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História A Maldição Imperdoável - V - Sangue e lágrimas


Escrita por: ms-swan

Capítulo 5 - V - Sangue e lágrimas


Fanfic / Fanfiction A Maldição Imperdoável - V - Sangue e lágrimas

            Hogwarts, 30 de junho de 1997

"O que há de errado, Regina? Nossa, como você está pálida!" Disse, aproximando-se ainda mais da outra garota e finalmente vislumbrando suas feições endurecidas com clareza.

A varinha de Regina cortou o ar com rapidez, e uma cadeira foi trazida para a recém-chegada, que ainda carregava uma expressão confusa no rosto, consequência de uma tentativa falha de decifrar o olhar estranhamente sério que a encarava.

"Precisamos conversar." Não teve escolha senão sentar-se na cadeira a sua frente, a anfitriã agora a poucos passos de distância. Veio caminhando de um jeito estranho, como se suas pernas possuíssem o peso do mundo.

"Sem preliminares?" Sua intenção era dissipar o clima sombrio que acabara de se formar naquela sala, mas foi como se nunca tivesse pronunciado aquelas palavras. Regina estava a sua frente, seus olhos castanhos e sem brilho a observavam de cima, segurava a varinha (as mãos tremiam), e parecia estar escolhendo as palavras certas.

"Emma me escute, eu-- eu te peço que ouça o que tenho a dizer com atenção. Por favor, não me interrompa até que eu tenha acabado. Tudo bem?" Sua voz soava ligeiramente trêmula, Emma não percebia que a garota estava tentando ser mais corajosa do que nunca antes para finalmente contá-la alguns de seus segredos mais vergonhosos.

"Tudo bem. Mas é tão sério assim?"

"Creio que você nunca me perdoará por isso, é compreensível. Em seu lugar, agiria da mesma forma." Olhou para baixo, mas Emma percebeu tarde demais que a garota não procurava algo no chão, apenas tentava disfarçar algumas lágrimas silenciosas. Estava prestes a levantar seu queixo para confortá-la, quando ela simplesmente se distanciou e virou-se de costas.

"Não posso mais afastar a verdade de você, não quando ela se tornou quase sólida de tão pesada." As palavras foram pronunciadas de maneira alta e clara, e de certa forma lembravam um discurso político. Talvez tivessem sido muito bem ensaiadas. 

"Pois bem, devo começar do início. Nunca te falei da maravilhosa mãe que tive, não é mesmo?" De fato, Emma finalmente percebera que Regina nunca havia falado de sua família, e ela também nunca se importara em saber. As únicas coisas das quais tinha conhecimento era da relação entre Cora Mills, sua mãe, e Bellatrix Lestrange, a mais famosa Comensal da Morte, conhecida por sua imensurável lealdade ao Lorde das Trevas. As más línguas associavam Cora Mills ao restrito grupo dos Comensais mais sagazes, mas boatos vem e vão e a verdade nunca se esclarece.

"Dizem que ela é uma Comensal por conta da grande amizade que possui com alguns nomes conhecidos de Azkaban. Por vezes os boatos são verdadeiros." Regina voltou para olhar Emma, sorrindo, evidentemente não por felicidade, seus lábios formavam um estranho esgar.

"Meus padrinhos conheceram os Dementadores, mas minha mãe escapou. Foi incumbida de outra tarefa enquanto eles, juntamente com Bartô Jr., torturavam os Longbottom. " Sempre que se lembrava da forma como Cora depreciava os Comensais julgados naquela época, sentia uma vontade maior do que si mesma de voltar no tempo e tornar as coisas diferentes. Preferia ter uma mãe beijada pelos macabros guardiões de Azkaban, do que no Ministério, sendo cínica o suficiente para jurar a um auror ter estado, durante todos aqueles anos de horror, sob influência da Maldição Imperius.

"Minha mãe não é lá flor que se cheire, às vezes me pergunto se ela é assim por causa da tia Bella ou se a tia Bella é ainda pior por causa dela. Bom, dá para perceber que fui criada num lar muito amoroso. Vendo hoje em dia minha relação com a família é possível até imaginar que sempre fui a filha querida." Se questionava se conseguiria ir até o fim, falar de seu passado trazia lembranças nada agradáveis. Regina lutava, em vão, para segurar uns poucos soluços, que por algum tempo foram o único ruído na sala. Emma tinha os olhos cheios de lágrimas e pensava numa forma de confortar a garota desesperada em sua frente. Estava prestes a dizer algo quando a outra, enfim, retomou a fala.

"Na verdade, tudo foi uma droga-- tive uma infância ridícula, mas poderia ter sido pior." Mais alguns soluços, ela procurava forças dentro de si para continuar falando. 

"Meu pai era um aborto, sabe?" Emma recentemente havia descoberto o que significava ser um aborto no mundo bruxo, e foi por essa razão que sua boca se abriu com seu repentino espanto, porém Regina nunca chegou a ver a expressão surpresa da moça, sua visão estava embaçada demais. 

"Mas como meus avôs já estavam mortos há muito tempo, não poderiam negar seu sobrenome bruxo na frente da mamãe. Ele a enganava, era um bom homem, mas tinha alguns truques na manga para fazê-la acreditar que era um bruxo autêntico. Nem é preciso contar o que ela fez quando descobriu, eu tinha alguns meses de vida na época." Um novo silêncio preenchido pelos soluços. Conhecer seu pai sempre fora um dos maiores desejos de sua vida, mas como tantos outros nunca seria possível, e era por essa razão que doía tanto.

"Logo depois que a verdade sobre o papai veio à tona, todos os olhares recaíram sobre mim. Eu sempre fui muito pressionada a mostrar meus dons mágicos. Mamãe tinha um plano pra mim caso eu tivesse puxado ao papai, qualquer rua trouxa seria meu novo lar. " Lembranças de uma Cora mais nova invadiram sua mente. Naquela época a garota possuía a convicção de que fora adotada, pois de outro modo era impossível ter seu sangue correndo em suas veias. Infelizmente, aquele não passava de só mais um devaneio de infância, quem dera fosse verdade.

"Claro que na época eu não sabia disso, mas ouvia cochichos entre mamãe e a tia Cissa, que sempre soube de tudo e por isso tentou ajudar, sugerindo novos métodos de me testar. Talvez essa coisa toda tenha provocado um atraso na manifestação dos meus poderes, aos 8 anos finalmente aconteceu, elas estavam prestes a desistir de mim. " Ah, como agora Regina preferia que elas o tivessem feito! A verdade é que naquele tempo desejara ser um aborto, como seu pai. Ela se identificava com ele imensamente, mesmo não o tendo conhecido. Em parte porque Cora sempre se referira aos dois de modo semelhante, com o mesmo tom de desgosto, quase nojo. Quando finalmente se dera conta de tudo pelo que passou, percebeu que sua magia só tardara a aparecer por que essa coisa toda, era a vontade ser mais como seu pai e menos como sua mãe.

"Depois que eu provoquei um incêndio numa velha poltrona da sala, fizeram uma festa e a partir daí eu recebia instruções de algumas pessoas, principalmente da tia Cissa, que tentava me tornar uma mini versão de sua irmã." Naquele dia, por um simples acidente, deixara de querer ser um aborto. Foi num momento de raiva, de tudo e de todos, que toda a ira se materializou no fogo que destruiu um dos móveis que Cora mais amava e que não teve, porém tempo suficiente para lastimar devido ao sentimento de grande felicidade por ter uma bruxa na família.

"Isso era tudo o que eu sabia sobre minha infância até pouco tempo. Peço desculpas a você por não ter contado antes, eu não pude evitar, é nojento!" Regina enxugou o rosto molhado numa das mangas das vestes, sua visão se tornou mais nítida conforme as lágrimas começaram a descer num ritmo menos intenso.

"Assim que matou meu pai, mamãe tomou medidas desesperadas para que o nome de nossa família não fosse manchado devido a um envolvimento com um aborto. Ela me jogaria em qualquer canto se eu fosse como ele, mas se eu fosse uma bruxa-- ela-- ela fez o voto perpetuo-- ela prometeu ao Lorde das Trevas. Ele teria planos para mim." As palavras foram sumindo da garganta, Emma a olhava, paralisada, chorava em silêncio e parecia estar apenas tentando digerir tudo.

"Eu não consigo falar, deixe-me mostrar." Regina aproximou-se um pouco mais e com a mão direita levantou a manga de seu robe, deixando exposta a cicatriz que ganhara ao completar 17 anos, quando fora marcada para sempre pelas mãos Dele. Em sua pele estava tatuado, numa coloração escura, o sinal maldito de sua eterna conexão com Ele: A Marca Negra.

"Ela jurou que se eu fosse uma bruxa, ao completar a maioridade me juntaria a ele, não pude evitar pois o não cumprimento de um voto perpetuo, como se sabe, leva à morte." Era isso. Não tinha nada a dizer em acréscimo. Sentia-se mais leve por finalmente ter aberto o jogo, mas em compensação, a dor em seu coração era quase física de tão violenta.

Regina fechou os olhos e era muito fácil imaginar uma expressão de nojo formada no rosto de Emma, ela não queria ver aquilo para não aumentar ainda mais seu próprio asco.

"Então você-- você é-- você-- VOCÊ É UMA COMENSAL?" Havia desespero na voz da garota, e o som da cadeira sugeriu que ela havia se levantado. Finalmente Regina abriu seus olhos e a encontrou afrontando-a, seu rosto estava molhado pelas lágrimas que agora rolavam com mais intensidade. Havia puxado sua varinha e tomado uma posição defensiva.

Não conseguiu dizer nada, apenas concordar com a cabeça enquanto soluçava. Antes de chegar ali tinha plena certeza de que Emma a abandonaria, por isso não alimentara esperanças ingenuas de ser perdoada ou compreendida inteiramente. Havia marcado aquele encontro com uma meta que não incluía caricias ou propostas de uma nova brincadeira erótica. Ela teve que voltar a cobrir seu braço pois não suportava olhar aquilo por mais tempo, sentiu suas pernas tão fracas que não pôde evitar a queda.

Na verdade, não eram apenas suas pernas, ela se sentia fraca por inteiro. Seus altos soluços só surgiram para expor ainda mais sua ridícula fraqueza.

"Porque me contou só agora?" Emma perguntou, o rancor em sua voz seria capaz de rasgar a pele de Regina.

"Draco descobriu." Tentou controlar o choro. "Nos descobriu. Estava me chantageando." Era praticamente impossível. O chão estava borrado, os pés de Emma também, e seu uniforme era uma substância disforme e desfocada.

"De repente entendo seu fetiche por roupas. Só não entendo porque achou que não deveria me contar antes. Foi necessária a chantagem de um garotinho mimado pra você ser verdadeira comigo." O tom agudo de sua voz indicava que ela segurava um choro ainda mais desesperado. Regina agora se arrependia do dia em que resolveu usar Emma a primeira vez. Nunca imaginara que uma chantagem tão besta quanto a de Draco destruiria não só sua vida, mas também a de alguém que não merecia de forma alguma. Era tudo culpa sua, só sua, ela fora responsável por trazer o inferno que a pessoa que mais amava agora vivenciava.

"Se tornar Comensal não tem volta. É nojento, inaceitável, é como a quarta Maldição Imperdoável. É ser marcada para a pura desgraça. Se soubesse antes, não teria te metido nisso. Eu nunca quis te machucar, passei esse tempo todo tomando coragem-- isso devia ter acabado antes de começar." Não tinha a intenção de mudar as coisas com suas palavras, só queria dizer algo que trouxesse conforto a si mesma.

"Isso? Nós? É o que acha?" Reconhecia sua tentativa de ser fria, se tinha uma coisa em que Emma falhava miseravelmente era nisso. Provavelmente acabara de destruir a garota por completo naquele exato momento, era bizarro tudo acabar daquela forma.

"Sim."

"Eu tinha planos. Talvez você não tivesse, mas eu sim. Ficava imaginando como seria depois da formatura, se você realmente me amava, se teríamos uma família. Agora, me acho tão ingênua."

"Não, Emma, eu tamb--"

"Tudo bem, Regina. Sabe, foram bons momentos que passamos juntas. Obrigada por isso." Olhou o borrão que era a garota a sua frente, pelo seu movimento tivera a impressão de vê-la enxugar as lagrimas, ainda parecia segurar a varinha no modo defensivo.

Regina não sabia o que dizer, passou alguns segundos encarando Emma, o suficiente para que a moça se tornasse mais nítida. Era tudo tão difícil. Encontrou forças em algum lugar, suficientes para lhe ajudarem a levantar, suas pernas pareciam mais firmes agora. Talvez as coisas terminassem bem, ou pelo menos, da forma como esperava.

"Comensais da Morte são assassinos frios, até hoje há comentários sobre a Batalha no Ministério no ano passado. Serei eu sua primeira vítima ou já tirou a vida de alguém a troco de nada?" Parecia preparada para enfrenta-la, o típico comportamento de alguém pertencente à casa do Leão. Contudo, aquelas palavras aumentaram ainda mais sua dor, só aquela garota era capaz de explodir todas as suas defesas, deixando-a completamente vulnerável e suscetível a ataques tão devastadores.

"Emma, não fala assim, eu--"

"Você é diferente? É uma Comensal da Luz? Piadas nunca foram seu forte. Sabe, eu não ligo se hoje for o dia da minha morte, acho que nada anda fazendo muito sentido ultimamente, tanto faz se você me matar ou não. Só seja rápida." Ela abriu os braços num gesto de completa entrega, falava sério e esperava que a outra garota correspondesse às suas expectativas.

"Sim, alguém vai morrer esta noite--" Algumas lágrimas lhe fugiram ao dizer isso.

"Anda logo! Uma grande falha nos Sonserinos é essa cômica falta de coragem. Será que meu corpo vai te tornar a heroína da família? A destemida Regina Mills?" Emma gargalhava, era um tipo de risada nervosa que ecoava nos ouvidos de Regina num volume tão alto... Simplesmente cruel, provavelmente o pior tipo de tortura pela qual já havia passado na vida.

"Emma..."

"Olha, se quiser podemos duelar, assim não te chamam de covarde." Ela voltou a apontar a varinha, esperando ansiosa pelo primeiro ataque, mas a outra não havia tirado a sua do bolso até aquele momento, não tinha a intenção de machucá-la, ainda.

"Nã--" Antes que terminasse de falar, quase fora atingida por um feitiço estuporante, contudo, era uma excelente duelista, por isso num piscar de olhos, rebateu o ataque.

"Vamos, me ataque! Titia Bellatrix deve ter tido tempo de te ensinar o Cruciatus, mostre a ela que aprendeu direitinho!" A garota gritava ainda mais alto enquanto lançava feitiços aleatórios na direção de Regina, que apenas se defendia, até que decidiu lançar um Expelliarmus que fez a varinha de Emma saltar para sua mão.

"Você venceu, tirou tudo de mim. Agora faça." Ela chorava, mas de raiva. Possivelmente estava zangada por toda aquela situação. Por perder um duelo, por ter todas as expectativas nas quais se agarrava com tanta força dilaceradas em poucos minutos, por terminar um relacionamento da pior forma, por estar viva para sentir toda aquela dor, e muito mais por amar Regina Mills. Queria morrer, para que tudo aquilo acabasse de uma só vez.

"Me desculpe." Disse Regina, a voz falha devido ao seu desequilibrio emocional, algumas gotas lhe escapando pelos olhos. Em uma mão, segurava a varinha de Emma, e na outra, sua própria. Ambas chacoalhavam muito por conta do nervosismo. A garota em sua frente nada disse, apenas fechou os olhos.

"Eu te amo, Emma." Regina sussurrou tão baixinho que parecia que só ela tinha ouvido. Nunca havia dito aquelas palavras antes, e agora elas soavam de uma forma tão linda.... Se arrependia de não ter tentado pronunciá-las numa ocasião mais oportuna, talvez naqueles momentos de silêncio que pareciam durar anos, após apenas alguns minutos de sexo.

Mas era tarde demais.

"Sectumsempra." Um raio vermelho saiu de sua varinha, atingindo o alvo desejado.

Emma esperou a dor que nunca chegou. Abriu seus olhos para verificar se estaria no Submundo ou em qualquer outro lugar para onde os mortos iriam, e se surpreendeu ao ver que não saíra do lugar. A única coisa que havia mudado naquele cenário era que Regina agora jazia no chão, banhada pelo seu próprio sangue.

"O qu-- Regina?" Ela correu até a garota com milhares de questionamentos na cabeça, não entendia muito bem o que havia acontecido.

"Eu.. consegui.." Disse num fiapo de voz.

"O quê? Vou buscar ajuda." Ia se levantando quando sentiu uma mão lhe puxar.

"Não! Não tenho tempo... E eu te quero aqui.."

"Não entendo-- como-- eu--" As vestes da garota se tornavam cada vez mais molhadas por causa de todo aquele sangue.

"Shhh.. Tem uma carta... No meu bolso... Tire antes que... Ela explica tudo..." A voz de Regina sumia conforme o sangue se esvaía de seu corpo, Emma buscou a carta indicada por ela, o envelope estava um pouco manchado mas seu conteúdo possivelmente continuava intacto. Ela se espantou com todos os cortes que foram aparecendo ao longo do corpo da moça, sentia que precisava fazer algo quando seu belo rosto começou a se colorir de vermelho.

"Regina, você está morrendo! Preciso te salvar." Ela puxou a varinha que estava ao lado de Regina e tentou pronunciar alguns feitiços de cura que aprendera com Hermione, ainda na época em que fazia parte da Armada de Dumbledore. Nenhum deles funcionava, na verdade, pareciam piorar a situação.

"Desista... Olha, me desculpa... eu--" A voz dela era menos que um sussurro e a palidez da pele contrastava com o vermelho de seu sangue. Aos poucos, a vida lhe escorregava pelas aberturas que surgiam pelo seu corpo.

"Agora não é hora pra isso! Você não pode morrer." Regina sorriu debilmente com a tentativa de Emma em trazê-la de volta, uma pena que qualquer coisa seria em vão.

"Encontre a felicidade..." Regina não mais falava, seus lábios só se abriram. O sorriso em seu rosto permaneceu, seus olhos se congelaram enquanto admiravam a imensidão verde do olhar de Emma.

Pela última vez.



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