir, porque eu estaria sujeita a precisar de outro banho se continuasse nessa. Então logo tratei de começar a me secar para que Yuna pudesse enfim usar o banheiro. 

  Cantarolei baixinho, soltei algumas risadinhas travessas ao me lembrar de certas coisas do sonho, pensei no beijo de Alex… Eu estava de muito bom humor naquela manhã. Mais do que muito.  Algo me dizia que teria um bom dia pela frente, e se levando em conta a maré de dias ruins que estava tendo, isso era grande coisa para mim.

 Enquanto me secava com um sorrisinho, acabei escutando algo diferente fora do banheiro. Tinha uma voz além da de Yuna no quarto; e realmente, ela não estava falando sozinha. Pelo que entendi, estava conversando com alguém por telefone, e definitivamente não era uma das garotas. Parei o que estava fazendo e me foquei apenas em tentar identificar aquela voz, concentrando todas as minhas energias nos ouvidos. Juntei as sobrancelhas e abracei a toalha contra meu corpo quando ouvi aquele tom.  Eu estava escutando direito ou era apenas efeito da minha alucinação...? Esperei mais alguns segundos totalmente parada, tentando não me dar falsas esperanças quanto aquele tom. Não, não era efeito da alucinação...

  Era a Alex. 

  Meu coração quase pulou para fora do peito quando ouvi uma daquelas risadas que ela soltava.  Céus, era ela mesmo… Fazia uma semana que eu não ouvia aquela voz, e isso fez todo o meu interior implorar para que eu ouvisse um pouco mais de perto. 

  De imediato voltei a me secar, dessa vez com um pouco mais de pressa. Tentei me vestir com mais rapidez também, mas nisso não obtive sucesso. Dada a minha distração para ouvir melhor sobre o que conversavam, acabei não me dando conta de que estava vestindo a blusa do lado contrário. 

  —Droga… - Resmunguei quando me olhei no espelho e notei o quão patética estava parecendo daquele jeito. 

  Tirei minha blusa com mais calma e respirei fundo enquanto a colocava de volta, dessa vez me esforçando para a vestir da maneira certa. Era normal ficar tão nervosa assim?

 Depois de arrumar o meu cabelo e conferir toda a minha aparência para garantir que estava minimamente atraente, saí do banheiro em passos lentos e despretensiosos. Yuna estava sentada sobre sua cama, com o celular de frente para si e uma expressão divertida enquanto encarava a tela, e eu não fui até lá de imediato. A analisei de rabo de olho e com calma me abaixei perto de minha mala, colocando minhas mãos ali dentro para fingir que estava ocupada conforme escutava.

  Como eu posso dizer…? Eu não tive a intenção de sair saltitante do banheiro e já me colocar ao lado de Yuna para conversar também. Afinal, eu disse para Alex que não iria sentir saudade, e se eu agisse dessa forma, estaria contradizendo toda a minha narrativa. Sendo assim, optei por dissimular a minha ansiedade através de atos simples para que aos poucos pudesse me aproximar sem ser interpretada de uma forma diferente da que eu pretendia. E para justificar minha movimentação perto da mala, dobrei algumas roupas que anteriormente já estavam bagunçadas e com demora me levantei. Depois, me dirigi até o outro espelho com um de meus cremes faciais e me foquei em espalhar o produto sobre minha pele. 

  —A Ryujin acabou de sair do banho, olha. - Yuna virou a tela de seu celular para mim com um sorrisinho, mas preferi fingir neutralidade e apenas dei uma olhadinha rápida pelo reflexo.  

  —Quem é? - Perguntei com um falso desinteresse. 

  —Até parece que você não sabe… - Ironizou baixinho e voltou o celular para si. - E por falar nisso, por que eu não tenho visto vocês se falando, afinal? 

  —Ryujin acha que consegue ficar dez dias sem falar comigo, porque supostamente não sentiria a minha falta. - Alex respondeu, e isso fez todo meu interior tremer apenas por ouvir aquele leve sotaque de novo. 

 

  O jeito que ela falava era tão fofo, não é? 

   

  —Oh, sério? Pff… Que idiota. - Yuna soltou uma risada debochada e me encarou em seguida. 

  —Não é idiota… - Resmunguei. 

  —Claro que é… e está funcionando, pelo menos? 

  —Óbvio. - Dei de ombros. 

  —Então não está sentindo saudades da Alex? - Ergueu as sobrancelhas num visível sarcasmo. 

  —Humpf, claro que não… - Soltei uma única risada totalmente forçada. 

  —Ela pensa que consegue enganar alguém… - Voltou a olhar para seu celular. - Pois fique sabendo, Alex, que ela dorme todos os dias com o seu moletom! 

  —Yuna!! - A repreendi e virei meu corpo para a olhar diretamente.  

  —O que? - Levantou uma mão no ar como se fosse inocente. - Estou falando alguma mentira? 

  —Ai, você… - Fechei o punho e a ameacei com o olhar. - Vai se ver comigo depois… 

  Não consegui manter essa pose por mais tempo, pois logo ouvi as risadas de Alex, e isso me contagiou ao ponto de esquecer a exposição de Yuna. 

  —Ryujin foi bem esperta, se quer saber. - Se pronunciou em meio a algumas risadinhas a mais. - Conseguiu achar uma brecha no acordo, e agora ao menos ela tem algo para lembrar de mim e fingir que não está com saudade. Já eu… 

  —Eu não estou fingindo. - Retruquei com a voz mais séria. 

  —Então você está mesmo com saudade dela, Alex? - Yuna perguntou com um sorriso cúmplice. 

  —Eu estou morrendo de saudade dela, e ela sabe… 

  Senti um grande frio na barriga me contagiar, e por isso baixei meu olhar direto para minhas mãos e lutei com todas as minhas forças para não sorrir. Mas, como já é de praxe quando o assunto era a Alex, não consegui ser bem sucedida. Tentei me esconder da visão de Yuna para que ela ao menos não me visse assim, mas acabei esquecendo que eu estava de frente para um grande espelho. 

  —Olha lá! - Yuna apontou para mim com um grande sorriso e um ar de acusação. - Como essa mentirosa está sorrindo! - Virou seu celular para mim novamente para que Alex pudesse me ver. 

  —Quer parar com isso?! - Fiz o meu máximo para parecer brava, mas, de novo, foi inútil. Por mais que meu tom tenha sido autoritário, aquele sorriso idiota que insistia em ficar estampado na minha boca foi o suficiente para tirar toda a credibilidade da minha atuação. 

  —Você está caidinha por ela, não está? - Cerrou os olhos e me provocou num tom mais baixo e sugestivo. 

  —Ah, Yuna… - Revirei os olhos e voltei a andar para fugir da câmera. 

  —Admita!

  —Eu vou acabar com você! - Quase gritei, dessa vez com um pouco mais de bom humor, e então adentrei no banheiro de novo. 

  Não fechei a porta dessa vez, somente larguei o creme acima do mármore e levei minhas duas mãos até as bordas da pia, segurando com força enquanto olhava para o espelho. 

  Eu ainda sorria, mas por estar sozinha me permiti me soltar um pouco mais. Inclusive, após alguns segundos comecei a ouvir Alex e Yuna discutirem sobre como eu era orgulhosa e teimosa, e como essas características me afetavam diretamente. Comecei a rir graças a isso; foram risadas silenciosas, mas me senti muito bem com elas, porque acabei percebendo que eu também estava sentindo aquele gostoso tremor de nervosismo e meu coração se aqueceu no meio do meu peito. Suspirei pesado e passei a mão pelo meu cabelo. Céus, como eu estava com saudade de ouvir aquela voz… 

  Após dois ou três minutos naquele banheiro em silêncio e escutando o papo furado das duas, resolvi enfim me juntar à elas. Por mais que Yuna tivesse acabado com quase toda a minha dignidade, eu ainda não tinha perdido a minha vontade de ver Alex propriamente. Até porque, como ela mesma havia dito, eu tinha encontrado brechas no acordo, e essa era mais uma. Pense comigo: eu disse que não iria a ligar nesses dez dias, porque claramente não sentiria saudades, certo? Certo. Contudo isso não significava que eu não poderia conversar com ela através de Yuna, já que, afinal, não era eu quem havia feito a ligação. Então, o que eu tinha a perder? 

  Sacudi minhas mãos e braços para me aliviar da ansiedade e, após esperar mais alguns segundos para garantir que não teria mais vontade de sorrir como uma boba, enfim saí de novo pela porta do banheiro. Levei meu creme comigo como justificativa para voltar, e depois de ter guardado ele junto aos outros, andei devagar até o criado mudo que ficava entre a minha cama e a de Yuna. Tendo isso feito e já não restando mais nenhuma opção para adiar minha aparição, me sentei despojadamente ao lado dela, de modo que parecesse que eu não estava me importando tanto. 

  Como de costume, quase tive uma breve parada cardíaca quando vi Alex na tela, agora podendo a observar melhor por estar mais perto. 

  —Me avisem se eu vou precisar vomitar agora ou depois. - Yuna brincou com um sorrisinho insinuante. 

  Continuei olhando apenas para a Alex, completamente inerte em meio à minha admiração por sua beleza. Ela também estava me olhando, mas, diferente de mim, não parecia tão disposta a dar continuidade. 

  —Na realidade, não vai precisar. - Sorriu e passou as mãos pelo cabelo daquela forma que eu tanto gostava. - Eu preciso ir agora. 

  —Ah, sério? - Yuna me olhou com um bico fingido. - Mas a Ryujin acabou de chegar… 

  Era impressão minha ou… ela estava usando de um tom levemente debochado? 

  —Ham… - Soltou uma risadinha sem graça. - É que eu realmente preciso ir, tenho aula com os trainees em dez minutos

  —Mas… - Ensaiei contestar, porém ela já estava pronta para se despedir. 

  —Nos falamos depois, Yuna? - Sorriu docemente para ela. 

  —Uhum! - Copiou seu sorriso com empolgação. 

  Intercalei meus olhares entre elas com certa suspeita. 

  —Certo… E, caso queira falar comigo, Ryujin. - Arqueou uma sobrancelha com humor. - É só me ligar, hm

  —Hm… - Foi tudo o que respondi. 

 

  Depois que Yuna encerrou a ligação, a encarei com certa confusão. 

  —Que estranho… - Comentei lentamente. 

  —Não é? - Assentiu com a cabeça e se levantou prontamente da cama. 

  —Você, por acaso… - Olhei para minhas unhas e tentei dissimular normalidade. - Sabe de algo? 

  —Pff, claro que não. - Não me olhou para responder, parecia mais preocupada em escolher qual roupa iria usar. 

  —É, sei… - Ironizei com desconfiança. 

  —Eu vou tomar banho, okay? - Me comunicou e com certa pressa se dirigiu ao banheiro, como se quisesse fugir da situação. 

  

 

  O que elas estavam tramando, hein? 


 

[...] 

  

  

  

  Dois dias depois:



 

  12:30 


 

  Nono dia. 

  Isso mesmo. 

  Nono dia. 

  Eu só precisava aguentar mais um pouco. 

  Amanhã estaríamos viajando de volta para a Coreia, e quem sabe no dia seguinte eu estaria livre para reencontrar um certo alguém. Só de pensar nisso meu corpo todo se enchia de arrepios. E eu estava mais do que satisfeita. 

 

  Quer dizer… mais ou menos. Nos dois últimos dias, Alex e Yuna conversaram muito, tipo muito mesmo. Não posso confirmar com toda a certeza que era de propósito, mas aquelas duas estavam agindo muito estranho. Não descarto a possibilidade de ser apenas coisa da minha cabeça, pois de tanto sofrer eu já estava longe de ter minhas faculdades mentais intactas, mas tenho noventa por cento de certeza que estava certa.

  Toda vez que elas se falavam, me despertava um sentimento tão… desconfiado. A maneira como riam da idiotice da outra, usando e abusando dos assuntos mais banais possiveis, e toda essa coisa… eu não sei, mas estava me incomodando muito.  Não é como se elas se falassem o dia todo, até porque tanto Alex quanto Yuna tinham seus compromissos inadiaveis, mas, ao menos uma vez no dia eu as via conversando perto de mim. E, bom, como eu dividia quarto com a Yuna, era quase que impossivel evitar de não ouvir todo aquele falatório. Não é como se eu fosse me esforçar para não ouvir, porque obviamente eu me interessava muito em escutar o que Alex tinha a dizer, mesmo que não estivesse se dirigindo à mim.

 Durante essas ligações, eu ficava apenas na minha cama, fingindo jogar ou estar assistindo algo mais relevante em meu celular para mascarar um pouco a minha atenção no diálogo alheio. Eu me sentia bem ouvindo a voz da Alex, mas era uma satisfação pouco durável. No primeiro dia, acabou acontecendo a mesma coisa que no anterior. Quando eu me cansei de apenas ouvir, tentei uma aproximação sorrateira até a Yuna para me infiltrar na conversa, e depois de poucos segundos, Alex disse que teria que desligar pois estava trabalhando. Mais uma vez, ela e Yuna agiram estranho. Contudo optei por relevar e agir como se fosse um ato corriqueiro, afinal poderia mesmo ser só coisa da minha cabeça. Então, mesmo que chateada por estar com saudades e não ter recebido a atenção que queria, simplesmente segui sobrevivendo como podia.

  Até… que chegamos no dia de ontem. Tudo começou da mesma forma; as duas conversando (Alex estava parecendo um pouquinho mais pra baixo dessa vez), eu fingindo que não fazia diferença, o mundo girando.  Porém, eu estava mais do que disposta a descobrir qual era a delas. Depois de meia hora, saí da minha cama e pulei na de Yuna, soltando um comentário qualquer para sinalizar que eu estava a par do assunto. Bingo. Alex, de novo, desligou após alegar que estava ocupada com o trabalho. Detalhe: eram nove da manhã na Coreia, e, além disso, era um domingo. Por mais que ela se matasse de trabalhar, quase ninguém ia à empresa nos domingos a não ser pelos trainees mais dedicados que dispensavam assistência. Sendo assim, era uma desculpa bem mal dada. 

  Ela estava me evitando, com certeza, e Yuna estava a ajudando com isso. Eu sabia que não era algo sério, pois as duas bobonas não conseguiam esconder suas expressões de riso quando Alex se despedia, mas se queriam me frustrar, funcionou mais do que bem. Céus, eu estava com saudade! Queria conversar com ela, mas eu não podia a dizer nada, pois não queria entregar os meus verdadeiros sentimentos! Custaria muito para ela me ceder alguns minutos de conversa?! Que saco… 

  E eu ainda sou vista como a má da história… 

  

  Mas, tudo bem, não fazia mal. Nada, digo, nada mesmo, poderia arruinar o meu bom humor. Alex estava querendo me provocar com aquele lance todo? Parabéns, ela conseguiu. Mas eu não iria ligar para ela, sem dúvida alguma. 


 

  —Oh… - Chaeryeong se sentou ao meu lado na mesa, encarando meu prato com uma expressão de pena. 

  —O que? - Soltei uma risadinha fraca, encarando o pedaço de bolo intocado no meu prato. 

  Tínhamos acabado de almoçar no restaurante do hotel, e aproveitamos a distração de Minji quando foi atender o telefone para roubar algumas sobremesas no buffet.

  —Eu queria o bolo de chocolate, mas não tinha mais… 

  —Eu peguei o último… - Olhei para o dela, que parecia ser de alguma fruta. - Quer trocar? 

  —Ah, não precisa… - Deu um tapinha no ar e sorriu sem graça. 

  —Pode ficar, eu nem comi ainda. - Troquei nossos pratos antes mesmo dela concordar, e com isso a arranquei um grande sorriso. 

  —Unnie… - Fez carinho no meu braço, me fazendo sorrir tão abertamente quanto ela. 

 

  —Garotas. - Minji se aproximou por trás de Lia e Yeji, pousando as mãos sobre as cadeiras delas para nos olhar com seriedade. 

  —A ideia de pegar as sobremesas foi toda da Lia! - Yuna apontou o dedo para ela, agindo como se fosse totalmente inocente. 

  —Ei! - Lia reclamou, ensaiando atirar uma cereja contra a mais nova enquanto todas nós soltávamos risadinhas. 

  —Não, não tem nada a ver com isso, vocês podem comer o que quiserem… - Passou uma mão pelo rosto numa feição muito descontente. 

  —Mas, o que foi, então? - Yeji se mexeu na cadeira para que pudesse a olhar. 

  Conforme nos davamos conta da expressão de Minji, fomos aos poucos voltando a ficar sérias. 

  —Eu estava no telefone com o Dongsun. - Respirou fundo. - E ele disse que a nossa agenda mudou um pouquinho. 

  —Tipo…? - Perguntei receosa. 

 —Tipo… alguns dos nossos compromissos de hoje e amanhã foram adiados em alguns dias. 

  —O que? Quais? - Lia também se virou para ela, não parecendo muito contente. 

  —A entrevista para a televisão americana, a apresentação nesse mesmo programa e as gravações externas para Nobody like you. 

  —E por que? - Chaeryeong contestou.

  —Bom, o nosso vôo para cá foi adiantado, mas alguém da administração esqueceu de comunicar para as outras pessoas daqui que adiantariamos todo o trabalho. Então não foi exatamente um adiamento, estamos apenas seguindo a agenda antiga. 

  —E quanto tempo mais vamos ter que ficar aqui?! - Foi a minha vez de protestar, pois afinal, eu não queria ter que passar nenhum dia a mais aqui. 

  Minji fez uma leve careta e olhou ao redor. 

  —Talvez uma semana, ou mais. 

 

  O que?! 



 

… 



 

  17:00


 

  Mais uma semana nos Estados Unidos, yeeee!.... 

 

  Abracei meu travesseiro e encarei o edredom da minha cama com um grande sentimento de indignação e raiva. 

  Maldita pessoa da administração que não fez o trabalho direito! Fiquei tentando me lembrar de quem eu conhecia que trabalhava na administração. Sunhi trabalhava lá… e eu coloquei toda a culpa nela sem ter que pensar duas vezes; mais um motivo para não ir com a cara dela. 

  Sinceramente, agora parecia que até o universo estava conspirando contra mim. Mais dias para sofrer? Sério? Dez dias não eram o suficiente? 

 

  —Ooohhh, mesmo?! - Yuna arregalou os olhos para a tela do seu computador, cobrindo a boca com uma mão como se estivesse surpresa.  Ela estava conversando com a Alex. DE NOVO. Mas ela estava usando fones hoje, e tudo o que eu podia ouvir eram suas exclamações exageradas. Até parece que a Alex tinha algo tão surpreendente para contar… Que fingimento barato… 

  A encarei com preguiça e suspirei pesado. 

  —Hum? - Yuna me olhou de volta e tirou um dos fones. - Está falando comigo? 

  —Não… 

  —Ah, okay. 

  Fiz um leve bico e cocei os olhos, ajeitando melhor o meu corpo de lado no colchão. Certamente eu estava parecendo uma criança manhosa naquela posição, mas pouco me importava a minha aparência naquela circunstância. Eu não queria me sentir mal com tudo isso, pois eu amava esse trabalho e estar em outro país com as garotas era mais do que divertido e empolgante, além de que a satisfação profissional era enorme. Mas toda aquela coisa estava me consumindo de uma forma tão terrível, que eu só estava conseguindo enxergar o lado ruim da coisa. 

  E isso era patético.  

  Pa-té-ti-co. 

  Não era justo elas estarem se divertindo enquanto eu as acompanhava feito uma mongol, levando as coisas de qualquer maneira como se não me importasse. Mas eu simplesmente não conseguia melhorar meu humor! Ao mesmo tempo que meu ego e orgulho seguiam intactos, toda a minha alegria e animação eram jogadas no lixo.

  Definitivamente não era justo… 

 

  —Yuna… - A chamei com a voz calma. 

  Depois de dois ou três segundos ela me olhou. 

  —Me chamou? 

  Fiz bico e dei de ombros, mudando de ideia. 

  —Não. 

  —Estranho, pensei ter ouvido meu nome. 

  Apenas neguei com a cabeça e comecei a brincar com um fio solto no lençol. 

  Esperei exatos quinze segundos (sim, eu contei) para poder falar algo novamente, e o fiz num tom ainda mais pidão.

  —Yunaa… - A chamei um pouco mais arrastado dessa vez, e quase instantaneamente recebi o olhar dela. 

  —Ryujin, você está falando comigo? - Juntou as sobrancelhas. 

  —Não… 

  —Certeza? - Inclinou a cabeça para o lado e me olhou da cabeça aos pés. 

  —Uhum. 

  —Então eu vou voltar a colocar o meu fone, tá bom? 

  —Volta… - Fingi indiferença. 

  —Se precisar, me chama, okay? 

  —Okay… 

  —Então tá bom… - Me olhou de canto mais uma vez antes de retornar à ligação. 

 

  Eu nem fazia ideia do que queria com aquilo, acho que só estava precisando falar algo, mas também não sabia o quê.  De certo modo, senti que se converssasse um pouco com a Alex, eu me sentiria menos pior. A questão era saber se ela me daria essa oportunidade ou não. Bom, ao menos não custaria nada tentar. 

Após um ou dois minutos me convencendo a não ser tão cabeça dura, me levantei da cama com toda a determinação do mundo. Yuna nem deve ter assimilado a minha aproximação, pois o fiz de modo muito rápido. E não apenas me sentei ao lado dela, como também peguei o notebook de suas mãos e despluguei o fone sem pedir permissão. 

  —Ei, calma aí… - Riu baixinho, mas não fez menção de que se incomodou com minha atitude.

  Encarei a tela com seriedade. Alex não tinha o melhor dos olhares, mas não cheguei a pensar que era por minha causa, parecia já estar assim antes de eu aparecer. 

  —Não ouse dar uma de suas desculpinhas esfarrapadas para ir embora, Alexia. - Apontei o dedo indicador para a câmera e usei de um tom imperativo. 

  Alex amenizou um pouco a feição e jurei tê-la visto sorrir um pouquinho.

  —Tá bom. - Seu tom estava tão… esquisito. 

  —Ótimo. - Me sentei melhor e acomodei o notebook no meu colo, passando a mão pelo cabelo por puro costume antes de voltar a falar. - Yuna te contou? 

  —Que vão passar mais alguns dias aí? - Respirou fundo e apoiou o queixo na mão. - Não, mas eu soube pela Sunhi.   

  —Ela causou isso, não foi?! - Arregalei um pouco os olhos e me convenci da acusação. 

  —Eu não sei… Não tivemos tempo para prolongar o assunto. 

  —Por que? 

  —Ela tem andado muito ocupada, não estamos nos falando direito. - Desviou o olhar ao redor, parecendo um pouco incomodada. 

  —Bom, não importa, com certeza foi culpa dela… - Cruzei os braços e comprimi os lábios. - Aquelazinha... 

  Ela soltou algumas risadinhas fracas. 

  —Bom, não faz tanta diferença agora, faz? 

  —Ora, é claro que faz! - Fiz sinal de obviedade e olhei para Yuna de canto, me remexendo na cama. - Quero saber como vai ser. 

  —Como vai ser o que? - Passou a mão pelo cabelo seguidas vezes e novamente olhou ao redor. Ela costumava parecer tão desconfortável assim antes? Não conseguia me lembrar de a ver assim. 

  —Isso entre a gente. - Ignorei o sorrisinho sugestivo de Yuna para que não começasse a rir junto com ela. 

  Alex sabia do que eu estava falando, não perderia meu tempo dando mais material para Yuna usar contra mim. 

  —Bom, depende… - Tornou sua feição um pouco mais séria. - Você já está sentindo a minha falta? 

  Foi a minha vez de olhar ao redor. 

  Cruzei os braços e encarei o canto da parede com desinteresse e soberba. 

  —Nem um pouco, você sabe disso. 

  Cutuquei Yuna por debaixo do notebook quando percebi que ela estava pronta para me contradizer. 

  —Okay. - Olhei de esguia para a tela e a assisti aproximar seu braço da câmera  como se estivesse prestes a fechar seu computador. - Me ligue quando sentir alguma coisa. 

  Foi tudo o que ela disse antes de realmente fechar o notebook e desligar na minha cara. 

  —Oh… - Meu queixo caiu um pouco. 

  Fitei a aba inicial do Skype na minha frente completamente desacreditada. 

 

  Ela tinha mesmo feito isso?! 

  


 

[...] 



 

  Três dias depois: 




 

  Eu estava em greve. 

Um protesto silêncioso, mas nada pacífico.

  

  Setenta e duas horas atrás, me decidi que não iria mais ter nenhum tipo de contato com a Alex como castigo pela forma como ela desligou na minha cara da última vez. Quem ela pensava que era, afinal de contas?! Eu poderia gostar dela, e estar sentindo muito a sua falta, mas eu não deixaria passar batido uma grosseria daquelas!  Não mesmo. Nos últimos três dias, resolvi que daria um jeito na bagunça que estava sendo a minha vida, e comecei fazendo dois pedidos para Yuna.  

  Primeiro: abri o jogo e pedi para que não ligasse mais para Alex, para que assim eu não sentisse tanto desejo de conversar com ela. Apesar de ter contestado um pouco por achar que Alex não mereceria, no fim ela acabou aceitando quando eu disse que a compraria uma pulseira que vimos numa joalheria chique. Segundo: pedi para que escondesse o moletom em algum lugar que eu não pudesse encontrar até o dia de irmos embora. Sim, eu estava assinando o meu divórcio com ele. Sem mais dependência! 

  E com essas duas coisas feitas, estabeleci outras prioridades. No trabalho, eu e as garotas tínhamos apenas mais dois compromissos de agenda. Um amanhã, e outro um dia antes de viajarmos de volta para a Coreia. No meio disso, tivemos os três últimos dias de folga e mais cinco dias daqui para frente ociosos para fazermos o que bem entendessemos naquele país… dentro dos limites, claro. E eu estava disposta a aproveitá-los da melhor forma assim como fiz antes. 

  Ontem e anteontem, passei quase todas as minhas horas ao lado das meninas. Brincamos, nos divertimos, passeamos, gravamos alguns takes para Nobody like you e fizemos compras. Tornei tabu tocar no nome da Alex, e fingi não ouvir toda vez que alguma delas me perguntava sobre esse certo alguém. Lia chegou a me dizer durante o jantar que Alex a mandou algumas mensagens, procurando saber se eu estava irritada com ela ou coisa do gênero, e eu abri uma única exceção para esse caso; soltei um "pois diga que estou!" e segui o resto da noite com ainda mais satisfação. 

  Seria ótimo que ela soubesse que, além de supostamente não sentir sua falta, eu também estava irritada com sua pessoa. 

 

  É isso! 

 

  Ponto final. 

 

  


 

[...] 


 

  Quatro dias depois



 

  20:30


 

  Eu não estava mais em greve.  


 

  

  Tivemos uma pequena reunião com todos os staffs hoje pela manhã, e foi a pior coisa que poderia ter me acontecido nos últimos dias. 

  Tudo estava correndo conforme o planejado quando, na roda de conversação em que eu estava inserida, surgiu um assunto um tanto quanto incômodo. 

  Jinjoo, uma das maquiadoras, foi quem iniciou a problemática toda. Ela estava muito preocupada com o namorado, pois os dois haviam discutido e há uma semana não se falavam. Disse que tentou ligá-lo várias vezes, mas que fora ignorada em todas, e depois começou até a querer chorar. Fala sério, que amadora… Mas, de qualquer forma, ela expressou sua aflição ao confessar que tinha receio de que o namorado pudesse ter conhecido outra garota nesses dias e perdido o interesse nela por estarem tão longe. 

  No começo eu achei tudo aquilo um grande desnecessário dramalhão, pois não fazia sentido algum. Inclusive eu cheguei a questioná-la sobre isso, pois afinal, onde ficava a confiança na outra pessoa? Não podiam ficar alguns dias separados que isso já seria o suficiente para que a paixão fosse embora? Se ela tinha tinha esse temor, de certo o problema estava nela, e não no namorado. Ele só deveria estar bravo e queria dar um tempo para esfriar a cabeça, e provavelmente a insegurança a impedia de aceitar a mais óbvia das possibilidades. 

  Tolice a minha. 

  Jinjoo soltou um "você não sabe como é", alegando que eu nunca tive um relacionamento sério na vida e por isso não tinha como ter tanta certeza sobre o assunto, além de que eles haviam se conhecido há pouco tempo, supostamente sendo esse um motivo para ele não se apegar tanto. E todos os outros staffs concordaram como se fosse uma verdade absoluta; começaram a expressar as mesmas aflições, alegando como era difícil se relacionar com a correria do trabalho que tinham, e por isso tiveram seus corações quebrados várias vezes por pessoas que não suportavam a distância. 

  Eu não me deixei levar pelo papinho deles. Estava disposta a continuar firme na minha posição. Afinal de contas, leve como exemplo eu e Alex: estávamos longe, também havíamos nos conhecido há pouco tempo, e cá estávamos nós, apesar dos pesares. Eu estava com saudades dela, e ela morrendo de saudades de mim; o sentimento continuava o mesmo. Então pensei que tudo estava resolvido. Mas eu não contava com a astúcia do universo, que me fez pagar com a língua quase que instantaneamente. 

Quando a reunião já estava chegando ao fim, Jinjoo chamou toda a atenção para si ao começar a chorar depois de ter anunciado que o namorado havia respondido suas mensagens. Pelo que pude interpretar daqueles murmúrios chorosos em forma de explicação, ele havia terminado o namoro por realmente estar interessado em outra garota. Foi um choque e tanto para mim, principalmente quando notei o quão abalada ela tinha ficado por isso. 

  Num princípio otimista, pensei que Jinjoo havia se livrado de uma bela enrascada, pois aquele cara nem deveria gostar tanto assim dela se duas semanas foram o bastante para que encontrasse outro alguém. Acreditei que seria melhor para ela assim… Porém, querendo ou não, isso mexeu um pouco comigo quando passei a me colocar no lugar de Jinjoo. Não de modo empático, claro, pois apenas comparei a relação dela e do namorado com a relação que eu tinha com a Alex. E confesso que fiquei um pouquinho (talvez mais do que pouquinho) cismada. Porque, bom, vamos recapitular alguns tópicos importantes: Alex e eu gostávamos uma da outra; talvez ela gostasse mais de mim do que eu dela, mas ainda sim era um sentimento recíproco e ambas tínhamos essa noção. E, apesar de não termos estabelecido um rótulo para a nossa relação por questões óbvias, acho que estava claro que tínhamos direito à exclusividade quanto a parceiros amorosos. Mas nós não estávamos nos falando. Seria presunçoso da minha parte dizer que aquelas poucas frases que trocamos poderiam ser consideradas um diálogo que se preze, então era como se o nosso último contato tenha se resumido ao dia em que a surpreendi na empresa antes de embarcar. 

  E eram dezessete dias até agora. Dezessete dias sem se falar por um motivo bem questionável. E mesmo que Alex fosse mais do que caidinha por mim, foi inevitável não deixar que a paranoia de Jinjoo não me atingisse. Pois afinal, menos de dois dias de relacionamento não eram lá aquelas coisas para afirmar com toda a certeza de que ela ainda pensava somente em mim. E graças a isso, fui perseguida por todas as horas seguintes do meu dia pelas mais variadas e malucas teorias, onde a maioria delas envolviam a possibilidade da Alex ter conhecido um Mister ou outra Miss  Simpatia enquanto eu fingia que não sabia da existência dela. Tinha como ser mais ridícula que isso? Creio eu que não. 

 

  Mas o pior era que, mesmo tendo noção de que era patético, eu simplesmente não conseguia tirar isso da cabeça. Por mais que eu tentasse me convencer do contrário, aos poucos fui perdendo a segurança que tinha a respeito dos sentimentos dela, e isso estava acabando com toda a sanidade mental que me restava. 

  Pois afinal, "e se"? 

  E se Alex não gostasse de mim o tanto que eu pensava?  E se alguém deu em cima dela nesses últimos dias?  E se… ela tivesse desistido por eu estar me recusando a falar com ela um motivo tão banal? Poderia ser apenas coisa da minha mente. Mas, e se não fosse? 

  Eu não sabia dizer se isso se algum tipo de auto sabotagem, mas acabou funcionando muito bem comigo, se cabe dizer. Porque, logo que a reunião acabou, o inferno se tornou ainda maior. Depois que voltei para o quarto, me vi sozinha e entediada, tendo como maior fonte de entretenimento o meu celular.  Você deve estar pensando que eu usei desse artifício de uma forma saudável e que me ajudasse a tirar esses pensamentos loucos da mente, como assistir um filme ou coisa do gênero. Pois bem, sinto muito em dizer que você errou, e errou feio. Tudo o que fiz foi visitar os perfis de Alex nas redes sociais, e se arrependimento matasse, eu já estaria enterrada a sete palmos abaixo do solo. 

  O único ponto positivo da minha visita foi ver que ela, felizmente, não havia postado mais nenhuma foto desde aquele dia, consequentemente não me fazendo ter mais surtos internos pela sua beleza. Mas não posso dizer que compensou muita coisa, pois os surtos de paixão tiveram seu lugar roubado por surtos de ciúme que me fizeram sentir ainda pior. Parando para olhar os comentários em suas publicações, coisa que não tinha feito da última vez, percebi que a Alex era uma pessoa bem… popular, principalmente entre garotos das mais variadas idades. Ela era uma coreógrafa de kpop, e bom, por fruto disso tinha muitos seguidores muitos admiradores em geral. E ver o que essas pessoas diziam nas fotos dela me deixaram de estômago revirado. 

  Não me confunda com uma maluca ciumenta ou coisa do tipo, porque eu realmente não era. Mas sabe quando… você gosta de alguém, e vê outras pessoas a desejando? Eu não sei quanto a você, mas isso me fazia me sentir um pouco mal e insegura. E o que mais chegou a me incomodar foi o fato de que, em quase todas as fotos, um cara loiro e dos olhos azuis metido a bonitão a dirigia os mais variados elogios em tons de flerte, e os dois sempre interagiam por meio dos comentários. Pareciam até íntimos demais pro meu gosto… além de que todos os comentários dele foram feitos na última semana. Que espécie de coincidência era aquela?

  "Pierre"... que nome mais ridículo o dele. Tão genérico quanto a aparência que tinha…   Bufei somente de me lembrar das coisas que ele a dizia…

Horrível...  


 

  Enfim, voltando ao meu dia. 

  Depois de todo aquele desgosto, me obriguei a ficar longe do perfil de Alex por tempo indeterminado para o meu próprio bem, e agradeci aos céus quando Minji permitiu que eu e as garotas fôssemos passear num parque que ficava próximo ao hotel, pois assim poderia esfriar um pouco a mente.  Porém não posso dizer que foi isso o que aconteceu. 

  De tanto pensar em Alex, aos poucos tudo ao meu redor passou a me lembrar ela. Os carros que rodavam as ruas me lembravam do dela, as garotas que passavam pelo nosso caminho pareciam ter os seus traços… até mesmo a risada que Yeji deu após as gracinhas de Yuna me lembraram da risada dela, e foi aí que comecei a pensar que eu estava começando a ficar louca.  E não parou por aí. Quando enfim chegamos no parque e pensei que teria um pouco de sossego, minha atenção foi roubada por duas garotas que estavam próximas à nós. Provavelmente eram namoradas ou coisa do tipo, e eu até teria as achado fofas se não fosse pelo desagrado que tive quando as vi trocando alguns beijos discretos. Dessa vez acabei me lembrando do beijo da Alex, e foi uma lembrança mais tóxica do que nostálgica, tanto que toda a minha esperança de terminar o dia bem se foi pelo ralo sem chances de eu a conseguir de volta. 

  Tentei agir com normalidade perto das garotas para evitar questionamentos que me fizessem admitir meu sofrimento, e não tenho certeza se elas ficaram convencidas. Mas elas não me fizeram perguntas; fingiram que tinham acreditado na minha atuação de quinta e seguimos o nosso breve passeio da mesma maneira. Eu, fazendo tudo e sorrindo enquanto pensava no meu ciúme, e elas, sorrindo de volta como se pudessem me fazer me sentir melhor assim.   Melhor impossível…  

  Por volta das seis da noite resolvemos voltar para que Minji não morresse de preocupação, e eu sugeri que parássemos numa cafeteria para bebemos algo antes de voltarmos, e elas aceitaram. Erro meu. Na mais ridícula das conveniências, logo que entramos na cafeteria fui surpreendida por uma das músicas do John Mayer ecoando por todo o estabelecimento, e isso não pôde me chatear menos. Tivemos que fazer nossos pedidos e esperar pelas bebidas em meio àquela trilha sonora ridícula, e quando finalmente nossos pedidos chegaram, fiz meu caminho para fora daquele lugar o mais rápido possível. Contudo, para finalizar com chave de ouro, tomei minha bebida com a maior das amarguras. Porque era café, e eu conhecia um certo alguém que odiava café.

  

Resumindo: minha manhã e minha tarde foram estragadas por completo, e a noite estava caminhando para seguir os mesmos passos. 

  


 

  E, agora, ali estava eu, sentada na mesa de frente para o meu celular, desfrutando da ácida sensação de frustração, tanto por ciúme quanto por saudade, ambos da mesma pessoa. Estava vagueando pela minha galeria de fotos, intercalando minha atenção entre as imagens que capturei de mim e Alex no dia que quis brincar de ser bêbada. Sendo da minha vontade ou não, meu coração doeu em saudade ao ver todas, e foi tão forte que eu não consegui parar por um bom tempo, pois tive a sensação que a dor se tornaria ainda maior se me privasse de relembrar um momento em que eu estava verdadeiramente feliz ao lado de Alex, mesmo que embriagada. 

  Sinceramente, sentir toda aquela saudade era um grande ato de injustiça do universo contra mim. Na verdade, não apenas do universo, como da própria Alex também, pois era ela quem estava me proibindo de a ver enquanto eu não admitisse esse tal sentimento. 

 

  —Ainda aí? - Yuna soltou uma risadinha fraca assim que saiu do banheiro já trocada. 

  —Uhum… - Respirei fundo. 

  Não fiz questão de tentar esconder que estava olhando aquelas fotos, era inútil. 

  —E vai ligar para a Alex agora ou depois que eu sair? - Perguntou enquanto procurava algo em meio aos seus produtos de cuidados para a pele.

  —Quem disse que eu vou ligar para ela? - A olhei de rabo de olho. 

  —Ninguém, mas parece que você está louquinha para fazer isso. 

  —Impressão sua… - Neguei com a cabeça e apoiei a lateral do rosto na mão, encarando a mesa. 

  —É, sei. - Ironizou com deboche. 

  —Que bom que sabe… 

 

  Yuna soltou mais uma risadinha e se aproximou de mim, esfregando as mãos para espalhar o creme depois de ter apoiado o quadril na mesa. 

  —Não se esqueça do que aconteceu com a Jinjoo, tá bom? - Seu tom era um pouco sério, e isso me assustou. 

  Deixei de encarar a mesa e a olhei da cabeça aos pés com uma expressão desconfiada. 

  —O que está querendo dizer com isso? - Meu tom não era amigável. 

  —Nada. - Deu de ombros. - Só estou dizendo… 

  Estreitei os olhos e segurei na borda da mesa. 

  —Yuna… 

  —O que? - Começou a passar o produto em sua face. 

  —Você sabe de algo que eu não sei? 

  —Claro que não. 

  —Está conversando com a Alexia? 

  —Você pediu para eu não conversar, não se lembra? - Me olhou de novo e comprimiu os lábios. 

  —Você pode ter quebrado as regras. 

  —Eu não sou assim. E quem deveria falar com ela é você, e não eu. 

  —Se ela deixasse, eu conversaria! Mas fica com aquela frescura toda… 

  —E por acaso vai te custar muito dizer que está com saudades?! Cruzes… Vocês complicam demais as coisas.

  —Eu não complico nada, ela é quem faz isso. 

  —Ela só quer que você diga uma coisa, Ryujin, uma coisa. 

  —Sim, e quer me obrigar! Não vou fingir um sentimento! 

  —Você não vai fingir, porque você está com saudade dela e sabe disso. É só dizer. 

  Revirei os olhos e bufei. 

  —Eu não vou dizer nada, e também não vou ligar pra ela! - Cruzei os braços e juntei as sobrancelhas. 

  —Então continue sofrendo, simples. - Vestiu seu casaco. - Mas não adianta chorar pelo leite derramado depois. - A vi se aproximar de sua cama e começar a mexer em algo debaixo do colchão. - Aqui. - Tirou dali uma peça de roupa azul e jogou para mim. 

  —Por que está me dando isso? - Peguei o moletom e fingi desinteresse nele. Na realidade, fiquei um pouco feliz por vê-lo. 

  —Vai precisar. - Senti sua insinuância de longe. Arrumou meu cabelo em frente ao espelho e me olhou uma última vez antes de andar até a porta. - Vou jantar, você vem? 

  —Não…

  —Okay, até mais. 

  —Até.


 

  Após ter esperado dez segundos para garantir que ela não voltaria, murchei os ombros e encarei o moletom que agora estava acima das minhas pernas. 

  Mas que droga… 

 

  Por que ela teve que atiçar ainda mais as minhas dúvidas? Não era possível que tenha dito aquilo sem ter um bom motivo. Com certeza ela sabia de algo e não estava querendo me falar.  Mas o que era…? Tinha a ver com o tal bonitão que comentava nas fotos da Alex? Certamente tinha… 

  Mas ela não sabia que eu tinha conhecimento sobre esse cara, ou sabia? 

  

  —Que inferno... 

 

  Fechei os olhos e massageei as têmporas, sentindo vontade de sair correndo e bater em todos que visse pela frente.  Eu até teria feito, mas troquei essa bela possibilidade para, mais uma vez, pousar meus olhos acima do meu celular. 

 Formei um bico nos lábios e continuei parada por mais dez longos segundos.  Olhei ao redor. Não tinha ninguém para olhar e me julgar. A pulga atrás da orelha me incentivando a seguir meus instintos, e não o meu orgulho, que já estava ferido pelo ciúmes. Deveria ligar ou não? 

 

  Peguei o aparelho em mãos. Passei com meus dedos acima da tela como quem não queria nada, indo de um aplicativo à outro aleatoriamente. Olhei mais uma vez ao redor e comecei a balançar meus pés abaixo da mesa para aliviar o meu stress.  Ponderei, ponderei e ponderei. Quando pensei chegar em uma conclusão, ponderei um pouco mais para garantir.  E para finalizar, ponderei. 

 

  Não sabia se tinha tomado a decisão certa, mas em questão de meio segundo eu já estava encarando a minha lista de contatos. 

 

  Confusa e protestante, larguei o celular acima da mesa e anulei meu ato seguinte. 

  Levei uma das mãos até a boca, roendo a unha do polegar juntamente ao movimento acelerado de meus pés que não estavam sendo suficientes para aliviar minha ansiedade.  Passei um minuto nessa mesma posição, repensando o meu ato sem antes mesmo ter feito.  Peguei o celular de novo e engoli em seco, clicando no contato para ver as opções que me eram oferecidas. Ao ver o botão verde para ligação, larguei o celular novamente na mesa como se ele tivesse me queimado. Caramba, como eu era idiota… 

  Cobri meus olhos com a mão e considerei os prós e contras mais cinco vezes na mente.  Uma grande parte de mim dizia para não ligar. Era uma maioria considerável, se quer saber.  Mas não, eu não poderia desistir assim.  Quem eu era, afinal, uma molenga?!  Pelo amor… Shin Ryujin, com medo de uma ligação?! Eu deveria sentir vergonha de mim mesma. 

 

  

  Peguei o celular uma última vez e o encarei como se estivesse o chamando para a briga. 


 

  Quer saber…? 


 

  —Pro inferno tudo isso. - Suspirei e apertei o botão verde de uma vez, levando o celular até o ouvido com calma. 

  Cá entre nós… minha mão estava tremendo um pouco. 

 

  Fechei os olhos mais uma vez e apertei o moletom da Alex contra minha barriga. 

 

  Chamou uma, duas, três intermináveis vezes. Chamou, chamou, e chamou… Até que a ligação foi encerrada. Alex não atendeu de primeira. 

 

  As duas vozes na minha cabeça criando um tribunal para decidir o que deveria ser feito. Uma dizia que era um sinal do destino para que eu desistisse antes que fosse tarde demais. A outra, um pouco mais racional, argumentou sobre talvez Alex não estar perto do telefone, e por isso eu deveria tentar de novo. 

 

  Tudo bem. 

  Eu tentaria. 

  Não sou pessoa de desistir fácil mesmo… 

 

 

  Apertei o botão verde de novo e apoiei os cotovelos na mesa, trazendo mais para perto o meu notebook. 

  Encarei a parede branca à minha frente, contando as chamadas que se passavam sem que eu tivesse uma resposta. 

  Chamou uma, duas, três vezes… 

  Quatro… 

  Cinco… 

 

  Eu deveria mesmo ter ligado? 


 

  —Alô?

 

  Meu coração quase pulou para fora da minha garganta quando assimilei aquela voz rouca e baixa contra meu ouvido. Tossi nervosamente pelo susto e tive exatos dois segundos para colocar minha mente nos conformes. Não podia me esquecer: eu estava com ciúmes, e consequentemente tinha de agir de acordo com o meu sentimento. 

  —Alexia. - Meu tom era sério e bravo. 

  Três segundos foram necessários para ela me responder. 

  —Ryujin? - Pareceu um pouco surpresa. 

  —Sim. Pegue seu notebook, preciso falar com você pelo Skype. - Usei da minha entonação mais imperativa. 

  —Ham… - Ela parecia um pouco confusa, tanto que deu uma longa pausa como se estivesse esperando por uma explicação. - Tá bom… - Voltou a falar quando percebeu que eu não iria esclarecer.

  Então ela desligou o telefone na minha cara. 

  Sim, desligou. 

  Sem dizer mais nada. 

  Abri melhor os olhos e encarei meu celular com confusão. Pensei que ela ficaria comigo na ligação... não era o certo a se fazer? 

  Como aquela maluca queria que eu adivinhasse quando seria a hora certa para a ligar?! 

  Céus… a esquisitice dela era sem procedentes.

  Sacudi a cabeça em negativo e tirei esse assunto da mente, pois não era relevante. Deixei o celular de lado e abri meu computador, não demorando muito para entrar no Skype. Yuna, em uma de suas gracinhas úteis, tinha adicionado Alex nos meus contatos ali, então não precisei me preocupar em procurar. 

  —Okay, tudo certo. 

  Juntei as mãos acima do meu colo e comprimi os lábios.

  Espera, não estava nada certo! 

  Me levantei da cadeira num impulso desesperado e me coloquei de frente para o espelho. Arrumei o cabelo, conferi se minhas roupas não estavam amassadas… peguei um batom qualquer que estava acima da mesa e apliquei nos lábios com a ponta do dedo apenas para os dar uma cor mais viva.  Conferi se estava sem olheiras, testei o meu melhor ângulo para olhar na câmera… 

  Okay, agora sim… 

  Afirmei com a cabeça e voltei a me sentar, persistindo em segurar o moletom dela comigo. Encarei o relógio na tela do computador. Contei os segundos para que desse tempo o suficiente para considerar que ela já estava com seu computador em mãos. Não me julgue, eu estava nervosa. Após aproximadamente três minutos apertando e soltando o pano do moletom dela por puro nervosismo, me permiti ligar. 

  Meus pés ainda balançavam de lá para cá sem parar. 

  Ela não atendeu de primeira. 

  O que essa chata queria, fazer charme antes de atender?! Ugh! 

  Deve ter chamado por quatro ou cinco torturantes vezes até que ela finalmente me atendesse. 

  Isso me fez ficar ainda mais brava. 

  Mas, bom… 

  Como eu posso dizer… 

  Engraçada a vida, não é? Pois é… 

  Quando a vi na minha tela, tive que ter muito autocontrole para não esquecer do porquê de eu estar ali. Por um segundo minha expressão era de completo derretimento, como uma idiota apaixonada. Somente por a ver ali! Mas, não se preocupe, eu me recuperei antes mesmo de ela poder perceber, já que a esquisita não estava nem olhando para a tela quando atendeu. 

  Me recompus, endireitei a postura e escondi o moletom embaixo da mesa para que não visse. Mas a questão nem era essa. Tinha algo de errado nela… ou algo muito certo. Alex estava coçando os olhos preguiçosamente quando me atendeu, e demorou um pouco até que me encarasse de volta. Não apenas isso; seus cabelos estavam um pouco bagunçados e sua expressão era de alguém que havia acabado de acordar. Franzi o cenho; pelo que pude reparar pela decoração de fundo, ela estava em seu quarto, e suas roupas não era casuais, se baseavam numa regata fina e um shorts. 

  —Está… - Deu uma breve pausa e passou a mão pelo rosto. - Está tudo bem? Aconteceu algo? - Sua voz demonstrava grande preocupação, o que me fez estranhar muito mais. 

  —Claro que está, por que não estaria? - Soltei a primeira grosseria quase que de imediato. 

  —É que… - Levou uma mão até a testa para cobrir seus olhos, como se a claridade da luz de seu quarto estivesse a atrapalhando. - Você me ligou nesse horário, pensei que… sei lá.

  Por que ela estava falando com tanta lentidão? 

  —Como assim? Não são nem nove da noite ainda, Alexia… - Sorri ironicamente.  

  —Somente para uma de nós… 

  —O que...? - Olhei para o relógio mais uma vez para garantir, e meu sorriso foi diminuindo aos poucos. Sim, ainda eram oito e meia da noite… mas no horário dos Estados Unidos! Céus, como eu era idiota! Agora deveriam ser por volta de quatro da manhã na Coreia! Mas que droga, eu a acordei no meio da noite! Burra, Ryujin, burra! - Oh... - Perdi tudo. O que ensaiei dizer foi embora num piscar de olhos. Levei uma mão à testa e encarei a mesa com decepção. - Alexia, eu… - Fiquei sem palavras por um momento. 

  —Deve ter se confundido, eu sei... - Soltou algumas risadinhas fracas. - Não faz mal. 

  Será que ela não conseguia deixar de ser a miss simpatia mesmo quando foi acordada no meio da noite?! Deveria ter me xingado ou algo assim! 

  Alex era uma verdadeira banana, isso sim… 

  Mas, quer saber, pouco me importa! 

  Se ela e o tal Pierre tinham algo, eu fiz mais do que bem de interromper a sua noite de sono! 

  —É, não faz mal... - Escorei as costas na cadeira e comecei a batucar com o dedo indicador na mesa. 

  Alex continuou calada por um tempo. Não sei se era pelo sono ou se estava apenas esperando que eu dissesse algo, mas foi bem desconfortável para mim, porque eu não sabia como começar. E ela ainda ficava me olhando daquele jeito… jogando aquele charme idiota. Quem ela pensava que era para fazer esse tipo de coisa? Isso era hora para flertar? 

  Aquele cabelo ridículo que ela tinha, caindo sobre os ombros dela com toda aquela graciosidade. Os lábios um pouco inchados e os olhos pequenos pelo sono… onde estavam os defeitos em sua pele? Ela tinha acabado de acordar, não era para ter passado maquiagem. Aquela pilantra… com certeza passou aquele tempo que esperei se arrumando na frente do espelho para me ver. Ela não me enganava… humpf. 

  Isso é coisa de gente que não se garante… qual o problema de se mostrar de cara lavada, hein? Porque, assim, era quase que impossível que ela parecesse tão bonita assim ao acordar… 

  Descobri seu segredinho, Alexia…  

  O que? Eu? Está dizendo que eu é quem fez isso? Humpf, é diferente. Eu só me arrumei um pouquinho. Não venha com esse papinho pra cima de mim, já não basta aquela lá. 

 

  —Então, Ryujin… posso saber o porquê de ter me ligado? - Perguntou após alguns minutos me encarando feito uma doida varrida. 

  —Bom, já que você perguntou. Pode sim saber. - Cruzei meus braços e levantei um pouco o queixo para olhar para a câmera. Esperei alguns segundos para estabelecer o clima de tensão, mas ela não estava me levando a sério! Ela tinha um sorrisinho nos lábios! Ugh! Que vontade de… sei lá, jogar uma vassoura nela! - Eu quero saber quem é esse cara metido a boa pinta que fica comentando nas suas publicações do Instagram. 

  Alex deixou de sorrir, e encarou a tela com o cenho franzido. 

  Céus, eu sabia. Eu sabia! 

  Ela entregou na expressão. 

  Eu sabia! 

  Ai, aquela…

  —Esse cara metido a o que? Bopinta? - Fez uma careta ao tentar repetir o adjetivo que usei. 

  —O que? - Imitei sua careta, tampouco entendendo a situação. 

  —O que é isso? Bopinta? Nunca ouvi falar dessa palavra. 

 

  Perdi tudo mais uma vez. 

  Amoleci toda a minha postura e cobri o rosto com as mãos. 

  Céus, por que? Por que eu tinha que gostar de uma de estrangeira? 

  Mas que droga… a expressão dela tinha sido pelo estranhamento da palavra.

  Me esforcei muito para não rir enquanto ouvia ela repetir a expressão de modo errado ao fundo. Me esforcei muito mesmo. Continuei com a mão cobrindo o rosto por bastante tempo, somente me permitindo voltar ao normal quando tive a certeza que não iria dar risada. 

  —Boa pinta, Alexia. Boa-pinta. - Repeti com calma, movendo bem a minha boca para ela entender. - Significa bonitão, esse tipo de coisa. 

  —Aaah! - Abriu um enorme sorriso de orelha à orelha, dando algumas risadinhas. Desviei o olhar até que ela parasse de sorrir; não queria me entregar tão fácil. - Eu nunca tinha ouvido falar disso. Que expressão de velho, Ryujin! 

  Abri minha boca num O, completamente ofendida. 

  —Oras, velha é você! Olha para a sua idade, já está com um pé na cova! - Voltei a cruzar meus braços. 

  —Pelo menos eu não falo coisas como boa pinta… 

  —Porque não sabe falar coreano direito! 

  —Eu sei sim! E falo muito bem, por sinal. 

  —É, vai nessa… - Ironizei e a encarei de rabo de olho. Alex estava me olhando como uma criança mimada agora. Teria a achado linda se eu não tivesse lembrado de um certo alguém que também a achava linda nos comentários das fotos. - E de qualquer forma isso não interessa, quero que responda minha pergunta! 

  Alex passou a mão pelo cabelo e cruzou as pernas com calma, atraindo todo o meu olhar para elas nesse processo. 

  —Um cara que vive comentando nas minhas publicações do Instagram…? - Levou os dedos até o queixo e encarou o edredom de sua cama como se estivesse pensando. - Eu  não faço ideia, são tantos… 

  Revirei os olhos quando disse isso. Ela não tinha dito por mal, tive certeza disso, mas tinha mesmo que me lembrar de que eram vários? 

  Olhei para o teto e respirei como se estivesse irritada. 

  —É um tal de Pierre. - Pronunciei o nome dele na pior pronúncia possível e num tom debochado. Levei a mão ao cabelo, passando com a língua entre os dentes por pura raiva. 

  —Ah, o Pierre… - Sorriu docemente e jurei ter visto seus olhos brilharem. Rezei para que fosse apenas o reflexo da luz em suas íris, porque se não fosse, ela teria problemas sérios comigo. 

  —Então…? - Estendi uma mão no ar, esperando por uma resposta que ela esqueceu de dar. 

  —Então o que? 

  —Não vai me responder? 

  —Você mesma respondeu. - Riu fraco. - Perguntou quem é ele. E depois disse que é o Pierre. 

  Revirei os olhos mais uma vez com grande dedicação. 

  —Quero saber o que ele é seu, Alexia. - Usei de um tom mais alto e grosseiro por ter perdido a paciência. - Quero saber porque ele comenta em todas as suas fotos como se fosse seu namorado! 

  Alex se calou por um momento. 

  Estava neutra primeiramente, mas conforme os segundos se passavam aquele maldito sorrisinho voltou a crescer em seus lábios. Não apenas isso, ela inclusive teve a pachorra de estreitar os olhos. 

  —Você andou me stalkeando, Ryujin? - Seu tom era insinuante e provocativo demais pro meu gosto. 

  —Eu não! Por que iria perder o meu tempo te stalkeando? Eu hein, se manca… - Respondi de mau grado. Como ela ousava? 

  —E como foi que você ficou sabendo do Pierre, então? - Ignorou a minha grosseria. 

  Aí ela me pegou… 

  Precisei pensar na resposta mais rápida possível. 

  —A Yuna comentou comigo! E eu fiquei curiosa. 

  —Ah, agora eu entendi… - Soltou algumas risadinhas e afirmou com a cabeça. 

  —Então já pode me explicar. Vamos, diga, o que ele é? 

  —O Pierre é um amigo, Ryujin. 

 

  Só isso??! Onde estão os detalhes?! Uma explicação que preste para que eu entendesse logo não iria doer! 

 

  Será que eu ia ter que perguntar tudo?! 

 

  —Tá, mas, e...?   

  —E o que? 

  Dei uma breve pausa e contei até três. 

  —Que tipo de amigo esse Pierre é, Alexia? É um amigo do tipo amigo, ou um amigo do tipo que quer te beijar? 

  Alex coçou a nuca, parecendo um pouco desconcertada. 

  —Por que quer saber disso, Ryujin? - Se manteve num ar sério que me pegou de surpresa. 

  —Porque sim. 

  —É que… sabe...? - Passou a mão pelo rosto. - Não acho que valha a pena eu te contar sobre ele. 

  —Se eu estou perguntando, é porque vale! 

  —Está com ciúmes, é por isso? - Seu tom era tão franco que tive vontade de a socar. 

  Travei o maxilar e a encarei como se tivesse ofendido a mim e a toda minha família. 

 —Ciúmes?! Tá maluca? 

  —Então me diz o que é. Eu preciso de um motivo melhor do que um "porque sim". 

  —Porque eu não quero ser feita de idiota! Está de bom tamanho para você? 

  Alex levantou os ombros e passou a mão pelo cabelo nervosamente. 

  —Sim, está de bom tamanho. Então, vamos ver… - Apoiou as mãos nos joelhos e me olhou diretamente. Fiquei aflita, confesso. Todo o meu estômago embrulhou e eu tive vontade de vomitar. - O Pierre, Ryujin… - Deu uma breve pausa. - Como eu posso dizer…? - Mais uma pausa, porém longa. - Hmmm… 

  —Mas que porra, Alex! - Praticamente gritei e bati a mão na mesa em protesto. - Quer parar de enrolar?! Diz logo de uma vez por todas se esse cara é seu namorado ou não para eu poder voltar a te odiar de uma vez! Qual a dificuldade disso?! 

  Alex se afastou um pouco e olhou ao redor de seu quarto, parecendo terrivelmente intimidada por mim. Ótimo que tenha se sentido assim, deveria ficar com ainda mais medo, se fosse possível! Aquela idiota… estava apenas enrolando para me dizer a verdade. 

  Que covarde… 

  Sempre soube, deveria ter escutado os meus instintos que diziam para não confiar nela quando nos conhecemos. 

  Nunca errei… 

 

  Larguei meus braços acima da mesa completamente rendida. 

  Agora era só ouvir a bomba. 


 

  Ou não. 

 

  Ao invés de me responder, sabe o que a Alex fez? 

  Começou a rir. 

  Sim. 

  Você não está ficando louco, nem eu. 

  Ela é quem estava ficando louca. 

  Num momento sério como esse começou a rir feito uma palhaça de circo. 

  Que bicho mordeu a maluca?! 

  Que falta de respeito era aquela? 

  Estava debochando do meu sofrimento?! 

  Ah, aquela… 

 

  Juntei minhas sobrancelhas e rangi os dentes dentro da boca, fechando meus punhos em ira. 

 

  —Está rindo do que?! - Perguntei com grande indignação. 

 

  —O Pierre é só um amigo do tipo amigo, Ryujin. 

 

  Ham… oi? 

 

  —O que…? - Baixei todo o meu tom de voz. 

  —Ele é um amigo meu dos tempos de escola. É dançarino também, inclusive. 

 

  Todo o meu interior foi tomado por uma sensação de alívio, mas ao mesmo tempo toda a minha dignidade havia sido jogada no lixo. 

  Francamente, eu só queria poder estar perto da Alex nesse momento para poder a encher de soco! 

 

  Apoiei a testa na mão e encarei a mesa, completamente desacreditada… 

 

  Me perguntei se eu ainda continuaria no ITZY se me envolvesse num escândalo de agressão, porque com certeza eu iria entrar numa briga física com ela quando estivesse de volta na Coreia. 

  

  —Diz que está apenas brincando com a minha cara, Alexia. - A olhei com seriedade. 

  —Ham… mas eu não estou brincando. - Seu tom se tornou receoso e passivo. 

  —Diz que está brincando, por favor.

  —Se eu fizer isso, vai ser como dizer que eu e ele temos algo. 

  —Vocês têm algo. - Confirmei num ato de negação interior. 

  —Não, não temos. 

  —Então por que flertam daquela forma nas suas fotos? 

  —Porque nossa amizade é assim, Ryujin… somos acostumados. 

  —Não venha me enganar, os comentários são todos da última semana! 

  —Sim, porque ele criou uma conta há pouco tempo. 

  —Olha só você. - Estreitei meus olhos para ela. - Com todas as respostas na ponta da língua… deve ter treinado muito bem essa sua mentira. 

  —É apenas a verdade, acredite. - Continuou dando algumas risadinhas. 

  —A única verdade aqui é que você é uma idiota, Alexia! 

  —É Alex. - Corrigiu com um sorrisinho. 

  —Não me venha com essa de Alex, não é minha culpa que você tem um nome feio! - Ela me olhou com um fingido ofendimento. - Igual a esse seu amigo. Pierre… além dos pais dele terem escolhido um nome francês, escolheram o mais feio e genérico de todos! 

  —Mas ele é de família francesa, Ryujin. 

  —Pff… 

  —E eu também, você sabe, não é? 

  —Tirou o dia para mentir para mentir para mim, Alexia? Você disse que veio de Ontário! 

  —Sim, e é uma região que abriga várias províncias francesas. Até falamos francês como a segunda língua. 

  —Ah, para com isso! Ninguém fala francês nos Estados Unidos! 

 

  Alex olhou fixamente para mim com uma expressão neutra. 

 

  —Ryujin… - Se aproximou da tela. - Você sabe que Ontário fica no Canadá, não é? 

 

  Amenizei minha expressão de imediato e retribuí o olhar de Alex na mesma neutralidade. 

  Mesmo? Tipo… mesmo? 

  Eu tinha cometido esse erro? 

  Justamente com a Alex? 

  Maldição… 

  Tive vontade de me enterrar num buraco e me esconder por dois dias. 

 

  —É claro que eu sei! - Passei a mão pelo cabelo e olhei para a parede no maior dos charmes apelativos. - E sendo ou não de família francesa, nada muda o fato de que Pierre é um nome ridículo!

  —Se você diz… - Baixou o olhar para sua perna com um meio sorriso. 

 

  Ai, ela… 

  Estava me deixando louca. 

 

  —Ele é mesmo seu amigo? - Perguntei enquanto a olhava de rabo de olho. 

  Alex também me olhou de canto e sorriu ainda mais. 

  —Sim…

  —Apenas seu amigo? 

  —Apenas meu amigo. 

  —Hum… - Arqueei uma sobrancelha. - Me surpreende que você tenha amigos. 

  —Por que?

  —Porque você é a maior chata… 

  —Não fale assim, Ryujin… - Desfez o sorriso e adotou um olhar de cachorro sem dono. 

  —Mas é a verdade! 

  —Quer parar?! Faz semanas que eu e Sunhi não estamos nos falando direito! Estou me sentindo muito mal com isso, e você não está ajudando! 

  —É pra eu sentir pena de você? - Levantei as sobrancelhas e fiz uma expressão de desgosto. 

  —Ai, você… - Negou com a cabeça e respirou fundo. 

  Continuei a olhando para ver se era apenas uma atuação barata ou se era realmente verdade. Para minha surpresa, ela parecia mesmo um pouco abatida. Lembro de ela ter comentado isso alguns dias atrás, inclusive… 

  Soltei o ar pesadamente pelas narinas e me virei de frente para o computador. 

  —Por que vocês não estão se falando? - Perguntei num tom sério e interessado. 

  Eu estava parecendo mais adulta que ela nessa situação. 

  —Porque agora ela está namorando o Namoo, e dedica a ele todo o tempo que tem. - Fiz sinal de que iria vomitar somente de pensar naqueles dois juntos. Nojento. - E agora eu só tenho chances com ela nos minutinhos que temos de intervalo. 

  Céus, Alex parecia realmente triste. 

  Sério que ela estava sofrendo por causa de uma bocó daquelas? Sunhi parecia ser a pessoa mais desinteressante do mundo, pelo amor… 

  Alex tinha cada gosto para amigos… 

  —Então ela é do tipo que esquece dos amigos quando começa a namorar, é? - Balancei a cabeça em negativo. - Não se preocupe. Em menos de dois dias eu vou estar de volta, e você vai poder dar o troco nela. - Pisquei para Alex quando ela me olhou. 

  Aos poucos ela voltou a sorrir com doçura, e isso me fez querer sorrir também. Me permiti erguer o canto dos lábios um pouquinho. Bem pouquinho. Apenas porque ela estava linda com aquele olhar pidão. 

  —Ryujin… - Me chamou com uma voz mais do que charmosa e manhosa. 

  —O que? - A olhei com desconfiança. 

  —Estou com muita saudade de você. 

 

  Meu coração errou a batida e todo meu interior se bagunçou num rebuliço de várias mariposas por toda a parte. 

  Mas eu não iria demonstrar tão fácil. 

  

  Cruzei meus braços e encarei a porta com o queixo erguido.   

  

  —É claro que você está. - Formei um bico nos lábios. - Não tem como não sentir a minha falta. 

  —Você tem razão… 

  —Porque, afinal de contas, eu sou mais do que perfeita. 

  —Sim. - Concordou positivamente com a cabeça e sorriu. 

  Fala sério, lá vem ela com essa coisa de miss simpatia de novo… 

  Confesso que estava começando a gostar. 

  —Eu sou linda. 

  —Você é. 

  —Sou talentosa. 

  —Uhum.  

  —Sexy… 

  Alex sorriu e olhou para baixo por um momento como se estivesse envergonhada ao mesmo tempo que atrevida. 

  Mas logo voltou a me olhar. 

  —Sim, você é. 

  Mesmo com o rosto virado para a porta, não consegui conter um sorrisinho em meus lábios. Sorri e descruzei os braços, fechando meus dedos em seu moletom por pura vontade de a tocar. 

  Ela me achava sexy… 

  —E a melhor dançarina do grupo também. 

  —Okay, não precisa exagerar, vai

  Abri minha boca e a olhei desacreditada. 

  —Você não me acha a melhor dançarina?! 

  —A Chaeryeong é a dancer do grupo! 

  —Oh, você… 

  Quando fui apontar meu dedo para ela, acabei me esquecendo de um fator muito importante: eu ainda estava segurando o moletom, e por consequência acabei o levando comigo. 

  Ao notar a idiotice que tinha feito, tratei de o jogar para trás do computador. Porém já era tarde demais. 

 Alex abriu um imenso sorriso e apontou o dedo para mim em acusação. 

 

  —É o meu moletom!  

 

  No mesmo momento, Yuna entrou pela porta enquanto tentava tirar algo do dente. 

  Olhei para Yuna, depois para Alex com expressão neutra. 

  Ela olhou para mim, depois para o computador, e depois para mim de novo. 

 

  Gradativamente seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu. 

 

  —Você ligou para ela! - Também me apontou o dedo. 


 

  Céus… duas acusações de uma vez só. 

  Dois tiros no meu próprio pé. 

  Duas facadas no meu orgulho. 

 

  Sorri desacreditada e cobri o rosto, soltando algumas risadinhas silenciosas. 


 

  O que eu poderia fazer numa situação dessas?! 


 

  

[...] 



 

  Dois dias depois:



 

  18:30


 

  —Minji unnie… ei… - Sussurrei e balancei Minji pelo ombro. Estávamos no carro, e ela estava dormindo do meu lado. 

  —Hm, o que? - Me olhou um pouco assustada. 

  —Shh! - Fiz sinal de silêncio e olhei para as garotas, que estavam todas dormindo também.

  Yuna estava até mesmo babando no ombro de Yeji, não queria as acordar de um sono tão merecido. 

  —O que foi? - Minji parecia preocupada. 

  —Eu preciso dar uma passadinha na empresa, acha que consegue levar as minhas malas até o dormitório? 

  —Na empresa? Por que precisa ir lá? Vocês não tem nenhum compromisso. 

  —É que… - Dei uma longa pausa e engoli em seco. O que eu deveria dizer? - Eu… Eu quero ver a Alex. 

  Minji me encarou por demorados segundos, silenciosamente me julgando.

  —Hm… - Estreitou os olhos para mim. - Tá bom. 

  —Então, acha que pode levar as minhas malas? - Sorri esperançosa. 

  —Posso. 

  —Ai, obrigada! - A abracei de lado. - Você é a melhor. 

  —Escuta, você não está com sono? 

  —Nem um pouco. - Sorri e dei de ombros, olhando com gosto para as conhecidas ruas de Seul. - Não poderia estar mais acordada. 

  Eu tinha bolado todo um plano. 

  Dormi durante quase toda a viagem para cá, para que quando chegasse eu não estivesse cansada e muito menos indisposta. Queria estar com energia suficiente para encontrar Alex o mais rápido possível. 

  Felizmente, deu mais do que certo. E ainda tinha um bônus; as garotas estavam todas dormindo, e por isso poderia evitar um caminho todo resumido a implicâncias delas. 

  Tinha como melhorar? Creio que não.

  —Okay. - Minji sorriu fraco. - Só deixa eu avisar o motorista para parar antes na empresa. - Fez menção de se mover. 

  —Não precisa, eu já pedi isso pra ele. - Sorri como uma criança para ela. 

  Minji levantou as sobrancelhas como se estivesse impressionada. 

  —Você pensou em tudo, hein… 

  —Sim. - Endireitei a postura numa pose de orgulho. - Oh. - Olhei pela janela ao ver que o carro tinha parado. - Já chegamos! - Sorri ainda mais.

  —É… bom reencontro para você, mocinha. 

  —Obrigada. - A dei mais um mini abraço, logo me soltando do cinto. 

  —Juízo, Ryujin. 

  —Eu sempre tenho. - Pisquei para ela logo que me coloquei de pé na rua. - Nos vemos depois? - Segurei a porta e olhei ao redor. 

  —Sim. 

  —Okay, até mais. E bom descanso! - Fiz sinal de joia e fechei a porta sem esperar uma resposta. 

  Depois, me virei para o grande prédio à minha frente com a maior das ansiedades. 

 

  Eu estava muito, muito, muuuuito eufórica. Você não faz ideia do quanto. Mal conseguia sentir meus pés conforme andava em direção à porta de entrada da empresa. 

  Tive que me lembrar de como andar. 

  Esquerda, direita, esquerda… 

  Não pude me distrair com outras coisas, pois estava sujeita a cair de cara naquele chão. 

  Mas valia a pena. 

  Eu só queria chegar logo no terceiro andar. 

  Apenas isso. 

 

  Cumprimentei a recepcionista com um tchauzinho quando entrei e rumei para o elevador sem nenhum desvio. Para meu agradecer, não tinha ninguém ali, tornando meu caminho ainda mais rápido. 

  Os segundos que passei dentro daquele cubículo se assemelhavam à anos, mas isso não seria capaz de me tirar do sério. 

  Esperei vinte dias, o que seriam mais vinte segundos? 

 

  Quando as portas se abriram e eu me deparei com aquele extenso corredor, tudo o que eu estava sentindo triplicou em tamanho e força dentro de mim, mas parecia ser ainda mais gostoso de se sentir. Fechei os dedos na minha blusa e fiz meu caminho para fora do elevador. 

  Em passos apressados comecei a seguir meu rumo. 

  Eu só queria ver ela, seria pedir muito? 

  Estava tão perto. 


 

  Meu sorriso, que era até um pouco evidente, se foi no mesmo momento em que vi uma figura feminina virar o corredor e andar em minha direção. 

  Era Sunhi. 

  Que bela conveniência. 

  Meu interior se revirou em desafeto. 

  E, não, eu não iria deixar barato. 

  Ela não me notou, estava tão ocupada checando alguma idiotice em seu celular que nem ao menos estava olhando por onde andava. Acelerei um pouco e aumentei a distância dos meus passos para chegar mais rápido. Quando estávamos perto o suficiente, me coloquei na frente dela e bloqueei seu caminho. 

  Enfim ela me notou. Quase colidiu seu corpo no meu, mas me notou. 

  —Oh… - Me olhou com estranheza e deu um passo para trás. - Você voltou. 

  —É, voltei. 

  —Alex vai ficar feliz por saber disso. 

  —É, estou indo a ver agora, e é exatamente dela que que eu quero falar com você. - Cruzei meus braços e a encarei de igual para igual, por mais que ela fosse um pouco mais alta. 

  Sunhi me olhou de cima abaixo. 

  —Não gosto do modo como fala comigo. 

  —Pouco me importa se gosta ou não, e você também não deveria ligar. O que realmente é importante aqui é o que você tem feito com a Alex. 

  —O que eu tenho feito? - Soltou uma risada. - Nós mal estamos nos falando. 

  —Exato. - Também a olhei de cima abaixo dessa vez. - Que tipo de amiga você pensa que é? 

  Sunhi riu. 

  —Como é? 

  —Acha mesmo que pode descartar a companhia da Alex só porque agora está namorando o patético do Namoo? - Ela pareceu bem ofendida dessa vez. - Isso mesmo. Acha que os quinze minutinhos que você tira de intervalo são o suficiente para dividir com sua amiga? O que vai fazer quando o Namoo te dar um pé na bunda? Vai voltar correndo para os braços dela? 

  Sunhi estreitou os olhos e molhou os lábios com a língua. 

  —Escuta, quem você pensa que é para achar que tem autoridade para me dizer isso? 

  —Eu tenho toda a autoridade do mundo. 

  —É, disse a garota que ficou quase três semanas sem falar com a Alex sem ter um bom motivo. 

  —Como ficou sabendo disso? - Apertei mais os meus braços no cruzar e fechei mais a minha feição. 

  —Nos quinze minutinhos que tiro no dia para dedicar à ela, que você inclusive considera pouco. - Fez um bico e fingiu lamento. - Oh, espera… nem isso você dedicou. Poxa, Ryujin… 

  —Alex sabia que eu estava fazendo de propósito, Sunhi. Ela já esperava por isso porque foi um combinado. - Imitei seu bico. - Diferente de um certo alguém, que simplesmente desapareceu da vida dela porque se encantou por um par de músculos e não se importou em a dar a satisfação que merecia. 

  —Eu não desapareci da vida dela, eu já disse que conversamos todos os dias. 

  —Esse é seu único argumento? - Arqueei uma sobrancelha. - Deixa eu adivinhar, dos quinze minutos, dez você usa para falar do seu querido Namoo? - Sunhi não me respondeu, se contentou em apenas me olhar. - Foi o que eu pensei.

  —Escut…

  —Poupe suas palavras, Sunhi. - Levantei uma mão e a interrompi. - Você não precisa se explicar para mim, e sim para a Alex. - Sorri falsamente. - E, se me dá licença, eu vou ir até ela agora, a livrar da solidão que sentiu durante todos os últimos dias porque um certo alguém não cumpre com o mínimo…  - Quando terminei, não me preocupei em receber uma resposta. Dei um passo para o lado, e de propósito trombei nossos ombros antes de voltar a andar. - E vê se faz seu trabalho certo da próxima vez, pois não quero passar mais dez dias a toa em outro país! - Exaltei um pouco meu tom de voz, mas não me virei para a olhar, somente avisei num tom ácido. 

  Sorri fraco após isso. 

  Ora, quem ela pensava que era para discutir desse modo comigo? 

 

  Bom, ao menos agora eu tinha um bom motivo para não gostar dela. 

 

  "Quem você pensa que é? Nhenhenhe..." A imitei com infantilidade e desprezo. 

  Francamente, Alex tem todo o potencial para encontrar uma amiga melhor. Que garota insuportável essa Sunhi… 

  E ainda queria jogar a culpa em mim!

  Era só o que me faltava. 

 

  Bom, não importa. Esse assunto já estava resolvido, não tinha porque continuar insistindo nele se eu tinha coisas mais importantes para me preocupar. Tratei de levar esses pensamentos para longe de mim, para que assim me dedicasse à somente uma pessoa, porque eu estava morta de saudade e precisava dela mais do qualquer coisa nesse momento.  

  E foi por isso que, quando virei o corredor, qualquer outro pensamento se evaporou da minha mente, e eu passei a focar apenas na porta da sala de ensaios mais a frente. Saber que Alex estava ali era como uma deliciosa tortura, e ela não ter noção da minha visita contribuía ainda mais para o meu martírio. Desejei do fundo do meu coração que ela não estivesse ocupada com os trainees ou coisa do tipo. Queria poder matar a minha saudade de uma vez só, sem ninguém para me preocupar ou nos atrapalhar. 

  Logo que me coloquei em frente à porta, notei que o som dali dentro estava muito alto, ao ponto que nem os abafadores sonoros estavam sendo suficientes. Soltei uma risadinha fraca; ao menos ela estava escutando Lany, e não aqueles blues que me davam sono. Mas, na realidade, mesmo que se fossem blues, eu não teria dado importância, pois em seguida passei a tentar controlar minha ansiedade de todas as formas possíveis, e isso me tirou um pouco da realidade. Respirei fundo, sacudi minhas mãos, contei até cinco, esperei um pouco para ver se aquele tremor em meu corpo pararia… 

  Nada parecia funcionar. E por um momento, isso me frustrou. 

  Mas então, depois de muito pensar sobre, me perguntei o porquê de tudo isso.

  E afinal, por que? 

  Por que eu precisava respirar fundo? Por que precisava liberar minha energia acumulada ao sacudir as mãos?  Não tinha uma razão. Quando se tratava de Alex, o sentimento de ansiedade que me consumia era mais do que prazeroso. Então qual era o sentido em tentar me livrar desse sentimento? E, se eu tinha mesmo que o descontar em algo, por que não fazia forma certa?  

  Era tão… simples. 

  

  Balancei minha cabeça em positivo e deixei crescer um sorrisinho genuíno em meu rosto. 

  Eu tinha que me preocupar apenas com uma coisa. 

  Ou melhor, uma pessoa. 

  "Okay, Ryujin, chega de enrolar!" me incentivei mentalmente, e num ímpeto necessário segurei na maçaneta, não esperando nada para a abrir e finalmente entrar na sala.

  Meu sorriso se abriu um pouco mais e o ar me faltou nos pulmões. 

  Alex estava ali; sozinha e de costas.   

  Minhas pernas de repente ficaram fracas e eu tive que me esforçar muito para dar um único passo e poder entrar na sala. 

  Eu estava muito, muito nervosa. E era um nervosismo delicioso.

  Fechei a porta atrás de mim com cuidado e suspirei. 

  Pela forma como não se moveu um centímetro sequer, Alex provavelmente não percebeu que havia mais alguém na sala. A música estava muito alta, então era mesmo justo que ela não tivesse notado, já que eu não me anunciei e muito menos fiz barulho quando entrei. 

  E a olhando assim, me dando conta que estávamos a poucos passos de distância depois de vinte dias, meu sorriso triplicou de tamanho dada a minha alegria. Tudo em mim se estremeceu mesmo a vendo apenas por trás, e o meu interior transbordou de um sentimento quente e consumidor que me fez perder um pouco a noção. Eu não soube explicar o que era e nem porquê, mas foi uma das melhores sensações que já havia sentido, como um misto de ansiedade e excitação.  

  Alex estava parada, encarando a imensidão de prédios através da grande janela em frente. Eu não entendia o porquê de ela parecer tão entretida na visão que tinha; modéstia parte, a minha era bem mais interessante, se quer saber. 

  Mas, por pura diversão, optei por deixar que ela aproveitasse aquele momento um pouco mais. Depois de soltar uma risadinha fraca, me virei para a porta com uma expressão travessa e a tranquei duas vezes por precaução. Voltei a atenção para ela novamente, e de modo mais furtivo andei em direção à uma das mesas e me encostei de costas ali, de forma que eu ainda pudesse a observar sem que percebesse. 

 Segurei com as duas mãos na borda da mesa e tombei minha cabeça para o lado, sorrindo um pouco mais sem nem me dar conta. Ela tinha as mãos próximas à nuca, fazendo carinho naqueles longos fios de cabelo castanhos que eu tanto gostava. A calça moletom preta alguns números maiores que seu corpo caíam um pouco acima de seus tênis, e isso a fazia parecer tão… fofa. Sem contar a camiseta também maior e preta que a dava um olhar mais alternativo. Ela parecia tão confortável naquelas roupas que me fez querer tirá-las de seu corpo… 

  Interprete da forma que quiser, mas esse era o meu desejo. E bom, como eu estava olhando para ela de trás… era quase que impossível não ter esse pensamento vagueando minha mente. 

  Isso era errado…? 

  Espero que não. 

  Desci um pouco meu olhar pelo seu corpo e perdi longos segundos encarando uma específica região. Mesmo que estivesse usando uma calça mais larga, o corpo dela ainda conseguia atrair minha atenção. E tenho que dizer, era bonito demais para não olhar. 

  Suspirei com todas as minhas forças e me senti perder um pouco da minha inocência com os pensamentos que vieram junto.

   Olha, eu não era uma tarada ou coisa do gênero, se é isso o que está pensando. Só estava admirando. Tenho plena certeza que eu tinha a liberdade para fazer isso, afinal, já tinha até tocado ali. Estava longe de me sentir culpada, tanto que demorei um bom tempo para tirar meus olhos dali, e só o fiz porque ela enfim começou a se mover. Após dois anos na mesma pose, Alex parou de brincar com seu cabelo e deixou as mãos pendidas ao lado do corpo, se aproximando da janela e olhando para a rua dessa vez. Como ainda era um pouco difícil de enxergar lá embaixo, ela se apoiou no vidro e ficou na ponta dos pés para ter uma melhor perspectiva do que acontecia. 

  Soltei mais uma risadinha; ela estava parecendo uma criança… e eu estava parecendo uma boba, a assistindo com tanta afeição. Mas, sabe, eu não poderia me importar menos. Só queria continuar ali, a observando. Confesso que também era muito interessante fazer isso. Acompanhar os movimentos de uma Alex distraída estava sendo muito proveitoso, pois assim ela estaria agindo genuinamente da forma que era, e eu não conseguia achar algo mais atraente que aquilo. 

  Mordi meu lábio inferior e me segurei para não correr até ela e a agarrar de supetão, porque essa era a minha maior vontade logo que a vi descer o corpo e se desencostar do vidro. Eu simplesmente não queria esperar mais. Pela forma como ela se moveu, pensei que se viraria e fosse finalmente me ver. Até mesmo passei a mão pelo cabelo para o arrumar e ensaiei uma expressão mais controlada, mas não foi dessa vez. Ela somente deu alguns passos para trás e suspirou forte, depois começou a balançar a mão próxima à seu rosto para fazer vento, como quem está com calor. 

  Tudo estaria bem se tivesse continuado a fazer isso, mas infelizmente (ou seria felizmente?) ela não parecia satisfeita com apenas o abano de sua mão. Com a maior normalidade do mundo, Alex segurou na barra de sua camiseta e de imediato a puxou para cima, não tendo nenhum tipo de receio para a tirar de seu corpo. 

  Meu sorriso foi todo embora num piscar de olhos. Meu queixo caiu um pouco, de modo que meus lábios ficassem entreabertos e, com certeza, acabei adotando uma expressão abobada pela visão que tive. 

  Alex estava usando um top, que em teoria era mais do que comum ver dançarinas usando livremente. Mas entenda, eu não estava preparada para isso; a ideia de tirar as roupas dela era apenas mais uma de minhas ilusões, e eu não pensei que o universo atenderia meu pedido tão prontamente. Foi tão rápido que eu apenas assimilei quando ela já havia tirado a blusa, e com isso tudo o que pude fazer foi sentir meu coração bater forte como se eu estivesse tendo uma parada cardíaca. E pelo modo como me comportei, poderia até ser mesmo. 

  Aquele ato me trouxe forçadamente de volta para a realidade, e de repente tudo o que eu conseguia enxergar era o seu corpo exposto. Meus olhos subiram e desceram por suas costas como nunca havia acontecido antes, e analisei minuciosamente cada traço de suas curvas como se fosse a última coisa que fosse fazer na vida. 

  Céus, aquilo era um jogo tão sujo… 

  A minha intenção era que eu a surpreendesse ali, e não o contrário. Ainda mais por ser dessa forma. E eu nem poderia colocar a culpa nela!

  Engoli em seco e tentei recuperar um pouco o meu juízo. Não foi uma tarefa fácil, mas consegui ao menos fechar a minha boca para que não parecesse uma completa idiota. E assim, num impulso pouco pensante, estiquei meu braço até o teclado do computador e desliguei a música sem mais nem menos. Não foi um ato planejado; vi isso mais como uma escolha imediata do meu corpo para que aquela situação acabasse logo. 

  E bom… obviamente funcionou. 

  Com o silêncio nos sendo enfiado goela abaixo, assisti Alex se assustar um pouco pela quebra do momento. E foi assim, como num piscar de olhos, que ela por fim se virou com calma e me encontrou ali.

  Foi a vez dela de entreabrir os lábios; parecia surpresa. Não se mexeu mais nenhum centímetro, e seus olhos se prenderam em mim assim como os meus já estavam presos nela. Subiu e desceu suas íris algumas vezes, fechou os dedos no tecido de sua camiseta e adotou uma expressão neutra, como se não soubesse como reagir. 

  Certamente estava sentindo o mesmo que eu, e nada poderia me fazer mais alegre nessa circunstância. 

  Eu ainda estava um pouco abalada, principalmente se levar em conta que agora ela estava de frente para mim e a visão se tornou ainda mais tentadora, mas optei por fazer o necessário para a ocasião. 

  Com o coração quase saindo pela boca, me desencostei da mesa e sorri da melhor forma possível, deixando exposta toda a minha sinceridade e satisfação. 

  —Oi, Alexia.  

  Somente isso foi o bastante para ela. 

  Seus ombros caíram, seus olhos brilharam e sua feição mudou gradativamente para uma mais emocionada. 

  —Ryujin… 

  Pronunciou apenas o meu nome num fio de voz, e então não esperou mais nada para, em passos apressados, vir ao meu encontro. 

  

  Todo meu interior se encheu em expectativa, e assim eu abri meus braços de muito bom grado para a receber. Quando nossos corpos se chocaram e ela envolveu os braços ao redor do meu pescoço, a primeira coisa que fiz foi a apertar contra mim com todas as minhas forças. Eu poderia até mesmo ter a machucado com a intensidade que impus, mas tenho certeza que essa era a nossa última preocupação no momento. 

  Céus, era mesmo real… 

  Fechei meus olhos e afundei meu rosto com gosto em seu pescoço, inalando o perfume que aquele moletom azul não conseguiu me transmitir com tanta fidelidade.

  —De onde você veio?! - Perguntou num tom quase que inseguro, me apertando tanto quanto eu. 

  —Dos Estados Unidos. - Brinquei e sorri fraco ao sentir que ela soltou uma risadinha. 

  —Ai, Ryujin… - Meu corpo se arrepiou quando ela falou meu nome mais uma vez. Parecia tão bonito quando saía de sua boca. Suspirei forte e não resisti à tentação por estar tão perto. Colei meus lábios em seu ponto de pulso e a beijei ao menos três vezes seguidas, em cada uma delas sentindo diferentes sensações de prazer e agrado interno. - Por que você gosta de vir me visitar sem eu saber, hein? 

  —Porque eu sou mal educada. - Brinquei de novo, porém dessa vez com uma entonação bem mais carinhosa e afetada.   

  A senti sorrir e logo ela emaranhou os dedos de uma mão em meu cabelo, me presenteando com uma série de arrepios da cabeça aos pés com o seu carinho. 

  Fui do inferno ao céu em questão de poucos segundos. Mal pude acreditar que estávamos ali, respirando no mesmo metro quadrado novamente, compartilhando de um ato que se resumia apenas a nós e mais ninguém. 

  O coração dela palpitava tão forte que consegui sentir na minha pele, e eu me senti a pessoa mais sortuda do mundo por um único momento, pois eu era a razão de cem por cento daquilo, assim como ela também era a razão de todo o meu abalo. Respirei fundo mais uma vez, me afogando de propósito nas reações que seu cheiro me causava quando invadia meu interior e alterava todos os meus sentidos. 

  Subi e desci minhas mãos por suas costas, tateando sua pele com todo o afeto que tinha de sobra em meu interior. Ela estava quente, como sempre, mas não mais que eu; não mais que o meu coração. Beijei mais uma vez o seu pescoço e demorei todo o tempo de uma vida nesse ato. Queria ter todas as provas de que era real, e só conseguiria através dos toques. 

  Minha ficha ainda não havia caído por completo. Ilusionei e aguardei por esse momento durante todo o vôo, e era como se eu ainda estivesse sonhando, de tão bom que era. Mas era sim real. Não tinha como não ser, porque eu não teria sido capaz de imaginar algo tão doce e emocionalmente carregado. 

  Era algo maior que eu, um sentimento que parecia não caber dentro de mim. E por isso eu precisava dela. Para equilibrar toda essa bagunça interior que minha consciência insistia em chamar de paixão. O rótulo não me importava. Eu só queria continuar sentindo, porque era bom. 

  Lufei o ar para fora dos meus pulmões contra seu pescoço, me deixando levar pela sensação dos seus dedos em meu cabelo, que me acariciavam como se eu realmente fosse merecedora.  

  Eu senti falta até daquilo. 

  Por mil demônios, eu poderia gritar agora mesmo o quanto eu estava sentindo a falta dela, tamanha a minha euforia… 

 

  Com muita calma, Alex deslizou as mãos até o meu rosto e, após sentir um pouco mais o seu cheiro, deixei que me guiasse o suficiente para que pudéssemos nos olhar. Mais uma vez senti meu coração se pronunciar com força dentro do meu peito; tinha me esquecido da beleza do castanho esverdeado daquelas íris. Suas pupilas negras me faziam perder todo o rumo, e o brilho que as iluminavam agora iluminavam a mim também.

  Era lindo. 

  Alex suspirou ao fazer o mesmo comigo; seus olhos passeavam por meu rosto como se também estivesse duvidando se era real ou não. 

  —Eu senti tanto a sua falta, Ryujin… - Declarou num tom doce e acariciou minha bochecha com o polegar. 

  Esqueci de responder ao me sentir enfeitiçada por sua beleza, mas não esperei que isso fosse me fazer cair ainda mais naquele encanto. 

  Notando meu olhar ingênuo, Alex sorriu. 

  Sorriu do modo como estava acostumada. 

  Se até então meu coração tinha sobrevivido às agressões, agora ele havia sido resumido à pó apenas. Quando desejei que aquele sorriso fosse destinado somente à mim, esqueci de me lembrar de que eu não havia aprendido a lidar com ele. Mas, se fosse para continuar sentindo o que senti, desejei nunca realmente aprender a lidar. 

  Engoli o ar e sorri instantaneamente, tendo a certeza de que estava parecendo a mais boba de todos os bobos. E eu estava disposta a aceitar esse título se fosse fazer Alex sorrir ainda mais como resposta. 

  —Muito? - Foi a primeira coisa que me veio em mente. 

  Intercalei meus olhares entre seus olhos e sua boca. 

  Eu queria tanto beijar ela…  

  —Mais do que muito… - Mordeu o lábio inferior e continuou com aquele sorrisinho. 

  —É? - Encostei nossos narizes e rocei meus lábios nos dela, quase desfalecendo pela expectativa.

  —Uhum… - Seu olhar também desceu para meus lábios. 

  Ela estava esperando minha atitude. 

  —Então vamos acabar com isso… 

  Deslizei minha mão direita lentamente pelo seu corpo, e a subi até que estivesse segurando a lateral de seu rosto. 

  E assim, sem esperar nem mais um segundo, colei nossos lábios.

  Quando senti a boca dela na minha, tive uma sensação de quase morte. Tudo em mim simplesmente parou por uma fração de segundo; meu coração não bateu, o ar não entrou em meus pulmões e todo o meu sistema nervoso colapsou de modo que me senti fora de mim. Foi um choque e tanto, mas foi mais do que necessário para que eu entendesse o poder que ela tinha sobre mim. 

  E por isso, quando voltei à realidade, deslizei minha mão até sua nuca e fechei meus dedos com força em seu cabelo, a forçando um pouco mais contra mim para que não nos separássemos de jeito nenhum. Alex de imediato soltou um íntimo murmúrio que morreu em nossas bocas, e como resposta meu corpo se amoleceu vergonhosamente. 

 Apertei sua cintura com força e senti a eletricidade do corpo dela me contagiar. Eu não tinha a intenção de ser tão carinhosa ou coisa do tipo. Óbvio que tinha carinho no beijo, mas essa não era a prioridade. Eu queria beijar ela, beijar de verdade, de modo que demonstrasse o quanto estava sentindo sua falta. E por isso iniciei um beijo que qualquer um que visse teria plena noção que não havia nem um pingo de inocência ali.  

  Separei meus lábios para aprofundar o ato, e uma vez que Alex também cedeu e nossas línguas se encontraram, todas as células do meu corpo entraram em estado de êxtase, injetando grandes doses de dopamina nas minhas veias. Desci minha mão para seu quadril e fechei meus dedos no pano de sua calça com autoridade, seguindo o fluxo natural do beijo conforme ficava cada vez mais íntimo e urgente. Não precisei de muito para deixar que meus instintos mais primitivos tomassem conta das minhas ações a partir dali. 

  Aproveitando a nossa proximidade da mesa, virei o corpo dela com certa pressa, e visto que ela já estava em contato com o móvel, posicionei minhas duas mãos possessivamente em sua cintura. Não precisei me esforçar para que meu desejo fosse realizado. Ainda em meio ao beijo a segurei com força e a levantei o suficiente para que se sentasse na mesa. Tenho plena certeza que ela me ajudou nesse processo, tanto que logo suas pernas se abriram para que eu me colocasse no meio delas. 

  —Onde você aprendeu isso? - Perguntou ofegante quando nos separamos à procura do ar. 

  —Não faço ideia. - Soltei uma risadinha e voltei a beijá-la no mesmo segundo. 

  Realmente, eu não fazia ideia de onde isso tinha vindo. Seja lá de onde surgiu, foi muito proveitoso para a situação. Meu corpo se encaixou no dela com muita perfeição, como se tivessem sido feitos sob medida um pro outro. E foi arrasadoramente excitante. 

  Alex, num ato desesperado por um toque mais intenso, desceu não apenas uma, mas as duas mãos até meu quadril, e com toda a autoridade do mundo me trouxe para perto, enroscando nossos corpos da maneira mais sexy possível. Tremi da cabeça aos pés quando senti sua intimidade tocar o pé da minha barriga, e mesmo que tivesse vários panos separando o contato de verdade, quase perdi todo o meu pouco controle sobre ela. 

  Arranhei sua cintura com minhas unhas, e só então me lembrei que ela também estava sem a blusa. Mais um motivo para que eu jogasse tudo para o ato. Separei nossos lábios e a olhei de cima abaixo, guardando na minha cabeça o máximo de informações que pude recolher com aquela visão. 

  Era terrivelmente sexual. E quando voltei meu olhar para Alex, ela fez ainda pior. 

  Uma mecha de cabelo estava caída próxima ao seu rosto, e numa tentativa de a tirar dali sem precisar usar suas mãos, moveu sua cabeça um pouco para trás ainda me olhando nos olhos, deixando seu pescoço à mostra para mim novamente. Ela me destruiu com isso, e antes que pudesse assimilar o erro que havia cometido, meu rosto já estava afundado mais uma vez em seu pescoço, e dessa vez ousei não ficar apenas em simples beijos. Eu não estava acostumada com isso, mas não era difícil de se fazer. Usando de todos os meus artifícios, comecei a trilhar uma série de chupões por sua pele, me sentindo cada vez mais instigada a continuar conforme ouvia seus baixos murmúrios de satisfação. 

  Também murmurei quando ela moveu seu quadril em minha direção como se estivesse ansiosa por algo, e eu sabia muito bem o que era. 

  Estava sentindo a mesma coisa. 

  Uma sensação úmida no meio das pernas que aos poucos crescia mais e mais, pedindo para ser saciada. 

  —Diga que sentiu minha falta, Ryujin. - Alex quase que mandou em seu tom mais imperativo, apesar de falho e trêmulo. 

  —Não. - Respondi abafado por estar mais preocupada com o trabalho da minha boca. 

  —Diga… - Subiu a mão até minha nuca, e segurou em meu cabelo o bastante para que eu parasse. 

  Movi meu rosto e a olhei nos olhos, tentando respirar por mais que fosse uma tarefa bem difícil no momento. 

  —Não. 

  Alex entreabriu um pouco os lábios e me olhou desde minha cintura até a região do meu pescoço. 

  Molhou os lábios com a língua e suspirou. 

  —Quer ir para a minha casa? - Seu tom já não era mais trêmulo; era sério, assim como seus olhos. 

  —Agora? - Perguntei enquanto soltava o ar pesadamente pela boca. 

  —Uhum… - Inclinou seu corpo um pouco para trás e usou as mãos para se apoiar na mesa. 

  Ela sabia como chantagear alguém. 

  Como sabia...

  Meus olhos lentamente desceram por seu corpo. Depois de muito olhar para seus seios e abdômen sem nenhum filtro, senti a sensação no meio das minhas pernas aumentar e me obrigar a aceitar aquele convite. 

  Não que houvesse algum tipo de relutância dentro de mim, porque por denifivo não tinha. 

  —Quero.






 

[…]



 

  

  —Não vai me deixar cumprimentar o Luca? - Perguntei com um sorriso de lado quando Alex me forçou a me sentar em sua cama com autoridade. 

  O percurso até a casa dela foi um tanto quanto tenso. No carro, não conversamos mais do que o necessário, pois estávamos ambas mais concentradas em não perder o controle sobre a outra e causar um acidente de trânsito. Ao menos ali eu pude usar e abusar dos meus olhares, e a forma descarada como a encarei não era possível de se descrever em palavras. Para a minha surpresa, Alex não se mostrou nem um pouco incomodada com isso; na realidade, ela parecia até gostar da atenção que estava recebendo. Confesso que achei isso muito sexy, e me motivou a continuar explorando seu corpo com meus olhos. 

  No elevador, tive que ficar o mais longe possível dela, pois senti que se chegasse a sentir o seu perfume, jogaria tudo para o alto e a agarraria ali mesmo, e essa era a última coisa que poderia acontecer, já que contei ao menos duas câmeras nos vigiando. Mas nenhum tempo foi perdido além do necessário, já que, assim que passamos pela porta do apartamento, Alex tomou partido da situação e voltou a me beijar com a mesma intensidade de antes, me trazendo até seu quarto sem quase que nenhum segundo para descanso. 

  Bom, não que eu estivesse reclamando, muito pelo contrário… 

  —Você pode fazer isso depois. - Segurou meu rosto, e ainda de pé, começou a distribuir beijos na região do meu maxilar. 

  —Ele deve estar sentindo a minha falta… - Rebati, descendo meus olhos por todo o seu corpo e levando minhas mãos até seu quadril. 

  —Vocês só se viram uma vez na vida, Ryujin, e se ele esperou vinte dias, pode esperar um pouco mais. - Beijou o canto dos meus lábios.

  —Assim como você também pode. 

  —Está me comparando com ele? 

  —Bom... nunca duvide da capacidade de um gato de se apegar em pouco tempo. 

  Alex soltou uma risadinha fraca.

  —E muito menos da minha. 

  —Você já se apegou a mim? - Mordi a boca e me arrastei um pouco para trás, a vendo assentir fraco como resposta e sorrir tão trapaceira que me fez formigar da cabeça aos pés.

  —E você...? - Me olhou nos olhos com uma feição mais do que convencida. 

  Segurei uma risadinha e desviei meu olhar do dela, mirando o teto como se estivesse pensando. 

  —Nunca. - Dei de ombros. 

  Alex sorriu mais dessa vez, mas não era um daqueles sorrisos doces que eu estava acostumada; Era um sorriso sugestivo que, assim que coloquei meus olhos sobre ele, me fez sentir todo o meu ventre ferver em ansiedade. 

  —Me engana que eu gosto… 

  Levou dois dedos até meu ombro esquerdo e, com muita calma, me guiou para trás até que eu estivesse deitada sobre o colchão. Eu deveria estar me sentindo nervosa, sabia disso, porém tudo o que consegui sentir enquanto a olhava era pura luxúria. 

  Se até então eu tinha mais alguma fala engraçadinha para soltar, agora já não tinha mais nada. Junto com as palavras, acabei descartando também todo o meu juízo quando Alex, da maneira mais sexy possível, se colocou acima de mim com aquela expressão quase que injusta. Ela se sentou com tamanha lentidão e cuidado que jurei pensar que queria mesmo que eu a assistisse, e eu fiz isso com tanta intensidade que ela até mesmo soltou uma risadinha divertida. 

  Eu também teria dado risada da minha própria falta de dignidade, se não fosse pela sensação que me atingiu quando ela se ajeitou melhor em meu colo. Querendo ou não, a posição em que ela estava sentada era perigosamente erótica, e eu não pude evitar sentir o que senti. Logo de cara eu soube o que era, e nada me impediu de permitir que toda aquela onda de excitamento se concentrasse em meu ventre.

 Na realidade, eu queria mais daquilo. Muito mais. Então levantei um pouco o meu corpo apenas para que conseguisse colocar minhas mãos na gola de sua camiseta, e uma vez tendo isso feito, a puxei comigo de volta e colei nossos lábios com grande urgência. Nossas línguas mais uma vez se encontraram, e agora quem estava no comando era a Alex. Ela estava ditando o ritmo e o sentimento do beijo, e eu aceitei sem nem ao menos contestar, porque não tinha como melhorar naquela circunstância. Tudo o que ousei fazer foi levar minhas mãos de volta para o seu quadril, quase que inconscientemente a forçando para baixo para agradar o meu desejo egoísta de aumentar o meu prazer. 

  Enquanto isso as mãos dela passeavam por todo o meu corpo, me deixando ainda mais entregue a cada vez que sentia seus dedos tocando minha pele. Vez ou outra ela me provocava através de leves toques próximos aos meus seios, e eu sabia que estava fazendo de propósito; sempre que eu suspirava pelo não acontecido, a sentia rir silenciosamente mesmo em meio ao beijo. E eu não deixaria isso barato. 

  Seguindo minha intuição, subi minhas duas mãos até sua blusa e, sem fazer nenhum suspense, comecei a puxá-la para a tirar de seu corpo. Afinal, quando estávamos na empresa, ela já estava sem a camiseta, e tudo o que eu menos precisava era daquela peça para atrasar meus planos. 

  Eu queria ter sido um pouco mais sensual nesse ato, mas confesso que nem cheguei perto. Dada a minha pressa, acabei separando nossos lábios para prestar atenção no que estava fazendo, e não apenas encontrei dificuldades, mas também pareci uma idiota por estar ofegante demais, ao ponto de que tive que soltar o ar pesadamente pela boca seguidas vezes. 

  O que me poupou de uma vergonha maior foi o fato de que Alex não apenas olhou para as minhas mãos, como passou a ficar um pouco ofegante também, e mesmo ainda sendo menos que eu, foi o bastante para que eu não me martirizasse. 

  —Quer tirar? - Se virou para mim novamente e perguntou o óbvio. 

  Pela feição, notei que ela estava mesmo querendo me provocar, e eu não estava tão desesperada assim para aceitar facilmente. Então a dei um breve selinho e sorri de lado, descendo meu olhar até seus seios. 

  —Quero que você tire. - Arqueei uma sobrancelha e acomodei melhor minha cabeça no colchão. 

  Alex prendeu o lábio inferior entre os dentes e sorriu, mirando minha boca como se adorasse a visão. 

  Ergueu seu corpo e mais uma vez se sentou devidamente em meu colo. Como se quisesse me matar de expectativas, continuou me encarando por intermináveis momentos com aquela expressão que me convidava a cometer todos os piores pecados, e nesse meio tempo também aproveitou para me assolar com o atrito de seu corpo em minha intimidade. Se ela estava esperando que eu pedisse de novo para que tirasse aquela droga de blusa, estava quase conseguindo. Mas para a minha sorte, não foi preciso. 

  Com muita lentidão e sensualidade começou a puxar sua blusa para cima, e a cada nova informação que revelava, meu coração errava uma batida. Quando a vi fazer isso na sala de ensaios, além de estar de costas, Alex tinha como única intenção resolver o calor que estava sentindo. E agora era completamente diferente. Ela estava tirando a roupa única e exclusivamente para mim, porque queria. E pensar nisso estava me deixando com uma vontade enlouquecedora de fazer sexo com ela em todos os cantos daquele quarto. E se dependesse do desejo que eu estava sentindo no meio das pernas, era muito possível de acontecer. 

  Tolice sua seria pensar que existia mais algum tipo de inocência em minha mente naquela altura do campeonato. 

  Quando ela terminou de tirar aquela peça de roupa, seus cabelos caíram por cima de seus ombros da mais bonita forma que eu já tinha visto, e como se não fosse o bastante, ela suspirou com grande força somente para liberar o meu pior lado, pois meus olhos acabaram descendo de imediato para seus seios, que subiram e desceram pelo ato. 

  Tolice minha, agora, ter pensado que antes ela tinha sido injusta apenas por ter me lançado um simples olhar. Aquilo sim, era uma verdadeira injustiça. 

  O corpo de Alex era… puro tremor. 

  Ela era magra, e não tinha quase nenhum músculo para uma dançarina, mas isso não significava que ela não tinha curvas, e toda aquela combinação mostrava o quão sexy ela conseguia ser quando queria. 

  Eu não admitiria isso para ela em palavras, porém tenho certeza que não a faria muita falta, pois ficou claro em meus olhos e na minha reação que eu gostei do que vi. Tanto que não me contentei em apenas olhar; subi a minha mão direita até ela, e usando a ponta dos dedos acariciei a região de seu abdômen, traçando uma trilha de arrepios na pele dela por onde eu passava. Me agradei em saber que ela se afetava aos meus toques também, e o melhor foi notar que ela não se importava em demonstrar isso.   

  Subi e desci com meus dedos algumas vezes, a olhando diretamente nos olhos como se estivéssemos conversando através deles. E realmente estávamos; ficou mais do que evidente para mim que ela queria o mesmo que eu. Talvez até mais. 

  E uma vez isso estando de acordo, Alex deixou a blusa de lado na cama e levou uma das mãos até o cabelo, o posicionando todo acima de apenas um ombro para também não nos atrapalhar. Ela ficou mil vezes mais atraente desse jeito, e tenho plena certeza de que nem ao menos planejou que fosse assim. E então, por ser a única opção aceitável, desceu novamente seu corpo, e dessa vez apoiou as duas mãos em cada lado no colchão. Após me atiçar um pouco mais com seus olhares sugestivos, ela voltou a me beijar com a mesma vontade e intensidade, e com isso me deixei aproveitar a situação do modo que mais me agradava. 

  Com meus dedos famintos por um toque mais erótico, subi minhas mãos com autoridade pelo seu corpo, não pedindo por permissão antes de passar por debaixo do pano de seu top. Primeiramente eu estava tocando apenas as suas costas, mas conforme ela me torturava mais e mais com seu beijo, quase que de modo mecânico comecei a descer a ponta dos dedos. Quando minhas mãos já estavam acariciando a lateral de seus seios, senti ela se arrepiar ainda mais, me dando a aprovação que eu precisava para prosseguir. 

  Depois de separar o beijo para recuperarmos um pouco do ar, Alex tornou a afundar o rosto em meu pescoço, e não se contentou em apenas me beijar; optou por depositar leves chupões no meu ponto de pulso. Só isso já era mais do que suficiente para me tirar de órbita, mas pouco tempo depois ela resolveu impulsionar seu ato e me chupar com um pouco mais de força, me fazendo esquecer do meu próprio nome por uma fração de segundo. 

  Como resposta, acabei soltando um arrastado murmúrio de satisfação, e inclusive tive vontade de o fazer mais algumas vezes, porque era bom. E eu fiz. Vez ou outra deixei que os baixos gemidos saíssem pela minha boca; eles eram sinceros e me ajudavam a controlar a bola de neve de sensações que estavam me consumindo, além de que Alex precisava ser parabenizada por ser a causa de tudo isso. Mas não parei por aí, porque eu não aceitaria ser a única a ter prazer. Então voltei a me concentrar em minhas mãos e, com Alex ainda me torturando através de seus beijos e chupões, me movi um pouco mais. 

  Mas, droga, quem estava se afetando era eu… 

  A pele de Alex era quente e macia, e me fazia querer ficar com as mãos ali pelo resto da minha vida, principalmente dada a região que eu estava tocando. E graças a isso fui presenteada com mais uma série daqueles deliciosos arrepios que vinham de meus pés até o último fio de cabelo. Porém, por mais que eu gostasse, não era o que eu queria. Eu queria que ela sentisse essas coisas, para que sua experiência fosse tão boa quanto a minha. 

  Era pedir muito? 


 

  —Hm…? - Alex levantou seu rosto um pouco e encarou o colchão. 

  —O que? - Perguntei um pouco alheia à situação; estava ofegante e a olhava com confusão. Ela tinha que ter um bom motivo para ter parado tão de repente. 

  —Ouviu isso? - Arqueou as sobrancelhas. 

  —Ouvi o que? 

  —Parece ter sido a campainha. 

  —Você deve ter se enganado. - Sorri fraco e fiz um pouco de força com a mão, tentando de alguma forma a trazer de volta para mim. Na realidade, se a campainha realmente tivesse tocado, eu não teria percebido, pois estava em uma realidade completamente diferente cinco segundos atrás. 

  —É… - Voltou a me olhar e copiou meu sorriso. - Deve ser. 

  —Uhum. - Assenti várias vezes com a cabeça por puro desespero. 

  Alex não esperou muito para retornar ao ato, dessa vez mirando em meus lábios e me guiando de volta para a sessão de alucinações. 

  Mas no meio do caminho, tudo se foi por água abaixo. 

  A campainha tocou novamente, em alto e bom tom, e eu não poderia mais dizer que não tinha ouvido. 

  —Deixa tocar… - Ela murmurou em meio aos beijos. 

  Bom, eu é que não iria reclamar, pois afinal, o apartamento era dela, e se queria ignorar a visita para que continuássemos a nos beijar, eu seria a última a contrariar. 

  Soltamos algumas risadinhas ao ouvirmos a campainha ser tocada pela terceira vez, e estava até que divertido, se não fosse pela insistência da pessoa que estava na porta. 

  —Ei! - A segurei com mais força logo que tentou se levantar novamente. - Você não disse que era para deixar tocar? 

 

  Alex sorriu de novo. 

 

  Me olhou como quem está aprontando. 

 

  Molhou os lábios enquanto a campainha ecoava por meus ouvidos mais uma vez. 

 

  —Vai dizer que sentiu a minha falta? 

  

  Estreitei os olhos, desconfiada. 

 

  Demorei cinco longos segundos para responder. 

  

  O que ela estava tramando?  

 

  —Não. 

  Alex mexeu as sobrancelhas e levantou seu corpo, fazendo pressão de propósito em meu sexo. 

  —Então tá bom. - Apoiou as mãos em meu abdômen para tentar sair daquela posição. 

    —Alex… - A segurei da maneira que pude e fiz questão de a chamar pelo nome certo. - Não ouse. - Ameacei entre dentes. 

  —É? - Olhou para minhas mãos. - Vai fazer o que? - Se livrou do meu toque e, com um sorrisinho sacana, saiu de cima do meu corpo. 

  —Você não perde por esperar. - Fechei os olhos e respirei fundo. 

  —Você fica tão linda assim… - Sorriu falsamente. 

  —Brava? - Levantei meu corpo e apoiei as mãos no colchão.  

  —Fingindo que está brava. - Pegou a camiseta. 

  —Alex, volta aqui. - Pedi com a voz calma e firme.  

  A campainha tocou mais uma vez. 

  Desejei do fundo do meu coração poder socar a pessoa que estava na porta. 

  Afinal de contas, isso eram horas para vir nos encher o saco?! Já se passavam das oito da noite, pelo amor… 

 

  —Não. 

  Piscou galante e fez seu caminho para fora do quarto enquanto vestia a blusa. 

  Não, ela não estava fazendo isso…. 

  —Alexia! - Quase gritei. Me levantei num ímpeto pouco pensante e não esperei muito para a seguir até a sala também. Parei no corredor e a olhei com seriedade, ela já próxima à porta. - Volta aqui, já! - Apontei para o chão abaixo de mim. 

  Alex teve a pachorra de, simplesmente, sorrir com doçura e abrir a porta enquanto ainda me olhava. 

  

 

  —Nossa, por que demorou tanto para atender?! Você nunca demora tanto assim… - Uma voz feminina logo tomou conta da atmosfera do apartamento. Era um tom fino e estridente que eu temia saber de quem era. 

  —É que eu… - Alex se virou para a visita e segurou melhor na maçaneta, inclusive ainda me olhou de canto. 

  —O que aconteceu com você…?! Está toda amarrotada. - Entrou sem ser convidada e a olhou cabeça aos pés. 

  Eu estava certa. 

  Era ela, a Sunhi.

  —Então… 

  —Ooh… - A garota balançou a cabeça em positivo assim que me viu. - Entendi...

  Minha feição se fechou ainda mais, se é que era possível de acontecer. 

  Toda a raiva que senti de Alex foi transferida automaticamente para ela.  

  A encarei como se pudesse a machucar com o olhar e a xinguei de todos os nomes possíveis, a amaldiçoando vezes o bastante para que todas as forças do universo entendessem que eu não gostava dela. 

  Que porra essa garota estava fazendo aqui?! Mas que droga! Ela não tinha nenhum senso?! 

 

  —É… - Alex comprimiu os lábios, mas mesmo com Sunhi já muito confortável andando ao redor, não fechou a porta. - Oi! - Sorriu para o corredor. 

  Tinha mais alguém ali? 

  —ALEX!! 

  Não… 

  Fechei meus olhos e fiz uma leve careta por ouvir aquela voz masculina quase perfurar meus tímpanos. 

  

  Sim, Sunhi não veio sozinha.

  

  ELA TROUXE O IDIOTA DO NAMOO JUNTO!! 

 

  Respirei fundo e contei até três, assistindo aquele brutamontes apertar a minha… a minha… enfim, a Alex, num desnecessário abraço. 

  As coisas com Sunhi já eram horríveis, mas com o Namoo junto era mil vezes pior. 

  Céus, o que eu fiz para merecer isso?! 

  —Oh! - Namoo levou uma mão à boca ao me ver. - Ryujin está aqui também?! 

  —Acho que acabamos com a pegação desenfreada delas. - Sunhi soltou uma risada debochada. 

  —Não fale as coisas sem ter certeza, Sunhi! - Ele chamou a atenção dela como se realmente ligasse para educação. - Está sendo invasiva! 

  —É, está sendo bem invasiva… - Resmunguei. 

  Sunhi fingiu não ter ouvido, apenas me olhou de canto e agiu com normalidade. 

  —Não preciso ter certeza se estou vendo com meus próprios olhos. Veja o estado dessas duas! - Apontou para mim e para Alex, que tinha acabado de fechar a porta e passou a andar em minha direção. 

  —Todos os restaurantes legais estavam fechados hoje? - Alex preferiu mudar de assunto, e com um sorrisinho simpático se colocou ao meu lado. 

  Como ela era dissimulada… 

  —Na verdade, não. - Sunhi sorriu e mostrou as sacolas em sua mão. 

  —Viemos comer com vocês! - Namoo completou e também ergueu as sacolas que tinha em mãos. 

  —Ham, sério? - Alex soltou uma risadinha desacreditada. 

  —Sim, oras. - Sunhi deu de ombros. - Por que está tão surpresa? Não posso visitar minha melhor amiga? - Se dirigiu até a cozinha sem esperar uma resposta. 

  Balancei a cabeça e ergui um sorrisinho irônico. 

  Mas é claro… 

  Ela ficou mexida por saber que é uma péssima amiga, e agora estava tentando provar para si mesma que não é para poder tirar o peso da consciência… 

  Típico.

 

  —É que você quase nunca vem aqui. - Alex olhou para mim com um sorrisinho alegre, e então juntou nossas mãos como de estivesse tudo bem e nos guiou até a cozinha. 

  Tentei não ligar para o fato de que ela entrelaçou nossos dedos com carinho, mas foi impossível… 

  Por que eu estava irritada com ela mesmo? Pode me lembrar? Porque eu esqueci… 

  —Bom, a Sunhi contou que você estava toda para baixo, escutando Simple Plan no meio da chuva e essas coisas… - Namoo foi o último a entrar, e segurou nos ombros de Alex com carinho depois de ela ter soltado algumas risadinhas pela sua piada. - Então resolvemos te fazer uma surpresinha. 

  —Ham… tá bom. - Alex sorriu um pouco mais e olhou para os dois com grande afeição. 

 

  Ai, por que essa idiota tinha que ser tão bonita?! 

  Se fosse para vê-la assim, aceitaria aguentar aqueles dois pelo tempo que fosse. 

 

  —Nós trouxemos comida para três pessoas, porque não sabíamos que estaria aqui, Ryujin. - Sunhi me olhou de canto conforme desembalava a comida. - Mas fica tranquila, vamos dividir com você. - Sorriu da maneira mais falsa e caricata existente, ao ponto de que qualquer pessoa com o mínimo de percepção poderia notar. Mas Alex tinha se separado de mim para ajudar Namoo com os copos, e nenhum dos dois acabou vendo o que eu vi. 


 

  Okay, Ryujin, não pira. 

  Não pira. 

  Está tudo bem. 

  Sunhi é uma cretina. 

  Mas isso não é novidade, vamos…

  Ela só atrapalhou um momento muito, muito importante… nada demais.

  Não ligue para o calor no meio das suas pernas, já vai passar. 

  Apenas… respire. 

  Inspire e expire… 

 

  Tente não esquecer que você é uma pessoa civilizada. 


 

  Respirei fundo e a olhei nos olhos. 





 

  —Acho melhor você ir embora antes que eu jogue toda essa comida na sua cara.  













 


Notas Finais


Ryujin lacrou pra cima da Sunhi e ta pronta pra lacrar de novo adoroh???????




Gente mil desculpas a demora. Eu enfrentei uma crise enorrrrme pra escrever esse capítulo, tanto que hoje eu excluí 10 mil palavras desse e refiz tudo, porque tava uma bela merda, foi uma correria que só a.
Me senti um lixo por ter demorado tanto, e eu nem sei se esse capítulo tá bom o suficiente, mas espero de coração que vocês tenham gostado ❤
Vou tentar não demorar tanto no próximo ehehehe
Beijas


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