História After Midnight - Capítulo 7 — Friends

"Um mês depois, em meio a encontros misteriosos e secretos na madrugada, notei que você estava mais confortável comigo.

Alguma coisa tinha mudado, Lyra. Eu sabia que sim.

Sua mão pousada sobre a minha queria me dizer algo. Sua cabeça deitada no meu ombro também parecia uma pista indecifrável.

Mas, no final das contas, acho que tudo em você era como um quebra-cabeça que faltava uma peça.

— Rafael Lange."

Estava mais frio que nos outros dias. Levei um cobertor para o terraço.

Lyra estava com uma camiseta de mangas curtas e uma calça jeans. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo, as pontas eram azuis agora.

Ela esfregava os braços com as mãos. Seu cigarro mais uma vez pendia em seus lábios.

Dei mais alguns passos e ela se virou. Um sorriso apareceu no seu rosto.

Sentei-me ao seu lado. Sem eu precisar dizer qualquer coisa, Lyra tirou o cigarro de sua boca e jogou na calçada.

Não achei a atitude a mais correta — porque ela simplesmente tinha o jogado —, mas fiquei feliz ao perceber que ela fez aquilo porque sabia que eu odiava cigarros.

— Vem. — chamei. Estiquei o braço com o cobertor e ela se aconchegou do meu lado.

— Obrigada. — ela murmurou. Senti cheiro de álcool no seu hálito.

— Não precisa agradecer. — sorri — Não quer descer comigo? Podemos ficar no meu apartamento, é quente lá.

— Não, tudo bem. Gosto daqui. — ela deitou sua cabeça em meu ombro. Sorri.

— Mesmo? — ela murmurou um sim.

— Você não gosta? — perguntou com a voz arrastada, ela falava como um bebê. Parecia um pouco bêbada.

— Gosto, claro que sim. Mas geralmente venho aqui por sua causa.

— Acho isso muito fofo da sua parte, Rafinha. — ela segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Sem dúvidas tinha bebido.

— Rafinha? — perguntei rindo fraco.

— Acho que bebi demais dessa vez. — gargalhou alto — Não sei o que estou falando nem fazendo.

— Gosto de você desse jeito, mas prefiro quando está consciente.

— Gosta de mim assim por quê? Por que eu seguro sua mão e faço coisas que não tenho coragem de fazer quando não estou bêbada?

— Gosto que segure minha mão. — falei e fiz um carinho na sua — Mas acho que é porque gosto de você de qualquer forma.

— Pode dizer isso para mim amanhã? Quero me lembrar disso. — sorri — Você vem amanhã, certo?

— Claro. — murmurei.

— Ótimo. Muito melhor assim. Muito, muito, muito, muito. — disse e depois riu.

Ela era engraçada bêbada. E menos misteriosa. Não parecia a Lyra, não tinha nada a ver com aquela garota.

— Eu vou indo agora. Mas te vejo amanhã. — ela se virou e pulou do parapeito. Cambaleou um pouco e se virou para mim — Tchau, Rafaelito. — ela me deu um beijo na bochecha e saiu correndo e rindo como uma criança.

Me senti como uma adolescente que nunca tinha dado seu primeiro beijo. Me senti importante por alguns minutos. Não sei por que, mas me senti vivo como há muito tempo não acontecia.