História A miragem de um Deus - O Homem Que Poderia Quebrar O Mundo

- Ele poderia ter quebrado este mundo ao meio! - expliquei, olhando para Mathilda, minha sobrinha de dezesseis anos - Mas ele não fez, em nenhum momento. Ele é mais humano do que todos nós, esse é o legado que ele trás. Ele é mais humano, ele pode sangrar, ele pode sentir, ele é bom.

Olhei para as massantes plantações de girassóis. Meu tio provavelmente não se orgulharia de vê-las tão esquecidas por Mathilda. Seus olhos, embora retratassem um brilho diferente, eu sabia que na realidade era um meio de mascarar o luto.

Mathilda Lane era a garotinha mais forte que já conheci, e mesmo que não fosse, ainda a consideraria assim. Eu não sei ao certo o que faria com ela, mas sabia que teria que deixá-la viver comigo.

- Eu pedi para que publicassem sua carta no Planeta Diário, você viu? - indaguei, pegando um jornal do mesmo nome e entregando a ela.

Mathilda esbugalhou os olhos ao ver seu nome no rodapé inicial. Ela sorriu enquanto nos balançava na cadeira de madeira frente a grande plantação.

A casa estava mais silenciosa, e mesmo que eu soubesse que minha prima tivesse passado a tarde inteira limpando cada cômodo com produtos de limpeza com essência de romã, ainda se podia sentir, ao respirar fundo, o aroma ferroso que tio Dam trazia consigo das minas.

- Será que ele vai ler, Lois? - indagou, olhando para o céu assim que pousou o jornal nas pernas desnudas pelo vestido azul - Digo, ele vai ter tempo? Soube que ele estava sendo caçado… bem, quem não caçaria um alienígena…? Deus, quero dizer Deus!

Sorri, tocando em uma das duas tranças ruivas que partiam seu cabelo ao meio.

- Porque se corrigir? Não precisa mais disso…

- Não, eu quero. Preciso. Papai gostaria de me ouvir corrigindo essas palavras… Zod está morto… tudo vai ficar bem agora, não é mesmo?

- Não se pode ter certeza quando as coisas vão ficar melhores, mas espero que fique, por nós… É necessário.

Peguei a pequena mala de couro artificial ao lado do banco e me levantei, segurando firme a mão de Mathilda, deixando com que o jornal caísse no chão.

- Como é o seu apartamento?

- Grande.

- Clark vai gostar de me ter lá?

- Clark é uma amor.

- Eu não duvido. É bonito… será que ele tem um irmão? Ou um primo!? Não que isso importe… Mas a linhagem dele deveria seguir por anos… Ele é tão lindo! - suspirou.

Rindo, empurrei-a um pouco para o lado antes de agarrá-la para perto de mim e caminharmos até o táxi que nos esperava.

Assim que entramos no carro, a paisagem interiorizada me lembrou do momento em que cheguei a pequena Smallville… e lá estava a casa típica de uma vivência distinta e uma família diferenciada de todas as demais.

As rodas nos levaram para longe, para uma estrada asfaltada, bordada por paisagens rurais, neutras… com partes destruídas pela luta que houve a anos atrás e que ainda não foram capazes de se recuperar.

Mathilda olhava fixamente para o céu.

- Quando que ele vai aparecer?

- Quando alguém estiver em apuros.

- Ah! Acho que não - ela apontou para o céu, maravilhada, sendo surpreendida pela capa vermelha que envolvia o corpo azul do kryptoniano - Ele veio para vigiar - sussurrou.

Parte do Superman era coberto pelo sol, dando muitas vezes, a expressão de que seu traje fosse totalmente negro.

Era um outro Superman, um outro homem de aço. Eu não podia dizer ao certo.

Como poderia dizer a Mathilda que Clark Kent morreu e o Superman também? Como posso dizer que surgiu um homem idêntico a ele vestido de preto? Como posso dizer a ela que sua esperança e falta de informação fez com que eu inventasse uma mentira?