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História Alone Together - Nada tão ruim que não possa piorar


Escrita por: Victra

Notas do Autor


será que alguém ainda lê essa história? kshwksnsk

boa leitura <3

Capítulo 25 - Nada tão ruim que não possa piorar


Não há nada tão ruim que não possa piorar. 

Eu sei. E você sabe. Todo mundo já se deparou com essa frase e também com situações que a colocaram à prova, só para confirmar que, sim, é verdade. 

E não digo isso porque um lado de mim sempre foi altamente pessimista. Tem aquela porcentagem otimista que não me deixaria ser tão ingrato. Contudo, vez ou outra eu também ouvia dizer que era dramático e… É. Drama. Muito drama. Para tudo quanto é lado e de todos os buracos possíveis – porque eu caía em cada um deles. 

— O que é isso, Jeon? — Foi a frase que eu ouvi assim que estacionei o carro onde o mesmo estava sendo escondido nos últimos dias: lá no final do rua, perto da pracinha. E, caso não tenha ficado óbvio: quem ditou os vocábulos foi minha mãe. 

Ela mesma: Kang Misha. Com seu uniforme e uma lanterna em mãos, apontada bem na minha cara. 

Um daqueles momentos em que lembramos de adágios como os derivados da Lei de Murphy ou alguma linha engraçada e sádica do Sheldon em The Big bang Theory, uma vez que tudo o que já ia mal alcança um nível pior. 

Então, repito: não há nada tão ruim que não possa piorar. E vou explicar o porquê: além de fodido na escola, com os amigos e na minha vida amorosa, agora eu estava – isso mesmo – de castigo. 

Castigo. Como uma criança de oito anos. Só que com dezoito. Um pivete de dezoito anos nas costas sendo puxado pelas orelhas por sua mãe enquanto essa grita para todo mundo ouvir o quão indigno e vacilão ele era. 

E, sim: sem carro para o Jungkook por um bom tempo. 

O que nos leva ao dia letivo seguinte, quando tive de ir buscar Edwin à pé. 

— Jeon? — Seu rosto surgiu por entre a fresta recém-aberta na porta. A garota me olhou confusa, numa pergunta silenciosa do que me levou a tocar sua campainha, e não esperar dentro do meu presente de quatro rodas, como temos feito nas últimas semanas. 

Eu engoli a seco. Porque, cara… Não sabia por onde começar. Desde a detenção à Miles e meu flagrante dirigindo: uma bagunça. — Então… 

— Jeon está aqui, filha? — Outra voz tomou o ambiente; mais grossa e madura. 

O Ed-pai, como Aaron apelidou algum dia. O que não era exclusiva à Wilder: todos os nossos pais ganharam um apelido envolvendo nosso nome. Até Dona Kang se tornava a Jung-mãe de vez em quando. 

Seu nome era Robert, de todo modo. Uma das melhores pessoas que já pisou neste mundo.

— Bom dia, tio! — Cumprimentei-o ao vê-lo surgir atrás de Edwin. 

— Oh, rapaz! Faz tanto tempo que não o vejo. Por que não vem me visitar com mais frequência? — Seu sorriso para mim é tão largo quanto o meu para ele. 

Robert Wilder era a definição de um "adulto legal". Advogado e muito competente, mas divertido e compreensivo. Ele não enxergava qualquer problema que nós, amigos de sua filha e a própria, pudéssemos arrumar como irrelevante. Acho que é porque ele lidava com pessoas todos os dias e sabia como coisas pequenas se tornavam gigantes ao não receberem a atenção que merecem. Durante o Ensino Fundamental, era comum que nos reuníssemos ao redor de sua poltrona para desabafar acerca de qualquer coisa que acontecesse na escola, no fliperama ou em nossas casas.  

— Ah… — Corei sob seu olhar. Tanto porque o admirava muito quanto por estar envergonhado sobre minha própria bagunça e mesmo que o mais velho não tivesse a mínima noção dela. — Sabe como é, né? Último ano. Estamos meio ocupados.

A desculpa de estar no último ano sempre vinha a calhar. Talvez fosse a única utilidade de se estar na escola, afinal: poder usá-la como explicação para ter ou não ter feito qualquer outra coisa. Já que é isso o que somos: estudantes. Não é esperado que façamos muito além do tal papel, mas é exigido que nos saíamos bem nele – do contrário, a plaquinha de "inútil" é automaticamente pendurada em nossos pescoços. 

— Claro, claro. Vocês devem estar estudando bastante. O exame está cada vez mais próximo. — Sorriu compreensivo. — Mas não se deixe levar pela pressão. Se sair bem numa prova não é a validação do seu valor. Isso é besteira, huh? — Levou uma mão até minha cabeça, bagunçando mais os fios que já estavam bagunçados. — Você é um adulto agora. Seja um legal. E arrume tempo para ficar com minha filha. — Mirou Edwin pelo canto do olho. 

Eu imediatamente a procurei, não precisando verbalizar a pergunta que estava em minha cabeça para que ela entendesse: "Ele sabe?". 

O pai de Edwin sabia que estávamos "namorando"? 

A Wilder moveu a cabeça num sinal discreto, negando minha preocupação. 

Não, não sabia. 

Menos pior. 

— Eu já passo o dia inteiro com ela. — Afastei alguns fios de meus olhos assim que Robert recolheu sua mão. — O único modo de arrumar ainda mais tempo do que isso seria morar com essa chata. — Mostrei-a a língua, numa provocação infantil e inofensiva. 

— Não é como se vocês não fossem. Um dia… — Comentou bem baixinho, mas, ainda assim, eu pude ouvir. — De todo modo… — Checou o relógio em seu pulso. — Vocês vão chegar atrasados se não saírem logo. Boa aula. 


"Não é como se vocês não fossem. Um dia." – A frase ecoou em minha mente, num lembrete constante de que, cara, eu e Edwin Wilder já estávamos casados aos olhos de metade de nossas famílias. 

Era uma daquelas certezas silenciosas: Aaron provavelmente voltaria para a Europa, Logan seria um bom pai e Jungkook e Edwin acabariam se casando. As amigas de nossas mães comentavam isso com sorrisos fracos e olhos brilhantes, a gente fingia que não ouvia. Aí nossos pais repetiam e nós pedíamos para que eles calassem as bocas.  

Só que… Continuava ali. Porque nós continuávamos aqui: rodando e parando e correndo e virando juntos. Em cada caminho de nossas vidas. 

E, bem… Era só isso. O senso comum era o mesmo: melhores amigos estavam predispostos a se apaixonarem. De forma alguma eles seriam só amigos. Eu até ouvi uma vez que "no final das contas, a gente sempre acaba voltando pro nosso amor de infância/primeiro amor". O que era até legal de acreditar no começo, mas agora… 

Eu não tenho mais tanta certeza. 

— Okay, deixa eu ver se entendi… — Ergueu os olhos e abraçou os gibis contra o peito. — Você tá de castigo porque sua mãe descobriu sobre o carro? Então ela confiscou as chaves?

— Basicamente. Ela vai mantê-las até decidir o que fazer com o carro. Meu pai tá ferrado. — Ri um pouco em meio à desgraça. — Acontece. — A conclusão veio com um dar de ombros. 

— Ele já foi comprado. A tia provavelmente só vai segurar por um tempo e acabar devolvendo pra você. — Me lançou um sorriso reconfortante. — Enquanto isso, podemos apreciar a simplicidade de suar no caminho até a escola e limitar a velocidade dos passos um do outro dividindo os fones de ouvido. — Adicionou, divertida. 

— De volta aos velhos tempos. — Cantarolei, agarrando-me à visão positiva da situação. 

Edwin eventualmente se pôs a ler as HQ's que segurava (que eram de Kick-Ass 3, à propósito). E eu já havia relido toda a história várias e várias vezes, então me foquei na tarefa de guiar seu corpo pelo caminho: puxava-a quando tínhamos de atravessar, segurava-a quando tínhamos que parar e fazia com que trocássemos de lugar quando necessário para que ela não ficasse exposta à rua. 

— Nossa, até que foi rápido. — Soltou assim que chegamos.

Limitei-me a rir. Porque talvez para ela até tenha sido, mas pra mim foi um caminho longo e cuidadoso – cuidando para que o dela fosse tranquilo e melhor. 

Um tanto nostálgico, eu ousaria dizer. 

Assim como a recepção que recebemos em sequência. 

— Bom dia, garotos. 

— Bom dia, meu casal. 

— Bom dia, dupla de pau no cu traidora e sem noção. 

Acredito que o diálogo dispensa explicações, certo? Ótimo. Prossigamos. 

Aaron e Logan estavam sentados numa das mesas do pátio externo. Os dois se atentavam a papéis dispostos na tábua, preenchendo-os à caneta preta e atenção. 

— O que é isso? — Indaguei conforme me sentava junto a eles. Eddy copiou meu ato. 

— Aquele negócio que a secretaria pediu. Sobre nossas ambições, faculdade e tal. — O ruivo lembrou em uma explicação vaga. 

Esgueirei-me para ler o que meu amigo tinha escrito em cada um dos campos, dando uma atenção maior ao seu curso escolhido: 

Aaron S. Gaillard, 18 anos 

Primeira opção de curso: Design Gráfico. 

Ele não tinha uma segunda opção. Era claro e objetivo: Design. 

Logan, por outro lado…

Logan T. Danforth, 18 anos 

Primeira opção de curso: Ciências Biológicas

Segunda opção de curso: Pedagogia 

Terceira opção de curso: Jornalismo 

Quarta opção de curso: Astronomia 

Quinta opção de curso: Tecnologia da Informação

Sexta opção de curso: Engenharia Química

E, não, o documento não dispunha de espaço para mais de duas opções de cursos. Logan só foi puxando setinhas para baixo, lado, cima e onde quer que tivesse espaço sobrando na folha. 

Eddy tirou sua ficha da mochila, já preenchida: 

Edwin S. Wilder, 18 anos 

Primeira opção de curso: Medicina 

Segunda opção de curso: Odontologia

Eu respirei fundo. Não só porque havia esquecido completamente dessa tarefa, mas também por não ter a mínima ideia de como executá-la. 

Não sabia o que queria ser; não sabia o que queria cursar. 

— Pega essa droga e preenche, Jungkook. — Logan ralhou sem nem me olhar, rabiscando uma setinha sobre o cabeçalho da escola para escrever sua oitava ou nona opção. 

— Por que você tá tão encanado com isso? — Apoiei meus cotovelos na mesa, desinteressado. 

— Por quê? — Pareceu ofendido ao mirar-me por debaixo dos cílios. — Eu vou explicar o porquê: eles estão fazendo isso porque o dia das profissões está chegando. E o que, além de um monte de faculdade meia boca, vem implorar por inscritos nessa feira? Isso mesmo: o exército. E nem fodendo que eu vou dar pros meus pais abertura pra sugerir o exército. Não vou. Nem que a terceira guerra mundial exploda e o governo vá me buscar na porta de casa. — Fez uma pausa, erguendo sua caneta e a apontando em minha direção. — Então preenche esse caralho de papel, Jungkook. 

Bom…

— Não parece uma ideia tão ruim assim ir para o exército. — Encolhi os ombros ao dizer, atraindo a atenção de todos do círculo. 

— Jungkook… — Edwin transparecia um misto de insegurança e descrença. — Você tem certeza do que está dizendo? 

Claro que não. 

— Talvez. Digo, por que não? Eu ainda não sei o que quero fazer. E essa é uma opção de… Crescer. Eu poderia até fazer uma carreira militar. Conseguir umas medalhas e um lugar na mesa daquelas pessoas que sabem das coisas. Ser o cara que decide se o botão vai ou não ser apertado. Sei lá. — Suspirei, encaixando meu queixo na palma de minha destra. — Não é ruim, né? 

— Não, não. É péssimo. — O moreno em minha frente sorriu cínico ao rebater. — Você só vai ser louvado na TV, porque lá dentro todo mundo é tratado feito um lixo. É horrível. Gente mandando e gritando com você o tempo todo, Jungkook! Um pesadelo! 

Eu acabei rindo fraquinho do tom dramático de Logan. Mas no fundo eu sabia o motivo: ele odiava estar em qualquer lugar ou posição em que seus sentimentos e opiniões não fossem levados em conta. Lembro até de um exemplo na sétima série, quando decidimos fazer karatê juntos e o moreno desistiu na segunda aula porque "se sentia constantemente reprimido nesse ambiente tortuoso e ditatorial". Uma alma livre. 

— Acho que vamos ter que passar por isso em qualquer lugar. Não tem rota de fuga. Ainda mais quando não se tem opções. — Conclui, não muito interessado. 

Estava realmente cogitando a hipótese. 

— Você tem opções, sim. — Edwin retorquiu. — Você é ótimo em dezenas de esportes e excelente em matérias como História e Sociologia. 

— É… — Concordei, desanimado. 

Acho que não era a faculdade em si, era a vida. Era eu. Por mais que houvesse, sim, pontos em que eu me destacasse e uma pitada mínima de esperança, eu só não tinha mais aquele gosto e a antecipação pela vida. O colégio estava sugando todas as minhas forças e visão de um futuro enquanto me dizia que o fazia para que eu vivesse melhor uma vez que o deixasse. 

Eu não disse? Drama. Muito dele. 

— Você escreve bem, também. — Aaron adicionou, ignorando meu último sussurro. 

— É verdade. — Edwin prontamente concordou. — E você é criativo. Suas redações sempre foram exemplos pra sala. 

— Mas eu não tenho moral nenhuma pra viver da escrita. — Fiz careta perante à sugestão. — Vou redigir o quê? Fanfic de Dragon Ball? 

— Você podia escrever sobre sua vida amorosa ferrada e suas péssimas decisões. — Logan sugeriu. — Todo mundo adora um romance colegial. 

— Nah, sem condições. — Torci o nariz. 

— Eu sei, você acabaria sendo ofuscado pelo meu personagem. — Ele continuou, rindo. — Mas não é uma ideia tão ruim. Eu leria. 

— Não dá pra escrever uma história sobre minha vida. Eu tô vivendo ela! — Fiz uma pausa, incerto de como colocar o ponto de modo em que ele fizesse sentido. — Tipo, não teria um final, entende? 

O rapaz acabou perdendo o interesse no assunto, tornando a se dedicar ao seu relatório da própria meta. — Só não vá pro exército que eu não posso consertar as cagadas que você faz lá. 

— Não prometo nada, senhor. — Imitei um cumprimento militar ao retorquir. 


O meu estado cabisbaixo era óbvio. E era ruim. Só que… Sempre podia ser pior, certo? E foi. Não exclusivamente no momento em que eu entreguei minha ficha só com nome, sobrenome e idade e acabei levando um esporro da professora de matemática sobre ser um vagabundo sem futuro – não nessas palavras, é claro –, nem quando recebi a notícia de que as eleições seriam nesta quinta-feira. 

Piorou quando as eleições aconteceram de fato. 

E eu também sei: não tenho como justificar meus atos nas descrições seguintes. Mas acredito que vocês possam entender quando digo que eu me sentia desesperado. Completamente em pânico. Porque Miles Hoffman estava rodeada de pessoas e sendo o sucesso que nasceu pra ser; porque ela sorria e ria e olhava. Só que não para mim. Nunca para mim. Era como se eu simplesmente não existisse. E, do fundo do meu coração, eu odiava a sensação. Odiava. Tanto como acreditava odiar a atenção em demasia que ela me lançava: não tê-la por perto era um saco. 

Foi nesse momento que eu percebi que queria que ela gostasse de mim. Eu, sinceramente, queria muito que ela me olhasse e que risse – mesmo que da minha cara, e não comigo. 

Comigo. Essa é a palavra. Eu a queria comigo. 

E… É. Vocês sabem: uma pessoa tomada pelo… ciúmes? Pela carência? A frustração? Todas as opções anteriores? Tanto faz. A questão é: quando nesse estado, o ser humano num geral tende a tomar decisões e a praticar coisas das quais não se orgulha em busca de atenção. 

O que foi o que eu fiz, é claro. 

— Você já sabe em quem vai votar? — Uma voz feminina soou atrás de mim. Eu desviei meu foco, que estava depositado no pedacinho de papel em minhas mãos, para a dona dela. 

Eu acho que o nome é Caitlin. Não sei dizer ao certo. Mas eu sabia que seu sobrenome era Bae porque, assim como eu, ela possuía ascendência coreana. E, sendo alguns dos únicos descendentes de asiáticos na escola, as pessoas sempre relacionavam a gente de alguma forma. Boa parte acreditava veementemente que nós éramos primos, inclusive.

— O voto é secreto. Você sabe, não é? — Eu devolvi com um sorriso tímido. 

— Na teoria. Mas a prática é sempre uma outra história. — Indicou os grupos ao nosso redor. Eu olhei em volta, deparando-me com cochichos e discussões e risadas: todos deliberavam abertamente acerca de suas escolhas e candidatos. 

— Oh… — Soprei, acanhado, enquanto bagunçava meus fios de cabelo com a mão livre. 

— Pois é. — Riu vitoriosa. Então deu mais alguns passos em minha direção. — Mas, reformulando minha questão: por que você ainda não assinou o nome da Hoffman? Você até fez propaganda pra ela. — Arqueou as sobrancelhas. 

— Isso significa que eu tenho que votar nela, por acaso? 

— Na verdade, sim. Ou você acaba com toda credibilidade da própria campanha. — Cruzou os braços, sem desviar o olhar – que eu sustentei por mais alguns longos segundos antes de suspirar e, enfim, replicá-la:

— É claro que é ela. Eu só estava pensando. 

— Nela? 

Não respondi. Eu apenas tirei uma caneta velha e sem tampa do bolso – também conhecida como a única sobrevivente dentre as dezenas que eu comprei antes da volta às aulas – e usei a parede mais próxima como apoio para o preenchimento do meu voto. 

— Por que você quer saber? — Indaguei-a após um período de silêncio. Meus olhos, entretanto, estavam fixos nas palavras escritas e impressas da folha. 

— Só checando alguns boatos. — Deu de ombros. — Até a aula de Álgebra, primo. — Brincou antes de afastar-se e sumir pelo corredor.

— Boatos? — Soltei, confuso, mirando o caminho pelo qual sua figura fugira.

Eu nunca sabia de boato nenhum. Meus "colegas" de classe realmente não me interessavam. Mas eu conhecia alguém que estava sempre ciente das coisas que aconteciam dentro e fora dos limites da escola: Logan. 

Depois de depositar meu voto na urna e ajeitar meus materiais para o período seguinte – uma vez que este estava sendo completamente voltado às eleições –, eu fui até o pátio externo à procura de meus dois amigos. Encontrei-os próximos aos muros da escola, provavelmente ignorando a própria vontade de pulá-los e fugir da aula enquanto conversavam. 

— Poxa, cara… — A lamentação foi proferida assim que os dois pares de olhos castanhos me detectaram. — A gente sente muito.

— É. Até montamos uma playlist de corno pra você. — Acrescentou, colocando uma das mãos no meu ombro e usando a outra para me mostrar a tela do celular. — Tem Tame Impala, Taylor Swift, Nirvana, Red Velvet… 

— Do que vocês estão falando? — Indaguei, demonstrando minha confusão a partir da expressão completamente perdida e em desespero iminente. — Espera. Red Velvet? 

— Sim, o último single japonês, amigo. Um hino de triângulo amoroso e chifre! — Riu. Então parou ao notar que eu não mostrara reação alguma. — Okay, você realmente não faz ideia. 

— Será que alguém pode me dizer o que tá acontecendo?! 

— Olha… — Aaron suspirou, ajeitando o bottom de campanha que Miles havia o entregado em sua camiseta. — Você devia procurar a Eddy. 

E, novamente, eu fui atrás. Rastejando-me pelos metros quadrados da escola, procurei-a até desistir e decidir por descansar um pouco. Ironicamente, assim que eu me encostei na parede e arrastei-me até alcançar o chão do pátio, ela surgiu pelo fundo do passadiço. 

Algumas pessoas nos olhavam e cochichavam coisas que, pela primeira vez, eu estava me coçando para saber. Foi por isso que, assim que ela se abaixou em minha frente, eu a questionei: 

— Você por algum acaso me traiu? 

Edwin parou, estática. Suas sobrancelhas se arquearam, juntamente aos cantos de sua boca. Seu cabelo estava preso num coque mal feito, deixando que alguns poucos cachos cobrissem parte de seu rosto e olhos. Ainda assim, eu pude enxergar nervosismo e confusão nós mesmos. 

— Como assim? — Respirou fundo antes de perguntar. Em seguida, ela colocou a mochila ao lado de suas pernas, sentando-se completamente entre as minhas – que estavam abertas. 

— A gente "namora". — Fiz aspas com os dedos. — Você, por ventura, infringiu a lei da fidelidade? — Reforcei. 

E é agora. Este foi o exato momento em que as coisas, enfim, alcançaram um nível extremo. Porque, me desculpe, mas eu não aguentava mais. Pior ainda: eu não havia percebido isso. Não tinha noção de que a tremedeira em meus joelhos era proveniente de toda essa situação e de que minha inquietação vinha das questões que a primeira formava. E eu não aguentava mais. De forma alguma. Provavelmente surtaria se tivesse que ouvir o nome de Miles outra vez nos corredores; explodiria se tivesse que beijar Eddy para que outro garoto visse. Um completo caos. Uma caixa de Pandora cuja fechadura eu não era mais capaz de manter selada. 

— Edwin. — Fechei as pálpebras e respirei fundo. — Isso tem alguma coisa a ver com o Lawther? — Tentei formular a pergunta da forma menos ácida que conseguia. O silêncio veio como resposta. 

Ou seja: sim. A réplica foi um silencioso concordar, seguido de:

— Me desculpa, Jeon… — Ela murmurou. Abri os olhos bem a tempo de notar seus lábios avermelhados serem mordidos em nervosismo. — Ele veio me procurar hoje de manhã e eu… Não resisti. 

Outro inspirar profundo. — Quando? — Indaguei, mesmo que no fundo não quisesse saber da resposta. 

— Depois da aula de educação física. No vestiário. 

Ah. Claro. Ótimo. 

— Edwin… — Eu espalmei as mãos em minhas coxas, trêmulo. Estava suando frio. — O que você… — Trinquei o maxilar e desviei o contato visual. 

Coragem. E um limite alcançado. 

— O que você sente por mim? — Não a mirei quando deixei com que os vocábulos saíssem pela minha garganta, num tom rouco e arranhado. 

— O que quer dizer? — Ciciou, perturbada pela inquisição. 

— Eu gosto de você desde que eu aprendi o que é gostar de alguém. Não é possível que você não saiba disso. Não é. — Grunhi, frustrado. Meus dedos inconscientemente alcançaram os fios longos de meu cabelo, os emaranhando furiosamente. — Então, por favor, me diz: isso é uma brincadeira pra você? 

E pior. 

— Você ainda pergunta? — A voz desprezível do babaca Lawther soou em sequência, debochada e afrontosa. 

Eu ergui o rosto ao vê-lo se aproximar, sendo seguido visualmente por todos que já assistiam minha conversa com a morena. 

— Eu não estou falando com você. — Devolvi, puto. Pra caralho. Puto. 

— Você é um otário. — Ele continuou, me ignorando. Edwin prontamente se levantou, colocando-se na frente do rapaz e reverberando um audível "Enoch, não se mete, por favor!". Ela foi ignorada, entretanto. — E, olha, eu quase acreditei quando vi. Mas tudo fez sentido quando ela me disse que era só uma tentativa de causar ciúmes em mim e na loira idiota. — Deu mais um passo à frente, empurrando sem real intenção a mais baixa quando essa tentou segurá-lo. — Deve ser muito frustrante saber que eu já toquei as duas de formas que você só consegue sonhar, perdedor. — Silabou, abaixando-se um pouco para que se igualasse à minha figura agachada. 

— Enoch, cala a sua boca. — Edwin ralhou, incrédula. 

— Eu já fiz isso hoje. Quando calei a sua. — Puxou-a pelo pulso, levantando-se. 

Minha respiração já estava completamente desregulada. 

— Me solta, idiota. — Ela o fitou em um misto de confusão e pavor. Ele não atendeu ao seu pedido. Nem mesmo quando ela deu um tranco no próprio braço. 

E pior. 

— Você não vai responder, Jeon? — Riu em escárnio. 

Eu me ergui de maneira lenta. Meu coração, por outro lado, batia de forma frenética em meu peito. Com passadas contadas, caminhei até ele o bastante para que me ouvisse quando eu disse: 

— Solta ela. — O sorriso acintoso estava borrado por entre as madeixas que caíam em meus olhos. E assim minha visão continuou: turva. Desde o momento em que Enoch truculentamente desvencilhou-se de Edwin até o segundo em que meus dedos, de forma não ponderada, juntaram-se em punho e acertaram o rosto dele. 

E pior. E rápido demais. Eu mal entendi as coisas que ele gritava enquanto nossos rostos competiam para ver qual sangrava mais. Tampouco o que as pessoas ao redor faziam ou falavam na tal zoada aguda e longínqua. 

Eu só compreendi as coisas horas depois, no instante em que minha mãe foi me buscar na escola e, com os olhos inchados e a tez aberta, eu recebi as informações:

1- Miles Hoffman era a nova presidente do Grêmio. Anunciado no rádio da escola. 

2- Jeon Jungkook, assim como Enoch Lawther, estava suspenso por tempo indefinido. Palavras do diretor. 

Simples assim. Em um momento eu era caos com a incerteza de tudo. No outro eu era cinzas com a certeza de que não me restava mais nada. 

Porque… Não há nada tão ruim que não possa piorar. 




Notas Finais


eu sei: faz muito tempo. e eu também não sei bem explicar o que aconteceu ajsbsjsj eu tenho mudado e me afastado de muita coisa. peço desculpas por sumir.
also, desculpas pelos errinhos e, por favor: me diga o que achou!
eu tô com medo de voltar dps de todo esse tempo sjshsjsj mas foi o mais rápido que eu consegui. espero que entendam :/ #TeamEddy ou #TeamMiles?

xx, Lis-ah <3


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