Pela manhã, já se ouvia pelos corredores o sapateado dos calçados das empregadas e a governanta Emily. Elas levavam consigo as toalhas de algodão egípcio e uma bacia banhada a ouro uruguaio diretamente para o quarto do herdeiro do trono.
- Vossa alteza, o sol já está raiando no horizonte. Está um dia maravilhoso para se desperdiçar em cima de uma cama.
O corpo de Toni que estava enrolado nos lençóis de cashmere deu um pinote e já se colocava de pé em frente ao espelho. A empregada de aparência quadragenária, magra e pálida colocou a bacia com água e observou o reflexo de Toni, as mãos macias ajeitavam o topete louro e retiravam os resquício da noite passada.
- A senhora tem razão! Marco já se encontra na sala de chá?.
A mulher que possuía a habilidade de anos, já tinha arrumado a cama e se preparava para trocar as toalhas.
- Sim, vossa Alteza. Ele saiu de seu quarto já com a roupa de equitação e foi direto para a sala de chá, disse com aquela voz persuasiva e doce que só ele tem “ Emily, a senhora poderia me fazer o favor de chamar Toni ”.
Ela balançava a cabeça de um lado para o outro relembrando do rosto do querido Marco enquanto Toni colocava as botas de couro. Kroos passou correndo pelos 14 quartos até chegar à sala de chá antes disso deu uma conferida nas redondezas para se certificar que ninguém ouviria o caso com Edita.
- Meu querido irmão e amigo, Marco!
Eles se saudavam como se não tivessem se visto nas horas anteriores.
- Demorou muito para acordar Toni. Mire atenciosamente esse sol, já me certifiquei com John sobre os cavalos e eles estão prontos para serem usados. - Disse sentando-se.
- Louise, quero um chá preto com leite, classic British por favor. - Toni murmurou para a sommelier de chá, uma espécie de profissional da bebida.
- O mesmo Louise - Marco retrucou ajeitando a camisa de linho.
- Marco, você viu onde mamãe se metera? Não a vi enquanto vinha para a sala de chá. Anda tão ocupada com seus botões se é que me entende. - A empregada interrompeu a afirmação colocando a mesa rapidamente e voltando para o outro cômodo.
- Certamente está com a estilista dinamarquesa que contratou, provando chapéus e mais vestidos rodados. - Marco falou revirando os olhos.
- Ela vem fazendo isso a semana toda, indago-te meu irmão: terá algum evento de tão importante que vem a tirando o sono e o descanso? - Toni sacudiu a colher na xícara ornamentada de cristais e bebericou o que sobrava de seu chá.
- O mesmo Toni de sempre…! Amanhã é a corrida de cavalos de Ascot, preparei nossos cavalos para treinar antes do show de verdade começar. Viajaremos hoje até o condado de Berkshire para os dias de festival.
Toni não sabia encontrar expressão para adequada à situação, a insegurança pairava sob sua cabeça novamente. Como seria um rei sem responsabilidades.
- Não fique assim Toni, a agenda é algo que não podemos gravar cem por cento, com o tempo e com auxílio você não se esquecerá. Agora se ainda quiser ficar com essa feição de decepção e não aproveitar o tempo, é sua escolha.
Marco sabia acalmar assim como ser rude como um animal, ele deu um pulo da mesa e no outro instante já estava no corredor à caminho do quintal. Toni agradeceu Louise rapidamente e o seguiu.
O sol realmente dava um ar de verão e mudava completamente a visão das noites chuvosas. Dois empregados ajeitavam a cela de couro para que quando Toni chegasse tudo já estivesse nos conformes. Os grandes cavalos puro sangue inglês, já desfilavam ao redor da cerca mostrando sua graciosidade , assim que Toni se aproximou seu animal de estimação preferido, Lush, dera um salto e se animou com a presença do dono. Era calmo e dócil, Toni o ganhou quando fez cinco anos do duque de Hamptomshire.
- Vamos dar uma passeada Lush, veremos se você está no nível da corrida. - Em um minuto Toni já estava pulando o segundo obstáculo da arena. Logo atrás estava Marco, com seu cavalo que diferentemente dos outros era árabe.
- Vamos Toni, estou ansioso para saber sua opinião sobre Edita. Naquela noite foi tudo tão corrido que não pude ouvir os detalhes.. - Marco se pôs ao lado de Kroos num leve cavalgar.
- Ela é como os versos de Shakespeare…
“ Nada como o sol são os olhos da minha amada,
Sua boca não é rubra como o rubro do carmim,
Seios tão escuros, quanto a neve é esbranquiçada,
E na cabeça, fios tecem um negror que não tem fim… ”
Um sorriso maroto surgiu nos lábios de Marco.
- Vossa Alteza, devo dizer-lhe que está apaixonado! Com todas as letras e significados, apaixonado. Porém abra bem as pestanas vou descrever a criatura chamada Edita: sombria, oculta, mortal e horrivelmente desejada - Um ar doce, esperançoso e triste atingia as faces dos cavalheiros inebriando suas narinas.
Toni que já a achava belíssima, bradaria que era a criatura mais bela desse mundo, se o receio não o fizesse discreto.
- Não seja patético, não posso me apaixonar por uma cortesã. - Ele rolava os olhos mas seus pensamentos entregavam o amor.
- Gostaria de se encontrar com ela novamente? - Como imperfeito ator que em meio à cena o seu papel na indecisão recita.
- Sim Marco, mas tome cuidado com quem nos verá. Tem que ser um encontro escondido. - Kroos bateu as botas na lateral do cavalo e eles aceleraram o galope evitando que o assunto se estendesse.
Aquele sorriso pairando nos lábios finos de Marco, conhecia bem seu meio irmão e ele faria o impossível para ver Toni feliz.
- Não se preocupe, tenho meus contatos. - Como vês, Reus tinha desde sempre suas ideias atrevidas mas eram só atrevidas em si, na pratica faziam-se hábeis, sinuosas, surdas e alcançavam o fim proposto.
- Quem chegar primeiro no final do circuito sem derrubar os obstáculo ganhará uma carruagem para sí na viagem. - Os galopes aumentaram consideravelmente, em uma sincronia perfeita eles chegavam juntos. No terceiro obstáculo o cavalo árabe de Marco deu um pulo antecipado e a vitória foi concedida à Toni.
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- Roxanne! Roxanne! Onde está você?! - Edita balançava as mãos magricelas no trocador de roupas para a mãe de criação.
- Aqui docinho, as luvas de seda e a bota 7/8, você precisará das asas? - Roxanne levava as roupas rapidamente para Edita antes que Ramos perdesse a paciência e chamasse pela décima segunda vez o nome da estrela do show para o ensaio.
- O que achou? Estou parecendo um diamante suíço? - A dama saía do trocador rodopiando e balançando sua saía alegremente.
- O diamante mais caro desse mundo- A também empregada acabava de pronunciar seu elogio quando o homem de cabelos castanhos e barba a fazer apareceu na porta do camarim mais luxuoso do Moulin Rouge.
- Minha deusa, bela e imortal Edita Vilkeviciute! Suzak e sua banda esperam por você. Não use as asas, elas me custaram preciosas pérolas para serem gastas em um ensaio. - Ele metia suas mãos ágeis na cintura fina da garota que subiram até seus braços e foram parar na mandíbula de Edita. Aquela proximidade era comum de ambos, essas criaturas pularam,dançaram, brincaram, que até dormiram juntos quando crianças se tratavam como irmãos.
- Vamos Ramos! - Deram as mãos e correram até o palco principal do bordel. Suzak, o suíço de branco já não tinha nada, estava furioso com a demora de Edita, as outras dançarinas, exceto sua mais nova colega, Magdalena, estavam cochichando sobre o atraso.
- Suzak! Esse é um novo estilo que eu e Ramos arquitetamos, o Burlesco. Sensual e sofisticado. Coloquei pela manhã a letra das canções e treinei com Lexa as coreografias. - Era uma garota muito ágil e determinada, gostaria de arriscar todas as fichas em uma única escolha se aquela fosse sua opção.
- Tough Love, por favor.
As luzes se apagaram e as cortinas vermelhas desceram, logo um foco branco no palco foi acesso na direção de Edita. A banda era um silêncio e apenas Edita ditava as notas mais altas.
I need a though love, yeah yeah
I need a, a tough love woo
As luzes do fundo do palco íam se acendendo revelando as seis bailarinas girando loucamente seus braços.
I need a tough love woo
A coreografia começava, mãos acima, mãos abaixo. Ao cantar o último yeah Edita e as garotas davam mais um giro para caírem do palco nos braços dos parceiros, a dança junto da plateia sempre deixava o show mais emocionante. Vieram sissone, arabesque e espacates, um show que deixariam homens e mulheres embasbacados.
Ao final do ensaio, Ramos já estava com sua pergunta na ponta da língua para Edita, aquele encontro com o príncipe de Gales teria que render-lhe fama e dinheiro.
- Roxanne! Meu roupão por favor. - O frio de Londres não era páreo para as danças calorosas do Moulin Rouge, ela suava em bicas e suplicava por uma bebida.
- Não se preocupe Roxanne, já estou com o roupão de Edita e sua água lhe aguarda no meu escritório. - O coração da menina acelerou, estava esperando essa conversa desde quando chegara do encontro mas sabia que Ramos estava tentando não pressioná-la, ou pelo menos fingindo.
Ela deu aquela última olhada para Roxanne e entrou no quarto gelado do patrão.
- Sente-se, algum drink ou só água?
- Água.
Era uma garota treinada, já tinha tido essa conversa milhares de vezes, Duques, condes todos se encontravam com ela mas não compreendia a razão do seu medo.
- Edita, Edita, me fale sobre seu encontro com o príncipe! Estou curioso para saber. - Ele foi direto, curto e grosso para o seu interesse.
- É um homem de virtudes claro, mas tenho que destacar sua timidez e cavalheirismo. - Ela encheria a boca de elogios para Toni mas ela sabia que não eram aquelas palavras que Ramos queria saber.
- Certo, e sua noite meu anjo? Na cama para ser exato? - Ela engoliu em seco, todos que entraram na bomboniere não saíam sem sua lasca de Edita mas também deixavam fortunas para ela.
- Não nos deitamos, ele é um homem reservado, trocamos poucas palavras mas foi de sua preferência que não nos deitaríamos. - O espanhol ao ouvir isso perdeu as rédeas e aumentou o tom de voz
- Mas o que você está me dizendo?! Como assim não fizeram sexo? - Ele se levantou da cadeira e foi até as janelas.
- Será que foi a sua opção de vestido? Ou já viu mulheres mais atraentes? - Edita sentiu seu âmago doer, a dúvida junta da insegurança de Ramos a machucaram. A mesma pergunta se fez naquela noite, mas deveria ter insistido? Colocado um afrodisíaco em sua bebida?
- Tenho certeza que não, lembro bem de suas palavras ao respeito de minha beleza. Creio que é virgem e prefira ser amado e não usado. - Oh Toni, aqueles emaranhados loiros, os olhos azuis escuros penetrando a sua alma suja.
- Sim, minha querida Edita. Então faremos que caia de amores por você. - As palavras dissimuladas e ambiciosas de Ramos a levavam a pensamentos ruins sobre o futuro, ela se lembra muito bem do que sentiu ao ver o garoto em cima do palco e ainda mais de seus corpos dormindo tranquilamente no quarto da Bomboniere. Havia um misto de sentimentos, um pouco de atração mas também uma sensação nova que não sabia descrever.
- Hoje mesmo ele viajará para a corrida de Ascot, quem sabe você não esbarra no príncipe e marca um encontro?
- Seria perfeito!
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