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História Amaldiçoado - II, Hierarquia


Escrita por: yehunnie

Notas do Autor


Demorei? Nem tanto. É a minha primeira postagem de férias (YES!) Então meus horários estão mais flexiveis e poderei ver vários jogos de vôlei pela tv das olimpiadas lol Caros amigos, tinha falado que a fic seria um prólogo e mais dois capítulos... Bem, fui enganada por mim mesma, e hoje posso dizer que terá pelo menos mais dois capítulos (ai não sei se com epílogo ou não okay?) Enfim, boa leitura <3 E muito obrigada pelo carinho de todos!

Capítulo 3 - II, Hierarquia


Pela primeira vez desde a sua chegada, Jongdae se sentiu bem saindo na rua. Era bom poder sentir outros cheiros além do seu impregnado no ômega. Seu corpo caminhava lado-a-lado ao do menor, as pessoas os observavam enquanto cruzavam a rua principal da cidade. Aos poucos o alfa começava a descobrir os locais da cidade, a biblioteca municipal – onde tinha ido buscar os livros que estudava, um museu que no subsolo contava a história dos lobos, e a linhagem principal daquela alcateia. E em breve, teria uma foto de Junmyeon ao lado do seu pai.

Eles passaram por algumas lojinhas, e Junmyeon o puxou pelo braço.

– Preciso comprar algumas ervas para chá. – O ômega informou, e o outro franziu o cenho.

Aquele chá? – Questionou com um frio na barriga, não estava gostando daquela situação. As fraquezas constantes do mais velho, além das tonturas... Tinha presenciado Junmyeon tomando na última lua cheia, poucos dias atrás, e ficou aterrorizado quando ele desmaiou após terminar de ingerir.

– Não, aquelas ervas são proibidas, e muito difíceis de conseguir. – Ele murmurou baixinho, tinha medo dos outros poderem escutar aquela conversa, não deveria estar falando sobre aquilo num local público. – Preciso fazer alguns chás para me fortalecer, a lua cheia está chegando.

O mais velho foi o primeiro a entrar, causando um barulho de sino preso na porta, e foi logo seguido por Jongdae que torceu o nariz com aquele cheiro forte, era uma grande mistura de ervas e bebidas fortes.

– Bom dia. – Um garoto do outro lado do balcão saudou. – Precisam de ajuda? Oh, Junmyeon... Veio buscar as encomendas?

– Sim, preciso das minhas vitaminas e o que pedi para separar para mim.

Os olhos do alfa percorriam o local, era repleto de plantas. Ele tinha pouco conhecimento delas, mas eram a melhor forma de ajudar um lobo a se curar, eram poucas as vezes que um lobo procurava um médico.

– Jongdae! – Uma voz que não era de Junmyeon o chamou, e o alfa virou lentamente diante a surpresa. – Não acredito! É você mesmo?

O garoto atrás do balcão atravessou rapidamente, e abraçou Jongdae. Ambos estavam perplexos com aquela situação, e Junmyeon encarava sem entender o que estava acontecendo, e por isso questionou:

– Lu Han, você conhece o meu noivo?   

– Mas é claro! – Lu Han disse se afastando do alfa, tinha sido uma reação tão natural abraça-lo quanto respirar. – Viemos da mesma alcateia, mas eu me mudei para cá com mais ou menos dez anos. Todos os anos passávamos o verão juntos no rio da nossa alcateia de origem, mas depois que entrei no cio tive que parar de ir até lá.

– E como você tem passado? Faz anos que não te vejo. Minseok encontrou o seu par e está casado, dá para acreditar? – As palavras saíram rápidas, como se tivesse voltado anos atrás. Ele se lembrava do seu irmão propondo a Lu Han se não encontrassem suas almas gêmeas, eles se casariam.

Junmyeon assistia aquela troca de informações e aquela conversa incomodado. O mais novo conversava pouco consigo, e ele não tentava forçar uma situação... Mas estava com raiva daquela cena. Ele sabia que Jongdae não tinha encontrado seu companheiro, e naquele momento temeu que o mais novo resolvesse o trocar pelo garoto a sua frente. Mas tudo piorou quando o alfa disse:

– Seu cheiro está forte, você vai entrar no cio?

Foi como sentir um misto de frustração e raiva. Ele estava frustado pelo seu companheiro não poder sentir o seu cheiro, não sabia se Jongdae o acharia atraente... Quando ele viesse a tona, temia que o alfa o recusasse. Junmyeon observou os dois se afastarem no meio da lojinha e se aproximaram de um calendário, enquanto ele se recusou se aproximar. Estava com muita raiva do alfa pois o deixou de lado.

– Está aqui o que você pediu, Junmyeon. – Lu Han voltou ao meio da loja, acompanhado do outro Kim, segurando uma sacola. – Vou ter que fechar o loja, desculpa, não tinha percebido que meu cio estava tão próximo.

– É mais importante a sua segurança. Foi bom te ver, Lu Han. – O mais novo voltou a dizer quando saiam da pequena loja, e escutou seu noivo murmurando apenas um tchau com muito mal grado.

De volta a rua, Junmyeon começou a caminhar mais rápido. Não queria que o outro o acompanhasse, estava irritado. Droga, Jongdae abraçou outro ômega! Tentava se concentrar em dar passos mais rápidos, mas sentia o outro o seguindo. Ele só queria sair dali, não sabia para onde exatamente estava indo. Respirou fundo, e não sentiu nenhum cheiro... Queria chorar. Ele não sentia...

Junmyeon sentia falta de sentir o cheiro do eucalipto de manhã cedo quando saia para correr.

Sentia também a falta de poder ser livre, correndo entre as árvores como um verdadeiro lobo.

Quando percebeu que tinha chegado na floresta, parou. Estava longe da cidade, e ainda assim não estava pleno. O seu lobo estava irritado com Jongdae, mas continuava desanimado, ele não queria correr... Não queria correr quando não poderia viver a experiência plena.

Eles queriam sentir, e principalmente, Junmyeon queria sentir o cheiro de Jongdae.

– Você está bem?

 O mais velho não respondeu, suas mãos tremiam e seu olhar se perdia no meio das árvores. Estava livre de toda aquela pressão, não tinha mais ninguém além deles naquele local... Junmyeon removeu sua camisa, mesmo ela estando impregnada do cheiro do mais velho, ele não sentia, mas também não suportava a ideia de ser “marcado” daquela forma.

– Precisamos conversar. – Jongdae propôs se aproximando, conseguia ver as costas do mais velho e os músculos bem definidos. Aquela não era a primeira vez que o via daquela maneira, mas ele sempre ficava encantado.

– Preciso saber que porra está acontecendo. – A voz do ômega saiu forte, e Jongdae teria temido se não soubesse a que gênero o outro pertencia. – Você não quer estar aqui comigo, porque ainda está?

– Você quer mesmo a resposta? – O alfa rebateu. – Nós dois sabemos o que acontecerá caso eu te abandone.

Era como levar um soco no estômago. Uma coisa era saber do acordo, outra era escutar isso daquele que iria casar em pouco tempo... Junmyeon virou o rosto encarou os olhos do maior.

– Então vá embora, que garantirei que nada acontecerá com você e sua alcateia. – Disse sincero, não queria o prender naquele local mais, principalmente após ver um Jongdae diferente do que conhecia quando falava com Lu Han.

– É uma oferta tentadora... Mas não irei. Igual a você, não tenho um companheiro... – Admitiu. – Eu te prometi que não o abandonaria, muito menos o trairia e não descumprir a minha promessa, Junmyeon.

– Mas você estava abraçado a outro ômega. – Apontou, aquela imagem ainda estava em sua mente, não queria ter exposto seu medo diante ao outro, mas as palavras saíram da sua boca mais rápido que pensava.

– Ele me abraçou, Junmen. Ele acha que sou um ômega, você não se lembra? 

Jongdae se aproximou e o menor deu uns passos para trás. O rosto do alfa está sério, e por isso, o mais velho fincou o pé no chão... Não iria se sentir intimidade pelo outro, independente do seu gênero.

– Independente disso, você reparou no cheiro dele. Era agradável? – Provocou, com um sorriso sacana no lábio. – Você tem vontade de morde-lo, Jongdae?

– Para com essa merda, Junmyeon. – A sua voz saiu forte e grave, o que fez Junmyeon paralisar todo o seu corpo. – O cheiro dele está forte, pois vai entrar na cio essa semana e ninguém tinha o avisado disso. Você sabe o quanto isso pode ser perigoso para um ômega sem parceiro. – Aos poucos voltou ao normal, e o mais velho permanecia parado. Era a primeira vez que escuta o outro o emitindo uma ordem. – Desculpe, não foi a minha intenção.

Aos poucos, o corpo de Junmyeon foi amolecendo tamanho a sua surpresa, até que seus joelhos cederam e caíram sobre a terra fria, o mais velho sentiu a vertigem lhe atacando, era um dos efeitos do chá em conjunto. Estava surpreso, não só do outro lhe emitir uma ordem e também como tinha acatado sem querer. Aquela era a diferença entre os dois, Jongdae estava ali para mandar em Junmyeon. E aquilo o assustava. 

Junmyeon não queria ser mandado.

O alfa se ajoelhou ao seu lado, e o ajudou a levantar lentamente, mesmo contra a vontade do mais velho, ele não queria admitir que o mundo parecia estar rodando a sua frente. Bateu os joelhos do ômega, tentando eliminar toda a sujeira presente e pegou a camisa que o outro vestia até momentos atrás o entregando, mas foi recusada.

– Me desculpe. – Pediu novamente, alfas não pediam perdão a ômegas, isso Junmyeon sabia.

– Também não pensei muito... – Falou envergonhado. – Está perdoado.

Jongdae lhe deu um meio sorriso, e incrivelmente foi retribuído pelo moreno. Eles estavam sujos no meio da floresta, mas mesmo assim sabia que tudo ficaria bem. Tinham medo, era difícil admitir, mas possuíam muito medo, mas no fundo desejava que aquela união pudesse ser agradável para ambos.

– Preciso falar algo, que você não me deixou desde o início. – Jongdae falou sem graça, e coçou a nuca. Era um assunto delicado.

– O que é? – Ele pôs a mão segurando a cabeça, e fechou os olhos, estava tão nervoso com aquela situação e da tontura, que sentia seu estômago embrulhar.  

– O meu cio está próximo, no máximo terei três dias. – Sua voz saiu como um fio, não conseguia encarar o ômega naquele momento. – Tinha me esquecido de olhar, mas quando o Lu Han foi olhar no calendário, percebi que o meu também estava próximo. Não estou pedindo que você passe o cio comigo, já passei vários sozinho, mas tenho que te avisar sobre isso. – Ressaltou – Não quero que aconteça nada.

O ômega desviou o olhar também, suas bochechas estavam igualmente rubras ao do castanho, e comentar sobre assuntos como aquele era sempre estranho. Já tinha escuta seu pai durante o cio, e sabia como poderia ser enlouquecedor...

– Eu não posso passar o cio com você. – Falou ainda de olhos fechados, não queria mostrar ser fraco na frente do outro, principalmente naquele momento. – Você não pode me morder, Jongdae. Meu sangue pode te matar caso me morda, e bem, você pode não se controlar.

– Não me veja como um pervertido...

– Não, não... Eu entendo. Você tem que me avisar. Nós precisaremos organizar o local onde você vai passar o seu cio.

–––

Junmyeon respirava fundo, tentando ignorar os gritos. Ele estava nervoso com aquela situação, e era a primeira vez que escutava um alfa passando pelo cio sozinho. Se lembrava bem que quando seu pai entrava no cio, ele era enviado para a casa de algum conhecido por poucos dias, mas ele não poderia sair daquela casa sem Jongdae.

Até poucas horas atrás ambos estavam conversando tranquilamente, o mais novo tinha pedido para o prender em um quarto... E mesmo com a barreira, Junmyeon sentou-se encostado na porta escutando Jongdae falando como era seu antigo lar. Sua voz estava calma falando dos pais, e do quanto amava-los e ao dizer do irmão mais velho pelo qual tinha uma grande ligação. Talvez aquela fosse a primeira barreira que eles rompiam, a da intimidade.

Porém, em certo momento a voz de Jongdae começou a ficar mais grave, e o mais novo avisou que estava começando a febre. Junmyeon não ficou muito mais tempo ali, o alfa tinha pedido para que ele saísse daquele andar da casa, e mesmo relutante obedeceu. Mas ainda assim, ele conseguia escutar o arrastar de moveis, ganidos e até mesmo o choro vindo do maior.

Pior, estava apenas ele e sua mãe naquela casa. Seu pai – único com autoridade suficiente para conter o alfa – tive que viajar às pressas para resolver assuntos de maior prioridade alcateia, e tinha deixava vários assuntos sobre as finanças nas responsabilidades do ômega.

E ele não conseguia se concentrar em mais nada além da agonia que Jongdae sentia.

– Chegou a cavalaria. – Mimi surgiu no escritório, ela estava com um sorriso radiante como sempre, mas existia algo diferente nela... Junmyeon só não conseguia perceber.

Chanyeol apareceu ao seu lado na porta, com os fios vermelhados iguais ao do seu lobo, e logo abraçou a beta pelas costas.

– Não quero ser rude, mas o que vocês estão fazendo aqui?

– Seu pai nos pediu para ajudar a vigiar o alfa. – A menina respondeu, se sentando frente ao ômega no escritório. Eram anos de convivência juntos, e agora, Junmyeon a enxergava como uma irmã que sempre desejou ter. Chegava a ser engraçado pensar que talvez se casariam.

– Você não pode ficar aqui, Mimi. – O Kim falou rapidamente. – O seu cheiro pode enlouquecer ainda mais o Jongdae. 

A menina encarou Chanyeol que a abraçava brevemente, e Junmyeon entendeu aquele gesto. As bochechas de ambos estavam rubras, e eles desviaram o olhar do Kim.

– Mihyun – Chamou o nome verdadeiro de Mimi. – Você foi marcada e nem me falou.

– Aconteceu muito rápido, não tivemos tempo para nada. Quando nossos pais descobriram, começaram a planejar um casamento e o Chanyeol nem me pediu em casamento! – Resmungou.

– Mas eu vou! – O mais alto protestou e se afastou alguns centímetros da menor. – Você sabe disso. Agora, deixa eu ficar de vigia do noivo do Junmyeon.

Chanyeol deixou o escritório e subiu os degraus correndo, os resmungos vindos de Jongdae tinham cessado por uns instantes, e o Kim acreditou que ele tivesse caído de sono. Mas isso só pioraria quando ele acordasse, sua mãe estava preparando algumas comidas leves, e os papeis a sua frente na mesa pareciam estar em hebraico.

A cada segundo que passava a situação tornava-se ainda mais angustiante. Ele não queria deitar-se com Jongdae daquela forma, mas sentia o outro enlouquecer trancafiado, e até mesmo durante a noite poderia jurar que o escutou chamando seu nome. Mimi permanecia como agente duplo, as vezes ficava junto ao companheiro no andar de cima e logo depois corria para o andar de baixo para certificar-se que Junmyeon não subiria.

– Ele me chamou, Mimi. – Falou Junmyeon em certo momento da noite. – Ele quer me ver.

– Ele quer o seu corpo, Junmyeon. – Ela rebateu ainda deitada no sofá ao lado do seu.

– Preciso vê-lo. Sério, Mihyun. Não estou brincando.

Ela suspirou fundo, e se levantou do sofá lentamente para encarar os olhos negros do outro. Junmyeon estava decidido, precisava pelo menos falar com Jongdae... Sabia que não poderia vê-lo de fato, mas escutar a sua voz já seria a bastante. Mimi subiu primeiro e avisou a Chanyeol o que aconteceria, e logo em seguida o ômega subiu com receio. Escutava os murros que Jongdae dava contra a porta – que tinha sido reforçada – querendo sair dali... Aquela não era uma boa ideia.

– Jongdae? – Ele chamou tentando manter a sua voz calma, seu corpo estava encostado na parede e Chanyeol estava contra a porta caso o outro conseguisse passar.

Os socos na parede continuaram fortes, e ômega chamou mais uma vez mais alto o nome. E o barulho cessou, Jongdae não forçou mais a porta e o único som que foi escutado dentro do quarto foi o choro baixinho do seu lobo.

– Só faltam mais ou menos dez horas. – Junmyeon encostou a sua cabeça na porta e falou. – Falta pouco, você consegue. Tente se acalmar, está tudo bem. – A porta foi arranhada levemente, sem a menor intenção de fuga. – Você consegue, respira. Se acalma, eu estou aqui.

Junmyeon conversou com o lobo, com a voz tranquila tentando o acalmar. Ele não conseguia responder, o alfa não tinha total controle de suas ações, mas o mais velho conseguia escutar através da porta a sua respiração pesada. Da mesma forma que o alfa se acalmou, novamente perdeu o controle e começou a tentar escapar, não dava para o controlar o período inteiro mas aquilo deu uns minutos de calmaria naquela casa.

Quando o cio de Jongdae terminou, Chanyeol foi o primeiro a entrar no quarto. Estava tudo destruído, a cama quebrada, completamente arranhadas – da mesma forma que as janelas, porta e outros móveis no local. Ao se certificar que Jongdae tinha de fato voltado ao normal, vestiu uma roupa intima no alfa, e chamou Junmyeon.

Os dois carregaram o alfa até o banheiro ainda desmaiado e o banharam, limparam o sangue seco de suas mãos e o seu corpo contra todo o suor e sujeira dos últimos dois dias.

 

_________

Jongdae acordou dolorido, com muita fome e incrivelmente limpo. Tinha alguns lapsos de memória dos últimos dois dias, como Chanyeol o empurrando da porta e colocando comida no chão para que ele se alimentasse. Não se recordava o que de fato tinha comido, mas tinha ajudado a passar as últimas horas.

Suas mãos estavam enfaixadas e muito doloridas, e ele percebeu que aquele não era o quarto que tinha entrado antes do cio, o que indicava que alguém tinha cuidado de si após o desmaio. A sua mente ainda estava nublada, era como acordar de um sonho pesado e sem controle dos acontecimentos.

Era desesperador ficar preso naquele quarto, sem a perspectiva de sair. Seu lobo uivava em loucura, gritava por Junmyeon e permanecia preso naquele local. Por mais que ele não conseguisse sentir o cheiro do ômega, seu lobo sabia onde ele estava, escutava seus passos e sua voz, e clamava por si.

Ele levantou calmamente, e se certificou que não estava tonto antes de ficar em pé, seu corpo estava vestido com um pijama de flanela, que pelo tamanho e pelo estilo o levou a acreditar ser de Junmyeon... Não sabia que horas eram, e quando entrou no corredor da grande casa percebeu que era início da noite, e mesmo incerto desceu as escadas, algo dentro de si dizia que o seu futuro companheiro estava lá. E de fato acertou, Jongdae se encostou no batente da porta do escritório do chefe da alcateia e encontrou o futuro líder concentrado lendo os conflitos que deveria resolver.

– Está melhor? – Junmyeon sentiu o peso daquele olhar e perguntou sem desviar a atenção... Não queria ficar nervoso em vê-lo, mas a cada dia que passava Jongdae mexia mais e mais consigo. E droga, estava extremamente inquieto com a aproximação do alfa.

– Dolorido, mas bem. – O mais novo afirmou, e mesmo sem o convite se sentou frente ao ômega, que levantou o olhar por breves segundos. Existia algo no fundo dos olhos de Junmyeon, que fazia Jongdae querer permanecer ali. E ele não entendia o porquê. – Meu pai diz que era mais fácil resolver os conflitos quando, nós lobos, não éramos civilizados.

– Mas antes tudo era uma relação de poder.

– Nós ainda vivemos uma constante relação de poder, Junmyeon. – O alfa analisou, e colocou os cotovelos sobre a mesa se aproximando do outro... Inspirou lentamente, no fundo tinha esperanças constantes de sentir o cheiro do mais velho. – Veja bem... Para assumir o poder, o líder tem que ser um alfa, já começa por aí.

– Hoje não banhamos nossas mãos em sangue por qualquer motivo. – Afirmou. – Há regras a serem seguidas, buscando o bem da alcateia.

Jongdae encostou as costas na cadeira, e passou a mão na cabeça. Vê-lo ali todo concentrado no trabalho fazia com que ele perdesse a concentração... Era como se seu lobo pedisse por Junmyeon, e ele não sabia se era consequência do cio ou não. Mas aquela conversa não poderia ser adiada, era do futuro dos dois que também estavam falando.

– A alcateia busca o poder sempre Junmyeon... As pessoas podem se voltar contra nós. Caso eles descubram que você é um ômega, a situação pode ser bem pior, achar que nós os traímos. – Jongdae argumentou, aquele era o momento para definirem tudo. – Nós nos civilizamos com o tempo, mas ainda somos animais.

– Você não se acha capaz de governar, Jongdae? – Os olhos do mais velho o fitou com um brilho de diversão, o ômega queria o desafiar. – Você não é forte o suficiente? Pois eu sei que eu sou.

– Mas você não é um alfa. Isso que eles se preocupam, o que o líder é, o quão forte ele poderá ser se formos atacados. – As palavras saíram amargas, e Jongdae fechou os olhos por uns segundos, não queria ver a expressão do outro naquele momento. – Eu cresci com um irmão que também irá liderar uma alcateia, o observava de longe e tentava ser tão bom e forte quanto Minseok era. E eu consegui, Minseok não conseguiu ganhar de mim, e eu muito menos consegui ganhar dele. Não me ache fraco, pois eu não lhe acho fraco. – Admitiu. – Na verdade, acho você muito corajoso enfrentando tudo isso, mas eu tenho que alertar que caso eu venha a assumir como líder, podem não me aceitar por ser de outra alcateia.

– Diremos que somos almas gêmeas... Dará certo... O nosso plano vai dar certo.

– Eu temo não só por mim, mas por você também. – Confessou envergonhado. – Depois que você for marcado, sabe as consequências...

Junmyeon confirmou com a cabeça e desviou o olhar, rabiscou um dos papeis que estava em cima de sua mesa tentando desvincular daquele misto de emoções, não sabia o motivo do seu coração estar tão acelerado, talvez fosse a conversa em si, ou o medo que o dominava do futuro... E em uma última alternativa as palavras doces do mais novo, no fundo ele se preocupava com o ômega.

– Vamos começar a nos encontrar com os sentinelas a noite para realizar treinamentos. – O ômega informou, e com um sorriso sem graça encarou o alfa. – Vou precisar de um favor, de uma blusa e uma calça sua usada para ir nos treinamentos... E além disso, o conselho quer te questionar algumas coisas... – A sua voz travou por alguns instantes, era ainda difícil falar. – Antes do nosso casamento. 

 

 

_________

Junmyeon estava nervoso.

Aquela seria a primeira noite que voltaria a treinar com os outros lobos. Seu corpo pedia para voltar a correr, mesmo que seu lobo estivesse calmo demais. Era um os efeitos do chá, ele não desejava se transformar novamente... Mas mesmo assim ele queria tirar a prova real, seria a primeira vez que que treinaria com os lobos após descobrir ser um ômega.

Parou na porta do quarto de Jongdae, a noite já tinha caído e em breve deveria estar na floresta, mas não poderia ir sem o “seu ômega”. O fato de suar durante o exercício aumentava as chances de os descobrirem... Mas naquele momento não importava, precisava apresentar o alfa para os outros lobos e ele precisava se testar. Antes que batesse na porta, observou que a mesma estava entreaberta. E foi surpreendido com a voz baixinha do alfa... Deu um passo para frente e olhou pela fresta, Jongdae estava no telefone.

– Não sei quando iremos nos casar, hyung... – A voz do alfa estava calma, e Junmyeon o observava encarando o chão... Como se não quisesse falar sobre aquilo. – As coisas estão se ajeitando ainda, mas não sei ainda... Provavelmente o líder da alcateia irá definir.

É verdade que vocês se conheceram no meu casamento? – Minseok perguntou do outro lado da linha, e o ômega tentava ao máximo escutar o que era dito, porém, não era totalmente nítido.

– É verdade. – Mentiu, aquela era a história que tinham criado. Jongdae não queria que o mais velho soubesse a real história, que ele tinha sido a moeda de troca em seu resgate que ocorreu anos atrás.

Era difícil falar sobre aquilo, e por mais que tivesse evitando falar com o seu irmão, agradecia por ser pelo telefone, que Minseok não o encarasse no fundo dos olhos e enxergasse o que estava acontecendo. Tinha escutado sobre a felicidade dos últimos dias do seu irmão após o casamento e a lua-de-mel na China, eles tinham saído do país para o alfa conhecer os pais do ômega, e por fim, conheceram juntos lugares bonitos.

Está tudo bem, Jongdae? – Jongdae podia imaginar o seu hyung com a testa franzida de preocupação. – Você está bem quieto.

– Está sim, hyung. Tenho que ir, irei treinar com os lobos hoje junto do Junmyeon... Só estou meio nervoso.

Junmyeon esperou que os dois terminassem a ligação, para bater na porta mesmo que ela estivesse meio aberta, e observou Jongdae o encarar com o olhar perdido... O mais novo parecia que estava longe, mas ao mesmo tempo tão perto.

– Acabei ouvindo a sua conversa. – O ômega confessou, parecia o mais certo a se fazer. – Ele não sabe a verdade?

O mais novo o encarou por breves segundos antes de balançar a cabeça negativamente, não conseguia exteriorizar a verdade com a sua voz. Não queria falar sobre aquilo, não naquele momento. E Junmyeon respeitou aquilo.

– Preciso de uma roupa sua usada. – A voz saiu baixinha. – Devemos ir já.

Jongdae levantou da cama e deixou o telefone no móvel. Não tinha roupas “com o seu cheiro” para entregar ao ômega, e de forma natural removeu a própria camisa, ele estava distraído, não negaria e por isso não percebeu os olhos de Junmyeon o observando.

Os olhos do mais velho cravaram na parte desnuda do alfa. Ele estava nervoso, sentia sua mão suando e seu interior inquieto, ver Jongdae daquela maneira mexia consigo... Desejava toca-lo, senti-lo. Respirou fundo quando a camisa lhe foi entregue, e trocou a camisa na frente do alfa, não tinha motivos para sair dali.

Foi inesperado quando Jongdae se aproximou, o ômega no fundo sabia o que ele faria, mas desejava que algo mais acontecesse quando sentiu o mais novo o cheirando... Aquela tinha se tornado uma mania antes que saíssem de casa, era uma verificação onde ambos tentavam acreditar, mas no fundo era uma forma de aproximação.

Jongdae queria sentir o cheiro de Junmyeon.

Junmyeon queria sentir o cheiro de Jongdae.

A caminhada foi tranquila até a floresta, eles ainda tinham a atenção da população mas conseguiam passar despercebidos naquele dia. Suas mãos estavam entrelaçadas, e Junmyeon dizia para si mesmo que aquela era uma forma de fingirem ser destinados, mas no fundo ele não sabia quem tinha tomado a iniciativa.

Ele estava muito nervoso. E naquele momento se achava um completo idiota por se testar frente aos poucos lobos, poderia muito bem ter treinado escondido com Chanyeol, ou até mesmo com Jongdae, em outro lugar, não sabia se a sua força continuava igual, da mesma forma que a sua agilidade... Foram anos para conquista-las, e caso descobrisse ter enfraquecido após o seu primeiro cio provavelmente ficaria arrasado.

E ainda tinha os efeitos do chá, as tonturas constante e algumas cólicas doloridas.

– Não foi uma boa ideia. – Acabou falando para o outro. Estava próximos da cabana onde guardavam os objetos e equipamentos, mas afastados o suficiente para ninguém os escutarem. – Eles podem descobrir. – Posso ter enfraquecido.

– Eles não vão descobrir. – Garantiu. – Você está com o meu cheiro, e você não é fraco. Além do mais, eu e o Chanyeol iremos o encobrir caso necessário.

O primeiro a aparecer no campo de visão dos dois quando se aproximaram da pequena cabana do campo de treinamento foi Yi Fan, um beta que muitas vezes era confundido com alfa pela grande altura, ele gritou os dois de longe e todos viraram para os encarar. Junmyeon passou apresentando Jongdae a todos aqueles lobos, e ele se sentiu incomodado, os olhares pelo seu corpo o deixava nervoso e ele descontava a sua raiva fincando a unha na palma de sua mão, segundando sempre um rosnar em sua garganta. Ele estava sendo visto como um objeto na frente daqueles lobos.

A maioria não se importava consigo, apenas verificava o seu corpo. E aquilo o irritou profundamente, queria soca-los naquele momento e os poucos que realmente o enxergavam como um lobo, Jongdae sentia-se muito grato.

Até que escutou um comentário de um lobo mais afastado:

– Junmyeon escolheu bem, aposto que é todo submisso e dará bons filhotes.

– Não fale assim do meu companheiro. – O sucessor da alcateia falou em tom de aviso, não sabia como agir, mas seus olhos adquiriram tom avermelhado do seu lobo. Chanyeol tinha surgido ao seu lado, para caso algo desse errado e Jongdae tinha percebido que Lee Donghae também estava do outro com o olhar sério. – Exijo respeito, não só para Jongdae, mas para qualquer ômega.

  O alfa murmurou um pedido de desculpas diante ao que possuía o maior poder hierárquico, e Junmyeon deu um passo à frente em alerta. Não era o líder ainda, mas exigiria respeito, era o lobo com sangue puro e seus ancestrais foram os que deram origem àquela alcateia.

– Quero uma corrida. – Jongdae se pronunciou, e aquilo surpreendeu a todos. O ômega o encarou surpreso, esperava que o mais novo permanecesse realizando treinos leves. – Eu irei mostrar que não sou submisso.

– Ômega, você tem certeza?

– Sim. – O mais novo Kim respondeu sem receio.

Junmyeon puxou o mais novo pelo braço para se afastar da aglomeração que tinha se formado, e ninguém ousou em olha-los naquele momento, ele ainda estava alterado pelos segundos anteriores quando perguntou se o outro tinha certeza do que estava fazendo. E Jongdae anuiu com um sorriso arteiro nos lábios.

– Se o meu companheiro quer uma corrida, vocês terão uma corrida. – Por fim voltou a dizer em alto e bom tom. – Mas será na forma humana. Não quero nenhum lobo rodando a floresta hoje.

O mais novo se surpreendeu com aquela última frase, mas ao olhar a própria camisa se lembrou que não poderia a remover... Eles veriam que ele não possuía marca nenhuma, e consequentemente, aquele cheiro seria o seu.

Ambos lobos se posicionaram descalços na terra fria, e esperaram a contagem. Jongdae queria vencer, queria de alguma forma acabar com o outro, se não poderia ser através de uma briga ou até mesmo de uma ordem, que fosse pelo menos em uma competição. E aquele também era um bom momento para Junmyeon o observar.

Ele queria se exibir, precisava mostrar ao companheiro que era forte o suficiente para caminhar junto ao seu lado. Não era o gênero que definia força, ele tinha treinado bastante para se equiparar a Minseok, e poderia mostrar que era forte para comandar aquela vila de lobos junto ao herdeiro.

Quando o sinal foi dado, Jongdae correu. Não se importava com as pedras e gravetos machucando o seu pé, a sensação de liberdade era quase plena... Sublime. Ele queria vencer, mas não conseguia se concentrar em verificar seu adversário, tinha aberto uma grande vantagem, e quando contornou a árvore para voltar encarou o alfa no trajeto.

Foi tudo muito rápido quando aconteceu, ele conseguia ver Junmyeon longe junto aos outros lobos o observando, ele estava mexendo as mãos nervosamente e o alfa sabia que ele queria poder roer as unhas.

Enquanto suas pernas corriam o mais rápido que conseguia, os olhos do alfa captaram no meio da floresta uma mulher o observando, mesmo usando manto cobrindo a cabeça, ele conseguia ver na penumbra o olhar intenso sobre si. E da mesma rapidez que a viu, ao passar ao lado de uma árvore tampando-a de sua visão, quando Jongdae a procurou novamente no meio da floresta, ela já tinha desaparecido.

Ele não gostou nem um pouco daquilo.

Ocorreu uma comemoração por parte de uns lobos pela vitória de Jongdae, alguns se recusaram a comemorar a vitória de um gênero “frágil” em relação a um dominante, e naquele momento, os dois Kims perceberam que nada seria fácil quando a verdade fosse finalmente revelada.

Junmyeon abraçou Jongdae, estava feliz por vê-lo ganhar. Era a primeira vez que ambos agiam de forma tão espontânea, foi natural Junmyeon passar seus braços pela cintura de Jongdae, e ele terminar de envolver o menor.

– Você foi bem. – Junmyeon murmurou baixinho.

– Eu sempre vou bem. – Rebateu em tom de brincadeira sorrindo e os dois se separaram, e o ômega também sorriu.

– Ei, vocês dois, aqui não é lugar para romance. – A voz grossa de Chanyeol chamou a atenção. – Vamos treinar, faz tempo que o Junmyeon não aparece aqui.

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Jongdae sentia todo o seu corpo relaxar após o banho. Tinha corrido muito e até mesmo treinado com alguns lobos que não se sentiram incomodados com a presença de um ômega. De longe observava Junmyeon lutando com outros alfas, e até o momento o baixinho não tinha perdido nenhuma luta, além de sua agilidade e força, o ômega também era inteligente e sabia como atacar.

Na volta para a casa, eles caminharam lentamente, observando o céu... A lua não estava iluminada, era época de Lua Nova, e a sua falta no céu indicava que a Lua Cheia estava chegando e com ela o cheiro de Junmyeon. A Lua Cheia era a indicação de uma nova fase na vida dos dois, seria a partir dela que se ligariam, que viveriam como companheiros e que tudo se modificaria. Eles voltaram em silêncio, respeitando a ausência de lua.

Junmyeon já tinha tomado seu banho e ido dormir, ambos apenas sussurram “boa noite” para o outro, enquanto seus corpos pareciam ter paralisado. A situação implicitamente deixava oportunidades em aberto, mas aquele não era o momento, enquanto estavam parados na frente do quarto do ômega, mesmo com os olhares cruzados e a aproximação de Jongdae para sentir seu cheiro no outro, aquele não era o momento.

No banho Jongdae repassou mentalmente todas suas ações, e tentou se acalmar. Não poderia surtar naquele momento, o dia estava chegando e cada momento estava mais e mais comprometido com Junmyeon. Não era que ele não gostasse do mais velho, o achava bem atraente e amável, porém, estava com medo. No momento que o mordesse, estariam ligados por toda a vida, na alegria e na tristeza, como os dizeres dos humanos, na saúde e na doença, por todos os dias de suas vidas.

A água do chuveiro o ajudou a acalmar, e quando deixou o banheiro já estava mais aliviado quanto a situação. Respirou fundo quando encontrou no quarto, e para surpresa, não estava sozinho no local.   

– Precisamos conversar.


Notas Finais


Vamos dá uns alôs para a amiguinha nos links aí:
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http://curiouscat.me/yehunnie
Beijinhos, até mais =)


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