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História A Maldição Imperdoável - IV - O último natal (em família?)


Escrita por: ms-swan

Capítulo 4 - IV - O último natal (em família?)


Fanfic / Fanfiction A Maldição Imperdoável - IV - O último natal (em família?)

Mansão dos Malfoy, 25 de dezembro de 1996

A lareira crepitava furiosamente, enquanto o fogo consumia os restos do que antes fora um exemplar do Profeta Diário. A bolinha de papel feita com aquela edição do jornal bruxo sumiu rapidamente, sem dar à Regina tempo suficiente para refletir sobre a voracidade do mais curioso dos quatro elementos. A cabeça estava longe, viajava pelo futuro, ou pelo menos, através do futuro que sua mente criava. Seus olhos, vidrados numa realidade inexistente, acabaram por não ver quando sua mãe chegara no aposento, ao lado da dona da mansão e de sua irmã, a também madrinha da garota.

Estava passando o pequeno feriado de Natal na Mansão dos Malfoy, juntamente com Cora. Elas receberam um recado um tanto caloroso, enviado por Narcisa, que fizera questão de convidar vários conhecidos da família, já que Draco decidira continuar em Hogwarts, e de outro modo seria quase insuportável ver o espaço vazio deixado pelo garoto na grandiosa mesa de jantar.

Regina não gostava muito daquele lugar, na verdade não gostava muito da família Malfoy. Lúcio era como um cachorrinho vira-lata, que se passava por um chefe de família respeitado e imponente, mas obedecia a tudo que Narcisa lhe ordenava com olhos brilhantes e rabinho agitado. Ela, por sua vez, era impenetrável. Mantinha sempre aquela expressão de quem comeu e não gostou no rosto, o que fazia Regina pensar que estava sendo julgada a todo momento. Draco era um bebê chorão, que assim como o pai passava-se por valentão. Durante a infância ela conhecera muito bem esse lado do rapaz, para ser mais exata, fazia questão de trazer à tona sua fraqueza. Os dois adoravam brincar através de jogos doentios de manipulação, que ao longo do tempo foram se tornando cada vez mais perigosos, Draco havia se cansado de perder e talvez essa fosse a razão pela qual ultimamente parecesse tão insondável.

No inverno passado, ainda no início daquele mesmo ano, com a fuga em massa dos Comensais de Azkaban, Regina conhecera sua madrinha, mais uma parente dos Malfoy: Bellatrix Lestrange. Apesar de não morar naquela Mansão, estava ali sempre que Cora os visitava. Era uma mulher um tanto assustadora, mas mimava a afilhada como se esta fosse a filha que nunca criara. O que causava estranhamento na garota, por vê-la sendo tão diferente da personagem retratada pelas histórias da maior parte dos bruxos da Grã-Bretanha.

"... pois rompi os laços com aqueles traidores de sangue." A voz de Cora invadiu a sala de estar, trazendo Regina de volta à física e palpável Mansão dos Malfoy.

"Fez muito bem, Cora. Eu já previa que eles seguiriam esse caminho, fracos como são, não seriam úteis ao Lorde das Trevas, de qualquer maneira." O coração da garota acelerou, ao mesmo tempo em que sentia seu corpo arrepiar com o repentino gelo que a voz daquela mulher trazia.

"Você acha que eles serão perseguidos?" Perguntou Narcisa, vacilante. Pelo volume de sua voz, provavelmente vinha atrás das duas primeiras, ou seu desejo de que a pergunta não fosse ouvida fora tão grande que conseguira apenas sussurrar.

"Ora, até parece que não conhece o prazer que é exterminar esses vermes!" Gargalhou Bellatrix, sendo acompanhada por Cora. 

"Apesar disso, acho uma perda de tempo. Depois que as coisas se resolverem, bruxos dessa laia serão desmembrados todos os dias no café da manhã. Dias de glória virão, minha irmã!" Regina permanecia parada na poltrona, encarando o fogo e ouvindo toda e cada uma das palavras que sua madrinha pronunciava, sem nem sequer ousar olhar em sua direção. Talvez passasse despercebida perante as mulheres, que se encontravam distraídas em seu sórdido bate-papo. Afundou ainda mais no assento, desejando que o calor do fogo apaziguasse o arrepio em sua pele.

Começava a planejar uma forma de sair dali sem que ninguém notasse, quando ouviu passos em sua direção. O arrepio tornou-se mais intenso e logo percebeu que se tratava de sua madrinha. Bellatrix se aproximava, com os olhos brilhantes de excitação e um estranho esgar em seu rosto. Regina percebeu o prazer da mulher em vê-la, assim que encontrou a coragem necessária para finalmente fita-la. Não tinha razões para teme-la, já que a adorava tanto, apenas não se acostumara à mórbida energia que a mulher parecia emanar.

"Se não é a adorável Regina!" Exclamou.

"Você está cada dia mais bonita, até parece com sua mãe na época de Hogwarts. Bons tempos aqueles." Agora se posicionava em frente a poltrona, esperando seu cumprimento.

"Tia Bella!" Regina levantou-se e foi abraçada. Sentiu seu coração quase parar, era muito estranho aproximar-se tanto assim dela. Não sabia se era próprio da alma da mulher, ou se fora adquirido durante sua longa estada em Azkaban, mas os breves momentos de contato que estabeleceram desde que ela voltara, lhe provocavam essa sensação esquisita.

Uma vez, Emma contara a Regina o enredo de mais uma conto que estava escrevendo, ela adorava fazer isso, imaginava coisas acontecerem apesar de não conseguir desenvolver o corpo da história. Mas diferente das outras, essa era a mais macabra, o personagem principal casava-se acidentalmente com um cadáver, literalmente, e pela descrição feita pela garota essa personagem era um tanto assustadora, pois já estava morta há algum tempo. Se aquela história fosse trazida à realidade, o estado de um corpo putrificado seria uma coisa angustiante de se ver. Quando a vira pela primeira vez e até aquele exato momento, a única coisa que Regina pensava quando encarava as feições duras da madrinha, era na descrição que Emma fizera da tal noiva cadáver.

O primeiro motivo era as roupas que usava, sempre vestidos que pareciam ter sido retirados à força do corpo de alguma noiva gótica morta, e ela sempre utilizava modelos com algumas semelhanças entre si: pretos, cinturados, extravagantes. Apesar disso, os vestia com certa elegância, pois era uma mulher refinada. Isso deveria ser levado em conta, afinal antes de tudo era uma Black, e pelo que percebia das duas filhas de Druella que conhecia, esse era um traço estimado naquela família. O segundo motivo era o próprio aspecto físico de Bella, que aparentava já ter sido muito bonita na juventude, mas acabou envelhecida pelos Dementadores de Azkaban. Talvez essa também tivesse sido a razão de sua perda de peso ao longo dos anos, os ossos da face eram bem mais aparentes agora. Essas duas características estavam também presentes na imagem que Regina formara da personagem pensada por Emma, mas o fator realmente decisivo nessa comparação maluca, além da pele pálida, era a essência de morte que aparentava rondá-la. Claro que Bellatrix estava sempre disposta a lançar uma Maldição da Morte em qualquer um por qualquer motivo, porém, o Avada Kedavra parecia impossível de atingi-la. A chama da vida brilhava tão ínfima dentro dela, que talvez já tivesse se apagado.

Mas de uma coisa tinha certeza: Bellatrix Lestrange não se comparava a nenhum outro ser humano vivo que já conhecera.

Ainda presa ao abraço, Regina olhou de relance para as pessoas que assistiam àquela cena, Cora parecia prestes a rir, talvez do comentário de Bella a respeito da época em que eram muito mais jovens. Já Narcisa, as encarava com seu típico olhar de quem comeu e não gostou. Tratou de afastar-se da madrinha, já que não conseguia decifrar se sua expressão era de ciúmes ou indiferença.

"Onde está o Draco, Narcisa?" Ouviu sua mãe perguntar. 

"Nunca mais o vi."

"Em Hogwarts. Sabe como são os garotos de sua idade, cada vez mais distantes dos pais." Respondeu, dando uma risada falsa que logo cessou.

"Eles terão filhos tão lindos juntos!" Bellatrix dizia, enquanto segurava as duas mãos de Regina e admirava suas feições.

"Como assim? Filhos? " A garota questionou, aflita. Sentiu a boca seca e a garganta prestes a fechar, não poderia ter ouvido errado.

Se tinha uma coisa que odiava em sua mãe, é que ela nunca deixava as coisas transparecerem. Há algum tempo, vinha notando algumas evidencias curiosas nos atos de Cora, que havia parado de pergunta-la sobre casamento, filhos e planos para o futuro, mas Regina se contentou com o argumento que inventara para a situação. "Ela deve ter se cansado", pensou. Na verdade, a misteriosa bruxa vinha arquitetando planos para o futuro da filha, planos esses, claro, que deveriam permanecer secretos até o momento certo. E quando a hora chegasse, a garota se encontraria num beco sem saída, onde sua única opção seria seguir com o estabelecido.

Cora Mills vinha mantendo contato direto com Narcisa Malfoy há algum tempo, as duas ponderaram a respeito de muitas propostas, a fim de chegar a um acordo que agradasse ambas as partes. A união entre as duas famílias seria especialmente vantajosa para o noivo, que além de um herdeiro, teria um generoso acréscimo à sua fortuna, afinal os Mills possuíam um cofre consideravelmente espaçoso em Gringotes. Aquele casamento que as duas mães passaram a aguardar tão ansiosamente, tornou-se o pesadelo de Regina a partir do Natal de 1996.

"Você não contou a ela? " Narcisa perguntou. Parecia surpresa. Talvez fosse parte do trato informar à noiva sobre seu próprio casamento. Cora olhou em sua direção com indiferença, no fundo sabia que sua mãe não se importava com seus sentimentos em relação àquela situação. Sempre fora apenas mais uma peça de seu tabuleiro de xadrez.

"Vou.... me casar com Draco? " Não tinha ideia de como era difícil unir todas aquelas palavras numa só frase até finalmente precisar. Regina se sentia outra pessoa, era como se seu antigo ser tivesse sido brutalmente assassinado com a menção da palavra 'filhos'.

"Você vai se tornar oficialmente parte da família!" Bellatrix exclamou, tão excitada que parecia prestes a bater palminhas. A garota se esforçava em parecer animada com a ideia de seu casamento com um Malfoy, mas aquilo a enojava profundamente. 

"Mal posso esperar para conhecer meus sobrinhos-netos. Crianças em geral são uns diabinhos, mas os dois farão um ótimo trabalho, desde que a sujeira de Lucio não seja passada adiante."

"Bella, não admito que fale assim do meu marido em nossa casa!" A fúria repentina na fala de Narcisa assustou Regina, tanto, a ponto de reprimir a risada que estava prestes a vir. Ela parecia muito mais velha do que realmente era naquele momento. Ultimamente a aparência da mãe de Draco andava cada vez pior e Regina não conseguia imaginar a razão disso. 

 Suposições... Infelizmente as tinha numa quantidade muito maior que a de certezas.

Sentira uma vontade de rir, apesar de tamanha desgraça, por que aquela não havia sido a primeira piada de Bellatrix a respeito de Lúcio. Desde que a madrinha voltara de Azkaban, testemunhara seu escárnio a respeito do patriarca dos Malfoy em diversos momentos. Achava de certo modo divertido e totalmente coerente. Afinal, ele não era tão respeitável quando visto de perto.

"Desculpa, Cissa, vou parar de falar no seu animal de estimação." Antes que a irmã voltasse a se zangar, Bella tratou de mudar o rumo da conversa. 

"Se Cora não te contou sobre isso, imagino que não vem lhe preparando para seu 17º aniversário, não é mesmo?" Questionou à afilhada.

Regina achou a indagação um tanto estranha. A garota estava tão por fora quanto qualquer trouxa poderia estar naquele momento. Não era do costume de Cora agradá-la com algo no dia de seu aniversário, e apesar de estar se comportando de forma inusual ultimamente, sua mãe não parecia mais propensa a romper com antigos costumes. Bellatrix sabia disso, então por que a pergunta?

Uma expressão de surpresa e dúvida perpassou o rosto da moça, por essa razão sua madrinha voltou-se na direção de sua mãe, claramente cobrando uma explicação para aquilo.

"Ela ainda não sabe, Bella." Cora apenas disse.

"Ahh, então era sua intenção surpreendê-la com isso também? Você sabe que quanto antes soubesse, melhor. Ela foi criada para isso, deveria ter tido algum tempo para se preparar, pelo menos." Presenciar um sermão de Bellatrix Lestrange direcionado a Cora Mills era algo surpreendente de se ver.

"De qualquer forma, não vamos mudar o que já foi feito. Você disse que seria responsável por seu treinamento, então comece a prepará-la desde já!" Faíscas saíram de seu olhar, Regina sempre achara assustador quando os olhos de sua mãe brilhavam daquela forma, mas naquele momento estava confusa demais para temê-la, só queria saber do que diabos as duas tanto falavam.

"Olha, será que tem como vocês me dizerem o que está acontecendo? Tia Bella, a senhora vai me preparar para quê?" O olhar dela se voltou à Regina, e sua expressão transmitia o orgulho que sentia por dentro. Mas do quê, ainda era um mistério.

"Você também será uma de nós, isso não é ótimo?" Seus olhos se arregalaram de prazer, e ela puxou a afilhada para mais um abraço desconfortável.

"Tia, pera." Regina se afastou ainda mais confusa. "Isso ainda tem algo a ver com o casamento? Vou ser preparada para isso? A data já foi marcada? Estou tão confusa! " Ela gaguejava e seu olhar pousava de forma intercalada entre as três. As caras das mulheres nada lhe diziam, apenas a encaravam de volta.

"Claro que não, bobinha. Infelizmente teremos que esperar algumas estações para isso." Suas mãos voltaram a segurar as da afilhada. Logo, Regina sentira uma delas pressionar um local pouco acima de seu pulso esquerdo. Os olhos da mulher brilhavam intensamente de alegria. 

"Estou falando de passar por uma iniciação para tornar-se uma de nós."

"Ahh, então eu-- eu--" Se perguntava se o pensamento que surgia em sua mente era a resposta para suas perguntas. Se sim, então a situação era bem pior agora do que nunca fora antes.

"Você é uma escolhida." Bellatrix disse por fim, com uma expressão distorcida pelo sorriso que só crescia em seu rosto. Ela não apertava o braço de Regina com tanta força, mas isso não impedia a garota de sentir uma ardência terrivelmente incômoda naquela região.



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