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História A Terra do Céu Cinza - Fim da Linha


Escrita por: gabbyxx

Capítulo 7 - Fim da Linha


Fanfic / Fanfiction A Terra do Céu Cinza - Fim da Linha

Apague as luzes, alimente o fogo até que minha alma se liberte.

Meu coração está livre, não lute mais contra suas lágrimas”.

Secret Door, EVANESCENCE

 

Acordo recostada no ombro de Rick, surpresa por nossa proximidade lembro-me dos ocorridos da noite passada. Depois estarmos bem alimentados, ajeitamo-nos pra dormir, ele insistiu que eu continuasse a seu lado e conversamos até que eu pegasse no sono... Não lembro exatamente de nada que falamos um ao outro.

Todos ainda estavam dormindo, o ar na floresta era gelado e o silencio me incomodava, quieto demais. Levantei e olhei em volta, a neblina crescia, Rick respirava fundo e pesado, sinto algo estranho por dentro enquanto o observo dormir, mas ignoro a sensação e olho para frente. Todos menos Sever estavam dormindo. Andy e Max estavam aconchegados tranquilos no chão, mas a garota maluca de cabelos azuis estava sentada com pernas de índio, olhando fixamente para a frente, onde estava uma porta velha e mau cuidada.

Levantei-me com cuidado para não acordar Rick e caminhei até Sever sem fazer barulho, sentei-me a seu lado e nada disse, apenas a fiquei observando durante um longo tempo, ela parecia com sono, mas eu sabia muito bem como era estar com sono e não conseguir dormir por seus pensamentos e era exatamente assim que ela estava no momento.

-Não consegue dormir? –Finalmente digo, quebrando o silencio tão congelante quanto a noite.

Ela faz que não, e então percebo que em seus olhos há lagrimas e em suas mãos há uma espécie de medalhão daqueles em que antigamente guardavam fotos. As fotos em questão presentes nele é uma versão de 14 anos de Sever, Skye para ser exata, junto com um Rick magrelo e com cabelo raspado sorridente e um Andrew mais alegre, ambos com uns 10, 11 anos, no máximo. A outra é Skye com seus 17, 18 anos, abraçada a uma versão mais nova e alegre de Paul, o cara que havíamos lutado no torneio.

Sever olha para mim com um sorriso ferido e diz:

-Eles eram meus melhores amigos. –Dou um sorriso de compaixão a ela e espero, pois parece que ela tem mais coisas a dizer, mas como ela não diz nada, então quem fala sou eu:

-O que aconteceu? –Estou de testa franzida.

Sever suspirou e olhou para o céu cinza acima de nossas cabeças enquanto falava:

-Escolhemos caminhos diferentes. –Ela então engole seco. –Eu sempre fui muito sozinha até a chegada dos dois ao orfanato... Aquilo era um inferno. Eles faziam... Testes comigo, porque... –Ela está de testa franzida, tentando achar uma forma fácil de dizer.

-Porque você era diferente. –Concluo, pois ela não consegue dizer, lágrimas lhe escorrem dos olhos. Ela apenas assente e continua:

Ela faz que sim com a cabeça.

-É... Eles sabiam que eu tinha esses dons e fariam tudo para estudar e saber tudo sobre pessoas como eu... Pessoas como você. E eu depois de um tempo já estava farta de ser torturada, estudada... Abusada... –Ela me olha nos olhos. –Então Rick e Andrew chegaram, tinha que ver como Rick era... –Ela sorri. -Tão esperançoso, tão cheio de vida... Eles eram como meus irmãos mais novos, mas como eu, eles também eram vitimas da Irmandade e eram treinados para serem mais um soldado a obedecer ordens no meio de tantos Senhores da Guerra. –Ela faz uma pausa pensativa. –Rick odiava isso (oh, como odiava), mas Andrew era ambicioso, ele, ele queria ser um Senhor da Guerra. –Ela olha suplicante pra mim, com um sorriso insano de desgosto. –Eram só crianças, Alex! Crianças! Entende a gravidade da coisa?

Sinto-me nauseada por suas palavras, com um nó na garganta, a crueldade da Irmandade cada vez se mostrava maior.

-Rick e eu passamos três anos fugindo e sendo capturados novamente pela Irmandade eventualmente, mas a cada vez, víamos que Andy estava mais próximo de se tornar um Senhor da Guerra... E quando Andrew fez 14 anos, ele de fato se tornou. Aquilo foi o suficiente, eu lembrei-me de um garoto que conheci numa de nossas fugas e com quem havia me envolvido, esse garoto era Paul e lembrei-me que ele havia falado da Ordem... Então eu e Rick planejamos fugir novamente, mas... Andrew descobriu tudo. Eu consegui fugir, Rick não. –Ela desviou o olhar de mim, não aguentava as lembranças, tudo a machucava demais. –Eles transformaram de Rick em um Senhor da Guerra, Alex! Você não faz ideia das coisas que o fizeram fazer... Mas então um dia, há um ano ele bateu a porta da Ordem cansado daquilo tudo e querendo um lugar para ser alguém melhor e que lutasse pela coisa certa... Mas como eu, ele viu que não passavam de mais um bando de hipócritas cruéis. A diferença é que ele não aguentou ficar muito tempo ali... –Ela sorri balançando a cabeça negativamente, dentro de suas memórias, eu via em seus olhos um grande carinho e respeito por Rick.

Não sei o que responder, fico um tempão apenas em silencio, pensando em suas palavras e por fim decido que o melhor a dizer é nada. Toco suas costas de forma reconfortativa e apenas digo:

-E quanto a Paul? Namoraram por muito tempo?

Ela sorri.

-Mais ou menos. –Ela olha pra mim maliciosamente. –Eu tinha uns rolos de vez em quando, mas ele era o único que eu sempre voltava a pegar... –Sever então ri e eu fico feliz por tê-la feito mudar de assunto, embora seja meio constrangedor para mim. –Sabe como é, é difícil resistir a um moreno gostoso. –Ela olha de relance para Rick, e então sorri maliciosamente pra mim. –Acho que você sabe muito bem do que falo.

Okay, muito constrangedor. Sinto que estou vermelha e escondo meu rosto, mas sinto necessidade de respondê-la, então digo apenas um “é”, e ela ri deliciada, quase a ponto de bater palmas.

-Eu sabia, eu sabia. –Ela diz. Então se recompõem e limpa a garganta dizendo: -Vamos acordar os outros, está na hora.

Levanto-me, aliviada e digo:

-Com prazer.

Já estou me dirigindo para acordar os outros, quando Sever ri e diz, fazendo couro com a vozinha em minha mente:

-Não pode fugir para sempre do que sente.

Agora quem ri sou eu, mas é uma risada forçada. Sever revira os olhos e então levanta e dá um berro dizendo a todos:

-Vamos cambada! Abri uma porta para a estação de trem dos Campos Infinitos, precisamos despistar a Irmandade. Acordem inúteis!

A seguir ouço um conjunto de resmungos e de vozes recém acordadas praguejando. Rick se senta e ajeitando o seu cabelo diz em um bocejo com voz sonolenta:

-Tinha esquecido como a mademoiselle sabe ser um verdadeiro pé no saco. –Rick dá um longo bocejo enquanto Sever sorri e diz a ele:

-Então é bom começar a se lembrar, lobinho.

 

Estávamos no meio do nada, para onde eu olhava tudo que via era apenas um monte de grama que deviam bater na altura de meu joelho. De vez em quando havia algumas poucas árvores folhosas e o único sinal de vida humana era uma velha estação de trem caindo aos pedaços, não era grande, parecia na verdade um casebre antigo não muito sofisticado que algum dia fora vermelho, mas agora de tão descascada a tinta, mal vemos sua cor, há uma pequena área com um ou dois bancos abaixo da janela para aqueles que quiserem sentar aguardando o trem, nada mais que isso. Os trilhos cortam o grande campo em dois, mas não há sinal de onde ele termina ou onde ele começa, muito menos de a onde ele irá nos levar.

Depois de sair da porta que Sever abriu há alguns segundos atrás e de olharmos em volta analisando tudo, duvidas começam a surgir em minha cabeça, o silencio se torna incomodo e então sinto a necessidade de perguntar:

-Afinal, não teria sido mais fácil abrir uma porta direto para a Colina das Velas que Nunca se Apagam?

Sever faz que não, e então diz:

-A Morte deixa encontrarmos a ela apenas quando ela quer. –Franzo a testa e abro a boca para falar, mas antes que eu tenha chance ela continua: -No entanto, todos os trens passam pela casa dela antes de irem para a Rodovia do Inferno.

Ainda estou com expressão de quem não está entendendo muita coisa quando Andrew fala com um sorriso sombrio:

-É pra lá que o Condutor leva todas as almas que cruzam seu caminho. –Ele faz uma pausa e me encara, como meus tios costumavam fazer quando contavam-me contos de terror. –Ele trabalha para Morte, que tem se aliado a Irmandade por motivos óbvios, desde que o hippie de sandálias venceu a morte no seu mundo, ela tem perdido muitos “clientes”, afinal muitos foram perdoados por seus pecados e não mais irão perecer por crer nEle, mas terão vida eterna, e como vocês sabem... O maior propósito de todos da Irmandade é condenar o maior número de pobres almas perdidas ao fogo ardente do Inferno... –Seu sorriso se torna ainda mais largo e isso me dá um arrepio. –E digamos que eles estão se saindo muito bem com isso.

-Isso é horrível. –Digo.

-Concordo. –Ele diz, mas seu sorriso estranho ainda está ali. –Mas você ainda não viu nada, garota...

-Já chega, Andy. –Rick o interrompe e limpa a garganta. –Não a assuste mais.

-Eu não estou assustada. –Rebato, o que era mentira, mas não queria que soasse como se precisasse que Rick me defendesse.

Rick abre a boca em resposta, mas então notamos o barulho do trem se aproximando de nós e Max diz:

-Parem de brigar, o trem já está chegando.

Logo o trem que levava a Morte parou com uma barulheira infernal de rodas rangendo ao serem paradas pelo freio, o ar se encheu de fumaça, pois era um trem antigo, movido a carvão, uma típica locomotiva antiga, daquelas que vemos em filmes, a estação antiga se balançou toda com a parada, como um pequeno terremoto, e quando a barulheira finalmente chegou ao fim, a porta do primeiro vagão se abriu e dele saiu o Condutor.

Ele era um senhor de meia idade magrelo, tinha bigode de pontas viradas e usava um uniforme azul com vermelho, seu cabelo era divido ao meio e preto bem grudado na cabeça, ele usava um daqueles óculos antigos de só uma lente e de seu bolso esquerdo pendia uma corda de relógio de bolso. Ele olhou para cada um de nós nos avaliando, parecia até mesmo farejar algo quando disse:

-Passagem para quantos, por favor?

Sever abriu a boca para responder, mas Rick se meteu na frente e disse:

-Duas médiuns, um médium, um humano e um vampiro.

Ele usa o termo médium pra se referir a mim, a Sever e a Max por nossos dons. O condutor levantou uma sobrancelha como se não acreditasse, Sever olhava de cara feia para Rick, como se ele tivesse feito alguma coisa errada. Depois de mais um tempo farejando e nos analisando, o Condutor por fim diz:

-Está bem, vocês podem embarcar, mas só se me entregarem suas armas.

Sever suspira, mas todos nós fazemos o que ele manda, o que demora um pouco, já que todos estávamos bem armados, mas Sever não entrega a ele as duas facas de prata que tinha escondidas atrás em sua cintura, ela olha para mim com uma piscadela discreta e eu dou um meio sorriso.

Prevenção.

Algo que era muito bom nessa hora. Quando finalmente terminamos de tirar nossos apetrechos, o Condutor dá o comando:

-Podem subir.

 

O trem era bem bonito por dentro, parecia novo em folha. Não era separado por cabines como eu imaginava que seria, era apenas diversas mesas com bancos dos dois lados espalhadas por todo o vagão. Tinha um ar meio chique, como se fosse muito antigo, mas estivesse mais bem cuidado do que a estação que embarcamos.

Antes de nos acomodarmos, ouvi Sever discutindo baixinho com Rick, como se o advertisse por algo, não sabia o que diziam, mas a ultima frase que ele disse foi “eu não podia deixar que Alex soubesse que sou um monstro” e isso me despertou uma curiosidade ainda maior. Agora eu tinha certeza: Rick estava escondendo alguma coisa de mim.

Sentamos eu, Sever e Rick de um lado e Andy e Max do outro de uma das mesas, Rick estava de cara amarrada, a conversa com Sever não deve ter sido agradável. O silencio se arrasta e isso me incomoda, então sinto a necessidade de falar, e digo:

-Rick, você ainda não nos explicou direito como encontrou a gente...

Rick suspira e diz, paciente, mas entediado:

-Eu já disse, eu me acordei com o alarme e fui ver o que estava acontecendo. –Noto que sua voz sofre algumas alterações e que seus punhos estão serrados com força, ele está tremendo e soando frio, como se tentasse se controlar por algum motivo.

Franzo a testa, mas assinto, vendo que ele não daria mais explicações.

-Rick, você está bem? –Pergunto preocupada, por ele está escondendo o rosto, porém consigo ver que seus dentes estão trincados, é como se ele segurasse uma dor muito grande.

-Não! –Ele grita, com uma voz que não lhe pertence. –Preciso de ar, estou ficando sufocado.

Então ele se levantou imediatamente e saiu em direção ao

Olho para Max, talvez com ele seja mais fácil conversar, então penso um pouco e minhas curiosidades começam a surgir:

-Como a Morte é? –Faço uma pausa e explico: -Quer dizer... Ela é uma caveira com um manto como nas imagens que estamos acostumados a ver em lendas urbanas?

-Ninguém sabe. –Max diz, depois de um silencio fúnebre, já que ninguém se prontificou a responder. –Bem... Digamos que todos que a veem não estão vivos para contar história... –Max disse dando de ombros, meio desconfortável, como todos os outros estavam, embora eu não entendesse bem porque.

-Todos os humanos. –Corrigiu Andrew quase automaticamente, fazendo com que todos olhassem pra ele. Ele desvia o olhar, em direção a janela e soa distante quando fala: –Eu já a vi. Uma vez.

O silencio se torna ainda mais morto, e ninguém tem coragem de falar, o ar está gelado por algum motivo que desconheço, mas quando alguém finalmente fala, esse alguém sou eu, por algum motivo me ocorreu que eu não devia temer a morte, porque ela era algo que fazia parte da vida, o que dava fim a essa vida.

-E... Como ela é? –Digo, minha voz soa fraca, mas curiosa.

Andrew dá aquele mesmo seu sorriso coberto de malicia.

-Ah, ela não revela sua verdadeira forma, não. Não a quem a teme pelo menos. –Ele diz. –Ela assume a aparência daquele que ela levou que você mais amava... Mais isso varia, alguns outros que conheci, disseram que ela era uma bela dama de preto.

Um arrepio percorre meu corpo enquanto me pergunto de quem ela assumiria a forma, ou se ela mostraria para mim sua verdadeira forma e percebo que todos a minha volta estão do mesmo jeito, todos tem medo daquilo que irão encontrar, ou mesmo se irão voltar dessa viagem sem que partam para outra: a viagem para um país desconhecido, do qual jamais voltou nenhum viajante.

-Que estranho... –As palavras mal saem da minha boca e somos surpreendidos por uma brusca parada no trem e o barulho de alguém embarcando. –Quem é que...?

-Shiu. Fique quieta. –Sever me interrompe em um sussurro colocando a mão na minha boca. –Isso não pode ser bom.

Faço que sim e fico quieta, assim como os outros. Todos estão com expressões que variam de expectativa a pânico, ouvimos então a voz do condutor e de outros três homens, eles perguntam por nós, o que é estranho. Vejo pânico tomar conta dos olhos de Sever quando ela diz:

-Essa não!

-O que foi? –Sussurro para ela automaticamente.

-Vento Negro. –É a única coisa que ela diz em resposta antes de se abaixar e se esconder embaixo da mesa.

Que ótimo Sever! Muito heroico de sua parte, estou impressionada.

Oh, cale a boca, eu sei que você faria o mesmo se não estivesse tão paralisada por seu medo. Disse-me a voz em minha mente, e a ela eu respondo apenas um “cale a boca, você!”.

-Vento negro? –Repito.

-São mercenários. –Max diz e eu olho para ele. –Tipo um a seita, só que de ladrões, também são contrabandistas de almas... Mas pelo que eu sei, a maioria deles está se aliando a Irmandade para não perder mercado...

Faço uma careta e digo, sarcástica, como sempre:

-Mas que ótimo...

Mal termino de falar e a porta do vagão se abre, então por ela o Condutor e outros três homens entram. Todos eram altos e fortes e vestiam roupas de estilo antigo que pareciam ser muito caras, o que aparentava ser o líder deles, tinha cabelo rosa e curto (perto do cabelo dos outros) e bem repicado, mais ou menos na altura do queixo na frente e mais curto atrás, ele tinha olhos verdes e usava um brinco de cristal na orelha direita, o segundo era um loiro com o cabelo mais ou menos na altura do meio de suas costas, ele tinha olhos rubros e usava um brinco semelhante na orelha esquerda, já o terceiro não usava brincos, tinha um colar no pescoço com um cristal igual o dos outros, o cabelo dele era o maior de todos, ia até a cintura e era preto bem escuro, ele tinha olhos azuis, mas não era um azul comum, era penetrante, via através da minha alma, como se soubessem o destino dela.

Eles caminharam até nossa mesa, e ali ficaram parados nos observando, o de cabelo rosa levou a mão ao queixo, pensativo, e depois de alguns segundos incontáveis nos quais eu tentava me manter calma, ele por fim disse se dirigindo ao Condutor:

-Você não havia dito que havia com eles um Filho da Lua?

O Condutor franze a testa e diz, sem entender o que estava acontecendo, sua voz soa estranha, como se ele tentasse disfarçar o pânico que sentia e de sua testa pingavam gotículas de suor:

-Não entendo... Eu podia jurar ele estava aqui com eles...

O louro assume uma expressão carrancuda e se aproxima do Condutor de forma intimidadora passando pelos outros de forma brusca, eles lhe abrem passagem e os olhos rubros tornam-se mais avermelhados e faíscam.

-Você mentiu. –Ele fala dando ênfase a palavra, é possível sentir o nojo em sua voz. –E a mentira tem um preço alto para o Clã Vento Negro!

-M-mas... Vocês ainda terão as almas! –O Condutor fala imediatamente, seus olhos estão arregalados, ele está com muito medo.

O louro dá um sorriso sombrio.

-Não é a mesma coisa, você sabe. –Ele então olhou para o cara de cabelos pretos e disse autoritário: -Tristan, mate-o!

Tristan deu um passo a frente e estendeu sua mão direita, a esquerda ele mantinha segurando o pingente de seu colar, e como se seus poderes viessem daquela pedra, uma grande luz preencheu o vagão, o que fez com que eu precisasse fechar os olhos, mas quando os abri o Condutor havia virado pó, ele havia sido completamente desintegrado até sua morte e seu assassino assumia uma expressão de culpa e remorso, como se não quisesse ter feito aquilo a ele.

O cara de cabelo rosa dá um passo a frente, e sopra com sua boca um vento gelado que leva aquela pó semelhante a areia embora. O louro toca o ombro dele, e então pergunta com um sorriso largo, como se a morte do Condutor fosse um doce que ha muito tempo ele desejava para saciar sua fome interminável por sangue:

-O que fazemos com os outros, James?

James, o líder, olhou diretamente para Max e disse:

-Quero dar uma palavrinha com ele ali. –Ele estampa um sorriso cruel. –Pelo que sei, ele é membro do Conselho da Ordem. –Ele então olha para mim e depois até demais para Andy. –Vigiem eles, se tentarem qualquer coisa já sabem. –James faz um sinal de alguém cortando uma garganta em seu próprio pescoço, como um aviso.

Max engole seco, e James o pega pelo braço e o leva para o fundo do vagão, onde os dois começam a discutir, de vez em quando ouço Max gritar, como se sua cabeça doesse e entendo que James o está torturando mentalmente com alguma coisa para obter as respostas que ele quer, sem dúvida eles trabalham para a Irmandade do Anjo Caído, pois também ouço o louro, que agora eu sabia que o nome era Kilik, discutir com Tristan algo sobre Tristan não conseguir seguir direito as ordens do Grande Líder.

Troco um olhar com Andrew, uma de minhas sobrancelhas está levantadas, como se eu o questionasse e dissesse a ele em pensamento “Faça alguma coisa! Pule no pescoço deles e lhes morda, sei lá”, ele dá de ombros para mim, e eu cruzo os braços irritada. Parece que estou por conta própria. Mesmo fazendo tempo que não procurava a Deus ou falava com ele para qualquer coisa, peço a ele em pensamento, que ele nos ajudasse a sair dessa roubada.

 De repente levo um susto, alguém agarra meu tornozelo, esforço-me para não gritar, e olho para baixo, vendo que fora Sever quem o havia feito, havia me esquecido completamente de sua presença. Ela então leva os dedos aos lábios, fazendo sinal para que eu faça silencio e eu faço que sim.

Sever estava segurando as duas facas de prata que lhe restaram, arregalo os olhos sabendo que ela pode fazer alguma besteira e sussurro para ela:

-Cara, o que você vai fazer?

Ela suspira, mas não responde minha pergunta, apenas me entrega uma das facas e diz:

-Pegue isso e use quando necessário. –Ela dá um sorrisinho nervoso. –Eu acho que você sabe muito bem como fazer isso sem fazer besteira, né? Mas agora observe.

-Sever, você não pode... –Digo o mais baixo que posso, mas ela não me ouve, nesse momento já havia saído engatinhando por debaixo da mesa até não estar mais escondida e completamente exposta a eles.

Noto que Tristan não está mais aqui nesse vagão, talvez tenha saído pra procurar Rick, provavelmente, já Kilik está distraído e assovia uma música de melodia sombria. Sever se aproximou dele sorrateiramente e encostou a faca em suas costas, Andrew observava tudo com um grande meio sorriso que se tornou maior ainda quando Sever anunciou:

-Levante as mãos e se vire de vagar que não irei lhe machucar!

Kilik levantou as mãos e virou-se lentamente, quando ele e Sever estavam cara a cara, foi possível ver seu largo sorriso de deboche.

-Acho melhor você largar isso antes que você se machuque.

Sever abriu a boca pra falar, mas foi interrompida. A sequencia de coisas que aconteceram a seguir foi muito rápida, e eu não consegui compreende-la muito bem, apenas sei que James estalou os dedos e nesse instante tudo virou um caos. Max havia conseguido pegar uma arma e a apontava para a cabeça de James, mas ele o congelou no tempo e fez a bala desviar. A seguir com uma velocidade sobre-humana veio parar na frente de Sever e entortou sua adaga, como se alguma coisa quente a moldasse, de modo que Sever a largou pelo calor que queimava sua mão.

-Vamos aquecer um pouco mais as coisas. –Kilik disse com um sorriso quase demoníaco, e nesse momento tudo ao nosso redor começou a pegar fogo, de modo que estávamos presos naquele vagão sem puder tentar fugir para outro.

Nisso Tristan entrou novamente no vagão, Sever estava cercada, mas Andrew não ia deixar isso assim, Andy se transformou em vampiro e pulou no pescoço de Tristan que ficou desesperado tentando se libertar dele, eles foram lutando e se debatendo até chegarem na porta do vagão que com a pancada dos corpos deles contra ela, a porta se quebrou, abrindo um buraco no vagão pelo qual os dois caíram e saíram rolando pelos campos de grama.

-Andy! –Grito, pensando que ele pode ter se machucado feio, mas entre as labaredas de fogo pela janela vejo que ele está bem e que eles continuam a briga.

-Parece que agora somos apenas nós dois contra você, Sever. –James diz se aproximando de Sever.

Sever se encolhe, esperando por sua morte, mas nesse momento eu tenho um acesso de coragem e saco a faca de prata, pronta pra lutar, levantando-me do banco e dizendo encarando James nos olhos:

-Não! São vocês dois contra nós duas!

-Garota! –Sever diz surpresa, quase como se tivesse lagrimas nos olhos por minha demonstração de preocupação por ela.

-Olhe para isso James, estou até comovido! –Kilik diz juntando as mãos fazendo beicinho e piscando os olhos.

James sorri, divertido e dá uma adaga para Sever, agora eu estou de costas para Sever e de frente para Kilik que também sorri, e ela está de frente para James que diz:

-Isso está começando a ficar interessante. Quando acabarmos com vocês, serão nossos prêmios, pobres malucas... –Ele finge fazer cara de pena.

-É deplorável ver a criatura que você se tornou, James! –Sever diz. –Trabalhando para Irmandade, quando o conheci você era apenas um pobre filho mãe que roubava para comer. O Vento Negro era um grupo de ladrões, mas não porque o queriam ser, e veja o que vocês se tornaram, capachos do Grande Líder, tão cruéis quanto eles... Você era um babaca, James, mas pelo menos ainda tinha alguma moral...

-Moral? –James praticamente cospe a palavra em Sever. –Quem é você para me falar de moral? Você já se esqueceu de como nos divertíamos juntos? –Ele dá um sorriso malicioso e diz: –Você não passava de uma vadia maluca. –Sever está tremendo, eu vejo que a raiva nela está aumentando a todo o momento, o passado dos dois os ligava de uma forma tão intima que ela detestava lembrar, um erro, uma coisa que mudara sua vida para sempre. -Tenho muita pena de Paul, você destruiu o coração dele, por mim!

-Já chega! –Sever berra, mas essa não é a voz dela, é a voz de seu demônio.

Quando James percebe que havia conseguido tirá-la de si ele se delicia em um sorriso e o que acontece a seguir faz com que eu arregale os olhos, Sever se transforma completamente, seus olhos ficam negros, sua pele branqueia e seus cabelos parecem um fogo azul. Ela avança na direção de James com a faca que ele lhe deu sedenta de sangue, investindo violentamente contra ele.

É nesse momento que a minha luta também começa e que não tenho mais tempo para observá-la. Kilik é um lutador muito melhor do que eu, de modo que grande parte das vezes ele desvia de meus golpes enquanto eu levo varias cotoveladas e socos. Noto que o fogo agora já se apagara, mas que tudo a nossa volta estava realmente muito destruído.

-Onde você aprendeu a lutar? Minha avó luta melhor que você, menina! –Kilik grita, tentando me irritar. –O que está fazendo aqui? Esse não é seu lugar, devia voltar para casa enquanto pode!

Ouviu? Esse não é seu lugar garota.

-Cale a boca! –Grito, sem saber se falo com Nightmare ou com ele.

-Você é só uma garotinha, me dá muita pena.

Só uma garotinha. Ela ri diabolicamente e sua voz me deixa fraca e tonta.

-Cale a boca! Cale a boca! –Continuo a gritar fora de mim tomada pela raiva.

O terreno em que o trem está entrando agora é ruim, de modo que o trem dá diversos solavancos estranhos, mas um deles me é vantajoso, pois faz com que Kilik cai, de modo que agora eu estou em cima dele com a faca em seu pescoço, a expressão dele é de puro terror, como se o que ele visse não fosse eu, mas sim um demônio.

-Quem é a garotinha agora? –Berro, fora de mim e faço um corte na bochecha dele enquanto ele dá um longo grito agonizante que não me deixa satisfeita, mas gosto da sensação, eu me sinto poderosa, eu me sinto invencível.

Faço mais alguns cortes em seu rosto, mas então largo a faca, entediada, isso não era bem o que eu estava querendo.

-Por favor! Me mate logo! –Kilik berra.

Um sorriso surge em meu rosto e um brilho me chama atenção para o brinco em sua orelha. Quando ele percebe isso, ele arregala os olhos, e eu sei que é isso o que estou procurando. Com um sorriso ainda mais cruel em meu rosto levo minha mão direita ao brinco e enquanto ele grita vários “não’s” com os olhos arregalados de puro pavor eu o tiro de sua orelha e uma luz semelhante a que cobriu o vagão quando Tristan matou o Condutor começa a surgir, e aos poucos Kilik vai envelhecendo até virar pó e ser levado pelo vento.

Eu lhe avisei. Você é igualzinha a mim. A voz em minha mente fala, triunfante, eu havia feito o que ela queria: havia sido tão cruel quanto ela.

Estou olhando pela janela com os olhos arregalados, vendo que uma nuvem impressionante de um monte de pessoas cercam os trilhos de todos os lados. Agora os campos se tornaram mais secos, e são mais altos, porque são na verdade uma grande plantação de milho.

Um solavanco muito grande atinge todo o trem e ele para, ao que parece havíamos chegado ao fim da linha, e isso fez com que eu voltasse a mim, e a culpa por meus atos logo tomou conta de minha mente e eu me sinto tonta. Mas eu não tinha tempo para drama, tento me manter sã e ciente daquilo que está acontecendo a minha volta.

Noto então que a multidão de pessoas que nos aguarda do lado de fora são na verdade milhares de zumbis de boca costurada e isso faz com que o medo que sentia de mim mesma naquele momento se transmita para outra coisa. Sever havia cercado James na parede e apontava a faca para seu pescoço.

-Eu vou lhe matar! –Ela berra. –Você destruiu minha vida!

James ri, deliciado.

-Sever, você mesma destruiu a si mesma! –Ele ri novamente. –Mas agora já está na minha hora de ir, creio que os zumbis terminarão muito bem aquilo que você começou.

Sever então se prepara para cravar a faca no pescoço dele, mas acaba acertando a parede do vagão do trem, pois James desapareceu, era como se nunca estivesse ali, nenhum sinal havia de sua presença.

-Maldito! –Sever berra.

Ela cai ajoelhada no chão, socando a parede por sua frustração, ainda estava um pouco fora de si e com muita raiva. Eu caminho até ela, preocupada com os zumbis, pois o trem balançava agora, eles estavam tentando entrar. Ajoelho-me ao lado dela e digo:

-Sever, temos um problema.

Ela então parece voltar a si e olha pelas janelas, ao se deparar com os zumbis ela arregala os olhos e diz soando preocupada, mas não mais desesperada e uma psicopata:

-E essa agora.

Ela revira os olhos e se recompõem, pegamos a arma da mão de Max, que ainda estava congelado, com certa dificuldade, então nos preparamos e ficamos a espera dos zumbis. O pânico tomando conta de nós. Eles arranham desesperados as paredes e janelas do vagão do trem por fora, está frio, nossa respiração faz fumaça no ar. Estamos só nós duas contra toda aquela multidão...

1... 2.... 3....

Eis que então as janelas do trem explodem, eu e Sever nos abaixamos para que os estilhaços de vidros não nos atinjam, a seguir literalmente uma onde de zumbis começa a cair dentro do trem, eles estão desesperados, como se estivessem sedentos por alguma coisa, eles estavam programados para matar, eles se amontoam, empurrando uns aos outros, chegam perto de mim e de Sever agarrando nossos braços e pernas, nós lutamos contra eles tentando nos libertar, ela atira diversas vezes contra todos eles, mas nada parece adiantar.

-Estamos mortas. –Sever sussurra para mim em pânico enquanto continuamos com a luta, que parece ser e é inútil.

Mas de repente, quando parece que é nosso fim, o mesmo lobo negro que me salvara dos lobos negros na Floresta Escura entrou pela abertura da porta, ele parecia ainda maior que antes, mas estava com a mesma força destrutível que tinha. Ele dilacerava todos os zumbis, jogava-os pelas janelas e matava-os (não sei dizer como era possível), mas logo não restou mais nenhum zumbi ao nosso redor.

No entanto, isso não significava que nossas vidas ainda não estavam sendo ameaçadas, o lobo negro parecia farejar novamente, como se sentisse um cheiro conhecido, porém dessa vez ele rosnava de forma ameaçadora, como se não nos diferenciasse dos zumbis. Eu e Sever nos escondemos debaixo de uma das poucas mesas que sobraram inteiras, mas seu faro acabou o levando até a gente, ele arrancou brutalmente a mesa enquanto nós gritávamos em pânico, ele nos mataria, eu tenho certeza.

O lobo não se parecia exatamente com um lobo, ele era meio humano, ele era um típico lobisomem! Por isso era tão maior que os outros. Ele então me encara com o mesmo olhar que tinha ontem, aquele olhar familiar, que parecia me achar familiar também. Ele ficou assim me encarando por uns dois minutos, então soltou novamente um grande uivo, e partiu pela abertura do trem, sumindo entre as plantações de milho.

-Mas que merda foi essa? –Sever diz fazendo-me voltar a mim.

Meu coração estava acelerado e minha respiração ofegante, de modo que tento me acalmar e digo fazendo que não com a cabeça:

-E-eu não sei.

Depois de longos minutos em silencio, levanto-me e ajudo Sever a se levantar. Pergunto se ela está bem e ela responde:

-É... Na medida do possível.

-Sever, posso lhe perguntar uma coisa? –Arrisco-me a dizer e ela dá de ombros. –Você traiu Paul com James? –Ela fica muda. –Foi por isso que o perdeu?

Ela suspira e diz:

-É mais complicado que isso garota. –Sever faz uma pausa, de testa franzida, pensando como me explicar a coisa. –Eu o trai, sim. Mas a coisa foi mais além, a traição foi também a Ordem. Paul tinha uma irmãzinha mais nova... Eu não sabia o que James queria fazer... Mas no assalto que o Vento Negro fez a sede, acabou levando não só um pouco do nosso ouro, mas a vida da irmã de Paul também.

-Sinto muito. –Digo com pesar, Sever parece triste.

Ela assente, então olha para Max e diz:

-O que vamos fazer com ele?

Dou de ombros.

-Não tenho a mínima ideia.

Nesse momento somos surpreendidas por Andrew e Rick, que entram pela porta dilacerada do vagão do trem, mas eles não estão sós, carregam Tristan rendido. Sinto vontade de correr até Rick e abraçá-lo e não soltar mais, mas não faço nada disso, apenas digo:

-Graças a Deus vocês estão bem. Estávamos preocupadas.

Rick faz que sim, mas nada mais fala, ele passa por mim e por Sever segurando Tristan pelo braço, levando-o até onde Max está. Ele então encara Tristan nos olhos e diz:

-Traga ele de volta! –Tristan fica em silencio, então Rick grita como uma ordem: -Agora!

Tristan franze o cenho, e fala, calmo, sem lhe olhar nos olhos, ele não é o que eu chamaria de um vilão:

-Não precisa gritar comigo, eu o faria mesmo se não o pedissem. –Ele então olha para Andrew. –Me desculpe. –Andrew sibila para ele e Tristan dá um meio sorriso. –Tudo bem.

A seguir, Tristan estende sua mão em direção a Max, como quando havia feito quando matou o condutor, e do mesmo jeito uma luz começa, mas dessa vez a “vitima” ganha vida, em vez de ter ela tirada de si.

-O que aconteceu? –Max diz voltando a se mexer.

-É uma longa história. –Andrew fala com um meio sorriso.

-Mas –Sever diz. –Estamos dispostos a contá-la.

-Mais tarde. –Rick anuncia e ela faz que sim.

-Tudo bem. –Max diz, mexendo seu pescoço para todos os lados. –Eu me sinto horrível, é como se tivesse ficado parado na mesma posição a tarde inteira.

Sever segura o riso, mas não temos tempo para explicar nada para Max, pois Tristan fala:

-Eu agradeço a todos vocês por me libertarem do Clã do Vento Negro. Eu abominava suas praticas e sua crueldade. –Tristan é estranho, ele tem a aparência de um humano normal, mas sua maneira de agir, seus movimentos, tudo em relação a ele faziam diferente, como se ele fosse de outra espécie, um outro ser e tivesse dificuldade em entender as relações humanas.

-Não há de que. –Rick disse a ele e ele assentiu.

-Agora, se me deem licença, partirei. Para sempre.-Franzo a testa por suas palavras. -Ei de pagar por meus pecados, orem para que minha alma seja redimida... E um aviso: o Grande Líder andará entre vós em breve, estejam preparados. –Ele então pega o colar de cristal de seu pescoço e o tira. –Adeus, jovens corajosos... Adeus...

São suas ultimas palavras antes dele envelhecer completamente até virar pó e desaparecer para sempre, partindo para a viagem rumo ao desconhecido. Todos ficam em silencio e há uma troca de olhares, mas todos estão com medo de falar qualquer coisa refletindo sobre as ultimas palavras ditas. O Grande Líder em breve andaria entre nós. Isso significava alguma coisa, e fosse o que fosse, não seria nada bom.

Rick então limpou a garganta, quebrando o silencio:

-Vamos sair logo daqui e acampar para descansar, assim podemos contar tudo que aconteceu a Max.



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