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História Amaldiçoado - I, O Falso Alfa


Escrita por: yehunnie

Notas do Autor


Olá meus amores~ <3 Tia voltou rapidinho heim? Queria agradecer os comentários fofos e os vários favoritos (sério, nunca imaginei que chegaria a mais de 70!!!!) Queria deixar um recadinho, não quero focar em lemon nessa fic, pode até acontecer um, mas não é o foco. Eu ia deixar esse capítulo maior, mas resolvi cortar pois vocês ficariam angustiados. Então, boa leitura <3

Obs: Algumas pessoas me perguntaram se vai ter mpreg, no universo ABO é comum ter, e caso venha a ter nessa fic, será tipo um bônus da fic, para quem não goste, não precise ler =)

Capítulo 2 - I, O Falso Alfa


Kim Jongdae assistia de longe as vitórias de seu irmão.

Queria poder dizer que não sentia inveja de Minseok, mas isso seria uma mentira. Seu irmão era adorado e venerado pela alcateia, e em alguns anos seria o próximo a comandar os lobos só pelo fato de ter nascido primeiro... Para ser exato, apenas um ano de diferença.

Ele amava o irmão, e não tinha qualquer dúvida quanto a isso e talvez fosse por isso que era mais fácil assistir a alegria do mais velho enquanto conquistava o que ele desejava. Eles eram alfas, mesmo com a aparência frágil, Minseok era feroz como um animal quando necessário.

E não era só em relação ao poder que Jongdae o invejava... O mais velho também tinha encontrado seu par verdadeiro.

Era estranho saber que seu irmão estaria indo embora de casa após o casamento, mas quando Minseok sentiu o cheiro de um forasteiro em sua alcateia, no mesmo instante se apaixonou. E agora ele estava se casando, Zhang Yixing era o nome do noivo, bonito, gentil e muito carinhoso, da forma como seu irmão merecia. Os dois se completavam de uma maneira engraçada, formando dois opostos. O ômega de origem chinesa tinha um riso fácil, enquanto Minseok tentava se manter sério, mas perto do companheiro toda a formalidade desmanchava.

Jongdae estava ao lado do irmão, o casamento era igual ao dos humanos, apesar de não ter real validade aos lobos, o que importava de fato era a mordida. Mas como Minseok seria o próximo líder, a população gostaria de festejar a sua felicidade, e mesmo que Yixing já exibisse a mordida aos quatro ventos em seu pescoço.

Ele se questionava se um dia seria tão feliz como o irmão aparentava ser. Seu lobo pedia por um companheiro ou companheira, mas ele já tinha se conformado: ele não tinha uma alma gêmea. Tinha passado anos procurando entre as pessoas o cheiro que o atrairia, inclusive já tinha visitado as cidades humanas, pedindo aos espíritos animais a ajuda, diversas vezes buscando até no meio deles a sua outra metade. E não tinha encontrado.

– “Um dia você encontrará, meu irmão” – Minseok tinha falado na noite anterior quando foi ao seu quarto nervoso sobre o casamento. – “Encontrei em Yixing o que nunca procuraria, fique calmo, tudo tem seu tempo.”

E o tempo estava passando rápido demais. Minseok estava casando, com o noivo ao seu lado e no fim daquela noite não voltaria para casa consigo. Em breve teria filhotes correndo pela nova casa, enquanto ele sequer tinha encontrado o amor.

Enquanto observava os noivos se beijando no altar, Jongdae tinha a certeza que o amor não era algo que alcançaria... Ele era um ser ímpar.

 

 

As pessoas também o observava, Jongdae tinha essa noção. Era o segundo colocado na linha de sucessão, e filho do chefe da alcateia... Ele tinha um lugar de destaque. Enquanto a população se divertia, cantando alto e dançando, o mais novo dos Kim permanecia sentado na mesa observando. As vezes apareciam alguns ômegas e betas lhe jogando charme, e isso acontecia desde sempre.

Jongdae era um bom partido, afinal.

Seu irmão dançava e sorria no centro da festa junto ao noivo, nunca tinha o visto daquela maneira, talvez a bebida ajudasse ou talvez fosse só o fato de estar ao seu companheiro... Ele nunca saberia dizer qual era o certo.

Os seus olhos castanhos correram a festa a procura de algo. Ele não sabia ao certo, mas estava curioso em relação a população. Todos da alcateia estavam presentes, e talvez uma festança daquela só ocorreria novamente quando o primeiro filho de Minseok nascesse. Seu pai tinha sumido logo após a cerimônia, e a sua mãe continuava a conversar com suas amigas de infância... Todos ali eram uma família, não podia negar, sempre um zelando do outro.

– Senhor Jongdae. – Uma beta apareceu do seu lado, e contrariamente as outras que vinham conversar consigo, essa trabalhava para seu pai. – O Senhor, seu pai, está lhe chamando urgentemente no escritório dele.

Ele anuiu, e mesmo sem vontade caminhou para fora do salão de festa. Sabia que seu pai detestava atrasos, mas ele se deu ao luxo de poder respirar fora daquela concentração de pessoas, desfrouxou a gravata e desfez as dobras na beirada da camisa, enquanto carregava seu terno jogado as costas. A noite estava bonita, o céu estava estrelado e ele queria se deitar no telhado de sua casa e observar o céu até que a noite virasse dia novamente.

Quando entrou na casa, escutou vozes altas vindas do escritório. Detestava quando seu pai trabalhava até tarde ou nos finais de semana, e naquele momento o odiou mais ainda por estar fora da festa do próprio filho para resolver questões que poderiam esperar o dia seguinte.

– Com licença. – Pediu entrando no escritório. Observou três homens e reconheceu um deles... Ele se lembrava bem dele. E ainda surpreso, fez uma breve referência.

Aquilo não era um bom sinal.

– Jongdae, esses são o conselheiro Lee KyuWoon – Apontou para o homem mais velho. O filho dele, Lee Donghae, que assumirá o local do pai em breve. – Seu pai indicou o mais novo. – E você deve se lembrar de Kim Bonhwa.

Ele nunca se esqueceria do rosto de Kim Bonhwa. Nunca. Jongdae lembrava do desespero que viveu quando seu irmão desapareceu, e se lembrava também de como ele voltou a alcateia após ser sequestrado por rivais. Minseok voltará vários quilos mais magro e nos braços daquele alfa.

Seu pai e sua alcateia eram eternamente agradecidos a Bonhwa e seus lobos, e eles estavam ali para pedir a recompensa.

– Devo agradece-lo novamente por resgatar meu irmão, Sr. Kim. – Aquele era um agradecimento sincero. Minseok era a pessoa que mais amava no mundo, junto aos seus pais. Não conseguiria imaginar como seria viver sem seu irmão.

– Faz tanto tempo, mas vejo que você e seu irmão cresceram com saúde. – Bonhwa falou se aproximando e Jongdae o encarou na mesma intensidade. – Mas sem delongas, Jongdae. Viemos a negócios.

Jongdae olhou seu pai, e mesmo com toda a seriedade que ele emanava, ele não estava feliz com aquela situação. Bonhwa viera cobrar o favor e isso não significava que era algo bom.

Era como o tempo não estivesse normal, Jongdae sentia a sua cabeça pesada enquanto escutava seu pai explicando a situação. Era muito para compreender, muito para assimilar e para guardar como segredo. O chefe da outra alcateia exigia seu total segredo, junto ao do seu pai.

– Isso é impossível. – O seu pai falou, estava sentando em sua cadeira atrás da mesa que ficava no centro do escritório, e junto a ele algumas rugas de preocupação se faziam vistas. – O Jongdae é um alfa. Não há como mascarar isso.

– Nós nunca o deixaremos sem o ômega. – O conselheiro voltou a dizer. – Nós lhe demos o chá para inibir seu cheiro, e eles pensaram que o Junmyeon que possui o cheiro de alfa.

Ele sentia seu estomago embrulhar diante a conversa. Ele estava sendo prometido a casamento... Por mais que soubesse que isso era algo comum, nunca pensou que ele passaria por aquilo. No início da noite temia que seu irmão fosse embora de casa, agora era ele quem estava indo embora da alcateia. Seu pai parecia ter envelhecido anos naqueles poucos minutos, ele não poderia lutar contra a vontade dos outros lobos... Ele tinha prometido realizar um favor em troca quando a vida de Minseok estava em perigo, mas nunca imaginava que interferiria na do outro filho.

Jongdae queria gritar e dizer que não compactuaria com aquilo. Mas ele sabia o que causaria... Bonhwa tinha amigos e força, e uma luta entre os dois só resultaria em muito sangue, principalmente dos seus companheiros lobos.

Enquanto os dois alfas conversavam, Jongdae queria sair correndo. Seu lobo pedia aquela liberdade, pedia sentir a terra contra suas patas e o vento contra o rosto. E foi o que fez quando foi liberada a sua saída da sala.

Por anos ele andava a sombra do irmão, vendo-o se preparar para liderar a alcateia e agora ele lideraria uma que não era da sua origem, caminhando a sombra do seu futuro esposo. Jongdae correu pelas ruas da cidade, suas pernas estavam bambas mas mesmo assim correu em sua forma humana até chegar próximo ao bosque, e nesse momento não pensou nas roupas caras e elegantes que vestia para o casamento, transformou-se em lobo de fios castanhos claros e olhos mel, correndo pela mata.

Ele se rebaixaria a um ômega na frente dos outros. Seu lado animal estava furioso correndo pela terra molhada pelo sereno da noite... Em seu estado primitivo, não se preocupou com mais nada e uivou a lua realizando um pedido.

Um pedido alto e claro aos espíritos animais de ajuda.

 

____________

Junmyeon estava nervoso.

Aquela era uma das poucas vezes que tinha ido a uma cidade humana, e por mais da sua aparência ser normal, sentia-se nervoso em meio a eles, mas os conselheiros acharam melhor daquela forma.

O pé batia freneticamente no chão em um tique nervoso, e ele tinha se prometido não roer as unhas das mãos nunca mais. Seus olhos vagavam por todo o restaurante, e ele se sentia um completo idiota vestido elegantemente quando mesas ao lado tinha um time de futebol americano em casacos esportivos.

Ele tentou inalar o cheiro da comida no restaurante, mas seu olfato estava completamente inoperante... Era um dos efeitos do chá. Da mesma forma que alguns fios acinzentados surgiram em sua cabeça e as constantes tonturas.

Por um momento desejou que Mimi estivesse ao seu lado. A menina sempre segurava a sua mão em momentos difíceis, mas agora ela estava segurando outra mão: a do seu futuro companheiro. Park Chanyeol tinha a pedido em namoro, e a menina confessou que o cheiro do alfa lhe agradava como nunca... No final eles eram companheiros e não sabiam.

– Você tem certeza disso, pai? Tem certeza que ele é de confiança? – Junmyeon perguntou ainda nervoso, já tinha perdido a noção de quantas vezes questionava aquilo mas estava tão agitado com a situação que precisava ouvir novamente a confirmação.

Seu pai, sentado ao seu lado, murmurou novamente que o alfa era de confiança e foi naquele momento que ele percebeu que seu pai encarou a entrada. Mesmo sem o olfato, Junmyeon conseguia perceber que aqueles eram os lobos que estavam aguardando. Vestido em uma camisa social azul clara e com cara de poucos amigos, Junmyeon pela primeira vez observou seu par.

Ele era bonito, e Junmyeon nunca admitiria em voz alta. O cabelo estava arrumado caído para frente, e seu rosto se mantinha sério. E o ômega se questionou se ele também parecia daquela maneira, fechado para conversa. A cada passo que os dois alfas davam em direção a mesa, Junmyeon tentava não encara-los... Não queria que soubessem que ele estava nervoso por aquele encontro.

– Bonhwa? – O outro alfa mais velho disse, e ambos acabaram se levantando.

Junmyeon não sabia o que fazer, primeiro ele encarou o mais velho e lhe deu um breve aceno de cabeça e uma referência ao mais velho. E seus olhos correram para o outro Kim, e o observou o olhando também. Ambos sabiam pouco um do outro, apenas os nomes e de onde vieram e aquilo era de certa forma perturbador para Jongdae.

Quando todos voltaram a se sentar na mesa, os “noivos” não conseguiam se encarar. Junmyeon escutava seu pai conversando com o outro alfa, enquanto escutava também os dedos de Jongdae batucando sobre a mesa. Ele também estava nervoso.

– Por que não consigo sentir o seu cheiro? – Foi a primeira coisa que Jongdae falou naquela noite. E quando Junmyeon o encarou, seu nariz estava inflado como se tentasse inalar mais o ar.

– É o efeito do chá. Você não consegue sentir o meu cheiro. – E foi então que Junmyeon o encarou pela primeira vez e foi observado. – E eu não consigo sentir cheiro de nada.

Jongdae o encarava com curiosidade. Inibir seu lobo era como retirar a sua essência. Nunca faria algo do tipo, e sabia que para o outro deveria ser a mesma coisa, não faria algo do tipo se não fosse importante. Ele fechou os olhos por breves segundos, conseguia sentir o cheiro do seu redor e não conseguia imaginar viver sem aquilo.

– E como é?

– Péssimo. – Respondeu sem pensar duas vezes. – Mas é necessário.

– Necessário para você? Ou necessário para sua alcateia? – Perguntou em tom baixo encarando os olhos negros do ômega.

– Jongdae! – O pai do alfa mais novo gritou ao seu lado. E os olhos de Bonhwa observaram o futuro genro. – Não é da sua conta. – Falou em tom baixo, não queriam chamar atenção dos humanos próximos.

– Mas vai ser. – Retrucou, encarando o próprio pai.

A partir do momento que se cassasse com o ômega, a sua alcateia seria outra e com ela teria novas preocupações e obrigações com outros lobos.

– Ele está certo. Será da conta dele como futuro alfa da alcateia. – Junmyeon respirou fundo ao responder. Não queria ter aquela conversa logo no primeiro encontro, mas se o alfa desejava, não enrolaria. – Eu fui criado para isso. Entendo de todas as necessidades da alcateia como ninguém mais além do meu pai, e apesar do meu gênero tenho a melhor competência. Há pessoas que desejam o poder, mas nós sabemos que os interesses particulares passarão por cima dos sociais.

– Todos os conselheiros estão de acordo com essa situação. – Foi a vez de Bonhwa responder. – Se Junmyeon não fosse a melhor opção, já teria ocorrido um golpe dentro do conselho. Por mais que todos sejam fieis, eles procurariam o melhor para o nosso povo.

Jongdae se arrumou em sua cadeira e respirou fundo. Se os conselheiros estavam de acordo com a situação, existia uma legalidade no ato. Não existia como definir Junmyeon como ômega ou alfa apenas olhando, ele possuía traços bonitos, não muito delicados, nem muito brutos. E se olhando, também não tinha como defini-lo como alfa ou ômega, algumas pessoas acreditavam que ele era um beta pela sua magreza.

– Vocês acham que isso vai dar certo? – Questionou logo após servirem os pedidos de comida que tinham feito logo após a chegada no restaurante. Ele tinha medo que aquela situação acarretasse outras piores. Era um plano arriscado, não poderiam negar isso.

– Por algum tempo sim. Não sabemos quanto tempo. – Para a surpresa do alfa mais novo, seu pai respondeu ao seu lado. Não tinham conversado muito sobre o assunto, e o filho geralmente fugia de perto do pai quando tentava falar... Ele estava magoado, estava sendo usado como uma moeda de troca. – A alcateia deles é bem pacifica e todos creem que ele é um alfa, mas só descobrirão quando ele for obrigado a dar uma ordem. E será nesse momento que você assumirá a alcateia.

– E quando eles descobrirem? Eles podem querer nos tirar do poder, me tirar do poder. Já pensaram nisso? Eu não sou o verdadeiro herdeiro, sou um forasteiro dentro de uma alcateia.

– Então aja como um verdadeiro ômega. – Bonhwa o encarou com raiva. E Jongdae fincou as garrar em suas mãos, se forçasse um pouco provavelmente sangraria. – Faça que a população o ame, como a minha esposa fez. Quando você assumir a sua natureza, ninguém irá lhe tirar do poder.

Junmyeon largou os talheres sobre o prato vazio fazendo barulho, chamando atenção dos integrantes na mesa.

– É muita informação, pai. Dê um descanso para ele. Não é uma situação fácil de entender, não creio que todo alfa se submeteria a fingir ser um ômega.

– Vamos fumar um charuto e deixá-los a sós um pouco, Bonhwa. Os meninos precisam se conhecer, e entender juntos como isso vai funcionar. – Kim Shim se levantou da mesa abruptamente, mas antes deu um sorriso triste ao filho. Jongdae estava crescido e tinha se tornado em um verdadeiro lobo.

Quando os dois mais velhos foram para a área externa do restaurante, nenhum dos dois soube como reagir. Junmyeon encarava o prato vazio sobre a mesa, enquanto Jongdae vagava o olhar pelo restaurante em busca de nada.

– Eu também não gosto dessa situação. – O ômega falou. Detestava tudo ali, a forma como Jongdae não o observava, como tudo foi estipulado e como não tinha escolha. – Estou abrindo mão da minha vida, tanto quanto você. Posso dizer que até mais.

– Você não está deixando a sua alcateia. – Rebateu. – Deixando sua família e seus amigos para trás.

– Você está fazendo nobre para sua família, já eu sou a vergonha da minha. Filho do alfa mais forte, com a beta mais forte e ainda assim nasci um ômega. Criado para liderar o povo, mas terei que me esconder atrás de um marido. – Jongdae percebia como o outro era ressentido. – Eu cresci achando que era um alfa. Eu tinha certeza que era um alfa.

Jongdae era filho de um líder, mas sempre soube que não iria governar. Minseok sempre estava lá para servir como um aviso... Por outro lado, Junmyeon era o primeiro na linha de sucessão, filho dos mais fortes e mesmo assim não poderia assumir. Ele respirou fundo, e encarou o ômega, ele era diferente. Junmyeon não queria ser protegido por um alfa, ele queria proteger a todos e infelizmente não poderia realizar aquilo sozinho.

– Você quer realmente fazer isso? – O alfa precisava questionar aquilo. Apesar de ver a determinação no outro, ele precisava escutar do outro a confirmação.

– Eu preciso.

– Junmyeon, você quer ou precisa? – Perguntou novamente.

Existia um abismo entre as duas palavras. Querer muitas vezes não significava precisar, e precisar também não significava querer.

– Eu quero, Jongdae. – Respondeu sinceramente. – Eu quero cuidar da minha gente. Não é um jogo de poder para mim, é a retribuição do amor da minha alcateia.

Aquilo foi o bastante. Não precisava mais ouvir o outro, aquele casamento aconteceria contra a sua vontade de qualquer forma, mas pelo menos ouvindo Junmyeon, Jongdae se convenceu que pelo menos estava buscando realizar a coisa certa. O ômega não queria o poder de forma egoísta, e isso já bastava para prosseguir com aquilo.

 

 

 

 

 

                Jongdae encarava a casa principal. Era estranho pensar que aquele local seria o seu novo lar. Em sua mão carregava uma pequena mala, não conseguia carregar tudo... De certo modo aquele era seu desejo: poder voltar para casa e encontrar tudo como tinha deixado. Sua mãe tinha amarrado em cima de suas costas a mala após deixar seu lado lobo dominar conta, era a forma mais rápida de viajar e poderia sentir os últimos minutos como um ser livre.

Ele segurou o choro quando sentiu as lágrimas de sua mãe contra o seu pelo em um abraço, e a cara de tristeza do seu pai com a sua partida. Naquele momento ele percebeu que o seu sacrifício era grande, mas dos seus pais eram maior. Eles estavam mandando o seu filho para outros domínios para garantir a paz da alcateia. Jongdae se sentou no chão quando o alfa mandou, ainda estava sobre os domínios dele e toda regra deveria ser acatada, e sentiu o toque suave em sua orelha... Da mesma forma que ele fazia quando era novo e começou a se transformar.

- “Você será um bom líder, Jongdae.” – Ele disse ainda o acariciando. – “Sei que irá cuidar daquela alcateia como se fosse sua... Contrário da rigidez de Minseok, criei você para ser uma pessoa alegre e me desculpa por isso, meu filho, por lhe privar do seu destinado.”

Algumas pessoas o encaravam com curiosidade, e ele queria mais alguns minutos antes de entrar naquela casa. Já tinha se atrasado bastante durante o caminho, e inclusive quando voltou a forma humana, vestiu suas roupas com extrema lentidão.

Naquele momento ele percebeu que não poderia ficar ali. Se seu destinado estivesse naquela porta, ele correria para o encontrar e não permaneceria com cara de poucos amigos, por isso, cruzou a rua e entrou na casa sem sequer bater.

Deixou a sua bagagem ao lado da porta, sabendo que ninguém mexeria em nada ali. Ninguém se atreveria a mexer na casa do chefe da alcateia e olhou o pequeno hall. Existiam algumas fotos de Junmyeon mais novo, junto a uma mulher muito parecida e Bonhwa logo na entrada, ele pequeno e com os dentes faltando, fotos durante a sua gravidez e uma de poucos anos atrás com ele junto a uma menina.

– Ah, você já chegou. – Junmyeon apareceu no topo da escada, vestindo calças de moletom e sem nada cobrindo seu peito. Seu rosto estava sonolento, e Jongdae chegou a conclusão que ele estava dormindo. – Desculpe, não estou apresentável.

– Nós vamos nos casar de qualquer jeito, não há motivos para se arrumar para mim. – A língua afiada do alfa foi mais rápida que o seu bom senso, e ele abaixou a cabeça após perceber a burrada. – Desculpe. – Foi a sua vez de pedir, e encontrar um ômega igualmente sem graça. – Não é necessário que você me corteje, como também não irei o cortejar. Não vou trair a sua confiança e a nossa união.

Junmyeon desceu os degraus lentamente e parou frente ao noivo. Ele parecia ser sincero em suas palavras, não era alguém que articulava o que dizia para obter uma vantagem no futuro. Jongdae muito bem o trair e dominar a alcateia... Mas caso suas almas se unissem com a marca, ele sofreria caso o decepcionasse – ou pior, o matasse. E só existia uma maneira dele esquecer aquela dor: encontrando seu parceiro.

Ambos já eram maiores de idade, Jongdae apenas uns meses mais novo que Junmyeon, e tiveram o primeiro cio. Já estavam caminhando entre os lobos a uma quantidade considerável de tempo, se Jongdae não tivesse encontrado seu companheiro até aquele momento, provavelmente nunca o encontraria – ou sequer teria um. Os espíritos animais ajudavam de alguma forma aqueles que possuíam a outra metade de suas almas a se encontrarem, e os dois sabiam muito bem que provavelmente, pelo tempo passado, que não existiam “a outra metade” deles.

 

 – Está bem. Vamos conviver em paz, pelo menos. – Junmyeon sorriu ao dizer, e aquela era a primeira vez que o Kim mais novo sorrir. – Vou te levar ao seu quarto, e te mostrar a sua nova casa.

– Você estava em casa me esperando? – Questionou logo após pegar a sua bagagem e começar a subir as escadas, Junmyeon estava andando a sua frente o guiando pela casa. Ele não gostava da ideia do seu noivo ter parado a sua vida apenas para o receber.

O Kim mais velho abriu a porta do quarto, ao lado do seu e entrou. Era pequeno comparado aos demais da casa, mas na teoria Jongdae permaneceria pouco tempo ali... Até que fosse realizado o casamento.

– Estava dormindo. – Confessou, enquanto olhava o quarto e imaginava que dividiria uma cama com aquele homem ao seu lado... Provavelmente se conheceria mais a fundo e trocariam caricias carnais. – Não posso sair de casa, apenas me resta dormir. – Falou mais para si do que para o outro.

Ele estava irritado com aquela situação, mas entendia os motivos. Tinha se tornado prisioneiro em sua própria casa. Já tinha tentado aprender a cozinhar – o que era importante considerando que poderia sair de casa em breve, tentou aprender a produzir armas e armadilhas com Chanyeol (quem incrivelmente tinha se aproximado nos últimos tempos, após o seu anuncio de noivado com Mimi), e entre outros hobbys falhos.

– Você não está saindo de casa? – Jongdae perguntou para ter certeza. Ele estava horrorizado.

– Não posso sair. – O ômega deu os ombros. Os últimos tempos tinha aprendido a aceitar as condições impostas pelo conselho, mesmo após ter bebido o chá e removido o seu cheiro, ainda tinham medo de descobrirem aquele plano e isso também mancharia o nome das famílias que estavam sendo representadas. – Por mais que eu tenha tomado o chá, não posso sair de casa. Eu não tenho cheiro. Mas mesmo assim, o meu período de cio está próximo e mesmo com ele inibido eles temem que o chá não funcione ou percebam que sou um ômega. E isso se aplica a você também, enquanto eu não estiver marcado, você não poderá sair sem mim.

– Poderão descobrir que eu sou o alfa através do meu cheiro e descobrir o plano pela falta do seu. – O mais novo deduziu e recebeu a confirmação com um manear de cabeça. – Então eu deveria te marcar o mais rápido possível?

Seu novo interior se agitou. A ideia de fincar seus dentes naquela pele branquinha como a neve era incrivelmente tentadora. Não existia sentimentos inclusos nisso, apenas a vontade de realizar o ato carnal, marcar a posse de alguém como seu. Mas por outro lado, aquilo assustava Jongdae... Firmar um laço tão importante e tão rápido era assustador. Ele não conseguia compreender o seu irmão ao marcar seu marido pouco tempo depois de se conhecerem e aquilo era inimaginável para si... Porém, Minseok dizia que o cheiro de Yixing o encantava, era como se seu lobo todas as vezes que estavam juntos exigisse inala-lo e o definir como seu. E quando isso de fato aconteceu, Yixing estava de acordo. Eles desejavam se unirem de corpo e alma.

– Não posso deixa-lo me marcar. Pelo menos não por enquanto. – Junmyeon respondeu se sentando na cama, ele fechou os olhos por alguns segundos e sentiu a vertigem que o chá causava. Respirou fundo, uma, duas, três vezes antes de voltar a falar. – Enquanto eu estiver sobre o efeito do chá, você não pode me marcar. Seria como se o chá o envenenasse caso me morda e não terá nenhum efeito.

Jongdae respirou aliviado, e se sentou na sua cama. Encostou seu corpo na parede e se permitiu descansar por alguns segundos, da mesma forma que o seu lobo se agitou segundos atrás, ele voltou a se acalmar. A união seria mais tarde, e com o sistema de Junmyeon livre do chá.

– Seu povo já sabe que você está noivo? – Voltou a falar com os olhos fechados, precisava tirar um cochilo... Tinha corrido uma longa distância e provavelmente dormiria pesadamente a próxima noite.

– O anúncio será está noite. Mas eles já sabem que não irei mais me casar com a Mimi. – A última frase incrivelmente não saiu tão amarga como pensou que ocorreria, sua amiga estava bem e tinha encontrado seu companheiro, mesmo que Chanyeol no fundo já soubesse. – E você poderá se apresentar nosso povo. Vem, vou te mostrar a casa.

Jongdae tinha que admitir que aquela casa apesar de rustica, era bem bonita. Eles passaram primeiro pelo andar de baixo, mostrando a sala, escritório do chefe da alcateia e a cozinha, e foi neste último cômodo que ele conheceu Yang Mi, mãe de Junmyeon. Ela lembrava muito seu filho, e pela boa aparência aparentava ser irmã mais velha do ômega. A beta sorriu para o futuro genro, e lhe ofereceu um bolo que tinha feito para si.

– Jongdae, vá descansar um pouco. – Ela disse após recolher o prato da mesa, o alfa tinha devorado quase o bolo inteiro sem perceber. – A noite será longa e você está quase dormindo na mesa.

E sem relutar, Jongdae seguiu para seu quarto para dormir.

 

Jongdae achava curioso o líder da alcateia realizar os pronunciamentos da sacada de sua casa, mas não questionou. Escutava escondido atrás da janela Bonhwa falando sobre como estava a alcateia e a respeito de alguns turnos de vigilância que começaria vigorar em breve. Yang Mi permanecia ao lado do alfa durante o pronunciamento, e tentava se acalmar, principalmente após cada pausa que o líder dava para a mudança de assunto.

Ao seu lado, Junmyeon estava igualmente nervoso batucando os pés no chão enquanto seu olhar estava perdido no corredor. Não tinha mais ninguém além deles ali, e era uma situação em que os dois sofriam pela antecipação.

Ele era um intruso naquela alcateia, e sabia que alguns lobos poderiam ir contra a sua presença, da mesma forma que tinham questionado a presença de Yixing no meio do seu bando. Mas só existia uma justificativa que eliminava qualquer dúvida de pertencimento de um lobo a uma nova alcateia.

– Por fim, hoje é um dia alegre. – Bonhwa continuava falando, e Jongdae se levantou da cadeira, sendo copiado por Junmyeon. Era a hora do show. – Hoje recebemos de braços abertos um novo integrante em nossa alcateia. – Jongdae ofereceu sua mão ao ômega e ele não entendeu de princípio... Seus dedos se entrelaçaram durante aquela tortura psicológica. – Gostaria de apresentar a todos o companheiro destinado de meu filho. Kim Jongdae.

Foi estranho observar aquela quantidade de pessoas embaixo da varanda gritando o seu nome. Era uma forma de boas-vindas, ele sabia, mas não gostava de toda aquela atenção, talvez fosse sua criação para se tornar a sombra de Minseok que o impedia de gostar daquilo... Seu pai sempre o preservou, e a cada instante que seu nome era gritado, sua mão apertava a de Junmyeon.

– Respira. – Junmyeon murmurou com um fio de voz, e Jongdae sentiu o ar invadir seu corpo diversas vezes tentando se acalmar. – Não pense neles.

O alfa olhou o mais velho, Junmyeon estava nervoso, ele sabia, mas respirava fundo diversas vezes – e ele não soube dizer se era para se acalmar ou verificar que continuava sem sentir nenhum cheiro, porém, seu rosto estava normal. Não existia sinais de preocupação, ou qualquer outra emoção.

– Como você consegue fazer isso? – O mais novo questionou, voltando sua atenção para o povo que continuava gritando, e algo o fez relaxar... Talvez fosse a respiração, ou perceber que tinha alguém ao seu lado, o apoiando... E aos poucos o aperto forte de sua mão na de Junmyeon tornou-se algo tão natural como a luz do dia.

– Anos de prática. – Respondeu ameaçando a sorrir, e Jongdae acabou por sorrir junto de forma contida. – Fui criado para isso, sempre tive que lidar com essas exposições. Quando eu nasci ocorreram sete dias de festa, sabia?

O mais novo negou com a cabeça, dava para perceber que era uma população muito alegre. E apesar disso, o som dos gritos diminuíram até por fim cessarem.

– Jongdae vem de uma alcateia do norte – Bonhwa continuou falando – E é filho do atual chefe e irmão mais novo do que irá assumir o cargo. A sua vinda para o nosso lar não só é da alegria do meu filho, por finalmente ter ao seu lado um companheiro, mas deve ser de toda alcateia, a sua vinda representa também uma aliança com a alcateia de origem de Jongdae.

________

Era difícil se adaptar a uma nova alcateia, e Jongdae sentia que estava fracassando nessa missão. Duas semanas já tinham se passado e ele sequer conseguia se acostumar com os olhares de quando ambos saiam na rua juntos, alguns múrmuros sobre o ‘casal’ e além de algumas senhoras os parando para felicitar os noivos.

Junmyeon tentava o ensinar as regras e os costumes daqueles lobos, desde regras bobas como não compartilhar um alimento com outro lobo sem ser seu companheiro, a costumes importantes como o de pintar as mãos de vermelho durante um festival que aconteceria no inverno.

Mas sua mente parecia em pane com aquelas informações. Bonhwa tinha emprestado o escritório para que eles estudassem juntos, e tudo naquele lugar incomodava Jongdae, porém, percebia como Junmyeon sentia-se bem.

– Está entendendo? – Junmyeon perguntou ao noivo ainda com os olhos focados em uma das reclamações que tinham recebido, e seu pai lhe designou a responsabilidade de resolve-la.

– É muita informação. – Informou relaxando os ombros, e encostando na cadeira de forma desleixada. – Mas estou conseguindo, aos poucos... E você, está conseguindo?

O mais velho soltou um longo suspiro, e mexeu nos fios de cabelo, jogando para trás em um topete. Tinha vários papeis espalhados pela mesa, reclamações, alguns relatórios e seus olhos já estavam cansados tentando resolver aqueles problemas.

– É complicado, mas acho que estou conseguindo. São problemas de vizinhança, habitacionais, reinvindicações de ômegas... – Aquele ultimo problema causava uma ânsia no seu estômago... – Preciso descansar um pouco. – Ele empurrou a mesa, que empurrou a cadeira. Ele tinha que sair daquele escritório, era como se não tivesse mais oxigênio para respirar. – Preciso sair de casa...

Jongdae demorou alguns segundos para entender o que aquela frase implicava, ele marcou rapidamente a página que estava lendo com um papel e se levantou. Eles deveriam sair sempre juntos, e seus olhos encaravam a camisa que Junmyeon usava... Era a mesma blusa que ele usou durante a noite.

Seu lobo se agitava com aquela ideia, ver Junmyeon vestido com o seu cheiro era um alerta que o outro era seu, mesmo que ninguém na rua soubesse, e que não tivessem realmente unidos. Foi inconsciente, seus pés caminharam a direção do ômega e quando estiveram próximos – o mais velho estava paralisado com aquela situação, Jongdae inalou o pescoço de Junmyeon.

O alfa fechou os olhos e sentiu seus caninos aparecerem, sua boca salivava, seu lobo estava tomando conta de si... Mas ele respirou fundo novamente e percebeu que aquele não era de fato o cheiro do ômega. E seus olhos se abriram rapidamente, no mesmo instante que seus caninos desapareceram.

– Jongdae... – O ômega o chamou baixinho, aquilo era uma surpresa, o mais novo nunca se aproximava daquela maneira de si.

– Você... – Ele começou a falar incerto... – Está com meu cheiro... Não dá para perceber.

O mais novo se afastou rapidamente, respirando fundo... Conferiu novamente se seus caninos tinham realmente desaparecido, não queria assusta-lo, da mesma forma que ele estava assustado. Seus mãos suavam frio, mas ele tentou ignorar aquele sentimento, não iria liberar seu lobo ali, não iria fazer nada contra o consentimento do outro...

– Vamos? – Jongdae chamou se voltou novamente ao menor, tentou sorrir calmo mas por dentro estava nervoso.

Seu lobo estava tentando se controlar, lutava para não reivindicar seu gênero. 

Ele estava agitado, e a proximidade do outro tornava tudo cada dia mais difícil. 

 

 


Notas Finais


Espero do fundo do coração que tenham gostado, até mais <3
curiouscat.me/yehunnie | twitter.com/yehunnie


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