1. Spirit Fanfics >
  2. A Seleção Sem Fim >
  3. Vera

História A Seleção Sem Fim - Vera


Escrita por: xPrimrose

Notas do Autor


Este capítulo está um pouco mais 'dramático' eu acho.
Espero que gostem e não chorem muito UUUUUUUUH
heuheuehe ;)
Capítulo bem grandinho, pra vcs einh :D

Capítulo 48 - Vera


Eu já estava perdida! Havíamos saído do jardim e entrado em uma porta num corredor vazio, depois em outra que dava para escadas mal iluminadas até chegarmos a vários corredores estreitos e escuros que cheiravam a mofo, dali em diante viramos a direita e a esquerda quinhentas vezes. Passamos pela cozinha, por portas trancadas, por salas vazias e por lavanderias. Eu já começava a ficar entediada quando Clarkson parou e apontou para uma porta a nossa direita.

- Eu vou ver se ela não se importa em receber visitas e já volto.

 Ele passou pela porta e a fechou, sem me dar a chance de espiar lá dentro. Olhei para os lados, tudo o que eu podia ver eram o papel de parede descascado e as portas de madeira se esfarelando. Olhei para traz, as lâmpadas no teto piscavam, o carpete estava puído e o lugar tinha uma aparência assustadora, não se parecia nem de longe com o resto do castelo. Como a Família Real deixava seus empregados viverem em lugares como aqueles?

 Um empregado franzino e mal encarado se aproximou e entrou em uma porta próxima, fazendo grande esforço para abri-la. Por que Clarkson estava demorando tanto? Na verdade ele provavelmente não estava demorando, mas aquele lugar estava me dando arrepios. Quer dizer, não tinha nada de mais ali, mas era como se todo o rancor que os criados sentiam da Família Real estivesse aprisionado no ar dali.

 Finalmente a porta se abriu e Clarkson fez sinal para que eu entrasse. Meio receosa passei pela porta e entrei no pequeno cômodo. A primeira coisa que senti foi o cheiro forte de mofo, tive que me segurar para não torcer o nariz. Assim como no corredor o papel de parede cinza estava desgastado, o teto antes branco estava cheio de marcas negras de mofo e rachaduras. O piso era de madeira e parecia que não varriam o lugar há séculos. Na parede do fundo havia uma porta com pelo menos uns dois palmos comidos por cupins, imaginei que fosse a porta que dava para o banheiro.  Perto da porta havia uma escrivaninha e uma cadeira, um guarda roupa estava em outra parede e de frente para ele uma cama. Não havia janelas. Enfeites e cacarecos cobriam todos os mínimos pedacinhos da escrivaninha e em cima do guarda-roupa. Uma colcha rosa de cetim estava na cama junto com almofadas em forma de coração. E sentada, com uma almofada no colo estava uma senhora.

 Com a iluminação fraca pude ver seus cabelos completamente grisalhos, ela era muito magra e tinha a postura encurvada. Usava um vestido lilás de algodão e seus olhos azuis eram lacrimosos. Apesar de parecer que iria desmontar ao menor toque a senhora tinha um sorriso gentil nos lábios.

- Oi... prazer, eu sou Nick! – eu disse, meio sem saber o que dizer.

 Seu sorriso se alargou ainda mais.

- Eu sei! – Sua voz era seca, fraca e cansada, mas ao mesmo tempo gentil – Eu sou Vera. É muito bom finalmente conhecer a melhor amiga do meu menininho.

- Vera é como uma mãe para mim – Clarkson se sentou ao lado da mulher – Ela cuidou de mim desde... sempre. Eu não sei o que eu seria sem ela. Talvez fosse pior que meus pais.

- Ah você nunca seria, querido! – Vera disse de forma maternal – Você teria encontrado um jeito de ser alguém diferente. E se não encontrasse, ela poderia mudar você – ela apontou para mim.

- Eu poderia? – perguntei, insegura.

- Ah vocês não sabem o que uma amizade verdadeira é capaz de fazer... – ela parou, como se estivesse se lembrando de algo.

- Estou com fome, vocês querem algo para comer?

- Biscoitos, e chá... por favor. – Vera disse, num pingo de voz.

- O mesmo pra mim. – respondi, segurando o riso. Clarkson, um príncipe estava perguntando o que eu queria comer.

 Assim que Clarkson passou pela porta eu pude ouvir as tosses. Olhei para traz e vi Vera se contraindo na cama, ela tossia com toda a força que tinha e logo eu pude ver o sangue na mão que ela cobria a boca.

- CLARKSON! – gritei, mas não era preciso. Em um segundo ele já estava ao lado de Vera tentando auxilia-la.

 Os olhos da senhora se esbugalharam. Ela empalideceu ainda mais, parecia tentar dizer algo, mas não conseguia.

- Chame alguém! – Clarkson disse, praticamente gritando – Rápido!

 Sai correndo do quarto, comecei a virar em um corredor e em outro, eu não sabia para onde estava indo ou onde estava. Mas eu corria com toda a minha força tentando achar qualquer pessoa que pudesse me ajudar, de alguma forma consegui chegar na cozinha.

- Socorro! – eu disse, a voz falhando enquanto eu tentava recuperar o ar – Alguém... Vera... está passando mal. Precisamos de um médico ou alguém que possa nos ajudar, por favor! – eu não sabia quando, mas tinha começado a chorar.

 O movimento da cozinha havia parado para ouvir o que eu tinha para dizer, e então todos começaram a se mover ao mesmo tempo, uns subindo escadas que eu nem tinha reparado enquanto diziam que iam chamar o médico, outros me empurrando e passando para o corredor indo na direção do quarto de Vera.

 Eu não sabia o que fazer, devia ir procurar um médico também? Ou devia voltar para o quarto de Vera? Decidi ir procurar pelo médico, se os empregados não o encontrassem logo eu não poderia fazer nada para ajudar.

 Subi as escadas sem saber aonde elas me levariam, mas não hesitei. Acabei saindo em uma das salas próximas do Grande Salão. Comecei a correr pelo primeiro andar, tentando me lembrar onde a enfermaria ficava. Parei um minuto, tentando me lembrar em qual caminho seguir. Depois de um tempo optei para ir pro corredor da direita e voltei a correr.  Meu coração batia rápido, minhas pernas protestavam. Eu poderia parar a qualquer momento, vencida pelo cansaço. Isso se a imagem de Vera agonizando não estivesse gravada em minha mente. Praguejei, o castelo precisava ser tão grande assim?

 Um segundo de distração e eu trombei em alguém, cai no chão.

- Olhe por onde anda! – eu disse, frustrada.

- Repita isso! – a voz que me respondeu era grave e imponente, imaginei quem era antes mesmo de olhar para o rosto: Rei Porter.

 Eu não sabia o que fazer, tinha que correr para a enfermaria, mas não podia agir daquela forma com o Rei. Me levantei.

- Desculpe Vossa Majestade, mas estou apressada, há uma criada passando mal. Realmente preciso encontrar a enfermaria, então se o senhor me der licença...

- Não invente desculpas, mocinha! O que acha de eu aplicar uma punição pra você por ter feito isso? – ele parecia furioso, mas na minha opinião eu só tinha esbarrado nele, não era nada de mais.

- Não é desculpa, tem realmente uma pessoa passando mal! – eu disse batendo o pé, ansiosa, frustrada e começando a ficar irritada.

Ele apontou para o meu pé.

- É assim que você se porta diante do Rei?

 Cada centímetro do meu corpo começou a tremer, ele estava escutando o que eu estava dizendo? Estava mais preocupado com o meu pé do que uma pessoa quase morrendo. Ele era mesmo o Rei? Porque sinceramente ele falava como uma criança.

- Você quer me punir Vossa Majestade? Faça isso então; deixe um bilhetinho no quarto da Nickolly Hastings dizendo qual minha punição, mas eu realmente tenho que ir agora. Então se não se importa eu vou ajudar a salvar a vida de alguém.

 Sai correndo, sem esperar resposta ou minha sentença de morte. Sabia que tinha ido longe de mais, mas eu não estava pensando direito. Virei mais alguns corredores e finalmente cheguei na enfermaria. O lugar estava silencioso, Nana, a enfermeira arrumava alguns lençóis nas camas enquanto Rick, um dos médicos estava sentado na frente de uma escrivaninha no fim do longo cômodo.

- Tem alguém passando mal nos aposentos dos criados, eu preciso de ajuda! – falei, meio gritando.

- Alguém? Quem? – a enfermeira veio correndo em minha direção, enquanto Rick se levantou vagarosamente de sua cadeira.

- Vera! Ela é uma das criadas, eu acho... Não sei direito. Ela já tem uma idade avançada. Começou a tossir e sair sangue, ficou pálida. Está muito mal, o Príncipe Clarkson está lá com ela, mas precisa de ajuda! Por favor... – voltei a chorar, o desespero tomando conta de mim. Fazia quanto tempo que havia saído do quarto de Vera? E quanto tempo demoraria até o médico chegar até lá de novo e traze-la para a enfermaria?  Será que ela aguentaria?

 Rick ainda estava mexendo em sua mesa, falando em um aparelho preto. Depois correu em nossa direção.

- Vamos logo! – ele disse e já saiu da enfermaria.

 Nana e eu o seguimos. No meio do corredor encontramos os outros criados que nos mostraram o caminho para o quarto de Vera. Ninguém falou nada no caminho, mas todos corriam juntos. Ninguém parecia se importar com a possibilidade de encontrar alguém da Família Real no caminho.

 

Rick e Nana não deixaram ninguém entrar dentro do quarto, mas antes que fechassem a porta eu pude ver um relance de Vera, ela parecia mal, ainda pior. Não estava tossindo, mas parecia fraca de mais até mesmo para respirar. Senti Clarkson me abraçar, ele havia sido expulso de lá de dentro e chorava, parecia não estar ligando que os criados o vissem daquela forma. Retribui o abraço.

- Ela vai ficar bem! – eu disse, mas não tinha muita certeza disso.

- Ela vai, não vai? Sem chance de ela morrer agora não é? – ele perguntou entre soluços – Ela sempre teve a saúde frágil, e trabalhar no palácio fez com que ela se desgastasse ainda mais. Mas ultimamente ela tem estado pior. Se algo acontecer com ela Nick, se algo acontecer...

- Não vai acontecer, não vai! – tentei conforta-lo com a voz mais doce que consegui.

 Dois enfermeiros chegaram abrindo espaço no corredor, outros vieram atrás com uma maca.

***

 - Ela vai ficar bem, só precisa descansar um pouco. – Rick disse finalmente, depois de duas horas de exames, medicamentos, soro e tudo o mais que foi necessário.

 Parecia que tinham tirado duas toneladas dos ombros de Clarkson, só então ele ficou mais calmo.

- Por enquanto vamos deixa-la na enfermaria, em observação, mas é mais uma precaução. – ele continuou. - E também ela não pode mais trabalhar. Na verdade já devia ter parado há algum tempo.

- Garanto que ela não irá mais! – Clarkson concordou.

- Se quiserem falar com ela, aproveitem que ela está acordada. – O médico apontou para a senhora, depois fez uma reverência para Clarkson e saiu.

- Eu preciso falar com meu pai, você pode fazer companhia para ela enquanto eu faço isso? Garanto que vai ser rápido.

- Claro, Clarkson. – eu disse me lembrando de que logo eu também teria que conversar com o Rei.

 Entrei na enfermaria e me aproximei da cama de Vera. Ela continuava pálida, seu peito subia e descia lentamente enquanto ela respirava. Eu poderia achar que ela estava dormindo se seus olhos não estivessem tão fixos em mim.

- Você se sente melhor? – perguntei calmamente.

- Nick – ela estendeu a mão e segurou a minha, pude sentir seus ossos por baixo da pele. Sua voz estava áspera e frágil, mas ainda assim tranquila – não vou dizer que estou bem, porque sei que estou fraca. Desde criança minha saúde é frágil – ela tossiu fortemente e eu quase me afastei para chamar alguém, mas ela apertou mais a minha mão e fez sinal de que estava bem – e agora estou ficando velha, tudo está piorando. Não importa que o médico disse que eu só preciso descansar, eu sinto que não tenho muito tempo de vida. – seus olhos se tornaram lacrimosos – Quando eu me for, você cuidara do meu menino para mim? Você vai ajuda-lo a se tornar uma pessoa melhor? E não vai abandona-lo mesmo que a Seleção acabe?

- Vera eu... – eu não sabia o que dizer, o que fazer, nem nada. As lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos.

- Ele não tem mais ninguém. Por favor, me prometa que vai ficar ao lado dele!

- Eu... eu prometo! – prometi quase sem perceber o que estava fazendo, eu só queria que Vera ficasse tranquila, não achava que ela morreria logo, não depois de o médico dizer que ela estava bem, mas ela parecia tão fraca...

 Um sorriso fraco iluminou seu rosto. Era fácil entender porque Clarkson gostava tanto dela.

- Não... não conte a ele que estou tão mal assim.

- Não contarei.

- Ah, mas os vestidos que suas criadas fazem são tão lindos! Mesmo assim farei um especialmente pra você. – ela disse animadamente.

 Não entendi a mudança repentina de assunto até Clarkson estar ao meu lado. Ele havia voltado tão rápido.

- Meu pai está ocupado, como sempre. – ele disse de forma casual, mas eu consegui captar a magoa por traz das palavras.

 Lhe dirigi um sorriso, mas encarar Clarkson foi um erro, havia lágrimas alojadas em meu rosto e meus olhos provavelmente estavam vermelhos e inchados.

- Você estava chorando? – ele alternava em olhar para mim e para Vera freneticamente.

- De felicidade – menti – por Vera estar bem melhor!


Notas Finais


Gostaram? Comentem ;)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...