6 Anos Atrás
Domingo, 08 de Julho
04:00PM
Kagamine Len
- Len~
Ouvi a voz da minha irmã cantarolar meu nome em um tom malvado, me fazendo desconfiar no que ela aprontava novamente.
Estávamos em plena férias de verão e minha mãe me obrigou a acompanhar a Rin em sua caçada de insetos pelas montanhas, disse que era para não deixá-la sozinha e protegê-la de qual quer mal que viesse a nosso encontro. Apenas uma desculpa idiota para me tirar de casa, afinal a Rin era mais forte que eu em todos os aspectos.
- Olha, achei um besouro!
A loira aproximou aquele bicho nojento do meu rosto, estava tão perto que quase suas pequenas patas nojentas encostavam em minha pele. Gritei enquanto dava passos para trás, sem olhar por onde ia acabei tropeçando em um pedra, o que me fez cair para trás.
Com lagrimas nos olhos, eu olhava com muita raiva a garotinha que ria da minha cara assustada. Eu era o único que precisava ser protegido ali.
Eu simplesmente odiava insetos com todas minhas forças, e no verão era onde essas coisas nojentas sempre apareciam em grande quantidade. Apenas o som das cigarras cantando nas árvores me faziam ter calafrios, além de serem nojentos, eles não tem nem um aspecto bonito, são feios como monstros.
- Ah! Olha, uma centopeia!
Exclamou a loira indo em direção ao inseto que subia pelo tronco da arvore.
- Rin! Não pegue esse bicho nojento, ele é venenoso!
Tentei impedi-la apenas com palavras trêmulas, quais foram ignoradas.
- Deixa de ser medroso. - Me ignorando a garotinha pegou aquela coisa com várias patas que se mexiam de uma forma nojenta. O bicho começou a se remexer, tentando se livrar dos dedos que o segurava. - Olha, não é legal?!
Ela estendeu aquela coisa em minha direção, fazendo com que eu desse passos para trás, com medo que ela tentasse algo.
- Não chegue perto de mim com isso!
Tentava parecer ameaçador, mas aquilo apenas a fazia rir ainda mais.
- Você tá parecendo um gatinho assustado.
Era verdade, estava trêmulo e com lágrimas que ameaçavam escorrer por minhas bochechas.
- Venha, olhe mais de perto!
Falou ela, vindo em minha direção. Mandei ela parar, mas a cada passo que eu dava para trás, ela dava mais dois em minha direção. Tentei correr, porém já era tarde de mais, a garotinha me jogou no chão enquanto aproximava aquele bicho esquisito do meu rosto. Senti aquelas varias patas tocarem minha bochecha, me fazendo ter calafrios em todo corpo.
Soltei um grito de pavor enquanto dei um forte empurrão na minha irmã, que caiu no chão me olhando espantada.
- EU TE ODEIO, RIN!!
Foram minhas últimas palavras para ela antes de descer toda aquela montanha correndo aos prantos.
Os últimos raios de sol passavam entre a abertura da porta de madeira podre, que caia aos pedaços. Estava escondido no antigo ponto de ônibus da cidade, aquela pequena cabana era usada para as pessoas que esperavam o ônibus, para se protegerem do sol ou da chuva. O lugar era pequeno e continha apenas um largo banco que cabia no minimo cinco pessoas. O ponto não era usado a um bom tempo, então sempre ia ali quando queria ficar sozinho.
Soluçava baixinho enquanto enxugava as lagrimas que insistiam em cair.
Não era a primeira vez que eu estava ali, sozinho, chorando em silêncio. Minha irmã gêmea sempre foi assim, se divertindo ao me ver chorar. Sempre me provocando ou fazendo brincadeiras sem graça. Não odeio ela, mas sim a mim mesmo, sou apenas um fracote que nem consegue lidar com uma formiga. Choro por qualquer coisa, e tremo de medo por causa de um inseto, sou realmente patético.
Me sobressaltei quando a porta velha de madeira foi aberta. Os fracos raios cor ferrugem invadiram a cabana escura, olhei surpreso para a menina que estava parada na porta, me observando sem falar nada.
Ela continha longos cabelos turquesa, quais estavam amarrados em marinhas chiquinhas. Usava um vestido branco, era solto e de alça, algo bem leve, o que combinava com o verão.
- Por que está chorando?
Perguntou dando alguns passos em minha direção. Instantaneamente me encolhi mais no banco. Fiquei muito envergonhado, uma garota que não conheço estava vendo o meu estado deplorável. Papai disse que garotos não devem chorar na frente de meninas, eles devem ser fortes e protegê-las. E aqui estou eu, tremendo e chorando em frente a uma garota, apenas por causa de um pequeno inseto.
- Não estou chorando! - Rapidamente escondi meu rosto com meu braço direito, com esforço firmei minha voz que estava tremula e rouca.
- Não é o que parece.
Falou se aproximando um pouco mais.
- Não venha aqui! Apenas vá embora!
Gritei a mandando embora. Não tive coragem de olha-la no rosto, papai sempre me disse para ser gentis com garotas, pois elas são frágeis como rosas, até mesmo palavras podiam machuca-las. Mas estava tão desesperado para que ela não visse meu rosto deplorável que não tive mais ideia do que fazer para mada-la embora.
A cabana ficou em silêncio, provavelmente ela estava magoada com a forma que a tratei, com certeza iria embora aos prantos, assim como eu fiz com a Rin. Sou tão imprestável como homem que nem mesmo conseguia tratar uma garota da forma certa.
Ouvi seus passos leves se aproximarem ainda mais, surpreso levantei o rosto, encontrado suas orbes turquesa tão próximas quanto deveriam estar.
- O-O que está fazendo?! Mandei você ir embora!
Gritei mais uma vez com ela, mas ela continuou ali, parada. Me lembrava um pequeno gatinho de rua que havia encontrado uma vez, depois de brincar um pouco com ele, o mesmo começou a me seguir, gritava para ele ir embora ou tentava espanta-lo com gestos violentos, mas o mesmo não desistia de me seguir até em casa, no fim mamãe acabou ficando com ele.
- Não precisa ter vergonha, é normal chorar, nem que seja por tristeza ou raiva, é uma forma de seu corpo colocar tudo pra fora.
- Mas eu sou um garoto, homens não choram, principalmente na frente das garotas!
- Isso não é verdade.
- É sim, o meu que me falou!
- Pois ele está errado. - A olhei indignado. Como assim o papai estava errado? Ele sempre me ensinou sobre como ser um bom homem, não tinha como ele estar errado. - Para mim um homem que chora, é alguém forte.
- O quê?! Não faz sentido.
- Claro que faz. As vezes as pessoas choram porque guardaram por muito tempo alguma coisa dolorosa, e as vezes isso tem que sair, para aliviar o peso doloroso que ela carrega. As lágrimas que caem significam o quanto está pessoa foi forte.
Ao falar isso a menina passou as costas de sua mão em minha bochecha, enxugando uma lágrima teimosa que escorri ali.
- Eu não sou forte... - Murmurei para mim mesmo, desviando meu olhar de suas orbes turquesa, para o chão de madeira que permanecia sujo. Estava chorando apenas por causa de um mísero inseto. Isto não era sinônimo de força, mas sim de covardia.
- Então será um dia. - Olhei realmente surpreso para ela. - Não se preocupe em colocar pra fora quando estiver triste, apenas chore o quanto quiser, isto não é nem um tipo de crime. E se alguém critica-lo por causa disso, então quebre a cara dele! Ou então eu mesma farei isso!
Pela primeira vez alguém havia me dito isto. Todos sempre me chamaram de bebe chorão, diziam que nunca deveria deixar minhas lágrimas saírem, pois era coisa que fracotes faziam. E era exatamente assim que me chamavam todos os dias. E pela primeira vez, esta garota disse o contrario.
- O quê? Por que está chorando de novo?
A menina se aproximou confusa, foi quando percebi que mais lagrimas caiam de meus olhos, não entendia porque, afinal não estava mais triste. Percebendo isso comecei a rir de mim mesmo.
- Eh? Você está rindo ou chorando, não entendo. - Me olhou confusa enquanto me via rir e chorar ao mesmo tempo. - Você é estranho.
- O que, você que é a estranha, dizendo que vai quebrar a cara de alguém para proteger um garoto que nem mesmo conhece.
- O quê? Isto é...
Envergonha ela inflou as bochechas, as mesmas ficaram rosadas, o que a deixou super fofa.
- Miku!
Ouvimos uma outra voz do lado de fora da cabana.
- Ah, eu tenho que ir agora, o meu irmão está me chamando. Até depois!
A mesma acenou enquanto saia apressada.
"Até depois"? E vamos nós encontrar novamente?
Eu não sei, mas gostaria que isso realmente acontecesse.
Ainda fiquei mais um tempo ali, acalmando minhas lagrimas para poder voltar para casa. Quando sai a lua já brilhava no céu, a pequena cidade já era iluminada pelos postes na rua. Com certeza minha família me mataria por voltar a essa hora.
Corri até em casa, chegando lá abri a porta da frente anunciando minha chegada.
- Len! - Minha mãe aos prantos veio em minha direção, a mesma segurava um telefone, segurava de uma forma para que a pessoa que estava na linha não ouvisse a conversa. - Onde você estava?! E onde está a Rin?!
- A Rin? Ela não voltou?
De repente uma leve dor no peito me atingiu. A Rin não havia voltado? Será que estava me procurando? Mas já está escuro, ela não poderia ainda estar naquela montanha.
- Você deixou sua irmã sozinha?!
A voz embargada em tristeza, decepção e desespero me fez estremecer.
- Eu...
Um nó se fez em minha garganta, comecei a tremer de nervoso e meus olhos voltaram a arder, ameaçando a transbordar lagrimas. Com minha voz falha não consegui responde-la.
Ela segurou um soluço, colocou a mão sobe a boca, tentando controlar as lagrimas que teimavam em sair. Ouvimos a voz do outro lado chamar seu nome, reconheci ser minha Tia. Mamãe rapidamente voltou a falar no telefone, se afastando para a cozinha.
- O Len já está em casa, mas a Rin ainda não voltou. Eu liguei para suas amigas, e conhecidos, até mesmo para parentes próximos e nem um deles a viram. O que eu faço?
Ainda consegui ouvir um pouco da conversa. Mamãe chorava muito, nunca a vi daquele jeito.
- Sim, meu marido saiu para procura-la, mas até agora não mandou mais noticias. E-Eu vou ligar para a policia.
Ainda continuava parado a porta, apenas olhando o nada. Era tudo minha culpa. Mamãe mandou eu não deixa-la sozinha, mas eu não dei ouvidos a isso. Pensei que Rin era forte e não precisava de mim por perto, alguém tão fraco e inútil não serviria para nada. Rin era quem sempre me protegia, ela era forte e destemida, conseguia amigos facilmente e sabia se defender dos valentões. Pensava que se estivesse com ela apenas atrapalharia, mas então, porque está acontecendo isto?
- Len! - Me assustei ao ouvir mamãe chamar meu nome. A mesma estava tremendo, seus olhos já estavam vermelhos de tanto chorar, o desespero e medo estavam presentes em sua voz. - Vá para seu quarto, não se preocupe, a sua irmã está bem, logo a encontraremos.
Ela encostou o sua mãe tremula em meu ombro, tentou demonstrar confiança com um sorriso, mas a unica coisa que conseguiu colocar nos lábios foi um sorriso torto e forçado, seus lábios tremiam assim como seu corpo, mostrando a fraqueza que sentia naquele momento. Senti vontade de enxugar as tantas lagrimas que molhavam seu rosto, porém não fiz. Era tudo culpa minha, não tinha o direito de conforta-la.
Como um zumbi, subi lentamente o lance de escadas, parei em frente a porta do meu quarto, fiquei encarando por alguns segundos a porta em frente a minha. A mesma continha um placa de madeira enfeitada com desenhos femininos, nele estava escrito o nome da minha irmã. Fui em direção a ela, abri a porta tendo a visão de um quarto escuro e vazio, senti um aperto em meu peito. Sentindo as lagrimas surgirem mais uma vez eu não as segurei, apenas cai de joelhos em frente ao quarto frio e me deixei chorar baixinho.
Continua...
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