Nunca vou ver o amanhecer
Até que vire a noite para acontecer
Pequenas mudanças precisam nascer
Antes que o tempo deixe marcas em você
Selvagens à Procura de lei – Enquanto eu passar na sua rua
3 anos depois
— Eu só pedi uma coisa pra vocês quando saímos daqui. – Sua voz era fria e o corte no braço esquerdo seguia sem tratamento, visto que esta conversa não poderia ficar para depois. – Será que vocês lembram?
Uma fila de adolescentes Metkayina estava prostrada à sua frente, com garotos e garotas de rostos culpados ou igualmente irritados. Os ombros de todos caídos diante da bronca.
Neteyam tinha um semblante de poucos amigos enquanto fitava cada um dos jovens.
— Sim, senhor. – Responderam cabisbaixos e não muito sincronizados.
— Então por que ainda conseguiram fazer tudo ao contrário do que eu mandei!? – Esbravejou ele.
Ninguém respondeu. Isso só o estressou mais. Por um segundo, a mente de Neteyam foi invadida pelas lembranças de quando ele e Lo’ak quebravam as regras de seu pai. Apesar de nunca concordar, sempre se metia nas enrascadas para encobertar o mais jovem. Quase sorriu deprimido ao perceber que agora fazia exatamente o papel que seu pai fez com ele por tantos anos. Quem diria que lidar com adolescentes poderia ser tão estressante.
Não que ele não gostasse de seus alunos. Cada um deles era corajoso e leal ao seu clã, os ajudou a ampliar seus talentos e a construir sua força, mas tinham sérios problemas de disciplina e trabalho em equipe.
A essa altura, a bronca já não era restrita apenas a eles. Alguns Metkayina já se juntavam para recebê-los da missão, mas Neteyam não permitiu que se aproximassem antes de terminar. Os pais dos pequenos indisciplinados respeitavam muito a autoridade do na’vi da floresta, portanto, se mantiveram distantes.
— Toda vez que temos uma missão a cumprir, vocês têm diferentes objetivos. – Disse ele, caminhando de um lado para o outro. – Alguns cuidam do perímetro, outros da caça e o restante de garantir que as duas coisas funcionem em harmonia.
Os jovens guerreiros e caçadores Metkayina sofriam ainda mais por serem repreendidos diante de tantos familiares, por isso, mantinham as cabeças baixas.
— Mas eu só tenho um objetivo toda vez que nós vamos além do recife. – Neteyam finalmente parou de caminhar. – Trazer cada um de vocês inteiro e vivo para os seus pais. Conseguem entender isso?
Houve diversos acenos positivos.
— Então quando eu disser: “Permaneçam sintonizados e nunca, em hipótese alguma, desfaçam a formação”, é isso que eu quero que façam! E não brincadeiras estúpidas enquanto estivermos em um território hostil como o mar aberto. – Ele suspirou, para evitar levantar a voz. – Hoje eu consegui salvar alguns de vocês da irresponsabilidade de outros, mas na próxima pode ser que eu morra. Ou que todos vocês morram. Então, pensem nisso. Vão.
Com as palavras duras do líder, os jovens caminharam lentamente ao encontro dos seus pais e amigos. Neteyam andou em direção as moradias, parando apenas para cumprimentar as mães preocupadas que agradeciam por trazerem seus filhotes de mais uma missão além dos recifes.
Quando finalmente chegou no marui onde morava, viu Ao’nung organizar as tigelas para que pudessem comer. Havia um peixe já preparado e muito cheiroso. Ele parecia focado em terminar sua organização, quando falou:
— Soube que estava dando bronca nos adolescentes lá na praia. – Ele comentou com um sorriso, mas ao erguer a cabeça seu sorriso automaticamente sumiu. – Neteyam! Não sabia que tinha sido ferido!
O Omatikaya ergueu as mãos, evitando que Ao’nung levantasse.
— Não se preocupe, eu estou bem. – Disse enquanto guardava sua lança e tirava a cinta que carregava o punhal. – Mas sim, eu me frustrei hoje, não só com o que aconteceu, mas porque o mar continua sem nossos peixes.
Ao’nung deu duas batidas no chão ao seu lado para que ele se sentasse. Seu olhar ainda era de preocupação diante do sangue fresco que percorria os músculos de seu amado.
— Vem, deixa eu olhar seu braço.
Neteyam obedeceu, sentando-se ao lado dele. Ao’nung se levantou rapidamente e pegou água em uma tigela, um pano e algumas ervas medicinais dadas por sua mãe para eventuais emergências em missões. Ele limpou delicadamente a ferida e Neteyam fechou os olhos, bem cansado.
— O que aconteceu lá? – Ao’nung quebrou o silêncio, começando a aplicar com cuidado algumas ervas ali.
— Dois engraçadinhos saíram da formação e acabaram cercados. Eu fui ajudar eles, mas o restante ficou exposto. Poderia ter sido uma catástrofe. – Ele suspirou, tentando evitar que seu sangue fervesse outra vez. - Poderíamos ter todos morrido. E mesmo assim é como se minhas palavras não valessem de nada. Talvez eu não seja mais bom nessa coisa de ensinar...
— Não diga isso. – O herdeiro o interrompeu. – Você é um dos maiores guerreiros desse clã. Eles te admiram e querem ser como você, mas isso não muda o fato de que são jovens demais e imaturos.
Neteyam quase riu.
— Tipo a gente há uns 15 anos atrás?
— Não faz tantos anos assim. – Ao’nung revirou os olhos.
— Faz sim.
Eles riram baixinho, nostálgicos por um momento. Quando Ao’nung terminou de enfaixar o braço de Neteyam, puderam enfim comer o peixe apetitoso. Permaneceram em um silêncio agradável. O vento da tarde entrava pelas aberturas do marui e provocava leves arrepios em suas peles.
— Quer falar sobre o pesadelo da noite passada? – Disse o herdeiro. Neteyam não colocou seus olhos nele.
— Foi o mesmo de sempre.
— As guerras?
— As guerras. – Concordou.
Ao’nung levou a mão ao rosto de seu companheiro, deixando um dos dedos deslizar nas bochechas em um carinho silencioso. Ele não sabia que Neteyam era atormentado em seu sono até se unirem. Antes disso, esperava o rapaz dormir e voltava para casa, não conseguia ver os sustos noturnos. Os pesadelos eram constantes e resumiam-se às batalhas que o Omatikaya tinha travado, especialmente a com o Povo das Cinzas, que quase levou a vida de Lo’ak. E por mais que tentasse conversar e ajudá-lo, parecia que aquilo nunca iria parar.
— Por que não tentar falar com a minha mãe? Ela pode ter algum conselho do que pode fazer para se livrar dos sonhos ruins.
Neteyam franziu o cenho. Sua sogra, apesar de aprovar agora sua união, ainda era uma incógnita, mesmo depois de anos como companheiro de Ao’nung. Suas atitudes que não eram rudes, porém também não eram acolhedoras, causavam bastante receio no rapaz.
— Não acho que alguém possa me ajudar, mas se isso for te preocupar menos, eu posso procurá-la sim.
O herdeiro Metkayina sorriu e roubou um beijo de Neteyam.
— Senti sua falta. – Sussurrou.
O Omatikaya riu.
— Mas eu fui na missão hoje de manhã!
— E eu senti sua falta mesmo assim.
Dessa vez foi Neteyam que roubou um beijo. Só não esperava que Ao’nung fosse envolver seu quadril com força, prendendo-o em seu colo. A pele azul escura de Neteyam pareceu ganhar ainda mais de cor, mas ele já não era mais tão tímido. Por isso, aproveitando-se da situação, moveu-se sobre o colo de Ao’nung, causando um choque no herdeiro, que lhe encarou, surpreso.
Neteyam deu de ombros.
— Você que começou. – Disse, levando as mãos para dentro dos tecidos que cobriam a intimidade do seu companheiro. Moveu habilmente os dedos para despertá-la.
— Neteyam...! – Gemeu Ao’nung. – Alguém pode nos ver se vir até aqui.
— Então, temos que ser rápidos.
O Metkayina revirou os olhos com a carícia ousada que recebia, endurecendo sob a mão meticulosa que lhe estimulava. Neteyam às vezes fazia isso. Com um desejo súbito que transbordava, subia sobre Ao’nung e o provocava até conseguir o que queria. Sabendo que já estava rendido, o herdeiro ajeitou Neteyam para puxar sua tanga.
Fizeram o tsaheylu antes dele adentrar na cavidade apertada, como sabia que Neteyam gostava.
— Hm! Ao’nung! – Ele soou manhoso, enquanto o corpo era invadido.
Na posição em que estavam, o Omatikaya conseguia manter o controle que queria sobre seu companheiro. Torturando-o com seus movimentos lentos e outra hora revezando com sentadas rápidas que paravam subitamente para frustrar Ao’nung.
Apesar da tortura, era indiscutível que ambos estavam embebidos de prazer. Neteyam empurrou Ao'nung para que se deitasse e continuou controlando o ritmo das coisas. A sensação de estar unido com Ao'nung daquela forma, ainda mais com o tsaheylu, era indescritível. Em determinado momento, Neteyam levou as mãos à própria barriga enquanto subia e descia no membro do herdeiro, quase como se quisesse senti-lo ali dentro.
O Metkayina parecia longe diante das sensações que nublavam seus sentidos. Gemia a cada movimento do seu companheiro e como resposta apertava a cintura fina de ambos os lados, mas Neteyam era forte e não deixava suas mãos controlarem o ritmo de seus quadris sedentos. Vendo que seu amado não estava disposto a trocar o ritmo, Ao'nung sorriu sexy, levando uma das mãos ao membro negligenciado de Neteyam, estimulando-o de forma ávida.
— Ao'nung… assim não vou aguentar mais!
— Não se contenha, meu Neteyam…
Dessa vez o Omatikaya que parecia distante, focado nas sensações e no calor gostoso que crescia abaixo de sua barriga. Ser estimulado de tantas maneiras era demais para o seu controle, principalmente quando Ao'nung pediu que sentasse com mais força sobre ele. Obedecendo, Neteyam sabia que estava chegando ao limite.
Momentos depois, quando sentiu o herdeiro tensionar os músculos e gemer mais alto, sabia que o ápice dele estava próximo. Não estava errado. Fechou os olhos quando a semente quente de Ao'nung preencheu seu interior. A sensação foi tão boa que jogou a cabeça para trás chegando no próprio ápice, melando o busto do herdeiro.
Com as respirações pesadas e os músculos exauridos pelo esforço intenso, ambos se deitaram, mas não por muito tempo. Ao'nung logo puxou Neteyam para que se lavassem e só depois puderam enfim se deitar na rede do local onde moravam, fitando o mar e a floresta rochosa. As tigelas do almoço há muito tinham sido esquecidas.
Ao'nung deu um beijo no topo da cabeça de Neteyam antes de cochilar, mas o Omatikaya ficou preso em pensamentos e não dormiu. Levou a mão até a barriga outra vez. Talvez não fosse uma má ideia falar com Ronal.
***
— Nós já tivemos essa conversa, Neteyam.
— Eu sei, Tsahik. – Respondeu, inseguro. – Mas...
Ronal usava um bastão de pedra para esmagar umas plantas úmidas, transformando-as em uma pasta esverdeada.
— Não há nada de errado com vocês. – Ela o interrompeu, sem desviar o foco de sua função. – Por que insiste em perguntar isso?
Neteyam suspirou, baixando os ombros.
— É que já faz anos. – Respondeu. – E nós ainda não tivemos um filho. Sei que Ao’nung está sendo cobrado. Eu me sinto mal por não poder dar isso a ele.
— Nossa vila está diante de uma crise pelo sumiço dos peixes que alimentam nossa caça. Logo não teremos o que comer. – Ela o fuzilou com o olhar. – Ao’nung e o pai dele estão focados nessa crise. Devia estar preocupado com isso também.
Neteyam encolheu os ombros, sentindo-se acuado como os adolescentes na praia. Tsahik não estava errada. Estavam passando por grandes problemas. Desde que os enormes cardumes começaram a desaparecer, os peixes maiores que caçavam além dos recifes tiveram que migrar para não morrerem de fome, o que os deixou com alimentos escassos. Isso fez com que os caçadores mais experientes começassem a ir muito mais longe no oceano, o que aumentou a periculosidade das missões. Tonowari participava de todas elas, o que lhe rendia longos períodos longe da vila. Diante desse cenário, Ao’nung passou a fazer todo o trabalho que seu pai deixava em Awa'atlu, desde as divisões das tarefas entre os membros do clã, até o racionamento de comida.
Sentiu-se imediatamente egoísta por estar concentrado em sua frustração pessoal enquanto o povo que jurou proteger seguia em uma situação muito delicada.
— Me desculpe, Tsahik. Você tem razão. – Pediu perdão enquanto fitava o chão. – Vou focar no que precisamos. Mas obrigado por me receber.
Neteyam se aprontou para sair, mas parou ao ouvir a voz de Ronal:
— Se não aconteceu ainda, é porque é a vontade de Eywa. Talvez vocês não estejam prontos para serem pais.
Neteyam respondeu apenas com um aceno e saiu do marui. Já havia pensado na possibilidade de simplesmente a Grande Mãe não querer mandar um filhote para eles, mas era difícil aceitar aquilo. Por que Eywa faria isso se abençoou tanto a união? E por que eles não estariam prontos?
Balançou a cabeça para tirar aqueles pensamentos. Precisava focar na crise iminente. O clima na vila era de preocupação, principalmente entre os mais velhos, que nunca haviam presenciado nada do tipo. Muitos se perguntavam o que poderia ter acontecido para passarem por tal provação. Outros já tinham a resposta na ponta da língua: O Povo do Céu.
Depois do primeiro e único combate que a vila de Awa'atlu teve há mais de 13 anos atrás, não voltaram a ter notícias do Povo do Céu, embora soubesse que eles continuavam caçando Tulkuns no território ao longe, onde sempre ficaram. Mas, e se estivessem sumindo com os peixes também? Como resolveriam isso? Muito já se falava sobre outra guerra. Isso também piorava ainda mais o sono do na’vi da floresta.
— Neteyam...
Foi arrancado de seus devaneios pela voz incerta de Aizat, um dos adolescentes espertinhos que havia corroborado para a grande falha da última missão. O garoto estava com uma postura acuada.
— Eu queria me desculpar pela última missão. Não queria que ninguém se machucasse.
Notando que realmente havia sinceridade nas palavras dele, Neteyam fez um gesto positivo com a cabeça e segurou no ombro do rapaz muito mais baixo:
— Se realmente se importa com a minha vida e a dos seus amigos, lembre-se do que eu vou te dizer agora: Não costumamos ter segundas chances quando estamos diante do perigo. Você já cometeu o erro, não deixe que ele se repita.
Aizat assentiu.
— Sim, senhor.
— Eu estou bem, não precisa se preocupar com a ferida. Você não deveria estar ajudando na construção das redes de pesca?
O garoto corou, pego no pulo.
— E-eu já estava indo! – Respondeu, mas baixou os ombros. – É meio perda de tempo já que não tem peixe, não acha?
— Não, nós ainda precisamos pescar o que tiver.
— Será que vamos descobrir o que está acontecendo?
— Vamos sim. – Respondeu Neteyam, fitando a praia cristalina. Um pensamento lhe ocorreu. – De onde os cardumes deveriam vir?
Aizat franziu o cenho.
— Provavelmente do leste, sentido da corrente.
— É, você tem razão. Bom, de qualquer forma, é melhor seguir nas suas tarefas, ou vou ter que reportar ao Ao’nung. – Comentou, contendo o riso ao perceber o garoto engolir o seco.
— Pode deixar! – Aizat disparou pela praia, mas depois se virou: – Eu ainda posso participar das suas aulas de arco e flecha?
— É claro.
Com um sorriso empolgado, o rapaz voltou de onde tinha vindo.
Se antes o fato de ser da floresta causava uma série de situações estressantes para Neteyam, hoje isso o tornava estranhamente popular entre os Metkayina. A batalha contra o Povo do Céu criou uma nova geração de crianças que estavam sedentas por aprenderem todas as técnicas possíveis para sobreviverem e lutarem por seu mundo. Graças a isso, quando Neteyam assumiu a liderança do treinamento dos novos combatentes e caçadores, os mais jovens se animaram com a possibilidade de não só aprenderem as técnicas Metkayina, como também de entenderem como era o combate e as técnicas dos Omatikaya.
A crescente curiosidade fez com que Neteyam os ensinasse sobre sua forma de lutar, a relação com os animais do céu e da terra, e até a construírem seus próprios arcos, mesmo que não fossem efetivos no mar, afinal, a ideia não era usar as flechas nos peixes. Os anciões não ficaram satisfeitos com o fato de sua próxima geração estar tendo tais aprendizados, visto que poderiam “perder a essência Metkayina”, mas Tonowari achou que o conhecimento extra seria valioso futuramente.
De volta ao marui onde morava, Neteyam não se surpreendeu ao não ver Ao’nung ali. Ele seguia muito ocupado já que seu pai estava fora em uma nova missão. Com uma ideia fervilhando na sua mente, Neteyam puxou os tecidos que cobriam o caixote onde guardava os itens que seu pai tinha separado para usar quando precisasse.
Fitou as enormes armas de fogo do Povo do Céu e as infinitas munições com desinteresse. Por fim, pegou um pequeno equipamento fino em formato retangular e apertou o botão para ligá-lo.
Talvez o Povo do Céu realmente estivesse causando tudo isso, então seria morbidamente cômico se seus próprios equipamentos fossem capazes de contar aos na’vi a verdade. Neteyam sentiu um arrepio em sua espinha ao pensar em uma nova batalha, mas independente de seus pesadelos, ele sabia que sempre estaria preparado para lutar.
Era um homem de guerra, afinal.
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