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História Amor imenso-Hinny - Seis


Escrita por: LiviaWsleyy

Capítulo 6 - Seis


Harry apoiou a cabeça no sofá enquanto eu tentava encontrar as palavras certas. O sofrimento em seus olhos era palpável. 

— Errei quando descontei minha raiva em você. Minha mãe era como uma criança irresponsável, era uma pessoa egoísta. Ela teve muitos namorados, vários casos com homens casados. Nunca me surpreendeu o fato de ela ter baixado a esse nível com seu pai. Na época, porém, eu me senti traída por todo mundo, inclusive por você. Mas errei quando te puni pelas atitudes dos dois.

Harry esfregou os olhos e olhou para mim.

 — O que você quer saber, Ginny? 

— Como tudo começou? Desde quando você sabia?

Ele se virou para mim e apoiou o braço no encosto do sofá. 

— Tenho certeza de que foi meu pai quem deu em cima dela. Ele sempre fazia perguntas sobre Patricia antes de acontecer alguma coisa entre os dois. 

— Sério?

 — O que eu sei hoje, mas não sabia na época, é que meus pais tinham um casamento aberto. Minha mãe fazia muitas“viagens de negócios”, se é que você me entende. Mas,naquela época, eu não entendia bem o que acontecia. Um dia, voltei da escola mais cedo e encontrei sua mãe lá com ele. Vi os dois transando.

Estremeci. 

— Ai, meus Deus.

Harry pegou a cerveja e bebeu um gole.

 — Mais tarde, naquela mesma noite, meu pai sentou-se comigo e me explicou que acreditava que minha mãe também tinha outro relacionamento e que ele e Patricia estavam se encontrando havia pouco tempo. Sua mãe me fez jurar que eu não contaria para você. Disse que você não suportaria, que o relacionamento de vocês já era bem ruim e que você enfrentava muita pressão por motivos que eu desconhecia. Ela conseguiu me convencer de que eu arruinaria sua vida, se contasse. Disse que eu não devia falar nada, se gostasse realmente de você. Eu acreditei no que ela falou. 

— Eu nunca escondi nada de você, Harry. Não tinha pressão nenhuma. Foi manipulação, ela inventou tudo isso para esconder de mim o que estava fazendo. 

— Eu queria contar, mas, quanto mais o tempo passava, mais difícil era admitir que eu vinha escondendo algo de você.Decidi não falar nada. Minha única intenção foi te proteger. 

— Harry, eu... 

— Deixa eu terminar — ele me interrompeu.

 — Ok. 

— Nós dois fomos criados por famílias desarranjadas, mas desde que te conheci meu mundo pareceu um pouco menos despedaçado. Sempre tive a sensação de que era minha obrigação te proteger. E esconder de você o que eles faziam era parte disso. Minha intenção nunca foi mentir para você.

Agora eu entendia.

Eu tinha vergonha de admitir muitas coisas sobre meus sentimentos daquele passado distante, mas não podia esconder mais nada. Ele me deu uma chance para esclarecer tudo. Bebi um grande gole de vinho e me preparei para abrir o jogo.

 — Eu fugi porque não consegui lidar com meus sentimentos. Não foi só o fato de você ter escondido tudo isso de mim. Era o que aquilo representava, era saber que haveria outros segredos no futuro. — Fiz uma pausa. Fala de uma vez. — Eu estava sentindo outras coisas por você, coisas que iam além da nossa amizade, e descobri que também não sabia lidar com isso. Não sabia como te contar. Tive medo de você se afastar de mim. Era como se estivesse destinada a me magoar, então decidi ir embora antes que isso acontecesse.Foi meu jeito de controlar a situação. Fui precipitada e boba. 

Era a primeira vez que eu admitia ter tido algum sentimento por Harry além de amizade.

Ele olhou para mim por um momento, depois disse: 

— Por que nnão falou sobre o que sentia antes do que aconteceu com nossos pais? 

— Não imaginei que sentisse o mesmo por mim e não queria que você se assustasse. Não queria te perder.

 — Mas aí você fugiu e me perdeu do mesmo jeito. Não faz sentido, percebe?

 — Achei que ir embora antes de o pior acontecer seria menos doloroso. Mas o que interessa é que agi como uma menina de quinze anos burra e dominada pelos hormônios.Tomei a decisão errada. Fugir para morar com meu pai foi o pior jeito de lidar com a situação. Depois, quando percebei que havia errado e quis me desculpar no ano seguinte, você não me deu chance. Então, preciso falar agora. Sinto muito se ir embora daquela maneira te magoou de algum jeito. 

— Magoou? — Ele deixou escapar uma risadinha ressentida, depois me chocou com o que disse: — Aquilo me transformou, Eu amava você, Ginny. Eu estava apaixonado por você — Harry passou a mão na cabeça num gesto de frustração — Como diabos você não percebeu isso?

As palavras de Harry pareciam cortar meu coração. Não consegui responder. Nunca esperei que ele dissesse algo assim. Sabia que ele gostava de mim, mas nunca soube que me amava como eu o amava.

Ele me amava?

Harry continuou: — Eu teria morrido por você naquela época. Quando você foi embora, meu mundo acabou. Além da sua avó, você era a única pessoa com quem eu podia contar.Estava sempre ali... até não estar mais. Perder você me ensinou a não contar com mais ninguém além de mim mesmo. Faz parte de quem eu sou hoje, e isso não é  necessariamente uma coisa boa.

Doeu muito ouvir Justin dizer tudo isso.

 — Sinto muito. 

— Não precisa pedir desculpas de novo. Você já pediu.

 — Se você não disser que me perdoa, vou continuar pedindo.

 Ele suspirou profundamente. 

— Já falei, eu superei tudo isso.

Eu não queria que ele superasse. Queria voltar atrás, voltar no tempo e abraçá-lo. Não o soltar nunca mais. Sofrendo com tudo o que ele havia revelado, enterrei as unhas no encosto do sofá e disse: 

— Não quero essa coisa de sermos praticamente estranhos. Você ainda é muito importante para mim. O fato de estar com raiva de mim não muda isso.

 — O que você quer de mim? 

— Vamos tentar ser amigos de novo. Vamos tentar sentar na mesma sala e conversar, talvez rir um pouco. Essa casa sempre será nossa. Um dia vamos trazer filhos para cá. A gente precisa se dar bem. 

— Não vou ter filhos — respondeu ele, enfático.

Eu havia esquecido que Romilda me confidenciara que Harry não queria ter filhos.

 — Romilda me contou.

— Ah, é? Sobre o que mais conversaram? O tamanho do meu pinto? Falou para ela que deu uma boa olhada nele?

Decidi não aceitar a provocação e não desviar do assunto.

 — Por que não quer ter filhos, Harry?

 — Você, mais do que ninguém, deveria entender que é idiotice trazer uma criança ao mundo sem ter certeza absoluta da sua capacidade como progenitor. Meus pais são um ótimo exemplo de pessoas que não deviam ter procriado. 

— Você não é como eles. 

— Não, mas sou um produto desarranjado dos erros dos dois e não vou repetir a história.

Deu-me uma imensa tristeza saber que Harry se sentia assim. Lembrar como ele havia sido protetor comigo me dava certeza de que seria um pai incrível. Ele só não percebia. Eu havia prometido que não falaria mais sobre o passado depois desta noite, e isso me causava uma enorme urgência de pôr para fora tudo o que eu sentia. 

— Não concordo. Acho que você é uma pessoa muito mais forte por ter sido forçado a amadurecer mais depressa que os outros garotos, que tinham tudo na mão. Você deu a outras pessoas o que não recebeu de seus pais. Jamais vou esquecer como me fazia rir, mesmo quando parecia impossível, como sempre sabia exatamente do que eu precisava, como sempre me protegeu. Essas são as qualidades que fazem de alguém um bom pai. E com ou sem filhos, você é um ser humano incrível. Tem um talento musical fantástico. Fico triste quando penso em tudo o que perdi porque fui burra e medrosa. Sei que nós dois mudamos, mas ainda vejo tudo que há de bom em você, embora se esforce muito para se esconder atrás de uma máscara. — Meus olhos se encheram de lágrimas e uma escorreu. — Sinto sua falta, Harry. — Era como se tudo transbordasse de mim antes de eu pensar nas consequências de ser tão franca sobre meus sentimentos.

Fiquei surpresa quando Harry estendeu a mão e secou uma lágrima do meu rosto com o polegar, induzindo-me a fechar os olhos. Seu toque era muito bom. 

— Acho que conversamos o suficiente por hoje — disse ele.

Concordei movendo a cabeça. 

— Tudo bem.

Ele se levantou do sofá e desligou a televisão.

 — Vem, vamos respirar um pouco lá fora.

Eu o segui até a porta da frente e a praia. Andamos em silêncio pelo que pareceu uma eternidade. A noite estava quieta, exceto pelo ruído das ondas quebrando. A brisa do mar acalmava e, por incrível que pareça, o silêncio entre nós era como um exercício terapêutico. Era como se eu tivesse me livrado de um peso enorme por ter dito o que eu queria dizer.

Embora não houvesse uma conclusão definida para o nosso conflito  nossa conversa não podia ter sido melhor. O som do celular de Harry interrompeu a quietude da nossa caminhada. Ele atendeu. — Oi, gata... Tudo bem... Que bom... Uau. Está acontecendo, mesmo. Só caminhando um pouco. — Achei interessante ele não mencionar que estava comigo. — Eu também. Não vejo a hora. Também te amo. Tudo bem, gata.

Harry desligou, e eu olhei para ele. — Tudo bem com a Romilda? 

— Tudo. Ela entra em cena amanhã à noite, porque o avô da atriz titular faleceu. 

— Uau. Isso é ótimo. Bom, não a morte do avô... 

— É. Eu entendi.

Não falamos mais nada até nos aproximarmos de casa.

Harry apontou alguma coisa distante. 

— Está vendo aquilo? 

— O quê?

Quando dei por mim, não estava mais no chão. Harry me carregava nos braços e corria pela praia. Ele ria, o que me fez pensar que não havia nada para ver. Sua intenção era me distrair para me pegar de surpresa.

Babaca.

Harry me jogou totalmente vestida no mar. A água salgada entrou pelo meu nariz e desceu pela garganta. Ele correu imediatamente para a areia, enquanto eu tentava sair da água.Na praia, Harry ainda ria. Ele havia tirado a camisa molhada,e sua calça estava ensopada.

 — Está se sentindo melhor agora?— Bufei. 

— Um pouco. — Ele riu. — Na verdade... muito.

 — Que bom. Fico feliz por você — respondi enquanto torcia o vestido.

Ele se aproximou.

 — Eu ajudo. — Harry me surpreendeu novamente quando parou atrás de mim e torceu meu cabelo, tirando o excesso de água. Suas mãos se demoraram por alguns segundos, e meus mamilos reagiram. Virei para me distrair e me deparei com os olhos Verdes de Harry mirando os meus. Eles brilhavam refletindo a luz que vinha da casa. Sua beleza era de tirar o fôlego.

Tropeçando um pouco nas palavras, eu disse: 

— Ah...obrigada. Bom, eu nem devia agradecer, porque foi você que causou tudo isso. 

— Até que demorou. Queria jogar você na água desde o dia em que cheguei aqui.

— Ah, sério?

 — Sério. — Ele sorriu malicioso. 

— Aliás, por que você ainda está aqui? 

— Como assim? 

— Podia ter ido encontrar a Romilda em Nova York. Sabe disso. 

— Está insinuando alguma coisa? 

— Não estou insinuando nada, só que está usando as apresentações no Sandy’s para justificar sua permanência, e eu não acredito nisso. 

— O que quer ouvir, Ginny? Que estou aqui por sua causa? 

— Não... não sei. Eu...

 — Não sei por que estou aqui. Essa é a verdade. Ainda não senti que é hora de ir embora.

— Justo. 

— Acabou o interrogatório por hoje... sua pé no saco? 

— Sim. — Sorri. “weasley no saco” era outro apelido que ele inventara para mim. Uma brincadeira com meu sobrenome, Weasley. 

— Que bom.

 — Só para constar, estou muito feliz por você ter ficado.

Ele balançou a cabeça, esfregou os olhos e disse: 

— Tentar te odiar é cansativo. 

— Para de tentar, então.

Comecei a bater os dentes. Estava frio ali fora. 

— É melhor a gente entrar — sugeriu ele.

Enquanto o seguia para dentro de casa, pensei que o ar frio do lado de fora não afetava o calor que eu sentia por dentro por ter restabelecido minha conexão com ele. 

— Está com fome? — perguntou Harry. 

— Esfomeada, na verdade. 

— Vai trocar de roupa. Eu faço o jantar.

 — Sério? 

— Bom, a gente precisa comer, não é? 

— É, acho que sim. Já volto. — Sorri a caminho do quarto,atordoada com a ideia de Harry cozinhar para mim.

Quando voltei vestindo roupas secas, meu coração bateu mais depressa diante da visão de Harry parado na frente do fogão. Ele estava sem camisa, com a touca cinza, e refogava vegetais em uma panela.

Pigarreei. 

— Que cheiro bom. O que você está cozinhando? 

— É só teriyaki de legumes com arroz. As opções são limitadas. Desde quando parou de comer carne vermelha,aliás? Você era carnívora.

Ele devia lembrar como gostávamos do Burger Barn nos velhos tempos. 

— Um dia simplesmente acordei e pensei como era bizarro comer uma vaca. Não fazia sentido. E parei.

 — Sério? Isso é meio ridículo. 

— Sim. 

— Você sempre foi um pouco bizarra, Ginny. Não posso dizer que isso me surpreende.

Dei uma piscada para ele. 

— Por isso você me ama. — Minha intenção era dar um tom brincalhão ao comentário, mas me arrependi imediatamente da escolha de palavras, considerando o que ele havia confessado anteriormente. Ele não respondeu. Entrei em pânico e tive um acesso de diarreia bocal. 

— Não quis dizer que ainda me ama. Estava só brincando. Eu...

Ele estendeu a mão aberta. 

— Pode parar. Eu entendi o que você quis dizer.

Tentei pensar em um jeito de mudar de assunto depressa. 

— Acha que consegue voltar a se apresentar no Sandy’s amanhã à noite?

 — Provavelmente. 

— Que bom. Estou ansiosa para ouvir você tocar outra vez.

Ele pegou dois pratos, dividiu entre eles o conteúdo da panela e empurrou o meu pela bancada.

 — Aqui está.

 — Obrigada. O cheiro está delicioso.

A comida que ele havia preparado estava muito saborosa.Harry acrescentou castanhas e sementes de gergelim.

 — Onde aprendeu a cozinhar desse jeito?

 — Sou autodidata. Cozinho para mim há anos. 

— Onde seus pais estão?

 — Pensei que tínhamos encerrado essa conversa.

 — Desculpa. Tem razão.

Apesar do comentário, ele levantou os olhos do prato e respondeu:

 — Minha mãe voltou a morar em Cincinnati quando fui para a faculdade. Eles venderam a casa. Meu pai mora em um apartamento em Providence. 

— Por quanto tempo ele e minha mãe continuaram se encontrando depois que fui embora?

 — Um ano, mais ou menos. Minha mãe descobriu que eles se encontravam na nossa casa e o colocou para fora. Ele foi morar com Patricia, mas depois de um tempo as coisas azedaram entre os dois. 

— Ele foi morar com minha mãe?

 — Sim.

Não dava para acreditar. 

— Ela escondeu isso de mim. Agora entendo por que minha avó parou de falar com ela mais ou menos nessa época.Ficou envergonhada com as atitudes dos dois. 

— Passei muito tempo com sua avó antes de me mudar.Ela era a única pessoa que me impedia de enlouquecer. 

— Alguma vez conversou com ela sobre mim?

 — Ela tentou, mas eu me recusei. 

— Acha que ela deixou a casa para nós por saber que isso forçaria um encontro? 

— Não sei, Ginny.

 — Eu acho que sim.

 — Eu não tinha nenhuma intenção de vir aqui e fazer as pazes com você. 

— Não... sério? Eu nem imaginava. — Quando ele esboçou um sorriso, perguntei: — Ainda se sente como antes? 

— As coisas não mudam da noite para o dia. Nós conversamos.  Isso não vai apagar anos de merdas que aconteceram. Não vamos voltar a ser melhores amigos num passe de mágica.

 — Nunca tive essa expectativa. — Brincando com o que sobrava da comida, pensei muito antes de falar de novo: — Só vou dizer mais uma coisa e prometo não tocar mais nesse assunto. — Eu não colocaria minhas mãos no fogo.

Harry sorriu de novo, e me senti confiante para desabafar pela última vez.

 — Provavelmente vou passar o resto da vida imaginando o que teria acontecido se eu não tivesse ido embora, se tivesse superado o medo e falado o que eu sentia. Hoje você contou que naquela época estava apaixonado por mim. Eu não sabia, Harry, de verdade, mas queria ter percebido. Não tinha a menor ideia de que era isso que você sentia. Preciso dizer que eu também te amava. O problema era que demonstrava isso da pior maneira possível. E você passou todos esses anos me odiando. Só quero que você seja feliz. Se você fica com raiva ou estressado quando está perto de mim, não quero forçar nada; e, se for esse o caso, talvez seja melhor ficarmos longe um do outro. Mas, se existir uma possibilidade de sermos amigos de verdade outra vez, eu adoraria. E não sou idiota. Sei que não vai acontecer da noite para o dia. É isso. Não vou mais tocar nesse assunto. — Levantei da mesa e levei o prato para o lava-louças. — Obrigada pelo jantar e por ter conversado comigo. Vou deitar mais cedo.

Quando pisei no primeiro degrau da escada, a voz de Harry me fez parar. 

— Eu nunca odiei você. Não poderia ter odiado nem se tentasse. E acredite, eu tentei.

Virei e sorri. 

— É bom saber. 

— Boa noite, Weasley no saco.

 — Boa noite, Harry.



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