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História All the things he said - Unico


Escrita por: bubblehunhanbr

Notas do Autor


adm Bunny aqui de novo~

em homenagem ao hunhan day, fizemos o HunHan Day Festival para comemora-lo, e aqui esta a minha fic para o projeto, usei o plot 14, “ Ao acordar, Luhan pensou que se depararia com a figura do outro ao seu lado. Porém em seu lugar, havia apenas um papel levemente amassado e dobrado. ”

espero que gostem >///<

Capítulo 1 - Unico


 

É engraçado como a vida e o destino brincam com as vidas dos humanos, sem se importar muito com o que acontecem com eles no final, se morrem ou vivem felizes. Era apenas algo que faziam para que sua existência fosse de algum valor, não era nada pessoal, afinal, não tinham sentimentos como os humanos. Nada e nem ninguém escapavam de suas mãos competentes, nem mesmo Lu Han.

Lu Han, desde pequeno, sonhava em um dia se casar na pequena igreja onde seus pais haviam casado em Beijing com uma garota mais baixa que si, com longos cabelos com fios tão macios quanto seda, seus pais ali perto, sentados na primeira fileira com sorrisos orgulhosos, e seus melhores amigos ao seu lado no altar para lhe dar forças, sua noiva teria as bochechas rubras por causa de sua timidez e Lu Han sorriria em adoração, que nem seu pai sorria para sua mãe.

Nunca esteve em seus planos descobrir (um pouco cedo demais) que não conseguia achar o sexo oposto tão atraente quanto alguém do mesmo sexo que o seu.

No começo achava que era algo normal, mas achou melhor não comentar com ninguém, até que um dia, em sua escola, começou a escutar alguns rumores sobre dois garotos estarem juntos, romanticamente juntos, e então descobriu o quão errado era aquilo que sentia. O quão sujo era. E começou a julgar os dois garotos do mesmo jeito que o resto do colégio os julgava, ignorando totalmente o nível de hipocrisia que estava usando, afinal, estava julgando a si mesmo também.

Não sentia orgulho de suas ações quando olhava para trás e via a si mesmo com aquela expressão de nojo que odiava tanto, julgando tudo que fosse fora do “normal”.

Mas o que seria o normal?

Anos depois, quando já estava no ensino médio, conheceu Yifan, um garoto que havia crescido no Canada e que, apesar de ter nascido na China, não sabia falar muito bem o dialeto e acabara sendo o excluído da sala. Usando o inglês mediano que tinha, Lu Han virou amigo do sino-canadense e descobriu que este era bissexual, o que o fez ficar surpreso (e um pouco perturbado). Levou pouco tempo para se acostumar com a ideia de que seu melhor amigo não era “normal” e logo começou a questiona-lo, tentando entende-lo e, consequentemente, tentando entender a si mesmo.

Quando finalmente começou a aceitar a si mesmo, a sua “anormalidade”, sua opção sexual, já estava se formando no ensino médio, esperando os resultados dos vestibulares que havia feito. Yifan iria para uma faculdade sul-coreana, estava confiante que havia passado no vestibular. Lu Han perguntou do amigo o por que dele ter escolhido uma faculdade em outro país e o mais alto respondera que a vida seria melhor na Coreia, que teria mais liberdade, mesmo que tivesse que esconder algo que odiaria esconder, o fato de ser gay, mas poderia ficar mais perto de seu sonho de ser um ator. Lu Han concordou, na Coreia ele teria mais liberdade e oportunidades.

Lu Han ainda tinha o sonho de se casar na mesma igreja onde seus pais casaram, mas ao contrario de quando era uma criança inocente, agora ele sabia que isso nunca iria acontecer, pois queria um noivo e não uma noiva.

Sentindo a dor do amigo, Yifan convidou o mais baixo para ir consigo para a Coreia e Lu Han comentara que havia feito o vestibular para a mesma faculdade de Yifan, que apenas riu.

_Você tem certeza que quer ir? - Yifan perguntara.

Lu Han assentiu, sorrindo.

_Quero me livrar dos meus medos.

Sabia que seus pais não aceitariam que seu único filho fosse gay. Seu pai era militar e sua mãe vinha de uma família tradicional, suas mentes, com certeza, seriam fechadas quanto a esse assunto, mesmo que nunca, durante seus míseros 19 anos de vida, tenha ouvido algum dos dois falar algo sobre o assunto. Lu Han preferia não arriscar.

Lu Han também queria fugir de algumas lembranças desagradáveis que fizera ali. Como o seu primeiro e único namorado. Nunca esqueceria que o garoto a quem entregara seu coração e seu corpo, na verdade, tinha uma namorada e apenas o usava como um brinquedo, para brincar e se divertir quando estivesse com tédio. Mas Lu Han não era de fazer drama. Preferiu adotar outra tática para descobrir o que seu namorado pensava de si.

_Alexander… O que você acha dos gays? - perguntou uma vez, seu corpo nu deitado ao lado do corpo nu do outro, a luz do abajur fazendo o suor dos corpos se destacarem contra o lençol purpura da cama de Lu Han.

_Nada contra. - deu de ombros.

_Você acha que você é gay?

_Lu Han você ta fazendo perguntas muito estranhas, o que aconteceu? - Alexander perguntou hesitante, tentando evitar responder.

Lu Han sorriu, se irritando um pouco.

_Responda.

Suspirando, respondeu.

_Eu não sou gay, eu tenho uma namorada, você é.

Lu Han preferiu, depois daquela resposta, terminar o que quer que eles tinham. Não se sentira triste pelo término do relacionamento, apenas raiva de si mesmo por ter caído na armadilha que eram as palavras doces de seu ex.

Agradecia a si mesmo por ter tomado a ideia de seguir Yifan e se mudar para a Coreia, não só pelas facilidades que haviam la, mesmo com os preconceitos que sofria de vez em quando por ser chines, mas por ter conhecido, em um dos seus últimos semestres da faculdade, Oh Sehun.

Desde que havia se mudado, ele e Yifan começaram a morar juntos e Lu Han não negaria caso perguntassem se os dois, sendo bonitos, gays e solteiros morando juntos, não teriam ao menos se beijado alguma vez. Yifan era muito bonito e seu tipo (caras mais altos), então só fez unir o útil ao agradável (sem piadas).

Depois de seu ex, Lu Han começou a evitar qualquer relacionamento mais sério, com medo de se machucar novamente, de ser tratado como um brinquedo. Apesar de não parecer, era facilmente afetado emocionalmente.

Ate que Oh Sehun entrou em sua vida.

Quando se conheceram, Sehun era apenas um calouro do curso de dança que estava em um relacionamento complicado com um aluno do sétimo semestre do mesmo curso. Lu Han o achara bonito, mas nada muito elaborado, nunca imaginou que um dia pudesse ama-lo. Sehun era fofo e não se importava de mostrar quem ele era, ignorando todo e qualquer tipo de preconceito, vivendo sua vida normalmente, com uma expressão de nada no rosto que chegava a intimidar quem não o conhecia (e quem o conhecia sabia o quão idiota e infantil o mais novo era).

Lu Han e Sehun viraram amigos inseparáveis, gerando um pouco de ciúmes em Yifan, que se sentia trocado, mas Lu Han logo tratou de lhe dar a atenção devida, brincando com o mais alto dizendo que parecia uma criança chorando pela atenção da mãe.

O chines mais velho não gostava do relacionamento que Sehun tinha com um cara mais tão velho que si, mais velho que o próprio Lu Han, parecia impróprio e ate um pouco de pedofilia, mas o coreano já era adulto e sabia o que estava fazendo. O que mais irritava Lu Han era o fato de que Sehun deixava claro que só estava no relacionamento pelo sexo, que não conseguia gostar de seu hyung mais do que um amigo e que o mais velho sabia e sentia o mesmo. Era apenas um relacionamento de conveniência e, por causa disso, Sehun não foi afetado quando seu hyung terminou o relacionamento que tinham para namorar um outro cara.

_Sehun-ah como você ta? - Lu Han o cumprimentou um dia durante o almoço na cafeteria da faculdade.

_To bem Lu Han hyung e você? - sorriu.

_Bem também. - sorriu de volta - Ouvi falar que você ta solteiro, é verdade?

Sehun riu sem graça, assentindo.

_E que o Donghae hyung ta namorando outra pessoa.

Sehun deu de ombros, assentindo novamente.

_E você ta bem com isso? - Lu Han perguntou, preocupado (e internamente aliviado).

_Eu to aliviado isso sim. - riu - Tava cansado de ver o Hyukjae hyung ficar falando que era hétero mas só faltava me matar porque eu tava com o Donghae hyung. - balançou a cabeça - Fico feliz que eles estejam finalmente juntos, o Donghae hyung tava sofrendo por causa disso, ele gosta muito do Hyukjae hyung. - sorriu, olhando para o nada - E a gente nem tava junto de verdade. - riu - Era tudo mentira, só pra fazer o Hyukjae hyung cair na real.

Lu Han sorriu junto.

_E você, Sehun-ah? -  o mais novo lhe olhou - Ta gostando de alguém?

Sehun sorriu misterioso, fitando fundo nos olhos do chines.

_Quem sabe…

É engraçado a forma como o destino e a vida brincam com a vida das pessoas. Mas Lu Han não achara nada engraçado quando em uma manhã de domingo acordara de ressaca, deitado com o corpo nu em uma cama desconhecida em um quarto que não reconhecia e com várias mensagens e ligações perdidas de Yifan em seu celular. Antes que pudesse abrir seus olhos direito pra ler as mensagens, o corpo ao seu lado se mexeu, um braço magro circulando sua cintura, lhe puxando contra o peito aconchegante se seu acompanhante, quem quer que fosse.

_Bom dia Lu Han hyung. - uma voz rouquinha que conhecia muito bem sussurrou em seu ouvido, a respiração quente contra seu rosto, fazendo um sorriso aparecer em seus lábios inchados enquanto se virava para fitar o outro, uma de suas mãos indo ao seu rosto.

_Bom dia Sehun-ah.

Ficaram se olhando ternamente, a mão esquerda de Lu Han fazendo um carinho no rosto do mais novo enquanto os dedos da mão direita de Sehun passeavam pela costa desnuda. Conversavam pelo olhar, mostrando o quanto apreciava o outro. Ate que o celular do chines começara a tocar novamente. Sehun riu baixinho, se afastando um pouco e dizendo para que o mais velho atendesse. Lu Han fez uma careta quando viu que era Yifan lhe ligando mais uma vez.

_O que é? - perguntou, ríspido.

Sehun riu baixinho ao seu lado, enterrando seu nariz na curvatura do pescoço branquinho de Lu Han.

_Olha o respeito, baixinho, posso muito bem pisar na sua cabeça e quebra-la. - Yifan riu sarcasticamente do outro lado da linha, sua voz grossa fazendo a frase soar mais como uma ameaça do que como uma brincadeira (apesar que Lu Han não duvidava que Yifan faria aquilo caso o irritasse o bastante).

_Oh, perdão gege… Deixa eu recomeçar. - segurou uma risada, virando o rosto para o lado, ficando de frente para Sehun que o olhava com um sorriso divertido - Bom dia gege, como você vai nessa manhã maravilhosa?

Yifan bufou.

_Bem, querido companheiro de quarto. - começou - Onde você se encontra nesta bela tarde ensolarada de domingo? - havia um tom de irritação naquela frase que Lu Han preferia ignorar.

_Onde estou…? - impulsionou o rosto um pouco para frente, fazendo com que a ponta de seu nariz tocasse o do outro, que pegou o celular de sua mão, selando os lábios rosados do chines antes de responder Yifan pelo telefone.

_Ele ta comigo, hyung. - Sehun respondeu, a voz rouca de sono.

_...oh.

Sehun riu.

_Sehun, se eu fosse vocês eu abria o Facebook. Tem uma coisa la que precisam ver urgentemente. - declarou com a voz séria, surpreendendo um pouco o mais novo que nunca ouvira o mais alto falar daquele jeito.

_Por que hyung? Aconteceu alguma coisa? - perguntou, já se levantando para pegar seu notebook que estava largado em uma poltrona em um canto do quarto, não se importando com sua nudez, enquanto Lu Han o observava calado, com um olhar confuso estampado em seus olhos ainda sonolentos (e silenciosamente apreciando a vista).

_Jongdae postou uma foto de vocês que ele tirou ontem na festa. Aposto que vocês estavam tão bêbados que nem perceberam.

Sehun se sentou na cama, seu rosto mais branco que o normal, fazendo o chines se sentar ao seu lado com uma expressão preocupada.

_Puta que pariu. - murmurou - Eu tava muito bêbado pra não lembrar disso. Eu já to ligando o notebook, depois você passa aqui ou a gente vai pro apartamento de vocês… eu… aish…

Sehun balançou a cabeça, abrindo o notebook e o ligando. Yifan soltou a respiração do outro lado da linha, com certeza tão preocupado e frustrado quanto o coreano.

_Eu já vou sair daqui, então, e passo ai, ok?

_Ok… E hyung…? - chamou, enquanto colocava a senha para desbloquear a tela.

_Hum?

Sehun olhou para Lu Han, que ainda o olhava confuso e preocupado.

_Da próxima vez que for contar algo do tipo, seja mais direto. - sorriu de lado, logo encerrando a ligação.

Lu Han chegou mais perto, sentando-se ao lado do coreano, puxando o lençol para cobrir suas partes íntimas (mesmo que Sehun já tivesse visto naquela noite). Sehun observava a tela do navegador carregava, logo fazendo o que deveria fazer.

_O que aconteceu? - Luhan perguntou, apoiando seu queixo no ombro magro do mais alto.

Sehun suspirou, digitando seu login na página da rede social. Como contaria aquilo para Lu Han? Perguntas começaram a brotar em sua mente insegura.

Será que Lu Han o abandonaria caso fosse algo tão ruim quanto Yifan fez parecer?

Lu Han seria forte o suficiente para suportar aquilo tudo?

Sabia que aguentaria, já que passava por preconceitos desde que havia se assumido, mas o chines mais velho ainda estava dentro do armário para o resto da faculdade e sua família, ele havia visto o preconceito, presenciado como casais do mesmo sexo eram tratados na sociedade onde viviam. Teria Lu Han coragem de se assumir ou negaria tudo?

_Sehun! - Lu Han exclamou, o cutucando e o tirando de suas duvidas.

_Acho melhor te mostrar… - comentou, abrindo o perfil de Jongdae, respirando fundo antes de procurar a foto que Yifan lhe falara.

Queria não ter encontrado.

Lu Han negara, as lágrimas de medo deslisando por suas bochechas brancas enquanto balançava a cabeça veemente, negando que aquela foto existia, negando que haviam descoberto seu segredo, negando o que havia na legenda, negando que sua vida acadêmica ficaria mais difícil de suportar. Cada não proferido abria um corte no coração jovem de Sehun, que escutava tudo em silencio, abraçando o mais baixo apertado enquanto este chorava.

Por que ali, naquela foto postada exatamente quatro horas atrás, estava Sehun e Luhan se beijando. Naquela foto estava gravado um ato que era visto como pecaminoso.

E Sehun se perguntava mais uma vez em sua vida se era errado amar um homem.

_Sehun… Sehun… Sehun… - Lu Han continuava a chamar por entre soluços, sua voz desesperada enquanto seus dedos apertavam a pele macia do mais novo.

Será que podiam fugir de tudo aquilo?

 

Kim Jongdae: Alerta de bichinhas no campus kkkk

 

Foi difícil, mas Sehun se sentia orgulhoso quando seu namorado (yehet~!) respondia as provocações e piadinhas de mal gosto com a cabeça erguida, não negando o que era e falando com um sorriso que os dois estavam em um relacionamento e não ligava para o que diziam ou pensavam sobre os dois. Mas quando os dois estavam a sós ou o chines mais baixo se trancava em seu quarto, Lu Han chorava.

Chorava pela dor que aquelas palavras lhe provocavam. Chorava pelo fato de ser imperfeito, de ser anormal, de ser pecador. Chorava ao pensar que teria que contar aos seus pais e desaponta-los.

Mas não se arrependia de ter assumido um relacionamento com o coreano. Afinal, por que se arrependeria de algo tão lindo quanto era o amor do mais novo por si? Sorria só de lembrar dos sorrisos raros de Sehun que apareciam sempre que Lu Han estava por perto (ou quando era citado na conversa, mas ele não precisava saber).

Depois de um mês os comentários maldosos dos outros estudantes não eram mais tão frequentes, ao contrário dos olhares de nojo e condenação, pareciam mais alunos do ensino básico do que do ensino superior, e então Lu Han comprou uma passagem de ida e volta para a China. Era o Ano Novo Lunar, voltaria para sua cidade natal festejar a data com seus pais.

Iria contar aos seus pais.

Yifan também iria sair da cidade, mas iria para o Canada visitar sua mãe e comemorar o ano novo chines com ela e convidou o mais novo dos três para ir junto e este prontamente aceitou. Lu Han apenas sorriu, vendo seu namorado e seu melhor amigo se darem tão bem.

_Vai fazer isso no terceiro dia? - Yifan perguntou no dia anterior a viagem. Lu Han apenas assentiu, sem desviar o olhar de sua mala de mão que estava organizando - Boa sorte, então, dìdi. - deu dois tapas na costa do mais baixo, o puxando para um abraço - Não esqueça de usar uma cueca vermelha, xiao ma.

_Yah! Só por que sou mais baixo que você não significa que pode me chamar assim. - riu, dando um leve soco no peito do mais alto que riu em resposta.

Voltar para Beijing fez bem a Lu Han, reencontrou amigos da época do colégio, falou com os familiares e matou a saudade dos pais. Sempre que possível os abraçava, usando a desculpa de que sentira falta deles na Coreia, mas a verdade era que estava, internamente, se despedindo deles.

Como na tradição, Lu Han não tomou banho no primeiro dia, ajudou na arrumação da casa , colocou o lixo para fora e lavou suas roupas, mesmo que a maioria já estivesse limpa. No segundo dia saiu com seus pais para uma visita ao Parque Jingshan pela parte da manhã e depois um passeio pela Grande Muralha em Mutianyu depois do almoço. Os lugares estavam cheios, mas já era esperado por causa do grande feriado. Lu Han se sentia feliz por estar vendo tudo aquilo mais uma vez (mesmo que não desse muita importância quando morava em Beijing). Queria que o terceiro dia não chegasse.

Quando o sol nasceu no terceiro dia do feriado do Ano Novo Lunar, Lu Han sorriu tristemente. Não conseguira dormir a noite, pensando no que dizer e arrumando suas coisas. Colocou sua pequena mala e sua mala de mão no porta-malas do carro que havia alugado para o feriado com um suspiro, voltando para dentro de casa com o coração pesado. Ainda estava cedo para que seus pais acordassem, então foi para a cozinha preparar um pouco de  chá verde.

Sentindo-se ainda inquieto e nervoso, seus músculos tensos chegando a doer, resolveu ir  para o jardim na parte central da casa de seus pais, que era de arquitetura tradicional. Sorriu, tocando em uma das colunas antes de descer os degraus de pedra, ainda se lembrava de quando sua mãe explicara que aquela casa estava na família a gerações e que quando ele casasse seria dele também. Como queria herdar aquela casa…

Caminhou pelo estreito caminho de pedra, fitando as árvores podadas e bem cuidadas, sorrindo para as carpas que nadavam preguiçosamente pelo pequeno lago, parou em uma parte que não havia árvores, sentindo a grama pinicar a sola de seu pé. Olhou para o céu antes de fechar os olhos e respirar fundo, bloqueando todo e qualquer pensamento antes que começasse a se mexer com delicadeza e sutileza. Sua perna levantava junto com seus braços em movimentos circulares, para em seguida se ajoelhar em uma perna, deixando a outra esticada ao seu lado, sempre se mexendo vagarosamente.

Podia até ouvir a voz de sua avó lhe ensinando os movimentos quando era criança.

_O tai chi chuan é considerado uma arte marcial, xiao lu, mas não é como o kung fu, que é bruto, o tai chi chuan é mais natural… suave… é como se você estivesse meditando enquanto entra em sincronia com seu corpo. Sinta o seu corpo, xiao lu, esqueça seus pensamentos.

Sentia seu pulmão expandir e contrair em sua caixa toráxica toda vez que respirava. Sua avó estava certa desde sempre, aquilo era tranquilizante. Deixando que sua respiração saísse pela boca, parou os movimentos, ficando em pé normalmente. Era agora ou nunca. Assentiu para si mesmo e voltou para a parte principal da casa, não esquecendo de passar os pés pelo tapete da porta para tirar a grama e a terra.

Horas depois, quando a pequena família de três estava reunida na sala principal da casa, na ala leste, Lu Han se ajoelhou na frente de seus pais, suas mãos fechadas amassando o tecido de algodão de sua calça.

_Mãe, pai… eu tenho algo a anunciar.

Os mais velhos o olharam curioso, o senhor Lu o incitando a continuar com um aceno de cabeça.

_Eu vou ser direto. Eu sou gay. - engoliu em seco, vendo os olhos de seus pais se arregalarem.

_Você… o que? - sua mãe perguntou, incrédula.

_Eu sou gay. - falou, sua voz mais firme que antes - Sou homossexual. E eu tenho orgulho disso, por que eu encontrei alguém que tem as mesma preferências que eu tenho, que me ama pelo que sou e que me faz feliz.

Seus pais não falaram nada, apenas o olhavam com expressões frias, sem emoção nenhuma.

_Eu sei que vocês não aceitam isso, mas, sinceramente… Eu ainda acredito que vocês possam mudar de ideia por minha causa, por que… eu sou o único filho de vocês e apesar de eu não poder dar netos pra vocês, netos legíveis pelo menos, vocês querem a minha felicidade acima de tudo. - havia lágrimas em seus olhos, mas seus pais continuavam em silencio, escutando tudo o que dizia sem mostrar nenhuma reação - E o Sehun é a minha felicidade, mãe… pai… Eu nunca fui tão feliz com alguém antes dele… Na verdade… - riu, as lágrimas escorrendo por seu rosto - Eu nunca tive um relacionamento onde eu amava a outra pessoa e o sentimento fosse recíproco. Aquela menina que eu namorei por um tempo, eu sentia nojo toda vez que a gente se beijava.

Balançou a cabeça, deixando que um soluço escapasse por entre seus lábios. Será que seus pais em algum momento falariam alguma coisa? Qualquer coisa…

_Eu tentei, eu juro que tentei… - outro soluço - Eu tentei ser normal, eu tentei gostar de garotas, mas eu simplesmente não conseguia! Sempre achei que os garotos fossem bonitos, mas achava que era uma fase, que ia passar, que eu ia conhecer uma garota linda e íamos nos apaixonar e anos depois, casar. - respirou fundo, abaixando o olhar - Mas eu acabei conhecendo um cara mais velho. Eu acabei conhecendo também o preconceito, e eu fiquei com tanto medo, tanto medo… Eu me sentia um lixo… sabe por que? - levantou o olhar, fitando o rosto impassível de seu pai - Por que eu queria ser normal, eu queria ser aquilo o que vocês sempre sonharam que eu seria. Mas eu não sou. Infelizmente… eu sou tudo o que vocês queriam que eu não fosse. - riu novamente.

Suas lágrimas pareciam não afetar seus pais. Sua mãe, que antes correria para o seu lado para enxugar as gotas salgadas de seu rosto e lhe perguntaria o que havia de errado com um olhar preocupado, agora lhe olhava com frieza, sem mexer um músculo sequer para limpar suas lágrimas ou lhe confortar.

_Digam alguma coisa, por favor. - suplicou.

Seu pai, então se levantou lentamente, andando em sua direção com uma expressão estóica, um brilho de algo que Lu Han preferia não decifrar deixava seus olhos mais frios e perigosos. Lu Han estremeceu, temendo por si mesmo. O senhor Lu chegou perto de seu filho, parando a sua frente e o olhando fundo em seus olhos assustados, antes de levantar seu punho e deferir um forte soco no rosto de seu filho que caíra no chão por conta do impacto.

_Saia da minha casa nesse instante. - falou finalmente, sua voz mais fria que o pólo norte. Lu Han levantou o olhar e fitou o mais velho aterrorizado, uma de suas mãos em sua bochecha machucada - Vamos! Levante! - gritou - Saia dessa casa e não volte nunca mais! Nenhum filho meu nasceu pra virar uma bichinha fracote.

Lu Han balançou a cabeça, chorando forte, fazendo o patriarca da família o pegar pelo colarinho de sua camisa e o arrastar pela sala. Lu Han gritara, mas nada iria mudar o pensamento de seu pai. O senhor Lu, então, jogou Lu Han no jardim, não se importando com a exclamação de dor do mais novo.

_Saia daqui sem olhar para traz. - foi a ultima coisa que disse antes de fechar a porta de correr da sala lançando um olhar de puro nojo para seu próprio filho.

É engraçado a forma como o destino e a vida brincam com a vida das pessoas sem se importar se elas estão felizes ou não com as escolhas feitas. Era para ser, não era para ser… Frases que alguém sempre dizia para tentar confortar outra pessoa. Tudo o que aconteceu depois daquilo estava embaçado, não conseguia se lembrar de como chegou no hotel, ou de como saíra da casa de seus pais.

Pais… Será que ainda podia chama-los assim?

Pegou seu celular que ainda estava em seu bolso, surpreendendo-se por ele ainda estar inteiro e com bateria (mesmo que fosse apenas 14%). Desbloqueou o aparelho e não pensou duas vezes antes de discar o numero de uma certa pessoa. Precisava ouvir sua voz.

_...Lu Han?

O chines sorriu.

_Xiang gong…- murmurou, olhando pela janela do seu quarto no hotel.

_Ta tudo bem? Onde você ta? Já contou pros seus pais? - a voz do mais novo era afoita, escondendo precariamente sua ansiedade.

_Sehunnie… Eu fui deserdado… - declarou, antes de começar a chorar.

Sehun não esperava que seu namorado iria chorar por causa da família por telefone, sempre imaginou que em uma situação dessas ele estaria do lado do chines segurando sua mão e deixando que o mais baixo usasse seu ombro pra chorar. Os sons dos soluços do outro partia seu coração em pedaços pequenos. Se sentia culpado mesmo sabendo que a culpa não era sua. Tentou acalmar o mais velho com palavras bonitas, até fazendo uma piada sem graça que fez Lu Han rir.

Por isso, quando Lu Han saiu da sala de desembarque no Aeroporto Internacional de Vancouver, Sehun o abraçou com toda a força que podia usar sem quebra-lo, falando incontáveis vezes o quanto o amava. Yifan observava a cena a distancia com um sorriso pequeno e orgulhoso. Ficava feliz em ver que seu melhor amigo, apesar de tudo, havia encontrado sua própria felicidade, poderia até se arriscar falando que o baixinho havia encontrado sua alma gemea.

E sentia inveja disso.

Lu Han enviara um convite de sua formatura para seus pais, mas nunca recebera uma resposta, mas ele nunca esperou por uma. Continuou vivendo sua vida normalmente, agora morando em um apartamento com Sehun e sentindo falta de seu melhor amigo, que agora morava no Canada por algum motivo que Lu Han nunca descobrira (mas desconfiava ser por causa de seu crush que supostamente era hétero).

Um dia, poucos anos depois, Luhan acordara sozinho na cama de casal, se sentindo confuso, já que o mais não teria mais que ir a faculdade por que já havia sido aprovado e só precisa esperar o dia da formatura. Olhou para o lado e viu um pedaço de papel dobrado em cima do travesseiro de Sehun. Com o coração pesado, pegou o papel e leu, sorrindo feito idiota quando viu que era apenas o mais  novo pedindo para que tivessem um jantar a luz de velas em comemoração a sua formatura e Lu Han assentira para si mesmo, fazendo uma lista mentalmente de coisas que deveria comprar para o jantar. Era estranho Sehun pedir algo do tipo, já que o mais alto não conseguia ser romântico, mas bem… ele estava feliz.

Sentia orgulho de seu namorado por ter passado em todas as suas matérias com notas altas.

Sehun só voltara para o apartamento quase na hora do jantar, parecendo nervoso, o que levantou suspeitas e Lu Han, que preferiu ficar calado.

_Lu Han… -  Sehun chamou nervosamente, quando retiravam a louça da mesa depois do jantar.

_O que foi? - o mais velho o olhou um pouco, antes de se virar e colocar os pratos dentro da pia.

_Deixe as coisas aí, amanhã a gente lava. Eu… - limpou a garganta, passando a língua pelos seus lábios para umidece-los - Eu quero te falar uma coisa…

Lu Han assentiu, um pouco confuso, seguindo o mais alto para o quarto do casal. Seu coração batia rapidamente, a adrenalina o fazendo ficara agitado e seu cérebro pensando em todas as possibilidades ruins de Sehun querer conversar.

O coreano fez o chines se sentar na cama, continuando em pé, respirando fundo e repassando todo o discurso que havia feito no dia anterior com a ajuda de Yifan. Precisava se acalmar ou iria fazer papel de idiota falando algo que não devia e estragando tudo.

_Sehun-ah? - chamou baixinho - Você… você não vai terminar comigo, vai? - sua voz tremeu um pouco no final da pergunta, deixando escapar seu medo.

_O que?! Não! Claro que não! - exclamou - De onde você tirou isso? Caramba Lu Han, não me assusta desse jeito. - bufou, se ajoelhando na frente do chines.

Lu Han suspirou aliviado.

_Desculpe. - riu.

Sehun balançou a cabeça.

_Eu… Lu Han, eu te amo demais pra terminar com você… Mesmo se você não me quisesse mais eu lutaria por nos, tentaria mudar pra te deixar feliz, eu… Eu te amo, ta? - assentiu para si mesmo, passando a ponta de seus dedos pelo rosto do mais velho que sorriu ternamente - O que eu queria falar era… sabe… - coçou sua nuca, se sentindo constrangido - O Yifan se mudou já tem um tempo e foi tudo por causa que o Joonmyeon hyung demorou pra responder a confissão dele e ele foi idiota o suficiente pra fugir. Mas então o Joonmyeon hyung foi mais homem e foi ate Vancouver atrás daquele gigante e responder a confissão e agora eles estão namorando a distancia. E eu não sei como eles conseguem, mas enfim… - limpou a garganta, olhando para as suas mãos apoiadas nos joelhos do mais velho - Lu Han… o Yifan chamou a gente pra ir morar la com ele agora que eu to me formando e o Donghae hyung e o Hyukjae hyung querem abrir um estúdio de dança fora de Seoul e… eu queria ir.

Lu Han piscou varias vezes, tentando absorver a noticia.

_E eu… eu… - olhou pra Lu Han com as bochechas levemente ruborizadas - Eu queria morar com você em Vancouver, casar com você la, por que no Canada casais do mesmo sexo podem casar, e eu quero adotar uma criança também… ou quem sabe duas? E poderíamos ter um cachorro ou um gato, o que você preferir, eu não me importo, eu só… Eu só queria viver pra sempre com você, Lu Han…

O chines sorriu, colocando suas mãos no rosto do mais novo e o trazendo para perto.

_Isso foi um pedido de casamento? - perguntou, tentando conter o riso.

Sehun fez bico, assentindo. Se afastou um pouco do mais velho, se esticando para abrir a pequena gaveta da mesinha de cabeceira, tirando uma caixinha de veludo vinho de dentro, abrindo-a e mostrando dois anéis de diamante que estavam deitados na seda branca.

_Quer casar comigo?

Lu Han riu alto, escondendo seu rosto no ombro de Sehun, murmurando um sim abafado enquanto o abraçava fortemente. Sehun colocou a caixinha ao seu lado no chão e abraçou o chines de volta, beijando seu ombro e seu pescoço.

_Vamos para o Canada! Yay~! - Lu Han exclamou, se afastando do mais novo e beijando a ponta do seu nariz carinhosamente - Eu te amo, Oh Sehun. - sorriu.

Sehun sorriu de volta e pegou os anéis de dentro da caixinha, dando um a Lu Han. Pegou a mão esquerda do mais velho e selou seus lábios antes de colocar o anel em seu dedo anelar. Lu Han riu baixinho e o imitou, o puxando para um beijo profundo depois.

_A gente pode adotar uma menina? E depois um husky? Eu amo husky! Diz que sim~! - Lu Han balançou o mais novo pelos ombros, o fazendo rir alto.

_Sim, a gente pode ter uma filha e o cachorro que você quiser, desde que seu marido seja eu e mais ninguém.

_Claro que vai ser você, seu idiota.

É engraçado como a vida e o destino brincam com as vidas dos humanos, sem se importar muito com o que acontecem com eles no final, se morrem ou vivem felizes. Era apenas algo que faziam para que sua existência fosse de algum valor, não era nada pessoal, afinal, não tinham sentimentos como os humanos. E Lu Han se sentia grato por não ter escapado das mãos espertas da vida e do destino.

 


Notas Finais


xiao ma = pônei/pequeno cavalo (bullying com o Luhan por causa do signo chines dele -q)
xiang gong = marido <3


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