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História Always Somewhere (Aonung x Neteyam) - O Elo


Escrita por: Srta_Michaelis

Notas do Autor


Oioi gente! Voltei!

Assim como no capítulo anterior, este também tem trechos em na'vi e se trata da mesma música :)

Pra compensar a demora, fiz um MEGA capítulo!

Boa leitura!

Capítulo 17 - O Elo


I know the rain like the clouds know the sky (Eu conheço a chuva como as nuvens conhecem o céu)

I speak to birds and tell them where to fly (Eu falo com os pássaros e digo-lhes para onde voar)

I sing the songs that you hear on the breeze (Eu canto as canções que você ouve na brisa)

I write the names of the rocks and the trees (Eu escrevo os nomes das rochas e das árvores)

The Yawning Grave – Lord Huron

 

 

Neteyam sabia que não dava para esperar mais.

Pegando as últimas pétalas cheirosas da tigela ao lado do corpo de Ao’nung, ele terminou de limpar as feridas, tirando as flores já apagadas e colocando as novas. Apesar da aparência da ferida estar muito melhor, quase se fechando, Ao’nung não mostrava sinal algum de consciência. Nem um movimento, expressão ou espasmo involuntário. A respiração lenta era a única coisa que mostrava a vida que ainda residia nele.

Pegando uma das mãos de seu amado, Neteyam roçou os lábios nos dedos inertes, em um carinho doce.

— Vou precisar deixar você aqui por um tempo, meu Ao’nung. Mas prometo que volto logo.

Encostando um pouco mais o rosto na mão do herdeiro, Neteyam fechou os olhos, aproveitando aquele toque suave, porém frio. Dois dias depois de ter chorado e se culpado até perder as forças, ainda se sentia em uma tortura constante. Isso porque chorar até esgotar suas energias não tinha trazido Ao’nung de volta. A saudade continuava tão dolorosa quanto antes.

Afastando-se da mão do Metkayina, Neteyam se levantou, puxando uma bolsa e preenchendo-a com itens que poderia precisar para sua tarefa. A tigela vazia de ervas, cordas e as horríveis frutas vermelhas que Tai’Ren insistia em trazer sempre que encontrava em seus passeios pela floresta, criando um pequeno monte delas.

Não conseguia entender como ele gostava daquelas coisas, mas sabia que, na ausência de animais terrestres para caçar e correndo o risco de não encontrarem peixes, o garoto precisava ter algo para comer caso demorassem, por isso, colocou todo o pequeno monte de frutas na bolsa. Pegou o arco e as flechas, caminhando em direção à floresta, mas não sem antes olhar para Ao’nung uma última vez.

Afastou os pensamentos autodepreciativos que surgiam para focar no que precisava e se esgueirou pela floresta em busca de Tai’Ren.

Depois do ocorrido na fogueira, o menino parecia um tanto estranho.

Comia e sempre repetia, elogiando a refeição. Ficava espiando Neteyam da rede até ver o Omatikaya dormir. E, principalmente, começou a trazer muitas das frutas vermelhas e algumas flores esquisitas, colocando-as perto de onde guardava seu arco. Geralmente, ele fazia isso durante os cochilos de Neteyam, mas certo dia o Sully percebeu a movimentação do garoto enquanto ele colocava flores dentro da sua bolsa de flechas.

Ao questioná-lo sobre os itens que surgiam misteriosamente em suas coisas, Neteyam viu Tai’Ren apenas fingir que não fazia a menor ideia de onde tinham vindo, dando de ombros e correndo de volta para floresta.

No final das contas, o Sully apenas continuava guardando todos os presentes, confuso sobre a atitude do garoto. Agora já tinha quase um jardim de flores coloridas e uma pilha das frutas rubras.

Até comeu uma delas, mas o sabor exótico – e muito ruim, na sua opinião - quase fez suas pernas perderem as forças. Chegou a pensar que tudo não passava de uma brincadeira de mal gosto do menino, mas quando se aproximou para reclamar, o viu mastigando tranquilamente a mesma fruta, como se fosse incrivelmente gostoso.

Por fim, ele optou por recuar, sem falar nada. E assim ambos permaneceram.

Caminhando agilmente na mata silenciosa, Neteyam clamou internamente para que sua tarefa desse certo.

Apesar de terem encontrado a árvore com flores medicinais, Tai’Ren pegou tudo o que estava disponível e agora não havia mais como tratar Ao’nung. Diante do cenário, não restou outra opção: Precisavam explorar a ilha. Era improvável que só houvesse uma árvore com aquelas propriedades curativas, e essa era a esperança que agora fazia Neteyam subir o morro verde e arborizado.

Finalmente mais perto do penhasco, ele parou entre as arvores ao ouvir a voz de Tai’Ren. Se aproximou sutilmente, inicialmente imaginando que ele estaria conversando com alguém. Contudo, conforme se aproximava sorrateiramente, percebeu que na verdade, ele estava cantando.

— Zola'u nìprrte' ma Kiri (Boas-vindas, Kiri), ngati oel munge soaiane (Te trago para a família) ...- Tai’Ren girava olhando para os próprios pés, cantando distraidamente. Seu totem girava no ar junto com ele.

Neteyam arregalou os olhos ao ouvir os versos na voz infantil muito suave. Ele estava escutando-o cantar? Continuou escondido e vendo que a criança não apenas o tinha escutado, como havia aprendido a música inteira. A voz angelical o fez hesitar em interrompê-lo.

Em dado momento, Tai’Ren girou tanto que começou a cambalear perigosamente na direção do penhasco, mas caiu na grama.

— Ei! – A voz de Neteyam o tirou dos devaneios. – Que tipo de brincadeira é essa? Quer cair daqui de cima?

Sua presença assustou o menino, que rapidamente se colocou de pé.

— Desculpa. – Sussurrou, com um semblante de culpa.

Neteyam bufou. De onde surgia brincadeiras tão sem sentido? Gritou o sinal para chamar o ikran e se voltou para Tai’Ren.

— Você vem comigo.

— Pra onde? – Perguntou a criança, subitamente interessada.

— Precisamos encontrar mais árvores como aquela. – Respondeu, notando a aproximação de seu ikran. – Eu iria sozinho, mas você tem o tamanho pra conseguir pegar as flores sem agredir as raízes.

O menino não respondeu, estava absolutamente encantado com a chegada do enorme animal voador, que já tinha visto outras vezes, mas saber que iria voar nele o fez dar pulinhos. Neteyam fez um carinho em seu companheiro de voo e acoplou a bolsa nele.

— Não olhe nos olhos dele. – Advertiu o garoto, que logo obedeceu.

— Quer dizer que eu vou voar também?

Com um suspiro pouco empolgado, Neteyam concordou e mais uma vez se colocou diante da criança.

— Vem. – Disse, estendendo os braços. Empolgado, Tai’Ren respondeu de imediato, se oferecendo para ser pego no colo com um risinho.

Neteyam de pronto notou que, além de pequeno, ele era leve demais para a idade e se perguntou como havia conseguido sobreviver sem ninguém ali. Ergueu o garoto até que suas perninhas conseguissem alcançar o ikran. Tai’Ren agarrou no pescoço do animal enquanto Neteyam subia agilmente, realizando o tsaheylu.

Quando o ikran se acostumou com a presença deles, o Sully ajeitou Tai’Ren na sua frente.

— É pra segurar aqui. – Mandou, apontando o pescoço de seu ikran. – Não é pra soltar de jeito nenhum, entendeu?

— Sim! – Gritou Tai’Ren, rindo de antecipação. Logo depois, se aproximou do rosto do ikran, como se quisesse lhe confidenciar algo. – Você pode voar agora?

— Sou eu quem diz o que ele deve fazer. – Disse Neteyam, dando o sinal que imediatamente os tirou do chão.

De olhos arregalados, Tai’Ren logo endireitou as costas, apertando mais as mãozinhas em torno da criatura que agora voava rápido. Seu coração disparou quando virou a cabeça e viu o penhasco ficando para trás. A sensação dos pés não tocarem o chão era algo completamente novo e estranho para ele.

Vendo a reação paralisante da criança, que encarava o horizonte em silêncio e completamente abismada, Neteyam deu um meio sorriso, agradecendo a Eywa por aquele momento de tranquilidade e manteve os olhos nas árvores, atento ao que procurava. Só que não demorou muito para o momento de paz ser interrompido.

Como se finalmente percebesse o que estava acontecendo, Tai’Ren gritou eufórico, olhando as árvores debaixo dele com olhos emocionados. Automaticamente seus bracinhos se ergueram, como se quisesse tocar as nuvens. O movimento o fez deslizar para o lado e Neteyam rapidamente colocou a mão na barriga dele, prendendo-o com firmeza.

— Ei, para com isso! – Bradou, em uma bronca. – O que foi que eu disse sobre segurar?

Contudo, Tai’Ren estava agitado demais para se lembrar de regras chatas, por isso continuou muito feliz, erguendo os braços e se inclinando para ver a floresta infinita abaixo dele. Neteyam trincou os dentes, tentando manter seu ikran em paz durante o voo ao mesmo tempo em que se atentava na criança inquieta e muito barulhenta, segurando-o com firmeza para evitar qualquer acidente.

Mas estava sendo impossível.

— Tai’Ren, fica quieto!

— Neteyam!!! – O menino gritou, ignorando-o e apontando para a floresta. – Uma árvore, duas árvores, três árvores... muitas árvores!!

Antes que pudesse responder, a criança voltou a gritar, encantada:

— Olha! – Apontou para cima. – Nuvem, nuvem, nuvem e nuvem!

— Eu já entendi, agora pode se comportar!? – A voz de Neteyam soou quase como uma súplica enquanto ele tentava equilibrar as coisas no ar. – Já esqueceu tudo o que eu mandei?

— A gente pode voar no mar!? Por favor, por favor, por favor...- Tai’Ren começou a repetir “por favor” infinitamente ao ponto de Neteyam fitar o céu, pedindo a Eywa alguma misericórdia.

Depois de um minuto inteiro tentando ignorar a criança tagarelando, ele passou um comando e o ikran se enfiou na floresta da forma como conseguiu, pousando. Automaticamente o ânimo de Tai’Ren murchou, soltando um suspiro triste.

— Já acabou?

Neteyam o fitou, bravo.

— Escuta aqui, rapaz! Você...- Ele apontou o dedo para o menino. – Me obedece, tá entendendo? Se ficar gritando e agindo como maluco vamos cair lá de cima! Você quer cair?

— Não...- Sussurrou Tai’Ren, encolhido pela bronca.

— Então, o que você precisa fazer?

— Obedecer...

— Ótimo! E o que mais eu mandei?

— ... Não soltar a mão daqui. – Ele apontou para o pescoço do ikran.

Se dando por satisfeito, Neteyam levantou voo outra vez, resmungando:

— Uma semana com o Ao’nung e ele te mimou a esse ponto?

Tai’Ren deu de ombros, emburrado e Neteyam balançou a cabeça, em descrença:

— Quando ele acordar, vou dar um jeito nisso. – Cochichou para si mesmo.

O voo foi um pouco mais tranquilo dessa vez. Tai’Ren ficou inicialmente fazendo um biquinho birrento, mas logo estava encantado pela visão de novo e sorriu abertamente, sem soltar a mão do ikran. Neteyam aproveitou para fechar os olhos um pouco. Estava tão cansado. Queria estar em casa novamente, com Ao’nung bem para que pudessem passar um dia tranquilos e sem preocupações, apenas aproveitando o som das ondas e o calor um do outro.

Mas primeiro precisava acreditar que ele lhe perdoaria, o que infelizmente não estava acontecendo.

— Neteyam!!! Olha!

— O que foi dessa vez? – Perguntou o Omatikaya, desanimado pelos pensamentos.

— A árvore!

Afiando seus sentidos e olhando na direção que Tai’Ren apontava, Neteyam se animou ao enxergar o que estavam procurando. A árvore grossa parecia muito mais alta do que a que ficava perto deles. Nos galhos, no entanto, haviam apenas folhas verdes comuns, sem propriedades curativas.

Ao longo de toda sua vida na floresta, o que Neteyam mais viu foi árvores de diversas formas, cores e tamanhos. Mas aquela árvore era estranha como nenhuma outra. Isso porque suas flores amarelas que suavam uma espécie de seiva cresciam dentro das paredes do caule, como se a árvore fosse virada ao avesso. Se não fosse o cheiro intenso, jamais saberia que dentro dela haveria flores luminosas e curativas.

O ikran rosnou, incomodado pela mata densa, o que o fez dar um comando para pousar não muito longe do objetivo. Quando seus pés tocaram o chão, Neteyam puxou Tai’Ren com cuidado e depois pegou a bolsa. O menino caminhou ao seu lado animadamente até chegarem finalmente na árvore cheirosa.

Tai’Ren lançou um olhar sapeca:

— Não se preocupa, Neteyam! Eu sou pequeno então pode deixar comigo!

Ele logo se deitou no chão, arrastando-se por debaixo das raízes grossas e elevadas, mas encontrou bastante dificuldade, pois, mesmo que fosse uma árvore enorme, suas raízes criavam uma espécie de labirinto ao redor dela, como se quisesse impedir estranhos de adentrarem na árvore para pegar as milagrosas flores.

Tai’Ren gemeu, se enfiando em uma passagem estreita demais até para o seu tamanho.

— Se estiver muito apertado, não vai. – Neteyam o advertiu.

A última opção era cortar as raízes, porém, além de não ter equipamento adequado ao seu dispor, não queria agredir uma planta que estava dando uma segunda chance a Ao’nung.

— Eu sou um guerreiro igual o Ao’nung! – Teimou o garoto, tentando afastar um pouco as raízes para passar.

— Ele te contou que é um guerreiro?

— Sim! Então... – Grunhiu, passando pelo trecho pequeno. – Não vou desistir!

— Guerreiros não jogam a vida fora. – Ensinou Neteyam. – Quando não há como resolver algo, nós recuamos.

— Você não pode ensinar um guerreiro, Neteyam. Eu já sei de tudo!

— Um guerreiro pode ensinar outro, principalmente quando é uma criança birrenta que precisa aprender. – Retrucou.

— Você é guerreiro também? – Perguntou Tai’Ren muito curioso, parando para fitá-lo por entre as teias de madeira.

Neteyam assentiu, em concordância. Por fim, Tai’Ren continuou avançando até que finalmente chegou dentro da árvore.

— Ah não!

— O que houve? – Neteyam se aproximou, tentando ter algum vislumbre do interior do caule oco.

— Não tem florzinha no chão...Elas estão lá em cima! Eu tô vendo elas brilhando, mas tá muito alto, quase no céu!

O Sully praguejou, se afastando da árvore e olhando para cima, tentando encontrar qualquer ranhura ou buraco que pudessem se aproveitar para entrar. Não enxergando nada do chão, ele pulou sobre o primeiro galho, começando uma escalada ágil.

A madeira parecia estranhamente úmida e lisa, o que era um grande problema para se fixar.

— Neteyam...? - A voz de Tai’Ren soou um pouco mais distante conforme escalava.

— Pode sair daí! – Gritou. – Temos que arranjar outra forma de conseguir isso.

Percebendo que os galhos eram espaçados e difíceis de alcançar, Neteyam se concentrou mais a cada pulo. Olhou para baixo, averiguando se Tai’Ren estava conseguindo voltar tranquilamente, mas o campo de visão era péssimo:

— Garoto, tudo certo?

— Sim!!! – O gritinho veio junto com outro grunhido de esforço.

Focando na sua escalada, Neteyam correu como podia para se impulsionar e agarrar um outro galho, equilibrando seu peso. Quando conseguiu se estabilizar, finalmente encontrou um buraco, mas além de não ficar perto de nenhum ponto de apoio, era pequeno demais.

Praguejando baixinho, Neteyam voltou, pulando com cuidado para não escorregar. Aquela altura, Tai’Ren já tinha voltado e olhava para cima, esperando-o.

— Vou precisar de você. – Disse Neteyam, assim que alcançou o solo repleto de folhas e materiais orgânicos. – Tem um buraco lá em cima, talvez dê pra pegar as flores de lá ou fazê-las cair.

Ao contrário do que imaginava, no entanto, não recebeu nenhum grito de empolgação, apenas viu Tai’Ren se encolher, engolindo o seco.

— O que foi?

— Não quero ir...

— Por quê?

— Tô com medo, Neteyam. – Sussurrou, com os olhos cinzas arregalados e úmidos. – Não quero cair lá de cima.

— Você não vai cair, eu vou estar lá. – Respondeu o Sully, virando-se de costas e abaixando. – Vem. Sobe nas minhas costas.

Porém, Tai’Ren não se moveu. Seus olhos se encheram de lágrimas.

— Eu tô com medo de cair... – Choramingou. – Igual no meu sonho.

Notando que o menino parecia realmente muito assustado, Neteyam suspirou, tentando pensar em alguma alternativa. De pronto, uma ideia surgiu e ele puxou a bolsa, pegando uma das cordas que tinha trazido.

Tai’Ren fungou observando o adulto amarrar a corda na própria cintura e depois se voltar para ele, passando a mesma corda agora na sua cintura, fazendo um nó firme. Unindo-os.

— Tá vendo isso? – Os olhos dourados fitaram os acinzentados enquanto mostrava a corda.

O menino assentiu.

— Eu amarrei nós dois. Eu nunca caí de uma árvore e não vai ser agora que isso vai acontecer. Então, enquanto você estiver amarrado comigo, não vai cair também.

Tocando a corda com as mãos pequenas, Tai’Ren refletiu por alguns segundos antes de balançar a cabeça:

— Tá bom.

Repetindo o movimento anterior, Neteyam sentiu a criança grudar em suas costas envolvendo seu pescoço com os braços e as costelas com as pernas finas. Sem sentir incômodo algum com o peso minúsculo, ele começou a escalar outra vez, mais devagar para não assustador o garoto e acabar dando tudo errado.

Com os pés procurou pontos de sustentação na madeira e as mãos usou para impulsionar seus movimentos, subindo até onde pudesse ter ângulo para pular nos galhos mais distantes. Às vezes fazia pequenas pausas para checar se a criança com a cabeça em seu ombro estava bem, já que nunca viu Tai’Ren tão quieto antes.

Aparentemente tudo certo, concluiu.

Escalou por mais alguns minutos, até estar consideravelmente perto do buraco no caule, mas logo praguejou ao notar que o tronco mais próximo não era perto o suficiente para se apoiarem com tranquilidade. Ainda assim, subiu até chegar no ponto que gostaria.

— Tai’Ren. – Chamou.

— O quê?

— Tá vendo aquele buraco ali? – Gesticulou com o queixo até o menino enxergar. - Eu vou me esticar o máximo que conseguir pra ficar perto dele. Quando eu fizer isso você vai apoiando em mim até conseguir alcança-lo, certo?

Engolindo o seco, Tai’Ren assentiu, tentando ser o mais corajoso possível. Com o aceite, Neteyam esticou uma das pernas, encontrando apoio no caule e ganhando mais confiança para soltar um dos braços, esticando-o como se fosse abraçar a árvore gigantesca. No fim das contas, seu apoio mais seguro era apenas o braço esquerdo que era o único membro a continuar alcançando o galho onde estava.

— Pronto. Agora vai devagar, não olha pra baixo.

Com o coração acelerado, Tai’Ren obedeceu, afrouxando o aperto no corpo de Neteyam para apoiar no braço esticado dele, avançando em direção ao buraco na árvore. O Omatikaya tirou uma dar pernas de sustentação e a esticou para que o menino usasse de apoio. A corda seguia firme mantendo ambos presos um ao outro.

O braço que permanecia agarrado ao galho estava com músculos rijos pela posição desconfortável. Os orbes dourados observaram a criança avançar cuidadosamente agarrando-se às suas pernas e braços. Mas logo o apoio terminou e Tai’Ren percebeu que teria que dar um pulo para conseguir chegar no objetivo. Seus olhos se voltaram para Neteyam, medrosos.

— Eu não vou cair, né? – Sua voz saiu fininha.

— Não. – A resposta veio com uma firmeza que o tranquilizou um pouco.

Corajosamente, o pequeno pulou para o lado, esticando os braços até alcançar a abertura que precisava. Apoiou os braços com força já que a árvore era lisa e seus pés escorregavam. Quando seu busto já estava dentro da árvore, o cheiro forte pareceu refrescar seu corpo inteiro.

Esquecendo-se momentaneamente do medo, Tai’Ren sorriu ao ver muitas flores brilhantes, iluminando o interior da árvore.

— Neteyam, tem um monte! – Gritou, em êxtase.

— Ótimo. Você consegue arrancar pra deixar elas caírem lá embaixo?

Tai’Ren se inclinou mais para dentro da árvore, apoiando as mãos na parede oposta repleta de flores e seiva.

— Sim! – Gritou, começando a arrancá-las agilmente. – Tem muitas!

— Toma cuidado onde apoia.

Neteyam tentava distribuir o peso do corpo para aliviar as dores da posição exaustiva. O garoto, por sua vez, se empolgou, inclinando-se mais ainda para dentro da árvore, colocando seu peso nas mãos que trabalhavam, deixando uma de apoio enquanto a outra puxava as flores amarelas.

Mas as paredes repletas de seiva eram perigosamente lisas e, colocando um pouco mais de peso, o braço de apoio de Tai’Ren escorregou. Com um grito assustado, ele despencou dentro do espaço úmido e repleto de flores luminosas. O cheiro forte estava em todos os lugares e ele podia jurar que até seus olhos estavam sendo afetados.

Com a queda, Neteyam, que estava desprevenido sem uma das pernas de apoio foi puxado contra a árvore, perdendo o apoio do braço e escorregando até o buraco onde Tai’Ren tinha caído. Ambos sentiram o tranco quando a corda chegou ao limite.

— Neteyam!!! – Gritou, desesperado, sentindo as costas doerem pelo puxão da corda.

— Calma! Você está preso comigo!

O na’vi da floresta buscava urgentemente algo para apoiar suas mãos já que felizmente conseguiu manter os pés na borda da passagem onde Tai’Ren estava. O menino chorava assustado e com o coração martelando. Escutou a voz de Neteyam, mas seu desespero o impediu de entender o que ele dizia.

Pela forma como caiu, seu corpo bateu nas laterais da árvore, enchendo-o da seiva pegajosa e das pétalas geladas. Chorando de medo, ele só conseguiu pensar em Ao’nung.

— A respiração nos ajuda a controlar os medos. – Disse o Metkayina na primeira vez que se viram.

Lembrando do exercício, Tai’Ren tentou reproduzi-lo, ainda ouvindo a voz de Neteyam muito distante. Imaginou Ao’nung respirando profundamente junto com ele, ensinando-o, incentivando-o.

Por fim, prendeu e soltou o ar devagar, ainda soluçando. Até que finalmente escutou com clareza a voz de Neteyam:

— Tai’Ren! O que houve!? Está ferido? Consegue responder? – Ele parecia urgente.

— Neteyam!

— Estou aqui! Você precisa manter a calma. Se machucou?

— Acho que não.

Neteyam não conseguia achar apoio para as mãos e pensava na melhor forma de puxar o garoto, sem acabar arriscando a vida dos dois.

— Ótimo. – Tentou tranquilizá-lo. – Eu preciso que você apoie seus pés e mãos na árvore. Consegue?

Tai’Ren enxugou os olhos e percebeu que seu rosto estava repleto da substância que a árvore tinha. Fez o que Neteyam pediu e se apoiou, mas era tudo muito escorregadio. Aproveitando-se da estabilidade da corda ele agiu rápido e começou a arrancar as flores infinitas, jogando-as para que caíssem no chão lá embaixo.

— Tai’Ren, eu preciso que você suba devagar.

Ignorando momentaneamente o pedido, o menino continuou pegando o maior número de flores possível, ainda inspirando e expirando profundamente. Quando percebeu que tinha conseguido tirar todas as seu redor, ele obedeceu Neteyam e tentou subir apoiando as mãos e os pés nas laterais. Porém, era tudo muito liso e ele escorregou diversas vezes.

Por ser muito jovem e frágil, Tai’Ren sentiu suas forças esgotarem depois de longos minutos tentando subir de volta e falhando.

— Neteyam, eu não consigo mais... – Gemeu, sentindo as pernas doerem. – Tô muito cansado. Quero voltar e ficar com o Ao’nung...

Notando o tom choroso da criança, Neteyam sabia que precisava pensar rápido, então fez a única que podia sem apoio nas mãos. Firmou mais os pés na passagem e levou ambas as mãos à corda, tentando manter o centro do equilíbrio nos pés.

— Eu vou puxar você. – Anunciou.

Com um suspiro, deixou o corpo cair para trás, com os joelhos flexionando. Tai’Ren imediatamente sentiu o puxão e se agarrou à corda. Agachado e apoiando somente os pés no buraco, Neteyam já não conseguia manter totalmente o equilíbrio agora, mas continuou puxando até ver o garoto aparecer agarrado à corda.

O rosto infantil se iluminou:

— Neteyam!

Concentrado no próximo passo, o Sully pulou e se pendurou na passagem com as mãos agora, procurando algum apoio para o pé, sem sucesso. Sua visão periférica estava em alerta, em busca de qualquer lugar seguro.

— Tai’Ren, preciso que suba nas minhas costas. Pode fazer isso?

Com um aceno positivo, o menino saiu de dentro da árvore, apoiando em seus ombros. De imediato notou que ele estava todo molhado pela seiva, mas ignorou. Com a criança devidamente alocada em suas costas, ele também começou a sentir o corpo protestar pelo esforço.

Agindo por impulso, tentou fincar as unhas nas lascas de madeira protuberantes para abrir algum pequeno vão onde pudesse apoiar os pés depois. Os dedos protestaram, sendo feridos pelas lascas pontiagudas, mas felizmente, Neteyam conseguiu um novo ponto de sustentação. Sustentando o peso deles apenas com um dos braços, ele usou o outro para fazer o mesmo processo machucando os dedos para abrir pequenos buracos na arvore oca.

— Neteyam, tô cansado... – Tai’Ren sussurrou, pensando apenas na sua confortável rede.

Tentando não se desfocar do esforço, o Sully foi curto:

— Já vamos descer.

E assim, ele conseguiu ângulo finalmente para pular sobre o tronco de onde vieram, parando por alguns segundos para descansar, com as mãos feridas e dormentes. Mais aliviado, ele não teve dificuldade para realizar a decida em segurança.

Quando seus pés tocaram a terra, se permitiu sentar, ofegante. Tai’Ren desgrudou de suas costas e por um instante quis chorar de felicidade, mas sabia que não tinha acabado então caminhou ate a bolsa e pegou as tigelas, enfiando-se novamente debaixo das raízes.

— Ei! – Neteyam se levantou para impedi-lo, mas o garoto já estava lá dentro, avançando-o rápido. – Tai’Ren, o que está fazendo? Volta! Amanhã fazemos isso!

— Não! Eu vou salvar o Ao’nung!

Neteyam conteve o ímpeto de revirar os olhos e agachou para ver o menino se esgueirar sofregamente, posteriormente atingindo o objetivo com uma risada feliz. Ele encheu os potes com todas as pétalas que conseguiu e voltou, sentindo-se exausto.

Surpreso pela quantidade de pétalas que tinham conseguido, Neteyam não pôde evitar um aceno de aprovação silencioso para o menino.

Voaram em silêncio na volta.

Tai’Ren estava sonolento demais para se empolgar e seu corpo estava dolorido pelo esforço. Neteyam não estava em uma situação muito diferente. Mas, quando o ikran pousou e o menino que estava quase dormindo abriu os olhos, não viu o penhasco e sim a lagoa.

Fitou Neteyam, confuso. Porém, o adulto foi claro:

— Você precisa de um banho.

Muito emburrado e choramingando pelo sono, Tai’Ren mergulhou na água fria. No entanto, rapidamente seu sono foi embora e ele se sentiu um pouco melhor, mergulhando e tirando a seiva estranha do seu corpo. Neteyam aproveitou para dar um mergulho rápido enquanto o garoto perseguia peixes em uma brincadeira que só ele entendia.

Deixou a água levar o sangue das mãos e removeu as lascas de madeira com cuidado, até que o menino se aproximou:

— Sabe Neteyam... – Comentou. – Eu acho que não vou mais escalar árvores. Daqui pra frente, vou só pescar.

Pousando os olhos dourados sobre a figura minúscula, surpreendeu a si mesmo quando, subitamente, escutou o som da própria risada, que preencheu o ambiente a volta deles com suavidade, deixando até Tai'Ren em choque.

— É, talvez árvores não sejam pra você, garoto.

 


Notas Finais


Achei que esse capítulo seria minúsculo e olha o monstro que virou kkkkk mas achei uma graça, espero que tenham curtido ao menos um pouco!

Eu fiz uma playlist com as músicas que cito aqui na fic então se quiserem ler escutando, ou só quiserem uma dica de música, vou deixar o link aqui :) https://open.spotify.com/playlist/1aRePxCbac7cDunYhqoeCg?si=b3aa81622f0a41c9

Eu já planejei todos os caps até o final, mas como sou muito indecisa é melhor nem falar nada sobre quanto falta pra terminar. Um dia eu vou chegar e só falar "gente, o próximo é o último 🥺" kkkkkk

Espero que estejam bem, anjos. Até o próximo!


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