História A Mentira - Jeon "persistência" Jungkook

— Vênus é o planeta mais brilhante visto da Terra, ele possui o diâmetro de 12.103 Km; é o corpo celeste mais quente do sistema solar. Com uma temperatura média de 461°… — Namjoon falava enquanto apontava para o mapa simplificado que tínhamos, ele é o representante do nosso grupo de astronomia. Muitas pessoas costumam dizer que sou muito boa com números e uma ótima aluna considerando as minhas notas gerais, entretanto perto de Kim Namjoon eu me sinto a mais ignorante das pessoas. — Ele é considerado o “Planeta Irmão” da Terra por conta da proximidade e por acreditarem que no primeiro bilhão de anos ele ter sido muito semelhante a nossa casa.

— Iremos observar ele essa semana? — questionei segurando o telescópio e vi o garoto sorrir aquiescendo.

— Poderíamos observar Saturno, é mais legal do que Vênus — Ethan, um recém chegado no grupo de astronomia, disse fazendo todos o encararem.

Namjoon que estava em pé se aproximou de mim e abaixou o tronco fazendo com que sua boca ficasse perto do meu ouvido.

— Qualquer pessoa que use a palavra “legal” para se referir a um planeta não merece meu respeito — sussurrou e eu dei uma risada discreta. — Ficaremos com Vênus — anunciou para todos que concordaram sem nenhuma interjeição, apenas Ethan soltou um muxoxo por não ter sua exigência atendida.

O sinal tocou e começamos a arrumar nossos materiais, os meus colegas arrumaram seus pertences com muita pressa alegando estarem famintos e o lanche da escola hoje ser pizza. Não sei o que deu de fato na cabeça do Sr.Lee por tamanho gesto de generosidade, porém não irei reclamar, se ele quer nos empanturrar de besteiras gordurosas e nada saudáveis eu estarei de braços e estômago abertos.

— Soube que será pizza hoje — Namjoon disse se aproximando, peguei minha mochila a colocando nas costas.

— Eleições, certeza — falei e o coreano riu.

— Sr.Lee não dá uma fora — começamos a caminhar lado a lado e eu esperei Namjoon fechar a sala para irmos juntos para a cantina.

— Não sei porque ele se preocupa tanto, será apenas ele e o Sr.Hawkings concorrendo a vaga de diretor esse ano. Os alunos não são loucos de trocar o Sr.Lee por alguém que quer fazer daqui uma escola militar. Aonde todos iriam se pegar, não é? — soltei irônica e ouvi a risada melodiosa do garoto ao meu lado.

— Tem total razão — ficamos em silêncio por um tempo. — Eu… — Namjoon começou falando e eu o encarei. — Fiquei sabendo da novidade. Sobre as líderes de torcida.

Franzi meu cenho, mas então me lembrei que a fofoca aqui é pior do que vírus de gripe no inverno.

— É… tentando coisas novas — dei de ombros dando um meio sorriso.

Entramos no refeitório da escola e pude ver a enorme fila formada para pegarem fatias de pizza grátis que o Sr.Lee distribuía sorridente.

— Só... não nos abandone — voltei a olhar para o garoto. — Sabe, o clube de astronomia — deu um sorriso sem graça e eu toquei o seu braço.

— Eu não vou. Não se preocupe — garanti sorrindo e vi sua expressão suavizar.

— Oi meu amor — senti uma mão rodear minha cintura e logo alguém cheirar meu cabelo. Arregalei meus olhos virando abruptamente para trás e encontrando o garoto dono dos olhos mais negros que já vi.

— Bom, eu vou indo — Namjoon parecia sem graça pela demonstração de afeto do outro e eu por outro lado senti as pontas das minhas orelhas esquentarem.

— O quê ele estava fazendo aqui com você? — Jungkook questionou assim que Namjoon saiu e eu cruzei os braços me segurando para não batê-lo.

— Por você fez isso?

— Isso o quê?

— Me abraçou e depois cheirou meu cabelo. Eu falei sem demonstrações de afeto e apelidos melosos. "Amor", sério? Nunca vi nome mais clichê e sem criatividade que esse. 

— Isso não foi uma demonstração de afeto, eu só cheirei seu cabelo porque ele tem um cheirinho bom e quanto ao apelido, eu chamo todas as garotas com que eu estou saindo de amor, faz com que elas se sintam especiais.

— Se você me chamar de amor mais uma vez eu juro que não respondo mais por minhas ações; além do mais, não estou saindo com você apenas o aturando — fui ácida nas minhas palavras, mas isso não pareceu o abalar muito.

— Então como quer que eu te chame?

— Pelo meu nome talvez? — sorri irônica e o vi fazer uma careta.

— Você sabe que eu não consigo lembrar dos nomes das meninas com tanta facilidade.

— Por que se lembra do nome de Yeri? — ele desviou o olhar do meu e pigarreou.

— É diferente — falou não apresentando nenhum argumento sólido.

— Tá bom… — comecei a andar em direção à fila para também pegar um pedaço de pizza. Pensei que Jungkook tinha voltado para a mesa dos seus amigos, mas senti alguém atrás de mim e logo dedos começarem a brincar com as mechas soltas do meu cabelo, revirei os olhos e continuei de costas para o mesmo.

— Cariño… — sussurrou no meu ouvido e senti todos os pelos do meu braço se arrepiarem mesmo eu usando um casaco extremamente quente, olhei para trás e encontrei Jungkook com um sorriso desenhado nos lábios.

— O quê?

— Irei te chamar a partir de hoje de “cariño”, é espanhol.

— Eu sei que é espanhol, mas o que isso…

— Ano passado fiquei com uma porto-riquenha que sempre me chamava assim quando estávamos ficando na minha casa e quando estávamos na cama ela…

— Okay, já entendi — ergui minhas mãos. — Então devo chamá-lo do quê? Conejito? — perguntei irônica pegando o recém citado apelido aplicando a sua aparência estranhamente semelhante a do animal.

— Não reclamaria.

— Jeongguk vivemos nos Estado Unidos não faz sentido ficarmos chamando um pelo o outro por apelidos em espanhol e eu sei muito bem que “cariño” é um apelido mais do que meloso, então minha resposta é não — dei-lhe as costas novamente e o ouvi resmungar.

— Garota chata…

Consegui pegar o meu tão precioso pedaço de pizza e comecei a caminhar para a mesa aonde estavam sentados Blair e Will. Entretanto uma mão no meu pulso me impediu de fazer isso. Revirei os olhos sem ao menos olhar para a cara do dito cujo.

— Senta comigo hoje? Quero te apresentar oficialmente para meus amigos — disse baixo e eu suspirei pois sabia que discutir com Jungkook era a mesma coisa que conversar com uma pessoa... só que morta.

Desviei meu caminho e pude sentir os olhares de Will e Blair queimando nas minhas costas, sei que mais tarde irei ouvir, e muito, dos dois. Chegamos na mesa aonde os amigos de Jungkook conversavam animadamente sobre algum jogo que passaria hoje a noite, as líderes de torcida também estavam ali rindo do que os meninos falavam sem ao menos entender metade dos termos usados por eles. Jungkook apontou uma parte do banco para mim e eu me sentei vendo que ele fez o mesmo.

Jungkook como dito me apresentou para cada um deles e por incrível que pareça todos me recepcionaram muito bem, quer dizer, todos os meninos. Algumas das garotas me olharam de cima a baixo e deram um sorriso amarelo.

Bom, se nem Jesus, Maomé, Buda e Albert Einstein agradam a todos, quem sou eu para fazer isso não é mesmo?

Dei graças a Deus por Lalisa e Rose estarem ali, porque senão eu não teria ninguém para conversar, só os garotos.

— Uma astronoma hein? Nunca imaginei que um dia Jeongguk namoraria alguém inteligente — Yugyeom riu e o garoto ao meu lado pegou uma das calabresas de sua pizza e jogou na cara do amigo.

— Estudam os planetas, certo? — Seokjin questionou e eu aquiesci.

— E estrelas também.

— Alguma preferida?

— Todas são incríveis, não falando esteticamente, isso é a última coisa em que vamos pensar na astronomia — Jin parecia realmente fascinado com tudo que eu falava, na minha cabeça já estava seriamente pensando em chamá-lo para ir no clube de astronomia comigo apenas para visitar e ele poder entender melhor. — Isso também inclui os planetas.

— É, pode até ser verdade, mas para mim do Sistema Solar todos os planetas perdem para o Sol, esse com certeza ele é o mais brilhante e importante planeta — Kimberly, que estava sentada de frente para mim disse convicta.

Será que eu digo para ela que o Sol não é um planeta e sim uma estrela? 

— Está preparada para hoje _______? — Lalisa questionou enquanto comia uma fatia da sua pizza.

— Claro — tentei parecer confiante, mas minha voz saiu mais como um miado de gato, entretanto não aqueles bonitinhos que eles fazem quando veem o dono e sim aqueles que quando está de madrugada você ouve e pensa que ele está dizendo o seu nome como se estivesse sendo estrangulado.

— Preparada para quê? — Hoseok, um dos melhores amigos de Jungkook questionou nos olhando curioso.

— Ela fará um teste para entrar nas cheerleaders — Lalisa deu uma explicação rápida e o garoto me desejou sorte.

Até que eles não são tão ruins como pensei que seriam.

Passaram-se as horas e o momento que eu queria que não chegasse chegou. Entrei no ginásio segurando bem firme a alça da minha mochila e já pude ver algumas garotas espalhadas pelo local se alongando, repassando os passos ou simplesmente esperando que a capitã das líderes de torcida chegasse para começar a audição. Coloquei minha mochila em cima de um dos bancos e tirei meu casaco revelando o cropped preto que eu usava, não queria está vestida assim, mas dá mais visibilidade ao meu corpo. E bom, eu não vejo nenhuma líder de torcida dançando de moletom.

Ouvi as portas do ginásio serem abertas e Lalisa entrar acompanhada por Rose e Yeri. Talvez as três sejam os pilares do grupo. Rose pediu para que todas se aproximassem mais e explicou como tudo aconteceria: nossos nomes foram sorteados para a ordem de apresentação, eu era a décima terceira a dançar. Elas pediram para que as que não iriam se apresentar agora esperassem sentadas na arquibancada. Uma garota mais baixa que eu foi a primeira e dançou um compilado de músicas da Rihanna.

Lalisa, Rose e Yeri estavam sentadas atrás de uma mesa acompanhando cada movimento que a menina fazia, parecia atentas, em nenhum momento desviaram suas atenções para qualquer outro ponto.

E foi assim que os minutos foram passando ligeiramente quando percebi que Yeri olhou a prancheta depois me encarou.

— ________ Baker — disse alto e eu me levantei. Não sei em que momento minhas pernas começaram a bambear tanto, mas aquele com certeza não era o melhor momento. — Comece quando se sentir pronta.

Olhei de relance para Rose e a vi levantar discretamente seu punho para mim me desejando sorte. Respirei fundo e fechei meus olhos quando os abri novamente fiz um sinal com a cabeça para que o garoto que estava cuidando do som soltasse a música que eu dançaria. Comecei como Rose me ensinou, mexendo levemente o quadril, depois passei para os passos mais elaborados, a voz da cantora Hyorin parecia a única coisa que me importava naquele momento então resolvi focar nela. A música terminou e junto a minha apresentação também.

Estava ofegante porque tinha dado o melhor de mim e ergui meu olhar encarando as três garotas. Rose estava com um sorriso nos lábios, Lalisa parecia satisfeita pelo que viu, já Yeri não consegui ler sua expressão. Entretanto acho que mandei bem, Jungkook estaria orgulhoso de mim nesse momento, não que isso importe muito para mim.

— Obrigada pela apresentação, segunda-feira saberá se passou — Lalisa disse e eu assenti voltando para arquibancada para pegar as minhas coisas.

Coloquei novamente o meu casaco, não queria que os outros me vissem desse jeito. Peguei minha mochila e saí.

Os corredores da escola estavam vazios por conta da maioria dos alunos ainda estarem em aula, pensei em ir embora, mas o maldito do professor de história falaria hoje o resultado da prova aplicada ontem, não que eu esteja com medo, entretanto estou receosa de ficar em história e ter que fazer um resumo dos principais tópicos da Guerra Fria. Vai por mim, você vai querer tomar bomba em física, química, matemática, mas não em história.

Decidi gastar meu precioso tempo livre dentro da biblioteca da escola procurando por algo interessante que eu pudesse ler. A Sra.Thompson, a bibliotecária, estava em um canto dormindo enquanto um livro estava na frente do seu rosto. Ela pensa que os alunos não sabem que por trás daquilo ela baba horrores enquanto já está no seu décimo sono.

Fui para a seção de ficção científica e comecei minha procura, já li metade daqueles livros e achar um que realmente fosse bom estava difícil. A biblioteca era tão silenciosa e assustadora como o cemitério da cidade, porém um barulho algumas seções a frente de onde eu estava chamou minha atenção.

— Merda… — ouvi um resmungo e como a boa curiosa que sou resolvi ver o que tinha acontecido.

Um garoto que estava vestido como se fosse assaltar a padaria da esquina mexia nos livros da seção de exatas e enquanto pegava uns, deixava outros caírem. Me aproximei dele e o ajudei com os livros que estavam caídos no chão.

— "Desvendando a física"… — li um dos títulos e o garoto pegou o livro da minha mão colocando no lugar.

— Obrigado — o encarei e tentei ver seu rosto, mas ele queria a todo custo escondê-lo com o capuz.

— Trabalho? — questionei apontando para os três livros que ele ainda segurava.

— Acabei tomando bomba em física agora o professor quer que eu faça uma prova com questões relacionadas à mecânica e calorimetria — bufou e eu sorri.

— Ah, essas são fáceis — comentei e o vi olhar para mim.

Arregalei meus olhos ao reparar quem é que estava ali na minha frente e a tonalidade de sua pele. Azul. Bem que eu achei que ele ficaria parecendo o Papai Smurf, mas agora percebo que ele está mais semelhante a Tristeza de Divertidamente. Mas meu plano deu certo. Está parcialmente vingada Blair.

Jimin me encarou por alguns segundos então decidiu falar novamente.

— Você só pode está de brincadeira. Qualquer coisa em física é difícil — reclamou e eu consegui sair do meu estado de torpor.

Olhei ao redor e percebi que estávamos sozinhos, claro, tirando a Sra.Thompson que agora roncava alto. Vi que tinha um papel em cima de uma das mesas da biblioteca e o peguei, tirei uma caneta de dentro do bolso da minha mochila e comecei a escrever.

— Você terá que aprender várias fórmulas para passar nessa prova — afirmei o olhando e o vi fazer uma careta, então indiquei que olhasse para o papel. — Uma coisa que me ajuda muito na hora de ter que decorar as fórmulas é inventar frases que me façam lembrar delas.

— Como assim? — questionou confuso se aproximando para poder ver melhor. As iluminações da biblioteca não são melhores do que de um castelo vitoriano de 500 anos.

— Por exemplo, quando for recordar a fórmula da 2° Lei de Newton, lembre-se dessa frase — a escrevi no papel e Jimin leu.

— “Física me assusta.”

— Agora deixe apenas as primeiras letras de cada palavra — comecei a fazer um traço por cima das palavras deixando a primeira letra amostra. — Pronto. Assim temos a fórmula: F=m.a. Aonde “F” é a força, o “m” é a massa do corpo e o “a” é a aceleração — expliquei fazendo mais anotações na folha.

— Física com certeza me assusta — disse e eu ri.

Espera, eu ri de uma coisa que Jimin disse e não dele? Por favor _______ Baker, se recomponha!

— Pode ficar se você quiser — entreguei a folha para o mesmo e ele pegou e guardou dentro de um dos livros.

— Você é tipo um Stephen Hawking na versão feminina — disse e neguei.

— Eu só expliquei a conta mais básica da matéria — dei de ombros tentando ignorar seu elogio.

— Mas isso não anula o fato que você é tipo uma nerd — falou começando a caminhar, o acompanhei e tinha até esquecido pelo motivo de ter entrado ali. — Como é que você se chama?

Estranhei ele não me conhecer sendo que ultimamente eu virei a Billie Eilish da escola, mas lembrei que ele é amigo de Jungkook e ele pode sofrer do mesmo mal de Alzheimer dele.

— ________ Baker — disse sem dar muita importância e ele me olhou surpreso.

— A namorada do Jeongguk?

— É… — olhei para o lado para que ele não vê-se minha cara de desgosto por sempre ser reconhecida apenas desse modo.

— Você é bem diferente do que eu imaginava — olhou para a Sra.Thompson que ainda dormia.

— Sou?

— Sim, sei lá, eu imaginava uma garota extremamente maquiada, bonita, com salto alto, saia e que só falasse sobre unhas, cabelos e maquigem — deu de ombros. — Não uma garota que usa tênis velhos, inteligente, bonita e que sabe formar frases com fórmulas de física — sorriu e eu senti minhas bochechas esquentarem.

Quem esse papai Smurf acha que é para me deixar com vergonha?

— Meus tênis não estão velhos — resmunguei tentando mudar o foco do meu pensamento e ele apenas riu.

Chegamos aonde a Sra.Thompson estava e Jimin precisou chamá-la cinco vezes até que ela finalmente acordasse. Ele mostrou os livros que levaria, assim que ela o encarou arregalou os olhos. 

— O quê aconteceu com você meu jovem?

— Eu participo de um movimento que é totalmente contra o derretimento das geleiras e o aumento dos oceanos, luto também pela sobrevivência dos golfinhos e a preservação das tartarugas. Todos vivem nos mares, certo? Então me pinto de azul de vez em quando para fazer um protesto pacífico para que esses animais não morram por conta de algo que o ser humano fez — mentiu e vi a senhora a nossa frente assentir totalmente concertada.

— Você está certo querido. Chega de canudos nos mares — afirmou e eu tive que me segurar para não rir. Ela está mesmo acreditando nessa desculpa esfarrapada? — Quando precisar de alguém para protestar junto pode me chamar para participar.

— Com certeza Sra.Thompson, com certeza — Jimin pegou os livros novamente e acenou para a senhora que o olhava como se fosse o próximo presidente em qual votaria. Coitada.

— Golfinhos e tartarugas, sério? — questionei o garoto assim que saímos, ele olhou para mim e piscou.

— Se é para ser um mentiroso, seja um ótimo mentiroso.

— Esse é o tipo de conselho que irei levar para a vida — disse sarcástica.

— Acho que foi um dos caras do time rival que fez isso comigo — comentou apontando para o seu rosto azul. — “Sequestramos” o mascote deles ano passado perto da final do campeonato, sempre disseram que eu que arquitetei o plano e talvez seja por isso que me puniram ao invés do time inteiro.

— Você tem certeza disso? — eu não me esqueci do que fiz e sim, eu sou cara de pau a esse ponto.

— Não, mas isso não importa agora; é comum esse tipo de coisa quando se participa de um time — passamos por um grupo de meninas e Jimin puxou o capuz mais para frente. Elas nos encararam e acenaram para mim e mesmo confusa retribuí o gesto. — Acho melhor eu ir embora antes que alguém veja o meu rosto.

— Verdade, imagina os apelidos — ri, já pensando nos que eu dei para ele.

— Tem razão — fez uma careta. — Tchau _______ Baker, nos vemos por aí — disse enquanto se afastava, entranto ele logo parou de andar e virou-se para mim. — Amanhã darei uma festa, se quiser pode aparecer por lá. Jeongguk vai, então peça para que ele te leve.

— Vou ver se tenho tempo — até parece que tenho uma agenda lotada. Para ser honesta, nem agenda eu tenho.

— Beleza — ele acenou voltando a caminhar.

Só reparei que eu estava parada no meio do corredor parecendo uma zumbi quando Jimin fechou a porta de entrada atrás de si.

Até que passar o tempo com Jimin não foi tão ruim assim. Espera, passei um tempo com Park Jimin e achei bom? Não, claro que não.

Provavelmente os ácaros da biblioteca entraram pelas minhas narinas foram até meu cérebro, depositaram seus ovos lá e eles chocaram, agora estão comendo o lado que me faz ser racional.

Jimin fez Blair sofrer. E eu não vou com a cara dele.

Repetindo esse mantra sagrado continuei andando até ver Jungkook encostado na parede conversando com um grupo de garotas que pareciam hienas de tão sorridentes que estavam. Dei meia volta, mas foi tarde demais porque ouvi um assobio e parei de andar.

— Já te vi — gritou e me amaldiçoei mentalmente por não ter comprado aquela capa de invisibilidade do Harry Potter que vi há duas semanas no Mercado Livre. O que custava gastar $50?

Com um sorriso igual ao do gato de Alice no País das Maravilhas me virei e encarei Jungkook que me chamava com um gesto com a cabeça.

— Oi — dei o melhor cumprimento do meu dicionário de vocabulário e o vi sorrir.

As garotas me encaravam e eu tentava não me intimidar. Jungkook não deixaria que elas me batessem… não é?

— Eu já vou indo meninas, depois a gente continua a nossa conversa — as garotas sorriram, ainda mais, e mexendo os quadris como se estivessem deslocados elas saíram de perto da gente. — Estava pensando em um gelato.

— Em um o quê?

— Gelato. Sorvete, em espanhol — explicou e eu revirei os olhos.

— Jeongguk se você quer ir para o México participar de um grupo de mariaches eu pago a sua passagem, não precisa ficar falando toda hora em espanhol comigo para que eu entenda o recado.

— Poxa, descobriu o meu segredo é que mi papa não permite que eu siga meus sonhos de ter um bigode e usar um chapéu que parece mais um disco voador, ele diz que os extraterrestres podem me confudi e acabar me abzuindo — falou fazendo drama, eu tentei ficar séria, mas logo sorri.

— O quê?! — ri ainda mais. — Você é muito estranho Jeon Jeongguk — ele também sorriu e parou gradativamente.

— Mas o que me diz? Aceita? Estou com muito calor.

— Está fazendo dez graus.

— Está vendo? Esse aquecimento global é terrível— ele segurou minha mão e eu me permiti ser guiada para fora da escola.

Não precisamos andar muito, porque na frente da escola havia uma sorveteria que era muito frequentada pelos alunos, o que dava ao dono do estabelecimento um lucro mensal significativo. Claro, tirando a época do inverno. 

Pedi um sorvete de chocolate e Jungkook um de baunilha, nos sentamos na área externa. O sol brilha no alto do céu, mas seus raios não fazem muita diferença no clima, já que eu vi noticiário que a noite poderá fazer 2 graus negativos.

— Como foi hoje na sua audição? — encarei Jeongguk e ele parecia realmente curioso.

— Acho que mandei bem — fiz pouco caso olhando para uma garotinha do outro lado da rua que passava com seus dois cães.

— Ótimo, meu plano está dando certo — comentou. — Meus amigos gostaram de você, te acham até simpática — olhei novamente para Jungkook. — Obviamente com essa última parte eu não concordo, mas seria estranho eu falar isso da minha própria namorada. Agora só falta o Jimin te conhecer, mas acho que ele também irá gostar.

— Já o conheci — falei e o garoto parou de tomar o seu sorvete e me encarou com cenho franzido.

— Quando?

— Hoje, na biblioteca.

— Mas ele não foi hoje para a escola.

— Corrigindo, você não o viu na escola. Ele estava na biblioteca procurando por livros para estudar para física, sabe, você estava ocupado com o seu fã clube — alfinetei.

— E sobre o que vocês conversaram? — se antes Jungkook parecia atento a mim parece que agora o seu foco era apenas direcionado a minha pessoa.

— Nada demais — desviei meu olhar do seu.

— E o que seria “nada demais”? — cruzou os braços e também parei de tomar o meu sorvete.

— Olha Jeon, eu sei que você é o Leonardo DiCaprio na atuação, mas não precisa fingir ser o namorado ciumento da relação. Eu e Jimin conversamos sobre física e frases que podemos formar com as fórmulas, satisfeito agora? — dei o meu melhor sorriso forçado e tomei mais pouco do meu sorvete enquanto o encarava.

— O quê?! Eu não sou a porra de um namorado ciumento — emburrou o rosto.

— Ah é mesmo? Então por que está xingando agora? — ele pareceu ser pego no pulo e mais uma vez eu sorri. — Se concentre em conquistar a sua tão amada Yeri. Falando nisso, o que você quer com ela mesmo?

— Nada demais — aos poucos ele foi abaixando a guarda até voltar a dar atenção ao seu sorvete.

— E o que seria “nada demais”? — repeti seu questionamento e o vi retrair o rosto.

— Quero ficar com ela.

— Hum… não acho que seja apenas isso — comentei e ele se mexeu inquieto na cadeira. — Você lembra o nome dela, puxa assunto enquanto claramente ela tenta te ignorar e ainda por cima se humilha como um cachorrinho que precisa de atenção. Tendo todos esses tópicos em vista, acho que você não queira apenas “ficar” com ela, o buraco é mais embaixo.

— Quer dar uma de psicóloga agora Bayler? — tentou soar sarcástico, mas não deu muito certo.

— Se você vê desse modo… — dei de ombros.

Jungkook tomou mais do seu sorvete e olhou para a rua, aonde algumas pessoas saíam da escola e se dividiam indo para direções opostas.

— Eu gosto dela.

Okay, por essa eu não esperava.

— Do mesmo jeito que eu gosto de estrelas?

— Não como um hobbie.

— Ah… — foi tudo que eu consegui dizer diante daquela confissão. — Jeongguk você tem certeza? Não que eu esteja duvidando, é que... bom, você e sua reputação…

— Tenho certeza. E sabe como eu sei disso? — pensei em ser uma pergunta retórica, então deixei que ele continuasse. — Faz cerca de três anos que eu 'tô tentando algo e só levo fora. Nem conseguir sair com ela eu consigo — lamentou-se.

— Nossa… Jeon persistência Jungkook — falei sem pensar muito e arranquei uma risada dele. — Você gosta mesmo dela. Que merda hein…

— Acho que você não é a pessoa mais indicada para dar motivação as pessoas.

— Eu falei que seria sua psicóloga e te ouviria, não que te daria motivação para ser uma pessoa melhor — ri e Jungkook parecia mais animado com as minhas palavras. Ainda bem, não sei lidar com climas pesados.

— Você é insuportável, sério — falou, mas eu sabia que ele não estava falando a verdade.

— E então…

— E então…?

— Pretende me usar para conseguir quem realmente quer? — questionei e o vi olhar para o lado envergonhado. — Por mim tudo bem, não tenho muita coisa interessante para fazer nesses dias livres mesmo — dei de ombros. — A minha única exigência é que você compre comida para mim.

— Você é rica, pare de ser mão de vaca — reclamou e eu enchi minha boca com sorvete e balancei minha cabeça negativamente.

— E você é meu namorado, tem que alimentar o seu cariño — zombei do apelido meloso e o vi cruzar os braços, fazendo com que seus músculos sobressaltarem.

— Ah… agora você é o meu cariño, né?

— Só quando eu receber algum benefício — sorri e Jungkook semicerrou os olhos.

— Interesseira.

— Playboy mimado.

— Folgada.

— Chato.

— Algum problema aqui? — paramos de repente e olhamos ao mesmo tempo para o lado. Seokjin nos encarava como uma expressão estranha, mas engraçada.

— Não. Por quê?

— De onde eu estava vindo pensei que estavam brigando — riu enquanto puxava uma cadeira para se sentar com a gente.

— Eu e minha namorada brigando? — Jeongguk riu. — Nunca.

— É, nunca — afirmei e Jin franziu o cenho.

— Tá bom, então... vocês são péssimos mentindo — riu e eu engoli em seco. — Jeongguk com esse temperamento briga até com uma mosca. 

Pude soltar um suspiro aliviado e sorri também. Por um momento pensei que Jin poderia ter descoberto tudo,  mas graças a boa e falecida Marie Currie eu sou uma atriz melhor do que pensei. Zendaya que se cuide.

— Quem está pagando? — o mais velho apontou para os sorvetes.

— Jeongguk.

— Ótimo, vou pegar um para mim também.

— Ei, eu não vou pagar nada para você! — Gritou, mas já era tarde demais.