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História A tal Heather - Jaqueta


Escrita por: Koorin

Notas do Autor


OI GENTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!
Bem, prometo que não vou me estender muito aqui! Quero agradecer a todos vocês pelos comentários lindos, eu simplesmente amo ver todas as teorias e surtos de vocês, eu surto juntooooo!! MUITO OBRIGADA POR TODO AMOR APOIO E CARINHOOOOOOOOOOOOOOO
ESPERO QUE SOFRAM BASTANTE NO CAPÍTULO DE HOJE 😍😍😍😍😍 amo vcs
Não esqueçam de me seguir no Twitter @KoorinRio, lá tô postando tudo sobre o projeto de transformar essa fanfic em uma webcomic autoral! <333333333
ESSA É A PRIMEIRA NOTA SUPER CURTA Q EU FAÇO KKKKKKKKKKKKK espero que gostem do cap, eu tô EXTREMAMENTE ansiosa pelos comentários de vocês!!
BOA LEITURAAAAAAAAAAAA

obs.: a capa do capítulo é uma fanart linda feita especialmente para este cap de A tal Heather que recebi da @isadesenhista122 <3 MUITO OBRIGADA PELO CARINHOOOOOOOOOOOO

Capítulo 7 - Jaqueta


Fanfic / Fanfiction A tal Heather - Jaqueta

— Isso... i-isso é... — As palavras se enrolaram na ponta da minha língua enquanto meus olhos arregalados fitavam os seus.

Os seus olhos, tão brilhantes e felizes.

Tão diferentes dos meus.

— B-bem... isso é... é... — Engoli em seco diante do seu olhar carregado de expectativa, provavelmente esperando pelas felicitações que eu não seria capaz de dar nem se ao menos quisesse. De repente, me senti nervoso por não conseguir pensar numa resposta que uma pessoa sem sentimentos pelo seu melhor amigo teria.

A garota lançava um olhar radiante em minha direção, que com certeza refletia bem a noite que os dois tiveram.

E eu temia que os meus olhos refletissem a noite que eu tive.

Entretanto, notei que ela estava feliz demais para notar qualquer traço de tristeza no meu rosto. Seu sorriso era tão largo que rasgava as bochechas grandes. E tudo o que pude fazer, por fim, foi abrir um sorriso quase morto, enquanto meus ombros murchavam.

Cheguei a um ponto em que, por mais que eu ainda quisesse continuar fingindo, eu não tinha mais forças para isso.

— Isso é... ótimo, Uraraka. — Mas o tom da minha voz não era de quem achava ótimo.

— Não é? — Ela juntou as mãos e, sufocando gritinhos de animação, deu alguns pulinhos eufóricos. Eu estava tão... perdido, que não pude fingir nada. Não pude fingir qualquer emoção ou alegria por ela. Eu apenas... estava a encarando, paralisado, pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo, perdido no abismo que habitava em mim mesmo. — Isso não é ótimo, é maravilhoso! Eu ainda tô sem acreditar!!

Nós tivemos nossa primeira vez ontem. Isso ecoava tão insistentemente dentro e fora da minha cabeça que eu não podia ver mais nada além disso, eu podia sentir a enxaqueca se aproximando. A frase, que ganhara vida e forma, voava ao redor da garota; a garota que é tão o oposto de mim. Tão bela, feliz, realizada, desejada e admirada de todas as formas — por garotos, garotas, amigos, amigas, professores e por todos a sua volta... e também pela pessoa por quem todos gostariam de ser desejados e admirados.

Nem dava para acreditar que uma garota assim estava simplesmente a poucos passos de distância de mim, sorrindo para mim, olhando para mim, como se eu fosse alguém minimamente semelhante a ela, de alguma forma.

Eu queria poder dizer que não sinto inveja. Que ela é diferente de mim e que está tudo bem assim, porque todos têm a sua vida, sua personalidade e suas escolhas.

Mas por que parece que ela recebeu tudo que é bom e não me restou nada?

Ela não só tem o relacionamento dos sonhos que qualquer um mataria para ter, mas também tem amigos e uma vida. Sim, vida. Porque não sei se posso chamar o que eu tenho de vida.

Ela tem tudo. Eu não queria tudo, eu nunca quis. Eu não preciso de tudo.

E sei que querer Kacchan é pedir muito. Uma pessoa como eu, desejar alguém como ele, é como uma estrela tentando fazer com que seu brilho chegue até a Terra, porém, quando chegar, esta estrela já estará morta.

É por isso que este é um desejo que sei não pode se tornar real. É apenas um sonho.

Então, tudo o que eu queria, ao menos, é o que todo adolescente pode ter.

Mas por que parece que só eu não posso ter?

Por que comigo é tão diferente? Será que eu sou tão sem graça assim? Eu não tenho uma personalidade minimamente agradável? Será que as pessoas me interpretam errado? Será que, sem perceber, eu passo uma impressão ruim de mim mesmo? Ou eu só não me encaixo nesse mundo? Não que eu me ache tão especial a ponto de ser um alienígena, mas...

Talvez eu queira mais do que eu mereça, simplesmente.

— Eu tô tão... meu Deus, é até difícil de falar. Foi tão incrível! Eu tô até agora sem acreditar. Ele foi tão, mas tão carinhoso comigo... não que ele naturalmente já não seja, mas fiquei absolutamente derretida com toda a atenção e o cuidado dele. E foi totalmente inesperado, sabe? — E ela começou a tagarelar, sorrindo sem parar. Não preciso nem dizer que o sorriso dela ia de orelha a orelha, rasgando as bochechas coradas. O sorriso de uma pessoa apaixonada e que sabe que é recíproco. Eu conheço bem esse sorriso, porque era o sorriso que eu sempre dava em meus sonhos. Meu coração batia forte e eu me sentia mal por confirmar que talvez eu realmente seja uma pessoa ruim, porque a felicidade dela me fazia querer vomitar. — Quero dizer, o Kat estava meio distante ultimamente, pensei até que ele pudesse ter perdido o interesse em mim, mas, pelo visto, acho que ele só tava meio assim por causa de toda aquela situação entre você e o Kirishima. Enfim, eram só as paranoias da minha cabeça falando, porque tá tudo bem agora... quero dizer, mais do que bem! — Soltou uma risadinha. Meu estômago embrulhou. — Nossa, ele quase não me deixou levantar da cama hoje de manhã e—

Informação demais.

— Uraraka, eu... — Apertei os olhos com força para espantar a tontura. — Foi mal, mas... eu tenho aula agora.

— Ah, claro. Tudo bem. Vai lá! — Sorriu lindamente, sua mão se aproximando para afagar meu ombro com gentileza. A mesma mão que certamente passou por todos os espaços e cantos do corpo dele. — Só... — Tombou a cabeça pro lado, e eu sabia que ela pediria alguma coisa. — Não conte nada ao Kat, ok? — Deu um sorriso tímido, os olhos grandes e meigos me fitando. — Não quero que ele pense que eu tô espalhando nossas intimidades por aí, sabe como é, né?

— C-claro... — Não hesitei em responder, assentindo com a cabeça igual um robozinho.

— Não vai contar?

Porque não é como se eu quisesse ouvi-lo falar sobre isso, também.

Já passei da época em que eu queria saber de tudo.

Agora, eu prefiro ficar no escuro.

Não tenho mais saúde mental para ser curioso.

— Não vou.

— Promete?

— Prometo.

Ela abriu um sorriso ainda maior.

— Você é demais, Deku. — Lançou uma piscadela para mim. — Valeu, até mais! — E foi embora saltitando, me deixando para trás, paralisado e atônito no meio do corredor.

No meio do corredor, eu era cercado pelos alunos que andavam de um lado para o outro, todos fofocando de todos e conversando sobre como suas vidas eram perfeitas e de como estavam super nervosos para as provas do dia seguinte.

Estático ali, cercado por toda aquela energia caótica, eu não sabia se todos de repente ficaram rápidos demais ou se era eu que me via em câmera lenta.

Minha boca deixou escapar um suspiro pesaroso, meus olhos assistindo quando Uraraka de repente esbarrou com as amigas, todas felizes como se já soubessem de tudo que ela acabara de me contar, antes das quatro sumirem na curva do corredor.

E eu não conseguia parar de pensar.

Pensar que, mesmo depois de tudo o que aconteceu, mesmo depois daquela briga horrorosa, da punição injusta do diretor, da cena ridícula que nós dois protagonizamos nos fundos da escola e... do beijo...

Mesmo depois de tudo isso, Katsuki se sentiu bem o suficiente para foder com ela.

Acho que foi a solução que ele encontrou para tirar dos ombros todo o peso das coisas ruins daquele dia.

Para substituir o meu beijo pelo beijo dela.

Porque não significou nada para ele, como ele mesmo disse.

Ele trepou com a Uraraka a noite toda. Estava tão animado que não queria nem deixá-la levantar da cama de manhã.

E eu fui chorar por ele, abraçado a minha mãe como uma criança com medo dos trovões.

Apertei os lábios, engolindo o bolo na garganta.

É por isso que eu mereço tão pouco.

Porque sou digno de pena.

Como Kirishima disse.

E Katsuki não está errado, de forma alguma. Não é como se ele me devesse nada...

Mas não consigo tirar esse gosto amargo da garganta. É absurdo, porque... sinto como se...

Sinto como se eu tivesse sido traído, e eu sei! Sei que isso não faz caralho de sentido nenhum, eu sei! Me sinto até ridículo por estar dizendo isso, mas é verdade. Sinto vontade de socá-lo porque... é como se... bem lá no fundo, eu...

Mesmo que ele tenha dito que não significou nada, mesmo que ele me veja como um irmão...

Eu ainda esperava que, lá no fundo, bem lá no fundo mesmo, aquele beijo tivesse feito o coração dele acelerar só um pouquinho, nem que fosse só por puro nervosismo. Eu queria que aquele beijo tivesse mexido com ele o suficiente para fazê-lo pensar nisso o dia inteiro – o dia inteiro talvez seja pedir demais, acho que só durante o banho tá de bom tamanho –, nem que fosse para pensar coisas como meu Deus, como isso foi acontecer?

Mas eu já devia saber. Eu já devia estar acostumado.

Como sempre, minhas expectativas foram altas demais.

Por que ainda me surpreendo?

Então, eu realmente sou insignificante a esse ponto.

Insignificante para Kacchan, insignificante para Kirishima...

Nossa.

Será que existe alguém que olharia para mim de verdade? Alguém que perderia o sono só por me beijar?

Se você estiver aí em algum lugar, por favor... só...

Apareça.

Por favor.

Eu cansei de esperar por você.

Não sei se posso esperar mais.

— Vocês viram o que aconteceu ontem?

Aquelas palavras distantes me fizeram despertar do transe.

Você não ficou sabendo? O Izuku quis se vingar do Katsuki por ter sido trocado e foi dar pra um dos melhores amigos dele. Ridículo, né? Sempre soube que esse garoto era uma puta da pior espécie.

Senti como se uma mão estivesse em volta do meu pulmão, apertando-o entre os dedos, esmagando-o. Respirar nunca foi tão doloroso quanto naquele momento.

Olhei ao redor.

E todas, absolutamente todas as pessoas naquele corredor lotado, me encaravam de cima, com olhos de urubu. Não disfarçavam, nem ao menos fingiam. Eu era um alvo, um cordeiro cercado pelos leões. Se o mundo fosse um lugar sem lei, eu definitivamente seria morto naquela hora. E eles não sentiriam remorso.

Me arrepiei da cabeça aos pés e, instintivamente, meu corpo se encolheu, meus pés indo para trás devagar, em puro reflexo, porque meu cérebro entendia que aquela era uma situação de perigo.

Todas aquelas pessoas queriam me atingir. Elas me olhavam como se eu fosse uma praga. Eu poderia me virar, correr até a esquina e me jogar na frente de um carro, e eles não ligariam. Tirariam fotos do meu corpo espatifado sobre o chão. Sorririam e, por fim, esqueceriam. Não se lembrariam da minha morte no dia seguinte, porque não sou relevante a esse ponto. Quando as manchetes sobre um adolescente de dezessete anos que misteriosamente se matou sem motivo aparente passassem nos jornais, eles assistiriam como se não me conhecessem, ou apenas trocariam de canal – porque nenhum deles gostaria de lembrar que um dia eu existi.

E através daqueles olhares eu sentia tudo isso.

Eles queriam me fazer exatamente desse jeito: acuado, ameaçado e com medo.

Queriam me fazer sentir na pele.

Queriam que eu soubesse o meu lugar.

O meu lugar, logo abaixo dos pés deles.

Meu Deus, que nojo desse moleque. Será que ele não se olha no espelho? Dá vontade de vomitar só de olhar pra ele, né?

Como ele pôde ser tão baixo? Não duvido que já tenha tentado dar pra metade do time de basquete, mas óbvio que ninguém quer resto.

Kirishima é tão bondoso, né? Tinha que ganhar um prêmio pela caridade.

Kirishima fez foi um favor pra ele e em troca foi espancado, a vida não é justa mesmo.

O burburinho começou, eu nem ao menos conseguia detectar de quem as vozes. Eram tantas ao mesmo tempo, uma se sobressaindo a outra e meu cérebro não era capaz de acompanhar. Eram só um monte de palavras que embaralhavam minha cabeça e me faziam perder a visão, eu estava tonto e não tinha ninguém para me segurar, apenas para me derrubar. Eu tentava manter as pálpebras abertas e não deixar a tontura me dominar, porque eu sabia que, caso eu perdesse o resquício de força nas pernas e desmaiasse, eu não seria mais encontrado. Minha mãe me procuraria até o último dia do resto da sua vida e, ainda assim, nunca me acharia. Porque meu corpo seria tão pisoteado por todos aqueles mil pés que talvez não sobrasse nem as minhas cinzas.

Por que o Katsuki defende tanto esse menino nojento? Pelo amor de Deus, quando será que ele vai se tocar?

Kirishima foi suspenso por falar a verdade, não se pode ter mais liberdade de expressão agora?

Francamente, se esse menino quer tanto ser a putinha do colégio, não pode reclamar se for estuprado depois.

Tá pedindo pra ser estuprado e depois vai lá se fazer de coitadinho pro Katsuki, fala sério!

Se ele fosse estuprado, eu ia é agradecer.

Uma avalanche subiu rápido do fundo do meu estômago.

Corri o máximo que minhas pernas moles e trêmulas permitiam.

Correndo com o coração saindo pela boca, subi o que aparentou ser duzentos lances de escada, mas minha respiração estava tão desregulada e minha cabeça doía tanto que eu sabia que, nesse estado, eu não pude subir mais do que três lances.

E, quando finalmente me vi sozinho no meio da escada, me joguei para frente sem pensar, debruçando metade do meu corpo sobre o corrimão de ferro, minha cabeça pesando e fazendo meus pés saírem do chão e, então, vomitei tudo o que havia dentro de mim.

Um frio avassalador percorreu meu corpo, arrepiando cada micro pelo. A pressão caiu. Eu estava zonzo e nada fazia sentido mais. Me senti leve como uma pena, minha mente estava em branco. Fechei os olhos quando senti a gravidade me puxando e, por um momento, aquela sensação foi libertadora.

Eu realmente queria saber como seria ser libertado.

Eu quase me permiti ir.

Eu gostei de você naquele dia e gosto ainda mais hoje.

Mas, de repente, eu abri meus olhos.

E meu coração disparou ao me lembrar...

Você é forte, Izuku. Você é forte como ninguém.

Ao me lembrar dos cabelos loiros brilhantes e dos olhos vermelhos gentis...

Sabe por que eu sou forte, Izuku? Porque eu tenho você.

E meus pés voltaram ao chão ao me lembrar.

Ao me lembrar dos cabelos loiros e dos olhos vermelhos...

Que já me fizeram tanto chorar, tanto lamentar...

Mas que, agora, me deram força para ficar.

Segurando aquela barra de ferro com dedos trêmulos, deixei meu corpo cair de joelhos sobre o piso frio, um soluço alto rompendo a minha garganta e ecoando pelas paredes vazias.

Obrigado, Kacchan.

Eu ainda não acho que eu seja essa pessoa forte que você tanto diz, mas...

Eu vou me esforçar para ser, para não decepcionar você.

Então...

Obrigado por me fazer ficar.

 

~*~

 

Quando o sinal do início do primeiro tempo foi acionado e eu já não ouvia mais o barulho distante de risos e vozes pelos corredores, eu peguei minha mochila e, secando meus olhos, joguei minha mochila sobre os ombros e apertei o passo, descendo as escadas rapidamente.

Eu não ficaria naquela escola nem por mais um segundo.

Eu não tinha motivos para ficar.

E, na verdade, essa minha decisão não tinha nada a ver com Kacchan. No início, o que me fez querer mudar de colégio foi, sim, o Kacchan. Porque o que eu sinto por ele não faz bem para mim e nem para nossa amizade. Porém, independente dele, eu não posso mais suportar esse lugar tão carregado de coisas ruins. Essas pessoas tão... tão diferentes de mim.

Parando para pensar agora, eu não consigo me recordar de sequer um momento bom que essa escola me proporcionou. A única coisa boa que ela me deu foi conhecer Kacchan. E talvez os minutos que pude aproveitar sozinho na sala de artes, único lugar que eu podia relaxar os ombros porque sabia que ninguém estava me observando – mas ainda estava longe de ser definido como felicidade.

Quando eu passava meus intervalos lá com Kacchan...

Aquilo, sim, era felicidade.

Eu desejava que momentos assim fossem eternos.

Mas, agora, eu estou indo embora desse lugar.

E Kacchan vai ficar.

Não teremos mais uma sala de artes para ficar juntos.

Por mais que meu coração já doesse em nome de uma saudade que ainda viria, eu sabia que não havia outro jeito.

Dói.

Mas é melhor assim.

Porque... se não for assim...

Se eu continuar nessa escola...

Diferente de hoje, talvez aquela cena da escada não tenha um final feliz.

Eu demorei muito para aceitar que eu não devo suportar aquilo que é insuportável. Quando olho para trás, penso que, qualquer um no meu lugar, já teria ido embora há muito tempo.

Você é forte como ninguém. Esses escrotos aí não aguentariam meia barra do que cê aguenta todos os dias.

Mas eu suportei. Suportei porque eu achei que, se eu fosse embora, isso me tornaria fraco.

E, principalmente, eu suportei por sua causa, Kacchan. Mesmo que você nunca tivesse me pedido para suportar.

Você não precisa ser o Hulk e bater em todo mundo pra ser forte. Ser forte não é isso. E ser forte não é fingir que tá tudo bem, não é levantar a cabeça e fingir que você não tá triste.

Mas, agora, isso vai muito além de você ou de qualquer outra coisa.

É por mim.

Tudo bem estar triste, tudo bem não querer ir à escola, tudo bem querer fugir, tudo bem querer chorar. Nada disso te torna fraco ou idiota.

Você tem razão, Kacchan.

Eu estar fugindo agora não me faz fraco ou idiota.

E, se me fizer também, não ligo mais.

Porque eu sei que sair por aqueles imensos portões para sempre é o que vai me fazer feliz.

Porque, a alegria que senti por estar caminhando – ou melhor, correndo – pelos corredores desertos em direção aos portões abertos, mesmo que as lágrimas ainda rolassem, era a sensação libertadora que eu procurava.

Ironicamente, nunca me senti tão forte na vida quanto agora.

Parece fácil, mas não é fácil tomar a decisão de dizer adeus àquilo que nos faz mal. Porque tendemos a nos acomodar, temos medo de mudar, temos medo de tomar uma atitude sobre aquilo e tudo piorar. Sempre esperamos por alguém para nos salvar, talvez porque assim seja mais confortante do que encarar a assustadora realidade de que essa responsabilidade não é de ninguém além de nossa. E não queremos encarar aquilo que nos assusta.

Esse alguém não existe. A pessoa no cavalo branco, sinto muito, mas não existe. Ela pode tentar te proteger, te dar força e ser teu guia para a saída que você tanto tenta achar...

Mas ele não pode andar até lá no seu lugar. Você tem que ir, com seus próprios pés.

Porque, a saída, só você pode encontrar.

Não me importava que as provas começassem amanhã, não me importava que estivéssemos só no meio do ano, eu nem me importava de repetir, se isso significar nunca mais olhar para aquelas pessoas.

Quando eu botasse o pé para fora daquele lugar, seria para sempre.

Eu iria, sem olhar para trás.

Eu iria, de consciência tranquila e com o coração batendo forte pela expectativa do que viria.

E não voltaria nem se me pagassem. Nem se o Papa viesse me pedir de joelhos.

Eu o contaria que nem o inferno seria tão torturante assim.

Estava tão perdido em devaneios que nem pude notar a figura que caminhava em minha direção naquele corredor já completamente deserto, isso até o meu corpo bater contra o dela.

Assustado, com medo de uma possível agressão, mantive a cabeça abaixada e desviei.

Ah, por favor, faltava tão pouco para eu finalmente ir embora...

Será que até isso é difícil?

— D-desculpe, eu não vi voc—

— Deku.

Arregalei os olhos e girei rápido para encará-lo, vendo-o com um sorriso confuso e cenho franzido.

Não sabia se me sentia aliviado por ser Kacchan ou se me desesperava pela mesma razão.

Como eu posso ir embora daqui tão facilmente agora que vi o rosto dele?

Preferia mil vezes que quem tivesse esbarrado em mim fosse um valentão homofóbico do que ele.

— Tá tudo bem? Cê tá distraidaço. — Riu. — Vai cabular a aula ou...?

Soltei um riso nervoso, desviando o olhar ao apertar a alça da minha mochila com mais força.

Porra, eu tinha que trombar justo com o Kacchan?

Fala sério. Dizer que eu tenho azar é até pegar leve demais.

Eu não queria contá-lo que decidi mudar de escola, porque eu sabia que, mesmo que ele não fosse tentar me impedir de ir, se ele me encarasse com olhos tristes, eu rapidamente fraquejaria na minha decisão.

E eu não queria fraquejar.

— Eu que te pergunto, ué. — Respondi, sem conseguir encará-los nos olhos, meu coração batia rápido. Além de tudo, também era difícil conversar com ele como se nada tivesse acontecido, como se eu não tivesse sido completamente humilhado pouco antes dele chegar. E eu definitivamente também não contaria sobre isso, porque estava cansado de ter que ser protegido por ele. O que ele poderia fazer? Iria atrás de todo mundo que disse que eu deveria ser estuprado, bateria em todos eles? E de que isso mudaria na minha vida? Só daria a eles mais motivos para falarem de mim. Eu estava cansado de ser o centro das atenções. — A aula já começou, sabia?

— Minha mãe tava com umas dificuldades pra mexer no computador, coisas de gente velha, sabe como é... — Suspirou e, apesar de não contar, eu conhecia a tia Mitsuki bem o suficiente para saber que ela não facilitou em nada para ele. E, de brinde, ele deve ter saído de casa com dor no ouvido por causa dos berros irritadiços dela – eu conseguia imaginar essa cena perfeitamente. — Aí tive que ficar ajudando e isso tudo acabou me atrasando.

Eu não parava quieto com meus olhos. Já tinha fitado os armários, o piso, o teto, as portas... e agora eu fitava meus tênis desgastados.

— Hm, saquei.

Silêncio.

Nervoso, eu pigarreei e ajeitei melhor a mochila em minhas costas, me preparando para ir e fugir do seu olhar avaliativo.

— Beleza, então. Te vejo dep—

— Você não tá bolado por causa de ontem, ou tá?

Estanquei no lugar e, dessa vez, tive que encará-lo.

Kacchan coçava a nuca com a mão enquanto a outra afundava no bolso da jaqueta preta e vermelha do time. Ele parecia um pouco sem jeito e isso me deixou confuso.

— Ontem...? — Indaguei, não entendendo o que ele queria dizer.

Se eu estava bolado por que você transou a noite toda com a sua namorada?

Sim, mas não é como se eu pudesse dizer isso.

— O beijo. — Respondeu, simplista.

Arregalei os olhos e foi a minha vez de ficar sem jeito.

Desviei o olhar.

Claro, o beijo. Claro que ele estava falando disso. É. Fazia mais sentido.

— Ah... o beijo. — Cruzei as mãos atrás do corpo, mordendo os lábios em puro nervosismo, cujo tentei disfarçar ao soltar uma risadinha. — Bem, não sei se podemos chamar aquilo de beijo, mas...

— Selinho, beijo, chame como quiser. — Por que ele de repente soou tão impaciente? — Você tá fazendo o maior esforço pra não me encarar, por isso perguntei.

— Eu? — Ri e, para provar o contrário, fui obrigado a fitá-lo de volta. — Impressão sua. Eu só... não tô me sentindo muito bem, por isso tô voltando pra casa...

— Hm.

E voltei a desviar o olhar, porque já tinha o encarado por tempo o suficiente.

Silêncio de novo.

E voltei a girar os olhos por todo o lugar, olhando para tudo, menos para ele.

— Então é isso. Tô ind—

— Tá chovendo, sabia?

— O quê?

— Lá fora. — Apontou com o dedo indicador, como se estivesse conversando com uma criança perdida. Olhei para a saída aberta e, realmente, estava chovendo. Minha nossa, como não reparei naquilo? Corei de vergonha. Acho que estou enlouquecendo. Não, é essa escola que tá me deixando louco! — Tá chovendo. — Reforçou o que já tinha dito, como se, mesmo depois de me fazer ver, duvidasse que eu tivesse de fato entendido.

— A-ah... — Engoli em seco. — C-claro que eu sei! — Exclamei em meio às risadas nervosas. — Acha que eu sou retardado? — Sim, eu sou. — Mas não tem problema, eu não me importo de pegar uma chuvin—

E o som estrondoso do trovão me fez pular no lugar.

Kacchan soltou uma risada atrás de mim.

— Entendi. Só não sei se os barcos chegam até aqui.

Ah, porra.

Bufei, revirando os olhos.

Que merda.

— Não tem problema, eu... sei lá, vou esperar a chuva acalmar. — Cruzei os braços, ainda meio de costas para ele. — Valeu, a gente se fala depois. Vai lá, não chegue mais atrasado ainda na sua aula...

Por favor, vai, era o que eu repetia dentro da minha cabeça.

Mas claro que nada acontece como eu quero. Talvez, se eu tivesse pensado por favor, fica, ele teria ido.

Tá aí, acho que esse é o meu problema. Eu tenho que começar a pensar o contrário do que eu realmente quero, talvez assim as coisas comecem a dar certo.

— Qual é, Deku... — Eu senti a sua aproximação. Apertei os lábios. — Desencana. Eu te disse que tá tudo bem. Não precisa ficar assim. Nada mudou entre a gente, tá bom? Você não tem que—

Na verdade, Kacchan, eu ter cometido o ato estúpido de te beijar é a coisa que menos me preocupa agora.

— Não tem nada a ver, Kacchan. — Soltei um riso nasalado, ainda sem encará-lo. — Eu não tô nem aí pra aquele selinho idiota. — E eu só pude verbalizar isso porque não encarava os seus olhos, mas, por algum motivo, me arrependi daquelas palavras no mesmo instante em que elas escaparam.

Silêncio outra vez.

— Tá. — Foi o que ele respondeu. — Que bom. Ótimo, então.

Nada falei.

Continuei paralisado, de braços cruzados, assistindo a chuva cair através das portas abertas.

E os segundos passaram, e eu sentia a sua presença ainda atrás de mim.

Fechei os olhos, respirando fundo.

— Vai ficar aí mesmo ou...?

— Vou. — Ele disse, ríspido. — Todo cidadão tem direito de ir e vir livremente, concorda?

Revirei os olhos. Não estava com paciência para suas piadinhas. Eu só queria ficar sozinho, porque eu estava me sentindo um lixo e era horrível ter que fingir que não. Por isso era tão difícil encará-lo.

E eu sou péssimo em fingir.

— Concordo. Então pode começar indo pra sua sala de aula livremente, concorda?

— Tá com frio?

Franzi o cenho, confuso com a pergunta aleatória.

— Hã? — Pensei que ele ia vir com mais uma de suas piadas sem graça e já estava me preparando para finalizar o assunto e ir embora.

— Seus braços. Cê tá tremendo.

— Ah... — Ao olhar para baixo, vi que meus braços, cruzados, realmente tremiam um pouco. Acho que por isso que, em reflexo a isso, eu os cruzei, a fim de me esquentar. Aquela chuva caiu muito do nada e... bem, beleza que o céu realmente tava meio nublado quando eu saí de casa, mas não pensei que fosse cair uma chuva... sem falar que odeio andar com guarda-chuva. — Ah... não, não. Impressão sua.

— Impressão minha? Eu sou esquizofrênico, então?

— Si— quero dizer, não. Eu só... ah, é só uma reação involuntária do meu corpo, mas acho que dizer que estou com frio é uma definição um pouco forte e—

Parei de falar quando um tecido grande e grosso caiu sobre meus ombros, braços e costas, quase um cobertor de tão grande que ficava em meu corpo, me fazendo me sentir ainda menor do que eu já era.

A jaqueta do time.

Eu já tinha esquecido de como era a sensação...

— Que isso? — Virei-me para encará-lo, coisa que eu estava evitando fortemente até então.

E não queria voltar a lembrar.

— Você tá com frio. — Respondeu como se fosse óbvio, os braços malhados agora expostos.

— E você não tá com frio?

Ele deu de ombros, botando as mãos dentro dos bolsos da calça jeans larga.

— Eu me viro. — Disse, me fitando com indiferença.

Apertei os lábios.

Eu tô cansado de ser tratado assim, como o garoto frágil e vulnerável. Antigamente, eu não via problema, até gostava – muito –, me sentia especial, mas agora nada disso faz sentido mais. Não é à toa que todos comentam sobre isso, é ridículo. Eu ficava nervoso só de imaginar um aluno aparecendo ali e nos flagrando naquela cena de dorama.

— Eu tô bem. — Tirei a jaqueta – talvez de um jeito brusco demais – e joguei em cima dele, que franziu o cenho fortemente. — Não quero isso.

E eu percebi que aquilo foi a gota d’água para ele quando seus olhos se tornaram opacos.

— Cara, o que eu te fiz?

— Nada.

— Então por que cê tá sendo tão estúpido comigo?!

— Eu só tô com a cabeça doendo pra caralho e agora tá caindo a porra de uma chuva, quero ir pra casa, só isso!

— Eu te dou uma carona, então.

— Não quero a porra de uma carona, vai lá perguntar se a tua namorada tá com frio e dá a merda dessa jaqueta pra ela de uma vez!

Saí pisando fundo, marchando até a saída e eu não pararia nem se tivesse caindo um dilúvio desgraçado lá fora.

Mas Katsuki, insuportável como sempre, me puxou pelo pulso.

— Que saco! O que você quer—

— Aconteceu alguma coisa?

Arregalei os olhos, surpreso com aquela pergunta calma. Eu estava esperando que ele surtasse, afinal, eu estava lhe dando todos os motivos para ficar puto e gritar comigo.

Eu o encarava, sem saber como prosseguir aquela discussão sem pé nem cabeça diante de uma pergunta daquelas.

— O quê? — Perdido, tentei puxar meu pulso de volta, meu coração quase saindo pela boca. — Claro que nã—

— Mentira. — Respondeu tão seriamente que um arrepio atravessou minha alma, seus olhos vermelhos me encarando fixamente. Continuei tentando soltar meu pulso, mas ele não deixava, por mais que não segurasse com força. — Aconteceu alguma coisa, né? Por isso que você tá indo embora desse jeito, por isso que você tá assim. Se sentindo mal é o cacete, cê mente mal pra caralho.

— Não é mentira!!

— Claro que é, acha que eu sou idiota? Por que cê tá mentindo pra mim? E me evitando assim...?

São muitos motivos para conseguir enumerar.

E era uma confusão de sentimentos tão grande dentro de mim que eu só queria gritar.

— N-não tô, eu só—

— Alguém te falou alguma coisa, né? Falaram merda pra você de novo? — De repente, ele parou, como se algo se conectasse na sua cabeça e ele tivesse se lembrado de algo. Seus olhos, subitamente, se tornaram sérios. — Ou a Uraraka falou?

Não conte nada ao Kat, ok? Não quero que ele pense que eu tô espalhando nossas intimidades por aí, sabe como é, né?

Engoli em seco.

— N-não. — Sabia que minha resposta não tinha sido convincente o bastante, então o encarei com firmeza e, tentando lhe passar confiança, reforcei: — Ela não falou nada. Por que ela diria alguma coisa? Não é como se ela tivesse algo pra me contar, né...?

E eu não entendo por que ele ficou tão sério ao me perguntar isso, como se não quisesse que a Uraraka tivesse me contado que eles transaram.

Ele já sacou que eu gosto dele, então? Sabe que esse é o tipo de informação que me afetaria?

Kacchan, ainda com os olhos fixos em mim, não disse mais nada, aparentemente sem argumentos.

Senti que seus dedos afrouxaram ao redor do meu pulso e, então, consegui me soltar.

Assim, permanecemos nos encarando, um de frente pro outro, seriamente, como se fôssemos dois leopardos prestes a brigar pela carniça – se bem que chamar a mim mesmo de leopardo é um pouco forte, uma raposa tá de bom tamanho.

— O que falaram pra você, Deku? — Ele voltou a tocar naquele assunto e isso já estava me tirando do sério. Eu não queria falar nada, não queria dizer o que aconteceu antes dele chegar e que antes disso eu já estava mal por causa do que a Uraraka me disse, muito menos queria contar que vou sair da escola para sempre, porque eu tinha medo que ele tentasse me fazer ficar de alguma forma.

— O quê? — Franzi o cenho. — Eu já disse que nã—

— Você negou sobre a Uraraka quando eu perguntei, mas não negou sobre os outros.

Merda.

— E, depois do que aconteceu ontem, claro que iam te falar alguma merda... então, anda logo, me fala. O que aconteceu? Por que cê tá indo embora desse jeito?

Enquanto eu o encarava, a ideia de lhe contar tudo e me matar de chorar soou tentadora.

Mas eu não podia. Eu não queria mais que ele fosse meu salvador, e nem que ele sentisse que devesse ser.

— Você tá triste. Eu consigo ver nos seus olhos.

Desviei o olhar, apertando o tecido da jaqueta entre meus dedos nervosos.

Kacchan, eu vou embora. Vou embora dessa escola. Não precisarei mais que você me salve. E nem precisarei mais lidar com esses seus olhos vermelhos tão bonitos, que sempre fazem meu coração acelerar.

Está tudo bem. Tudo vai se resolver.

Não se preocupe mais.

— Eu te falei. — Respondi por fim, abaixando a cabeça. — Só tô com dor de cabeça.

Silêncio outra vez.

E, dessa vez, senti que aquele era o nosso ponto final.

Ele não insistiria mais.

E eu não sabia se meu coração doía por alívio ou se...

— Entendi. Que bom que é só isso, então. — Seu tom de voz levemente irônico deixava óbvio que ele não tinha acreditado em absolutamente nada do que eu falei.

Ele estava decepcionado.

Mordi o lábio, nervoso.

— Que bom que entendeu.

Meu coração doía. Muito. Demais.

Mas eu precisava afastá-lo. Por mim, por ele. Por nós.

Vai ser melhor assim, Kacchan. Você não sabe agora, mas... talvez um dia você entenda.

— Sinto falta de quando éramos sinceros um com o outro.

Arregalei os olhos com a fala mansa, mas tão cheia de muitas coisas, que saiu da sua boca e, antes mesmo que eu tivesse tempo de levantar a cabeça para encarar seus olhos, Kacchan, tão delicadamente quanto antes – talvez até mais –, colocou sua jaqueta em volta de mim de novo.

De cenho franzido e olhos esbugalhados, encarei-o sem entender, ainda surpreso demais com aquelas suas palavras repentinas para conseguir processar mais essa nova atitude agora.

— Kacchan... o que—

Suas duas mãos, que seguravam a gola da sua jaqueta – a jaqueta que agora enfeitava o meu próprio corpo –, se firmaram ali para me puxar para perto, e eu quis morrer quando aquele solavanco que meu corpo deu para mais perto dele fez com que a primeira coisa que meus olhos captassem fosse seus lábios.

Eu sentia a sua respiração quente batendo contra meu rosto e, definitivamente, aquela era alguma cena de um dorama ruim que eu nunca gostaria de ver.

— Fica com ela. Tá frio.

— Kacc—

— Não precisa me devolver. É sua.

Meus olhos quase saltaram de órbita, sem reação.

O quê...?

Ele me deu a jaqueta dele?

— Tô indo pra aula. — E ele simplesmente virou as coisas e, em passos tranquilos, foi embora.

Foi embora, me deixando com a jaqueta vermelha e preta do time, com o número 01 e o nome Bakugou Katsuki bem grande estampado atrás.

Que porra acabou de acontecer aqui?

Como se, de alguma forma, ele soubesse que aquela era uma despedida.

Eu não queria ficar o observando se afastar como se eu fosse o personagem que fez a cagada na trama, então me virei e comecei a caminhar até a saída.

Mas eu não resisti.

Virei a cabeça, olhando sobre meus ombros.

E o vi, já quase cruzando a curva do corredor, me olhando também sobre seus ombros.

Rapidamente tornei o olhar para frente, a saliva descendo seca, arranhando minha garganta.

Fechei os olhos e respirei fundo.

Que merda do caralho.

Mas, espera, não. Sério, o que foi isso? Hã? O que acabou de acontecer? Ele não me deu sua jaqueta de verdade, certo? Certeza que estava blefando. Certeza. Ele só tentou fazer uma saída dramática.

Não é possível que ele estava falando sério.

Tipo... a jaqueta dele. Parece besteira, mas não é. É a porra da jaqueta da jaqueta dele, a jaqueta do time. Sabe o poder que uma jaqueta dessas tem na escola? Ainda mais com o nome do capitão atrás.

E ele simplesmente deu ela para mim? Para mim? Caralho, por quê? Ele tem uma namorada...

Ficar com a cabeça cheia de dúvidas assim me deixa com muita raiva.

Eu nem ao menos sei por que agi daquele jeito com ele. Na minha cabeça, fez total sentido na hora.

Mas quando eu penso sobre isso agora, eu só...

Não entendo o que aconteceu.

Bem, não é como se eu fosse tomar atitude totalmente madura e sã depois de escutar as pessoas dizendo que gostariam que eu fosse... bem, você sabe. Escutar isso de uma pessoa só já seria perturbador o suficiente, mas várias?

A ânsia veio subindo com tudo de novo.

Corri para o banheiro, me enfiei dentro de uma cabine, abri a tampa do vaso com tudo e vomitei de novo.

Havia uma pequena janelinha no banheiro, por onde eu ainda podia escutar o barulho da chuva.

Fechei os olhos e, suspirando pesado, deixei meu corpo desabar sobre o chão, recostando minhas costas contra a porta da cabine.

Eu só queria poder ir embora dessa merda de lugar logo. Será que até nisso eu tinha que tomar no meu cu?

Sentado de qualquer jeito naquele piso gelado, eu encarei a jaqueta bonita que cobria meu corpo.

Apertei-a entre meus dedos.

Eu queria tirar, não queria correr o risco de que alguém me visse daquele jeito, já imaginava o inferno que seria, mas... estava realmente frio.

Não precisa me devolver. É sua.

Eu não quero ter essa jaqueta para me lembrar de você. Para me lembrar de tudo o que você me fez sentir. Das coisas ruins... das coisas boas...

Acho que as coisas boas são a pior parte.

Porque elas que te assombram de verdade. Elas que tornam tão difícil esquecer tudo e deixar pra trás.

Apertei os lábios, meus olhos enchendo de água.

Eu vou te devolver, Kacchan.

Porque eu nunca vou usar essa jaqueta, senão vou chorar toda a vez que a vestir.

Senão eu vou chorar toda vez que eu abrir meu armário e a encontrar pendurada em um dos cabides.

Senão eu vou chorar...

Porque vou lembrar de você.

E de tudo que não podemos ser.

 

~*~*~*~

 

Uraraka

Seis anos atrás, sexto ano

 

— Ei, vocês já viram o menino novo?

Parei de copiar a matéria que a professora escrevia no quadro para encarar Keiko à minha direita.

— Hã? Quem? — Perguntei de cenho levemente franzido, a curiosidade já me causando cócegas no estômago.

— Você não sabe?! — Hina se intrometeu de repente, me assustando ao virar-se para trás tão bruscamente daquela forma. — Tá todo mundo falando dele!

— Ele é um gato! — Keiko tornou a falar, empolgada.

— Tem muita gente na escola, gente, como vou saber? — Soltei uma risada. Nossa, para elas falarem desse jeito, esse garoto devia realmente chamar a atenção. Ai, fiquei muito curiosa! Mordi a ponta do dedão, tentando me lembrar de algum garoto assim por aí. — Talvez eu já tenha visto, como ele é?

— É loiro e alto, bem diferente desses menininhos aí de meio metro—

— Ah, meu bem, se você tivesse visto, não teria esquecido, não. — Decretou Hina.

Encarei a Keiko, esperando que ele continuasse a sua descrição, mas, aparentemente, ela viu muito sentido no que a Hina disse, pois só deu de ombros e assentiu com a cabeça, completando com:

— Ai, tem razão. Depois a gente te mostra ele, Uraraka!

— Só cuidado pra não se apaixonar, hein? — Hina abriu um sorriso sarcástico. — Ouvi dizer que ele não é de dar mole pra qualquer uma, não.

— Quê? Ai, gente, por favor, né! — Exclamei, rindo. — E eu lá vou me apaixonar pelo garoto só porque ele é boni—

— Meninas, por favor, dêem uma maneirada na conversa aí! — A professora chamou nossa atenção e as meninas rapidamente se voltaram para frente e eu, assim como elas, abaixei a cabeça e peguei o lápis, voltando a escrever.

Não consegui me focar direito no resto da aula, eu estava curiosa demais para saber quem era esse menino. Tudo bem que a Hina e a Keiko costumam ser meio eufóricas demais, talvez ele nem seja tudo isso! E, mesmo se for, nem ligo. Esses garotos bonitinhos e populares são os maiores babacas, justamente porque sabem que, sendo bonitos, podem fazer o que bem entendem, porque sempre vai ter gente atrás deles.

Bem, só tô curiosa mesmo, curiosidade não mata, né?

E tô doida pra poder rir da cara delas e falar que elas estão tão sedentas por garotos que estão vendo coisa onde não tem!

 

~*~

 

Pelo amor de Deus.

Ele é lindo.

Absurdamente.

— Qual é o nome dele? — Tentei fingir indiferença ao perguntar. Senti minhas bochechas esquentarem por razão nenhuma e, com medo das meninas repararem, abaixei a cabeça para voltar a comer minha marmita.

— Tem menino da minha sala que nem sei o nome e ele, que é da turma lá do outro lado, sei até o número na chamada. — Yoko, a nossa amiga detetive, da turma ao lado, comentou com orgulho. — É Bakugou Katsuki. Até o nome é bonito, né? Tem uma pronúncia forte. E ele é do sétimo ano.

— Alto pra idade dele, né? Deve ter o quê, doze anos? E já é um poste assim? — Keiko parecia uma mistura de chocada com admirada. — Ai, sério, sem palavras pra esse menino! Fico até sem ar.

Enquanto elas conversavam, levantei o olhar discretamente para ele de novo.

Lá do outro lado do refeitório, numa mesa colada a uma grande janela, ele estava em pé, o quadril encostado na ponta da mesa, as mãos nos bolsos da calça meio larga e, caramba, por que o brilho do Sol parecia estar ali só para ele? O cabelo loiro parecia diamante sob aquela luz. Era uma cena bonita demais para ser real e corei por razão nenhuma de novo, que ódio!

Espera, calma aí.

O meu coração tá batendo muito forte.

Isso não é normal.

Espero que seja infarto.

Envergonhada como se estivéssemos cara a cara, desviei o olhar rapidamente, meus olhos caindo sobre minha marmita de novo, mas nem estava com fome mais – e olha que estava reclamando de fome minutos atrás.

Dei uma olhada nas meninas. Elas ainda estavam entretidas demais com o assunto garoto novo, então vi ali uma oportunidade de poder encarar o dono do assunto no sigilo.

E meu coração pulou dentro do peito mais uma vez.

Não é possível, eu realmente vou me apaixonar só porque ele é bonito?

Mas... cara, olha pra ele. Não é só beleza, ele tem um ar muito maduro pra idade dele. Esses garotos de onze, doze anos só pensam em correr por aí e tacar ovo um na cabeça do outro, fala sério! E ele lá, no canto dele, só observando, vez ou outra falando alguma coisa com os dois meninos que estavam com ele. Ele tem um ar muito sério e misterioso, mesmo tendo só doze anos.

Eu achei que ia ver um garoto totalmente metido, rodeado de amigos e rindo como se fosse o rei da cocada preta, mas não. Ele parece ser bem... sei lá, na dele. Gosto disso. E as meninas até comentaram que ele não é de dar mole pra qualquer uma, tipo, como assim? Sendo bonito desse jeito... não entendo. Será que ele é do tipo que se acha o bonzão e que nenhuma é suficiente?

Bem, mas até isso eu acho interessante. Não gosto de garoto que atira pra todos os lados, como se precisasse desesperadamente ficar com uma menina, não importa quem seja.

Como será que deve ser conversar com ele?

— Ei, Yoko, sabe se ele tem namorada? — A fala da Hina chamou a minha atenção para a conversa de novo.

Ajeitei a mecha que caía sobre meu olho atrás da orelha – o que me incomodava um pouco, mas minhas amigas dizem que é um charme, então acabei acostumando –, de repente me sentindo nervosa pela resposta. Observando de canto de olho, como quem não queria nada, voltei a comer.

— Nossa, não faço ideia. — A garota ruiva, Yoko, respondeu. — Eu tenho um amigo que é da sala dele. Bem, não é exatamente um amiiiigo, mas ele tá a fim de mim, então aproveitei pra fazer umas perguntinhas, sabe? — Soltou uma risada sapeca, arrancando risos das outras meninas também. — Sei lá, o Bakugou não tá aqui nem uma semana, é difícil de saber muita coisa, mas esse menino me contou que o Bakugou era atleta na antiga escola dele, jogava basquete, eu acho. Talvez ele tente entrar pra equipe daqui! Sempre soube que eu tinha uma queda por jogadores. – Abanou a si mesma como se estivesse com calor, suspirando.

— Se ele entrar pro time, vai ser tudo! Finalmente a gente vai ter motivo pra assistir aos campeonatos. — Hina riu, sendo acompanhada pelas outras. — Só o que eu sei é que o Bakugou meio que cagou pra todas as garotas que deram uma moral pra ele.

— Deve estar se achando a última bolacha do pacote. — Keiko comentou. — E com razão, né?

Todas riram.

— Eu sinceramente até gosto disso. Garoto que dá tiro pra todos os lados me irrita. — Falou Yoko, fazendo uma expressão de desgosto na última parte.

— Será que ele é gay? — Hina soltou o que pareceu ser uma bomba, pois todas exclamaram em choque e viraram para ela com a indignação queimando nos olhos arregalados.

Arregalei os olhos, sem entender aquela reação toda.

— Tá louca? Ele não tem o menor jeito disso. — Yoko parecia a mais escandalizada com a insinuação, apesar da Keiko não ter gostado nem um pouco também. — E daí que ele é seletivo? Isso não quer dizer que ele é viado, pelo amor de Deus! Cresçam. — Yoko tinha uma mania de se achar muito mais madura do que todas nós e isso sempre me irritava, por mais que eu decidisse ignorar. Não queria criar treta com bobagem.

— Se ele for gay realmente, vai ser um puta desperdício. — Falou Keiko, suspirando. — E o que você acha, Uraraka?

Arregalei os olhos, me arrepiando toda quando os três pares de olhos se voltaram para mim.

— Hm... bem... — Mordi o lábio e ajeitei o cabelo mais uma vez. Tenho essa mania quando fico nervosa ou com vergonha, fico mexendo demais no meu cabelo. — Ai, gente, sei lá. Por que não falamos de outra coisa? Tipo, e daí? É só mais um garoto...

As três meninas, em silêncio, me encararam com tédio.

Isso durou alguns segundos até a Yoko estalar a língua no céu da boca, revirando os olhos.

— Uraraka, sério, para com isso!

— Hã? — Arregalei os olhos. — Como assim?!

— Você sempre fica em cima do muro, nunca quer dar opinião de nada, isso é irritante demais! Eu vi você secando o Katsuki, por que quer dar uma de diferentona e fingir que você é tão mais especial que a gente?

— Quê? Nada a ver! — Exclamei, me irritando com as coisas que a Yoko dizia. Ela sempre se achava a dona da razão, a líder do grupo, só porque é repetente e por isso é um ano mais velha que a gente, fala sério! — Olha quem fala, é você que sempre se comporta assim! Eu só não quero ficar conversando de garotos o tempo todo, é chato.

Eu não queria admitir nem para mim mesma que, lá no fundo, me incomodava que o aluno novo fosse o principal assunto delas e, com certeza, de todas as outras garotas da escola. Todas falando sobre o quanto ele é lindo e interessante e diferente...

Caramba.

Toda essa atenção sobre ele me incomodava muito. Me irritava pensar que, nesse exato momento, dezenas de garotas deviam estar se sentindo da mesma forma que eu.

A disputa com certeza seria grande e notar isso me assustava.

Eu não teria a mínima chance.

— Ai, nossa, você é tão diferente, né? Deve se sentir deslocada no meio da gente, tadinha! — A ironia era tão carregada em sua voz que o veneno escorria pelo canto da boca. — Não fique aí falando como se fôssemos sedentas por garotos e como se achássemos que a vida gira em torno disso! — Yoko quase gritava ali e eu arregalei os olhos. Um pouco envergonhada e com medo dos outros alunos escutarem, olhei em volta. — Você fala essas coisas, mas tenho certeza que você é do tipo que faria de tudo só pra agradar um garoto—

— Ai, gente, tá bom! Chega, chega! — Gritou a Hina, gesticulando exasperadamente. — Parem com isso, que discussão mais besta!

— Enfim, vamos falar de outra coisa. — Keiko abanou a mão, como se, com aquele gesto, o assunto fosse ser esquecido num passe de mágica. Yoko ainda me encarava com raiva e eu, ajeitando uma mecha atrás da orelha, desviei o olhar. — Ouvi que amanhã vão servir carne na cantina.

— E desde quando falar da comida da cantina é mais interessante que falar de garotos bonitos? — Hina disse entre os risos, fazendo Keiko e até Yoko rirem também. Para não ficar de fora, soltei uma risadinha também, mas ainda estava muito constrangida por causa da discussão que tive com Yoko.

Como assim ela disse que eu faria de tudo pra agradar garoto? O que ela quis dizer com isso? Como assim, eu faria tudo? O que ela quis dizer com tudo?

Ou ela falou isso só pra me deixar mal ou ela realmente não me conhece.

Eu nunca me rebaixaria nesse nível.

Fala sério, ela stalkeou o menino o máximo que pôde, até usou um que gosta dela para conseguir mais informações! E sou eu que faria de tudo por um garoto? Sério? Será que ela não se enxerga, não?

— Será que o Katsuki gosta de carne ou é vegetariano? — Yoko brincou e, dessa vez, todas explodiram em gargalhadas.

Enquanto elas riam e voltavam ao assunto Bakugou Katsuki, eu voltava a olhar para ele.

E arregalei os olhos e tremi dos pés à cabeça quando sua atenção, de repente, caiu sobre mim.

Virei a cabeça no mesmo instante.

Meu Deus, meu Deus!!

Ele me viu? Me notou?

Encarando minha bandeja sobre a mesa e sentindo minha cara pegando fogo em cantos que eu nem sabia que poderia corar, eu tinha receio de erguer a cabeça e flagrá-lo me encarando de novo. Não sei lidar com essas trocas de olhares, fico muito nervosa!

Ajeitei a mecha do meu cabelo atrás da orelha.

Nunca senti isso antes. Quero dizer, sempre fui muito envergonhada, mas... meu coração estava batendo muito forte contra meu peito, eu realmente tive medo daquilo ser algum problema de saúde.

Meu Deus, o significa isso?

Não é possível que já estou apaixonada.

Eu nem conheço ele!

Quando, discretamente, levantei a cabeça para observá-lo de rabo de olho, ele não me olhava mais. Será que ele realmente me encarou? Ou só olhou despreocupadamente em minha direção?

Bem, acho que não tenho como saber, mas, ainda assim, é difícil tentar conter um sorriso com a ideia de que eu realmente chamei a atenção dele. Será?

Agora, ele conversava com uns meninos e parecia estar rindo de alguma coisa que eles disseram.

Não pude segurar um suspiro, foi involuntário.

Nossa, que sorriso lindo.

Abaixei a cabeça de novo, remexendo o resto da minha marmita com o hashi e, com a mão livre, ajeitei a mecha do meu cabelo atrás da orelha, rindo para mim mesma ao imaginar...

Como seria se um dia as pessoas me encarassem com um sorriso largo e olhos brilhando, pensando...

Olha lá! É a namorada do Bakugou Katsuki!

 

~*~

 

Quatro anos depois, primeiro ano

 

— Soube que o Bakugou ficou com a Harumi. — Hina jogou na roda enquanto saíamos da biblioteca. As provas já estavam chegando e, por isso, aproveitávamos os intervalos para estudarmos juntas lá. Como sempre, eu tinha que ralar para ajudar as meninas a revisar tudo de matemática – eu sempre tive muita facilidade de aprender no geral, mas sou muito boa especialmente com matemática.

Meus ombros caíram um pouco com a notícia que saiu da boca da Hina. Não fiquei surpresa, porque não é de hoje que de vez em quando surgem esses boatos de que o Katsuki pegou fulaninha ali e ciclaninha aqui – por mais que não seja algo comum, ele é muito seletivo, de fato –, mas, como sempre, não dá pra negar que fico meio decepcionada toda a vez que uma informação dessas chega aos meus ouvidos.

— O QUÊ?! — Yoko berrou no meio do corredor, chamando a atenção de todos em volta, mas o surto dela não era tão relevante assim para eles, então logo ignoraram. — A Harumi? A mina lindíssima do terceiro ano?!  Quando isso?!

— Ela mesma! — Concordou Hina, assentindo freneticamente com a cabeça. — Ela que dizia que nunca pegaria ninguém do colégio, que todos os garotos daqui são infantis e afins... errada ela não tá, né?

— Nem tô tão chocada assim. Pelo amor de Deus, é o Bakugou Katsuki! — Keiko exclamou. Yoko parecia que ainda não tinha voltado a si. — Eu não ficaria surpresa nem se ele pegasse a Angelina Jolie.

— Caramba, quando que eles ficaram? — Yoko perguntou, chocadíssima.

— Ah, não sei, cê sabe que ele nunca fica com ninguém na frente dos outros, né? Nós mesmas nunca vimos. — Hina deu de ombros. — Ele é mó come quieto, só pega no sigilo. O que eu fiquei sabendo é que eles já foram vistos saindo juntos da escola um dia aí, depois do treino de basquete dele...

— Será que vão começar a namorar? Porque, tipo, os dois são lindos e bem populares, né? — Comentou Keiko, pensativa. — Fodeu agora. Como que ele vai se interessar por uma de nós depois de ter pegado a Harumi?

Bufei, já me irritando com aquele assunto.

— Gente, e daí? Não significa nada. — Me pronunciei e, por mais que eu tenha soado confiante, eu realmente não estava tão certa assim disso. Sempre tento esconder o quanto fico decepcionada quando descubro dessas ficadas do Bakugou, meu coração sempre erra uma batida pelo medo de que ele comece a ficar sério com alguém, por mais que eu tente manter a cabeça no lugar e acreditar que não.

Minhas amigas não têm ideia do que eu realmente sinto por ele, sempre tento dar uma de indiferente, porque não me sinto confortável de me abrir assim com pessoas que claramente querem o mesmo que eu.

E também porque não quero parecer uma maluca fútil, igual a elas.

— Ele não assume nada sério com ninguém, de qualquer forma. — Continuei a falar. — Se o fato dela ser linda realmente importasse tanto assim, acho que ele não pegaria ela no sigilo, né? — Eu tentava me segurar nesse argumento. — Com certeza, é só mais uma pra ele.

— Hm... bem, até que você tem um ponto. — Hina respondeu, coçando o queixo com a mão. — Mas, sei lá, uma hora ele vai se apaixonar, né? Ou ele é realmente do tipo que só come e tchau?

— Não faço ideia. — Disse Keiko. — E, gente, falando no Bakugou, vocês têm visto ele nos últimos dias? — Arqueou uma sobrancelha, chamando a atenção de todas com aquela pergunta, inclusive a mim, porque eu também já tinha reparado nisso há muito tempo e estava com a pulga atrás da orelha, mas fiquei quieta. — Ele não tá mais aparecendo no refeitório. Só vejo ele no início e no final das aulas agora.

— Será que ele tá ficando com a Harumi por aí nos intervalos? — Com os olhos arregalados, Yoko jogou a tão temida frase no ar. Eu tinha uma suspeita como essa em mente – não sobre a Harumi, porque eu não sabia que ele tinha ficado com ela –, porém, escutá-las expondo a minha insegurança dessa forma, me deu nos nervos. — Ai, tudo menos isso—

A raiva veio subindo com tudo, percorrendo todas as minhas veias.

E eu explodi.

— Eu já falei que ele NÃO tem e nem terá NADA com ela, parem de ser burras!

As três, estáticas, me encaravam com olhos arregalados em puro choque.

E eu, igualmente chocada pelas coisas impensadas que disse, também arregalei meus olhos, engolindo em seco.

Caralho, que merda que eu falei.

O que elas vão pensar de mim agora? Tô morta.

— Q-quero dizer... — Soltei uma risada sem graça, desviando o olhar ao ajeitar o meu cabelo atrás da orelha, constrangida como nunca antes. Socorro, como pude deixar a raiva subir à cabeça daquele jeito? Logo eu, que nunca me deixei levar por essas besteiras... — Desculpa, meninas, é que—

E elas caíram na gargalhada. Tipo, muito. Yoko chegou até a curvar o corpo e Hina limpou as lágrimas que acumularam nos seus olhos de tanto rir.

Eu, sem entender nada da reação das três, mas temendo que agora eu virasse a chacota do grupo, tentei acompanhá-las na risada – ainda que sem a menor vontade –, meus olhos ainda arregalados para elas, com medo do que viria.

— Ai, sério, eu não aguento— Keiko não conseguiu completar a própria fala, de tanto que ria.

— O que é tão engraçado? — Perguntei entre os risos, minha voz soando baixa e incerta. Olhei ao redor brevemente e, felizmente, ninguém prestava atenção na nossa conversa.

— Você é tão óbvia, cara. — Hina respondeu, os risos cessando aos poucos.

Franzi o cenho, confusa.

Até que Yoko me fitou e, sorrindo largo, disse com um ar superior:

— Você é gamadona no Bakugou desde sempre, gata, talvez até mais do que a gente, a gente sempre soube! Você tenta fingir que não liga muito, mas essa relutância toda que faz dar tão na cara. — Riu, balançando a cabeça negativamente. As outras duas sorriram, exclamando em concordância. Engoli em seco, de repente me sentindo uma formiguinha entre elas. Que droga. — A gente nunca jogou isso na sua cara porque era divertido te ver fingindo, mas agora você surtou legal. Não queria falar por quê? Tava com medo da concorrência, é?

Apertei os lábios, minha mão coçando pra dar na cara dela.

Ela acertou em cheio no meu orgulho.

— Não é nada disso, eu só não gosto de ficar falando do garoto como se minha vida girasse em torno dele, eu tenho outras prioridades e—

— GENTE, OLHA ALI! — Keiko gritou de repente e, antes que tivéssemos tempo de encará-la assustadas por essa reação tão aleatória, a própria Keiko nos agarrou pelos ombros e nos empurrou para frente, nos obrigando a encarar aquilo que ela encarava fixamente com os olhos tão esbugalhados.

E eu não pensei que os meus próprios olhos fossem ficar até mais arregalados que os dela.

— É o Bakugou e... um menino? — A voz da Hina chegou aos meus ouvidos, mas pareceu só um eco distante. — Que porra é essa?

Em choque, eu e as meninas olhávamos para o final do corredor...

De onde vinha Bakugou Katsuki, andando tão tranquilamente em nossa direção quase como se desfilasse, com o braço forte jogado sobre os ombros estreitos de um baixinho de cabelo verde que eu nunca vi na vida.

— Gente, mas hein? — Yoko soltou, chocada. — O que significa isso? Vocês já viram esse menino antes?

— Ele não é do time de basquete, né? — Disse Keiko, as sobrancelhas fortemente franzidas enquanto tinha uma expressão pensativa. — Não, óbvio que não. Ele não tem perfil pra isso, parece um nerdão. O que ele tá fazendo com o Bakugou?

Enquanto elas bolavam teorias, eu não conseguia dizer nada, estava em choque.

Katsuki nunca apareceu andando desse jeito com ninguém, nem com qualquer menina que ficou.

E agora ele aparece andando por aí agarrado a um menino?

Engoli em seco, fechando os punhos com força.

— Viram? Eu disse que ele devia ser ga—

Cala a porra da boca, Hina. — Na exata mesma hora, lancei um olhar mortal a ela, que se calou de imediato, arregalando os olhos para mim. — Ele não é gay. Não repita mais isso.

Você não pode ser gay, Katsuki.

Não posso simplesmente jogar todos os anos que passei gostando de você no lixo, as noites que passei em claro só atualizando suas redes sociais para ver se tinha algo novo – mesmo que nunca tivesse – no seu perfil, as vezes que deixei de estudar para uma prova importante ou até de viajar só para assistir a bosta dos seus jogos do campeonato...

Eu sonhei contigo por tantas noites, Katsuki.

Um ano tem 365 dias. Eu gosto de você há cinco anos.

1825 dias que eu tive que suportar todas essas garotas e minhas próprias amigas babando por você.

Não é possível que tudo isso foi em vão.

Que eu planejei tantas coisas, imaginei tantas coisas...

Para, no final, você me decepcionar desse jeito.

Você não é gay.

Não pode ser.

— Ele não é gay, gente, relaxa! E todos os boatos sobre as garotas que ele ficou? — Keiko tentou acalmar os nervos do grupo. — Sendo tão popular desse jeito, certamente já seria do conhecimento de todo mundo caso ele ficasse com uns garotos por aí. Deve ser o novo amigo dele, sei lá. — Deu de ombros. — Agora, porque o Katsuki virou amigo de um nerdão, aí eu não faço ideia...

— Gente, mas eles precisavam andar coladinhos desse jeito? — Yoko entortou a boca, enojada. — Parecem até namorados, eca.

Tentei pensar racionalmente. Deve haver uma explicação razoável para uma cena daquelas. Katsuki não é carinhoso assim, ele não é de fazer essas coisas. Ele não é nem visto flertando com meninas, e agora aparece desfilando abraçado com esse garoto?

— Talvez ele esteja de saco cheio de tanta garota faminta em cima dele. — Falei, me sentindo aliviada por chegar em tal conclusão. Claro, isso faz todo o sentido! É total o tipo dele tomar uma atitude drástica assim para tirar essas lobas da cola dele. — E ele tá andando assim com esse menino meio que pra dar um chega pra lá em todo mundo, é óbvio.

— Hm, pode ser. — Hina concordou e, tal como eu e as outras, ela também parecia querer se agarrar em qualquer argumento plausível que pudesse justificar aquilo. — Todo mundo sabe que ele é do tipo discreto, mesmo sendo tão popular. Talvez esse holofote todo seja meio irritante pra ele, o que eu nunca vou entender, porque, tipo, se há algo ruim em ser popular, com certeza é uma parcela minúscula em comparação a todas as coisas boas que ele recebe por isso, né? Tipo, quem não quer ser desejado por todo mundo, né? Reclamar disso é reclamar de barriga cheia.

— Enfim, agora, a pergunta que não quer calar é... — Yoko começou, estalando a língua no céu da boca enquanto, irritada, continuava a fitar a cena que se desenrolava a alguns metros de distância de nós. Todos os alunos que transitavam por aquele corredor, assim como nós, estavam paralisados em choque. — Quem é esse nerdola?

Suspirei, tornando a encarar aqueles dois que, agora, para mim, eram como se andassem em câmera lenta em minha direção, quase como se tirassem sarro da minha cara. Meu sangue ferveu, a palma da minha mão ardendo de tanto que eu cravava minhas unhas na pele.

E meu coração quase se partiu quando Bakugou abriu um sorriso.

Um sorriso como eu nunca vi.

E era só para ele.

Para o garoto de cabelo verde que, envergonhado, desviou o olhar, ajeitando seus óculos redondos sobre o nariz.

Engoli em seco e, simplesmente, deixei minhas amigas para trás. Não aguentava mais ver aquela cena, era difícil demais de engolir.

Se Bakugou estivesse com uma mulher, eu ainda estaria surtando, mas já seria de se esperar.

Agora... um garoto?

Katsuki nunca foi alguém muito próximo de ninguém. Nem dos meninos do time, nem de qualquer garota.

E, do nada, ele aparece com esse menino aleatório, que ninguém nem sabia da existência, não se importando que todos pensem erroneamente que eles têm alguma coisa.

Um garoto baixo, magro, que usa roupas estranhas, tem um cabelo bagunçado e... confesso, eu o achei bonito, mas não ao ponto de merecer estar ao lado de alguém como Bakugou. Nada contra o menino, mas eles não têm nada a ver! Não é só uma questão de estética, não sou fútil assim. É só uma questão de... nossa, sendo tão diferente do Katsuki assim, como eles podem ter coisas em comum? Parecem ser de mundos totalmente diferentes!

Mas, ainda assim, lá está ele.

Ocupando o meu lugar.

Eu não tenho a mínima ideia de quem seja esse garoto de cabelo verde.

Mas eu vou descobrir o que o torna tão especial para Bakugou.

 

~*~

 

Alguns meses depois

 

O professor de matemática me encarregou a tarefa de levar umas papeladas para a sala dos professores. Já que eu sou a sua aluna favorita, é comum que ele me peça favores assim. A papelada não era nada demais ou muito pesada, eu conseguia carregar tranquilamente, por isso, fui sozinha.

O intervalo tinha acabado de começar e, depois que eu entregasse tudo, iria me encontrar com as meninas no refeitório.

E eu tinha acabado de descer as escadas quando escutei um som claro de risadas ecoando de uma das salas.

Eu não teria dado atenção àquilo, mas...

Para com isso, Kacchan! Já falei pra você ficar quieto, caramba, qual é o seu problema? — Era uma voz fina e bonita. Quase fofa, eu diria.

Mas com certeza era a voz de um garoto.

— Caraca, mas eu só virei o rosto um centímetro! — Uma voz rouca me fez arregalar os olhos. Eu reconheci na hora de quem pertencia aquela voz, apesar de ser a primeira vez que eu pude escutá-la tão claramente. — Tô parado aqui que nem um espantalho faz uma hora e é assim que tu me agradece, nerd?

Uma hora? Então eles estavam há uma hora matando aula para ficar ali, em uma sala distante das outras...

Sozinhos?

Engoli em seco, me aproximando rapidamente da porta que tinha uma placa com as palavras sala de artes inscritas.

Caguei pra tu, só me deixa terminar logo esse quadro, beleza?

Escutei Bakugou gargalhando e um berro vindo do outro garoto.

EU DISSE PRA FICAR QUIETO, CARA! — Ele exclamou, irritado. — Valeu, cê acabou de detonar o meu quadro.

— Nossa, quanto drama. Deixa eu ver esse quadro aí. — Katsuki disse entre os risos. Meu coração apertava a cada segundo que eu passava com meu ouvido próximo à porta entreaberta. Meu Deus, eles parecem se dar tão bem... — Tá lindo, mas... eu tô parecendo um alienígena com esses olhos enormes, né? Um alienígena com derrame.

— É PORQUE VOCÊ NÃO PARAVA DE SE MEXER, MALDITO! VOU TE MATAR!

E, mais uma vez, Bakugou explodiu em gargalhadas, enquanto o outro exclamava coisas que não compreendi e eu pude ouvir sons de tapas ecoando, tapas que, aparentemente, Katsuki recebia de bom grado.

Meu coração estava em pedaços.

Eu nem estava enxergando a cena, mas ela me machucava da mesma forma.

E só então percebi que eu estava amassando a papelada em minhas mãos — merda, EU teria que dizer ao professor que acabei caindo no chão para justificar isso.

Ah, já tá na hora do intervalo. Vou buscar um lanche pra gente no refeitório, tá?

— Não faz mais do que a obrigação, idiota.

— Para com isso, nerd, a pintura tá linda, só tava zoando você.

— Eu sei que você odiou, para de fingir.

— Eu gostei pra caralho, e ela vai ficar ainda melhor pendurada no quarto, pra assustar minha mãe quando ela vier encher o meu saco.

— IDIOTA!!

E mais risadas sem fim, só que, dessa vez, por parte dos dois.

Rapidamente me afastei da porta quando escutei o barulho de passos, me escondendo perto da escada.

Quando vi Katsuki saindo, ainda rindo consigo mesmo, uma lâmpada se acendeu sobre minha cabeça.

Esperei algum tempinho e, então, com o coração acelerado, bati na porta de leve e já fui a abrindo, encontrando o garoto de cabelo verde que estava sentado com o pincel na mão e de frente ao cavalete que carregava a pintura de um rosto com olhos vermelhos e cabelos loiros.

— Olha, eu dei um jeito nos olhos, Kacchan. — A voz melodiosa ecoou pelo ambiente e meu coração acelerou. Me sentia como se estivesse invadindo um lugar secreto, como se estivesse fazendo algo errado, mas... — E aí, o que ach—

Ele mesmo se interrompeu ao virar, arregalando os olhos ao dar de cara comigo.

E seus olhos curiosos sobre mim fizeram meu coração apertar. Olhos verdes, grandes e brilhantes.

Eu nunca pude vê-lo tão de perto daquele jeito, então...

Senti vontade de gritar de ódio.

Porque ele era lindo.

— Oi. — Abri um sorriso. — Sou a Uraraka, prazer. Aqui que é o clube de artes?

Ele pareceu surpreso.

— A-ah... é, sim. Meu nome é Dek— q-quero dizer, Izuku. Midoriya Izuku. Muito prazer! — Riu, estranhamente parecendo nervoso. — Desculpa, é que... quase não vejo outras pessoas nessa sala, tô nervoso. — Soltou uma risada. — Você me pegou de surpresa. Como posso te ajudar?

Izuku.

E ele parecia tão...

Gentil.

Meu coração apertou.

Porque, naquele momento, eu entendi o que o tornava especial para Katsuki.

Abri um sorriso, botando uma mecha de cabelo atrás da orelha delicadamente.

— Eu gosto muito de arte também. — Não sei nem desenhar boneca de palito. — Será que eu posso entr—

— C-claro! — Arregalei os olhos quando ele, de forma afobada, nem me esperou terminar a fala para concordar. — Seja muito bem-vinda!! Eu adoraria ter mais artistas por aqui.

Meu sorriso aumentou.

— Acho que vamos nos dar muito bem, Izuku! — Me aproximei para estender-lhe a mão e ele, sorrindo, retribuiu o gesto, seus olhos se tornando apenas dois risquinhos.

— Com certeza!

Me desculpe, Izuku.

Você não é uma má pessoa, longe disso. Eu consigo enxergar a sua pureza através dos seus olhos.

Uma pureza que eu nunca seria capaz de ter.

Eu até me arrependo por tê-lo odiado tanto, você não merece ser o alvo de minhas angústias.

E, ao decorrer do tempo e de vários dias, conforme fomos nos aproximando...

Eu não fui falsa com você em momento algum. Todas as vezes que conversamos e rimos, eu fui de verdade. Risco a dizer que fui muito mais eu com você do que com todas as minhas amigas. Porque você é essa pessoa capaz de extrair o melhor dos outros.

Sendo sua amiga, Izuku, eu fui a minha melhor versão de mim mesma.

No entanto, infelizmente, você é a pessoa que está entre eu e a pessoa que eu amo. Você é a pessoa boa que não tem culpa de estar no meu caminho.

Você é a ponte frágil que eu precisava para chegar em Katsuki.

Eu nunca quis te magoar.

Muito pelo contrário, eu queria que tivesse dado certo. Eu queria que você tivesse reconhecido o seu lugar.

O seu lugar abaixo de mim.

Eu não queria perder sua amizade.

Entretanto, mais do que isso, eu não queria perder a chance de ter Katsuki inteiramente para mim.

Eu só queria ser a pessoa que você é para Katsuki. Queria ser a pessoa que todos comentam, tal como você é. Queria que ele andasse comigo pelos corredores e me emprestasse o casaco dele, tal como ele faz todos os dias com você.

Acho que, depois de seis anos, é o mínimo que mereço. E foi por isso que, naquele dia, na arquibancada, eu te contei o meu segredo, te contei que gosto dele há seis anos, porque eu sabia que você se sensibilizaria com meus sentimentos.

— Bem, é que... nossa, não acredito que vou contar isso ao melhor amigo dele... – Um lado meu temia que fosse você correr e contar tudo pra ele. – Mas confio em você. Já contamos tanta coisa um pro outro, certo? – Mas eu sabia que você era gentil demais. Tolo demais. É que... bem, hm... eu gosto dele desde o sexto ano, sabe?

Naquela época, eu apenas falei a verdade.

Mas a verdade não foi o suficiente para fazer você se tocar.

Você insistiu em querer ficar.

Eu queria preencher tanto a vida de Katsuki que você se tornasse apenas um amigo, e apenas isso. Nunca quis te tirar da vida dele, Izuku, apenas diminuir a sua importância.

Mas você não foi capaz de se contentar com isso.

Eu tentei ser legal com você, como você foi legal para mim.

Mas você quer a todo custo tomar o que é meu.

E, isso, eu não posso deixar acontecer.

Então, me desculpe, Izuku.

Porque, no fim, eu só sou uma pessoa apaixonada.

Assim como você.

 

~*~*~*~

 

Midoriya

 

 

A chuva se findou tão rápido e repentinamente quanto começou.

Meu coração batia forte, ansioso para ir embora.

Mas eu lembrei dos meus materiais que eu havia deixado na sala de artes.

Depois de lavar meu rosto no banheiro – evitei encarar o meu próprio reflexo no espelho, porque era difícil reconhecer a pessoa que eu via ali –, fui até lá. Andei em passos longos e rápidos, tudo para evitar trombar com alguém pelo caminho, ainda que todos estivessem em sala.

Olhei em volta, observando cada canto daquela sala que foi o meu verdadeiro refúgio enquanto estive aqui. O único lugar que pude ser eu. O lugar que eu me sentia confortável em fazer e falar o que eu quiser, sabendo que não teria ninguém ali para rir ou cochichar qualquer coisa sobre mim.

O único lugar em que fui realmente feliz aqui, nessa escola.

O lugar onde eu conheci Kacchan.

E o lugar onde ele conheceu Uraraka e, a partir daí, Kacchan e eu nos perdemos em algum lugar.

Na sala de artes, nos encontramos.

E, na sala de artes, nos perdemos.

E, como um presente de despedida, eu pude ver um único raio de sol, que conseguiu arranjar uma brecha em meio às nuvens pesadas, atravessando as janelas longas e tocando um pedaço da parede, logo ao meu lado.

Ergui a mão, deixando-a na altura daquela luz e, então, eu acenei, retribuindo àquilo.

Soltei uma risada, lembrando do dia em que fiz um retrato de Kacchan aqui, nessa sala.

Ele não parava quieto e, no final, graças a isso, ficou horrível.

Mas, mesmo assim, mesmo zoando horrores, ele fez questão de levar a tela para sua casa. E pendurou o quadro na parede, como disse que faria.

Uma lágrima, sorrateiramente, caiu rápido antes que eu pudesse limpá-la.

Kacchan...

Oh, Kacchan.

Você é muito mais do que um rosto bonito.

Nunca foi só um rosto bonito.

Você é... simplesmente...

— Tudo pra mim. — As palavras saíram em voz alta. — Obrigado por sempre ter sido tudo pra mim.

E, sorrindo para o mesmo cavalete em que eu sempre pintava, dei às costas e saí, batendo a porta.

O dia poderia ter terminado aí, sem mais surpresas.

Mas claro que, sendo o meu último dia, a vida não me deixaria ir tão fácil assim.

Assim que eu fechei a porta, esbarrei com Uraraka de novo e, assim como no dia em que a conheci, ela segurava papeladas na mão, provavelmente indo até a sala dos professores.

— O-oh, descul— Ela cortou a própria fala ao levantar a cabeça e me ver, logo abrindo um sorriso surpreso. — Ah, Deku! O que faz aqui em horário de aula? Tava cabulando na sala de artes, é?

Soltei um riso nasal, sem muita vontade.

— É... meio que isso aí.

— Toma cuidado, hein? As provas começam amanhã, ficar matando aula vai te prejudi... — A voz dela foi perdendo a força e eu franzi o cenho, sem entender. — Car...

E a fala se perdeu quando seus olhos desceram pelo meu corpo.

Seu sorriso foi diminuindo conforme ela olhava e olhava, até seu rosto se tornar um grande nada.

Foi então que eu arregalei os olhos ao me dar conta.

Eu estava usando a jaqueta de Kacchan.

— Izuku, você... — Seu rosto não tinha expressão. — Encontrou o Katsuki hoje?

— A-ah, eu... — Dei um passo para trás, me sentindo desconfortável com o olhar dela sobre mim. — Sim, a gente conversou um pouco. Ele chegou atrasado hoje.

E seu olhar, devagar, retornou ao meu rosto, atingindo fundo na minha alma.

Engoli em seco.

— E ele deixou o casaco com você?

A pergunta fria me causou arrepios.

Soltei um riso de nervoso.

— É... sim, eu tava com um pouco de frio, mas... — Talvez eu estivesse interpretando errado, mas ela me encarava como se eu tivesse pulado em cima de Kacchan e arrancado o casaco dele à força. — Eu disse que não queria, tentei devolver, mas ele... — Não precisa me devolver. É sua. Apertei os lábios. — Ele é bem teimoso.

— Hm. — Seus olhos desceram pelo meu rosto de novo e, naquele momento, eu quase pensei que ela fosse entortar a boca.

Porém, ela sorriu quando, de repente, voltou a me encarar.

Arregalei os olhos, me assustando com a mudança brusca de expressão.

Mas que porra...

É essa?

— Eu tô com um pouco de frio, também. — Ela abraçou o próprio corpo com os braços. — Não sabia que a temperatura ia despencar assim, não trouxe um casaco nem nada... — Mas ela estava usando uma blusa de manga comprida.

Ah...

Então, era isso.

Entendi.

Tudo bem.

Eu não queria levar esse casaco comigo, de qualquer forma.

E, já que ele não me deixou devolver, eu devolveria por ela.

Ela abriu um sorriso largo quando eu tirei o casaco, os olhos brilhando.

— Aqui, toma. — Estendi-o para ela. — Pode usar—

— Ah, muito obrigada, Izuku! Não precisava... — E ela imediatamente o tomou da minha mão, vestindo tão rápido quanto, como se tivesse medo que eu fosse pedi-lo de volta. O vento gélido logo entrou em contato com minha pele e eu me arrepiei por inteiro, mas não demonstrei.

Suspirei, observando como Uraraka parecia um pingo de gente dentro daquela jaqueta. Com certeza, fica muito melhor na Uraraka do que em mim. Ela é a namorada dele, é ela que merece andar por aí exibindo essa jaqueta.

Eu não queria essa jaqueta, de qualquer forma. Porque ter essa jaqueta significa ter lembranças que sempre vão me atormentar.

Mas...

Um lado meu, bem lá no fundo, ficou muito feliz quando Katsuki a me deu. Significou muito para mim.

E, por isso, meu coração doía por vê-la no corpo de outra pessoa agora.

Mas tinha que ser assim.

Eu ia devolver a jaqueta para Kacchan, de qualquer forma...

A Uraraka só facilitou isso para mim.

E, agora, eu não precisaria encontrá-lo só para entregá-la, então...

Tudo bem.

Melhor assim.

— Você não tá com frio mais, tá? — Uraraka perguntou e, como sempre, ajeitou a mecha castanha atrás da orelha. Ainda bem que eu nunca mais teria que ver ela fazendo isso de novo.

— Não. — Abri um sorriso mínimo, sem mostrar os dentes. A verdade é que eu estava com muito frio. Mesmo quando Kacchan me perguntou e eu respondi que não, eu estava sentindo muito frio. E, se eu estava tremendo agora, dentro da escola, só podia imaginar como eu estaria quando saísse. — Não se preocupe. Estou bem.

— Ótimo! — Sorriu largo. — Obrigada mesmo! Vou lá, tenho que entregar essa papelada. E você, não falte mais nenhuma aula, hein! Meu convite pra estudarmos juntos ainda tá de pé, se quiser. — Lançou-me uma piscadela e, então, foi embora.

— Claro... — Murmurei, mesmo que ela não pudesse mais escutar. — Ainda bem que não vou precisar estudar pra prova nenhuma.

Adeus, Uraraka.

E adeus a toda essa merda de escola.

 

~*~*~*~

 

Bakugou

 

Eu não pude prestar qualquer atenção na aula depois da conversa bizarra que tive com o Izuku. Meu pé não parava de bater no chão debaixo da mesa, porque eu não conseguia tirar da minha cabeça o que caralhos estava acontecendo dentro da cabeça do Izuku.

Se dependesse de mim, eu nem teria virado as costas e o deixado lá. Vê-lo me tratando daquela forma era como ter garras me rasgando por dentro. Eu queria entender o porquê daquilo tudo e queria ajudar, queria que ele me deixasse entrar e me agoniava não conseguir. Mas senti que não devia forçar nada, ele parecia irredutível. Não queria conversar comigo de jeito nenhum, então o dei espaço, mesmo sentindo uma vontade absurda de botá-lo contra a parede.

Quando o intervalo chegou, eu peguei meu celular e quase o mandei uma mensagem. Queria saber como ele estava.

Mas, suspirando, enfiei meu celular no bolso da calça de novo, desistindo daquela ideia.

Vou deixar para falar com ele amanhã. Não quero que ele sinta que tô enchendo o saco ou sei lá...

Seja lá o que o fez agir daquela forma, me corrói que ele não queira dividir isso comigo. Eu fico pensando no que possa ser. Minha cabeça explode pensando em todas as possibilidades e...

— Ei, Bakugou. — Senti a mão de um dos meus colegas de sala, que também é um dos colegas de time, sobre meu ombro, e só então percebi que eu tava encarando o nada com cara de cu. — Vamo lá comer?

Demorei uns segundos para responder. Eu não tava muito a fim, mas preferia ir do que ficar afundado em dúvidas e pensamentos irritantes no meio dessa sala de aula vazia.

— Beleza. — E eu levantei, sendo acompanhado por ele e mais alguns outros.

Durante o caminho todo para o refeitório, fui cumprimentado por sei lá quantas pessoas. Eu me limitava a acenar minimamente a cabeça e, às vezes, abria um sorriso pequeno, sem mostrar os dentes, sem vida.

Faz tempo que não ando com o Izuku por esses corredores, e nem que ficamos juntos na sala de artes ou... em qualquer outro lugar.

E eu sinto falta.

Muita.

Sinto falta de como nós éramos.

Quando começamos a nos perder?

Foi por isso que eu dei minha jaqueta para ele. Para que ele soubesse.

Para que ele soubesse que eu não queria que nos perdêssemos.

E que eu faria de tudo para que não nos perdêssemos.

Porque eu não vejo a minha vida sem—

Espera.

O quê?

Que porra é essa?

Não, não.

Não, não, não, não.

Tá muito longe, não devo estar enxergando direito... não é possível...

Não é possível uma merda do caralho dessas.

A veia da minha testa saltou.

Eu realmente queria estar vendo coisa onde não existe, preferia zilhões de vezes ser diagnosticado com esquizofrenia do que aquela merda ser real.

Mas, infelizmente, eu sou lúcido até demais.

Puta que pariu, quero furar a porra dos meus olhos.

De cenho fortemente franzido e o sangue quente ardendo em minhas veias, me aproximei em passos rápidos da mesa onde Uraraka estava sentada, a mesa grande e iluminada pela janela grande ao lado, a que eu costumava ficar quando ia comer no refeitório. Ela ria alto e conversava animadamente junto de suas amigas de sempre e mais algumas pessoas que não faço nenhum caralho de ideia de quem sejam e nem quero saber.

Alguém cutucou Uraraka quando me viu chegando e ela imediatamente se virou para mim, seu sorriso se tornando muito maior ao me ver.

— Kat, oii! Que bom te ver, quer se juntar a nó—

Que porra você tá fazendo com essa jaqueta?

Ela arregalou os olhos e seu sorriso logo perdeu o brilho.

De repente, tudo parou.

Todos na mesa em que ela tava, assim como todo mundo no refeitório, pararam para nos encarar. O som alto de vozes, conversas e risadas cessaram quase na mesma hora em que a última palavra saiu da minha boca. Eu não tinha gritado e nem nada, mas, aparentemente, a raiva me dominou tanto que minha voz ecoou alta e firme o suficiente para que sobressaísse a de todos naquele lugar.

Uraraka olhou em volta, assustada com a atenção forte e repentina de toda aquela gente sobre nós. O silêncio era absoluto, todos atentos ao que estava acontecendo ali.

E eu tava cagando.

Não ligava pra porra nenhuma.

Meus olhos faiscavam e eu só queria saber que merda que ela tava fazendo com a jaqueta que eu dei pro Izuku.

— K-Kat... que isso? Enlouqueceu? — Ela disse baixinho, me encarando como se eu tivesse enlouquecido. Ela soltou um riso envergonhado, não acreditando que estava sendo confrontada assim, na frente de todo mundo. E certamente ela não queria que ninguém visse ou escutasse aquilo, porque logo levantou e veio até mim, segurando meu braço e tentando me puxar. — Vem, vamos conversar em outro lu—

— Eu não vou mover o caralho do meu pé até você responder. — Puxei meu braço de volta e ela, com os olhos saltando mais e mais para fora, engoliu em seco, mais uma vez olhando ao redor antes de voltar a me encarar, e eu podia ver o quanto ela me implorava silenciosamente para parar. — Por que você tá usando a porra dessa jaqueta, Uraraka?

O burburinho começou.

Ué, eles terminaram?

Não estão mais juntos?

Nossa, que micão.

Eu nunca mais botaria a cara no colégio depois de um fora desses.

E Uraraka parecia se desesperar a cada coisa que falavam.

— C-como assim? — Absolutamente constrangida, riu, se fazendo de desentendida. — Tá frio, ué. Eu tô usando—

Mentira. — Eu pronunciei cada sílaba daquela palavra com uma firmeza e confiança que eu não planejei, meus olhos extremamente fixos aos dela, sem piscar. Eu não ligava para o que todas aquelas pessoas achariam ou comentariam sobre aquilo, eu só queria arrancar uma resposta dela ali mesmo, agora mesmo e, se infelizmente – para ela – tinha uma platéia para assistir, então uma platéia iria assistir e foda-se.

Porque ela não merecia qualquer paciência ou consideração de mim.

— Abre a tua mochila. Eu sei que você sempre tem um casaco guardado aí.

— K-Kat... — Com uma risada envergonhada, ela vira e mexe olhava para o rosto da galera ao redor e, amedrontada, tornava a me fitar com desespero. — Por favor, você tá me constrangendo. Não precisa disso. — Ela praticamente sussurrava, tentando soar o mais baixo possível. E eu continuava a fitando de cenho franzido, sem dar qualquer sinal de que acataria ao pedido dela. — Vamos conversar em outro lugar, tudo bem? — Sorrindo amarelo, suas mãos voltaram ao meu braço como se quisesse me levar embora, mas ela não tentou de fato – porque ela sabia que, se eu não fosse por livre e espontânea vontade, ela não conseguiria me fazer dar um único passo nem se tentasse muito.

Foi a minha vez de rir.

— Tá constrangida? — Ela engoliu em seco. — Devia ter pensado nisso antes de constranger o Izuku.

Depois da nossa última conversa, em que ela deixou mais do que claro que tem ciúme do Izuku, eu sabia muito bem por que ela estava usando aquela jaqueta. Só de imaginar que ela tinha feito o Izuku dar a jaqueta pra ela, eu tinha que me controlar para não arrancá-la do seu corpo ali mesmo. Ela não tava com frio porra nenhuma, o que deixava ela puta era o fato do Izuku andar por aí com algo meu, ela queria era mostrar pro Izuku “qual era o lugar dele” e isso me tirava do sério de um jeito que eu acho que nunca seria capaz de botar em palavras. Eu nunca imaginei que ela seria baixa a esse ponto.

Definitivamente, não era o tipo de coisa que eu esperava da garota que conheci.

Ela tem todo o direito de se incomodar que o Izuku seja alguém muito importante na minha vida.

E eu tenho todo o direito de mandá-la ir se foder por isso.

— Kat, por fav—

Os olhos, brilhantes e suplicantes dela, me irritavam profundamente.

Porque não era de verdade.

Ela não estava se sentindo mal quando eu cheguei. Estava gargalhando com as amigas, como se não tivesse feito nada.

— Não quero saber. Não piora as coisas pra você mesma, me dá logo essa jaqueta de merda. — Eu já estava ficando impaciente. — Agora.

— Você não pode fazer isso comi—

— Não posso?

Silêncio.

Uraraka me encarava, séria, apertando os lábios com força.

A vergonha deu lugar à raiva.

Ela tirou a jaqueta furiosamente e, então, tacou no chão, pisando com tudo.

A comoção dos alunos foi gigante, todos exclamando, chocados.

Continuei estático e, indiferente, eu observava aquele showzinho ridículo.

Bati palmas, rindo.

— Parabéns. Nossa, você pula tão alto, né? Parece um canguru. — Comentei tranquilamente, o que fez o refeitório explodir em gargalhadas. — Feliz agora? — Ela aparentemente cansou de pisotear e parou, a respiração um pouco ofegante quando me lançou um olhar mortal. Estiquei a mão. — Espero que tenha conseguido extravasar. Pode me dar agora.

Seus olhos encheram d’água, o queixo tremendo pra caralho.

— QUAL É A PORRA DO SEU PROBLEMA?! — E ela berrou, o pescoço vermelho de tão forte que ela gritava, finalmente soltando a maluca que ela tinha aprisionado muito bem dentro dela. Passei o dedo na gotinha de baba dela que voou na minha cara e minha intenção nem era ser engraçado, mas escutei algumas pessoas rindo. Eu só conseguia pensar que me livrei de uma boa. — O que caralhos ele fez por você?! Ele é só a porra de um cara normal, eu... eu, porra, EU FAÇO TUDO POR VOCÊ, TUDO!!

E eu não hesitei na minha resposta.

— É, tá aí. Acho que eu não quero alguém que faça tudo por mim.

Paralisada, ela me fitava em silêncio, as lágrimas escorrendo pelos olhos decepcionados.

O refeitório observava, sem dar um pio.

Me abaixei e peguei a jaqueta, jogando-a sobre meu ombro direito enquanto me levantava.

Uraraka continuava a me encarar, a boca entreaberta, os olhos que, sem vida, nem piscavam. Ela não tinha vergonha de deixar as lágrimas caírem.

O seu sofrimento era real, mas, assim como da outra vez, não me comoveu.

Você me fez escolher, Uraraka.

Então, isso não poderia terminar de outra forma.

— Desculpa, mas eu te avisei. — Falei, por fim, já virando as costas. — Te falei que você não ia gostar da resposta.

E eu caminhei lenta e tranquilamente até a saída do refeitório, sendo alvo dos olhares de todos ali, apesar de ninguém ter feito qualquer piada ou soltado uma única palavra sequer.

Eu não sou o tipo de pessoa que acha maneiro trazer discussões a público, mas eu só... senti uma raiva muito grande que não pude controlar.

O engraçado era que eu não sentia nada sobre isso. Eu estava terminando com a menina que, há uma semana, eu pensava em namorar...

E eu não sentia nada sobre isso.

Na verdade, acho que eu sentia até um pouco de... sei lá, alívio?

Isso me faz pensar que...

Será que, algum dia, eu realmente gostei dela?

Ou será que...

Andando pelos corredores quase vazios – porque a maioria dos alunos tava no refeitório ou em qualquer outro canto –, peguei a jaqueta pendurada em meu ombro, a jaqueta preta e vermelha com meu nome atrás.

Lembrei do rosto de Izuku de mais cedo, quando eu o encontrei vagando pelos corredores como se estivesse perdido. Lembrei do jeito que ele... simplesmente não parecia ele.

E de como isso partiu o meu coração.

A forma como ele se virou para me olhar quando eu estava indo...

Eu queria tanto não ter ido.

Mas eu fui. Porque eu sabia que ele não queria que eu ficasse.

Observando a jaqueta, encontrei ali as leves marcas de tênis que Uraraka deixou.

Suspirei.

Eu a dei de presente pro Izuku. Ele sabia disso, mas, mesmo assim, entregou pra ela.

Por quê?

Apertei os lábios ao mesmo tempo em que eu esmagava aquele tecido entre meus dedos.

Tudo bem, eu vou lavar a jaqueta.

E faço questão de ir na casa do Izuku entregar.


Notas Finais


rs
EAI? CURTIRAM???????????????
espero que tenham surtado muito, tô ansiosa pra saber oq vcs acharaaammmmm
calma que a Uraraka não vai desistir tão fácil hein K
a mecha do cabelo ainda atacará de novo
E AGORA INICIA A NOVA FASE DA FANFIC QUE EU TAVA TÃO ANSIOSAAAAAAA PRA FAZEERRR AAAAAAAAAA
IZUKU NA YUEI CAMBADAAAAA PORRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
gente, sério, essa fic tem vida própria............... eu juro que essa cena do quase suicídio não foi NADA planejada, SE VCS QUEREM ME APEDREJAR PFV N É CULPA MINHA, A FIC TEM VIDA PRÓPRIA, EU SOU APENAS A ESCOLHIDA PRA SER A PORTA-VOZ DELA 😭😭😭
EAI GOSTARAM??? BEIJOS E ATÉ O PRÓXIMOOOOOOOOOOOO
não esqueçam de me seguir no Twitter!! Tudo sobre a webcomic dessa fanfic tá lá https://twitter.com/KoorinRyo <3
AMO VCS


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