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História Angels Never Die (Jeon Jungkook) - Epílogo: A escolha certa


Escrita por: SocialArmy

Notas do Autor


Oiee~~

Nem acredito que acabou. Escrevi e reescrevi esse capítulo desde o começo do ano, e não pensei que ele fosse chegar tão rápido. Mas é isso.

Boa leitura ♥💛✨

Capítulo 24 - Epílogo: A escolha certa


Fanfic / Fanfiction Angels Never Die (Jeon Jungkook) - Epílogo: A escolha certa

   A chuva caía vorazmente pela cidade, batendo no chão com um baque surdo. O céu estava coberto por um lençol cinzento de nuvens, deixando o sol brilhar tímido entre elas. As pessoas que caminhavam céleres, segurando grandes guarda-chuvas assustaram-se ao ressoar de um trovão, apertando o passo antes que fossem engolidas pelo dilúvio que deixava o mundo sem cor. A véspera de ano novo estava fria.

   Parado à frente do hospital, vestindo jeans e uma blusa frio cor de creme, um triste observador admirava a chuva do lado de fora. Ele observou as gotas de chuva penderem e caírem das árvores, na forma bruxuleante como elas se mexiam, em seguida, observou as pessoas eufóricas circulando a neblina provocada pela chuva. O respingar estava forte, quase estridente, e Jungkook fechou os olhos ao sentir algumas gotas esvoaçarem com o vento até seu encontro.

Um vendaval de folhas amareladas esvoaçaram diante dele, e ele apertou a que ele tinha na mão, junto com o envelope levemente úmido pelo ciscar das gotas. O chiar poderoso da chuva cessou imediatamente, e ele não ouviu mais nada. As lembranças atravessaram Jeon como um relâmpago que cortava a noite.

 

 

   Adira foi envolta por uma tontura quando ela encarou os olhos de Jeon, sentiu que o ar havia sido sugado dela. Ela não recuaria agora, estava determinada a dar um ponto final naquilo, e teria que tirar forças de onde pudesse. Ela pensou por onde podia começar.

— Antes que você me conhecesse — Começou ela, apertando as mãos no colo. — Eu havia sido diagnosticada com um câncer maligno. E minha média de vida era de, no máximo, um ano.

Jeon desviou os olhos dela, contraindo a expressão. Apoiou a cabeça nas mãos enquanto ela prosseguia.

— Minha família achara melhor que eu me internasse em Blackwood, para que eu fosse bem tratada enquanto... — Adira se interrompeu, sem palavras para continuar. Ela sentia a tensão vinda dele, não via seu rosto, mas podia ver que a cabeça tremia levemente junto às mãos bonitas dele. — E então eu conheci você.

Jungkook sentiu a respiração falhar. Ele fechou os olhos, com as lembranças daquele dia cortando sua cabeça. Ele se perguntou se aguentaria até o final daquela conversa.

Um longo silêncio se seguiu entre eles, e Adira já estava desistindo de tentar segurar as lágrimas. Ela esticou a mão e tocou levemente na cabeça dele.

— Jeon...

Ele se afastou dela como se Adira estivesse coberta de veneno.

— Por quê, em nome de Deus, você escondeu isso de mim?!

A dureza de Jeon a machucou como ferro incandescente, mas ela sabia que poderia ser assim.

— Eu tive medo! — Gritou ela de volta, sentindo as primeiras lágrimas saltarem. — Droga, eu estava morrendo de medo! Porque eu não esperava por nada quando cheguei naquela clínica! Quando lembrava do tempo de vida que eu tinha... eu era um cadáver de dezoito anos ambulante!

Jeon balançou a cabeça, sentindo algo úmido descer pelas bochechas.

   Ele não queria ouvir aquilo. Ele não queria ouvir sobre o tempo de vida dela, não queria lembrar das opções, não queria pensar no que ia acontecer. Ele não conseguia acreditar que a mulher que ele amava estava destinada àquilo. Não queria acreditar.

— Você apareceu, Jeon, e esse foi o problema — Ela disse com a voz fraca, e quando ele olhou para ela, ela estava fitando estaticamente as mãos, sem querer encarar o olhar acusador e melancólico dele. — Me disse o seu nome... Insistente, agressivo. E mesmo assim, amoroso. Você foi a melhor coisa que podia ter me acontecido no meio dessa tragédia, e eu tive... tive medo de perdê-lo!

— Você acha que eu a abandonaria se eu soubesse? — Estourou ele, furioso, com os olhos marejados pelas lágrimas. Mesmo quando haviam se conhecido, ela nunca o havia visto gritar com ela assim. — Acha que eu seria capaz?

— Teria continuado se eu dissesse muito antes? — Perguntou ela, no mesmo tom. — Teria se apaixonado, teria estado ao meu lado se eu dissesse desde o início qual seria o meu fim?

Ele não conseguiu falar, sua garganta doía com a bile, como se ele houvesse engolido agulhas quentes.

— Eu teria ido até o fim. — Admitiu ele, sem olhar para ela. — Já tinha me apaixonado por você no instante em que a vi.

Adira deixou-se chorar, com os arrependimentos torturando-a com violência.

— Me perdoe — Pediu ela, com a voz vacilante, mas determinada. Ela queria reverter as coisas, mas, no momento, tudo que ela podia oferecer era o seu arrependimento sincero.

   Quando percebeu que estava apaixonada e completamente envolvida por ele, ela quis negar o sentimento. Pensou que seria estúpido para ela, que estava de frente para morte, começar algo novo.

— Eu nunca a negaria — Disse ele de repente. — Quando você chegou... Minha vida cresceu melhor. E aquela cadeira de rodas, pela primeira vez, não fez com que a minha vida continuasse obscura. Eu nunca me senti tão vivo quando conheci você. E agora... — Ele levantou a cabeça, temendo as palavras. —... e agora a vida toma de mim a minha vida.

E, então, finalmente se aproximando mais dela, ele segurou as mãos dela.

— Por favor, Adira — A voz dele estava fraca, e ele esqueceu toda a fúria que sentia. Jeon havia errado muitas vezes em sua vida, desde que nascera, e ele percebeu que há momentos que temos que decidir se os erros das pessoas são maiores que o seu amor por elas, e a vida dela valia mais que qualquer coisa para ele. — Faça a cirurgia.

Adira sentiu o pânico crescer abruptamente como um monstro nascendo das profundas. Ele sabia.

— Jeon...

— Por favor!

Ela sentiu que morreria ali mesmo.

— Não posso...

— Por que não?! — Ele gritou, a voz começando a ficar desesperada.

   Ela fechou os olhos, relembrando o dia em que ele, segurando as mãos dela no pátio, segurou-lhe o rosto e lhe beijara pela primeira vez, fazendo-a experimentar o ar rarefeito. E em como, logo em seguida, ela recebeu as notícias do Dr.Walther. Quando viu a expressão dele.

— Quando desmaiei naquele dia, no pátio, o Dr. Walther pediu mais exames. E ele me disse que eu teria uma chance de sobrevivência se fizesse uma cirurgia...

Adira sentiu o olhar esperançoso de Jeon, e seu coração pareceu se quebrar.

— Então faça.

— Jeon! — Ela gritou para que ele se calasse. Por um momento ela pensou que não conseguiria dizer. — Quando fui diagnosticada, o médico disse que o aumento do tumor levaria à paralisia e perda de memória. Se eu fizer a cirurgia, se eu sobreviver a ela... eu posso ficar paralisada pra sempre, ou até mesmo esquecer quem você é, esquecer tudo...

Ela não conseguiu continuar, interrompida por um soluço doloroso.

Jungkook sentiu a cabeça doer, sentiu como se uma espada o atravessasse bem no peito.

— Você me fez querer viver, Jeon — disse ela entre soluços. — Me fez querer mais tempo... Eu quero mais tempo com você! Mas...

Jeon sorriu, lembrando das palavras dela quando foram ao parque. Minha mãe me disse certa vez que somos como as folhas no outono, que passamos por invernos rigorosos, grandes provações. Uma grande luta pela sobrevivência. Até que, enfim, a primavera anuncia sua chegada e tudo se torna verde. Nossas árvores voltam a encher-se de novas folhas e tudo ganha cor. Mas antes é preciso ter paciência até que a primavera chegue, e força para saber que o inverno chegará mais cedo ou mais tarde, e estarmos cientes de que depois dele, tudo ficará bem.

— Faça a operação, Adira.

— Eu não quero olhar pra você e não saber quem você é — Ela apertou as mãos dele, admirando seu rosto que, agora, ela conhecia. — Não quero te esquecer.

— Mas eu lembrarei — Ele se levantou e sentou na cama com ela. — Eu vou lembrar, Adira.

Ela balançou a cabeça energicamente.

— Eu posso ficar paralisada pra sempre...

— Eu não me importo. Desde que você esteja viva. Desde que Bobby morreu, eu percebi que era egoísmo pedir que ele ficasse, porque às vezes, as pessoas precisam partir. Mas, se for possível, fique, por favor, não é sua hora de ir.

   Ela encarou os olhos dele, que diziam tudo que precisava ser dito. Os olhos que expressavam o amor que eles sentiam, do tipo que finda, que marcava, e que mesmo agora não podiam se imaginar um sem o outro. Eles haviam sentido o amor que eles haviam escrito em suas poesias, nas linhas paralelas da dor. Mas sabiam que só o amor não bastava.

— Está bem — Disse Adira lentamente, engolindo o pânico que se alojou, pesado e volumoso, logo acima do seu diafragma, tonando incômodo respirar. — Mas você precisa me prometer uma coisa.

Ele sorriu, tentando transparecer segurança e tranquilidade.

— Pode dizer.

— Prometa que não importa o que acontecer, se eu não sobreviver à cirurgia... Prometa que vai seguir sua vida, que continuará em frente, que vai viver bem.

   Jungkook não respondeu, sentiu que as palavras lhe haviam sido arrancadas, e que não tinha forças para falar. O olhar dela era suplicante, quase pungente em dor. Ele não conseguia pensar no que aconteceria, sabia que a perderia. Ela continuava deixando-o confuso, desde quando a conhecera, mas o deixava feliz, frustrado também, mas feliz. E por isso, ele prometeu a si mesmo que aproveitaria cada segundo que tinha com ela.

— Eu prometo.

 

 

 

   Quando Adira e Jeon voltaram do hotel, ninguém disse absolutamente nada. Helena Grant já arrumara as coisas da filha para que levassem para o hospital, para a agendada e temida operação que seria após o Natal. Adira estava no quarto com a família e o melhor amigo, que trouxera novas flores para ela. Jeon chegara algum tempo depois, um pouco encharcado e sentindo suaves sintomas de um futuro resfriado que começava a dominá-lo. Abriu a porta do quarto, encontrando Adira e os demais reunidos, eles envolta dela na cama. Estavam todos rindo e sorrindo, e notou que os amigos de família também estavam lá. Adira devolveu o pequeno Bran para a mãe quando o viu entrar.

— Bom dia, Jeon! — Cumprimentou-o Helena Grant.

   Adira sorriu fraco para ele, e ele foi até ela, sentando-se na cadeira que o Park oferecera. As mãos dos dois entrelaçadas, sem que nada fosse proferido, foi o bastante para dizer tudo que eles não podiam transformar em palavras naquele momento. Jimin foi o primeiro a se manifestar.

— Bem, estou morrendo de fome. Beth, você quer ir comigo à lanchonete do hospital?

Beth assentiu rapidamente.

— Claro, estou com muita fome também. Mãe, pai, vocês querem algo também?

Helane e Rojer se levantaram, anunciando que os acompanhariam. Catelyn e Edward os seguiram, reforçando que Bran também precisava comer. Quando todos saíram, Jeon e Adira deram risada.

— Como se sente? — perguntou ele.

— Acho que estou com fome.

Eles riram.

Adira puxou a mão dele, pedindo silenciosamente que ele se deitasse com ela. Quando deitou-se, percebeu o anel na mão direita dela. Ela encostou a cabeça em seu ombro, sentindo a garganta fechar.

— Está chovendo forte hoje.

Adira sorriu, olhando para a janela.

— Gosto da chuva. — respondeu ela simplesmente.

Ele passou a mão pelos cabelos dela, e os dois ficaram ouvindo o gotejar rítmico da chuva. Mesmo perto um do outro, sentiam que uma linha perdurável os separavam. Jeon já não podia negar que, pela primeira vez, sentia que estava no lugar que pertencia.

— Você vai ficar bem, não vai? — quis saber ela, com a voz preocupada e levemente oscilante.

O braço dele enlaçou o pescoço dela e puxou-a para perto. Ele percebeu que ela estava chorando e enxugou delicadamente as suas lágrimas com o polegar.

— Não sei o que vai acontecer, honestamente. Nós nunca sabemos, não é? Você pode sair numa manhã chuvosa e acabar sendo atropelado por um automóvel, e sua vida inteira muda de repente. Você pode sair para a faculdade e ser baleado por alguém, ou cair e se machucar.

— Descobrir que está seriamente doente.

Jeon deu um risinho.

— Acho que é por isso que temos que aproveitar as oportunidades enquanto se pode.

   Adira sabia que ele estava tentando confortá-la quanto a decisão tomada por eles. Ela levantou os olhos para encará-lo, e os olhos dele fitavam um teto monótono, enquanto ele pensava em tudo que haviam passado até ali, e não era pouca coisa. Ele sempre teve um certo medo de amá-la, afinal de contas. No fundo, Jungkook sempre soube que uma hora ela iria embora.

— Essa é sua oportunidade, Adira.

Ela fechou os olhos com força, sem querer ouvi-lo e admitir a verdade que ele dizia. Ela havia chorado por horas quando saíram do hotel, e a dor estava aguda em seu peito. Os olhos ardiam como o inferno. Ela ainda sentia os beijos dele, como se o tempo tivesse se eternizado.

— Eu amo você — Disse ela.

Demorou um pouco para que o nó na garganta de Jeon diminuísse o suficiente para poder falar.

— Também amo você.

Eles ouviam um burburinho do lado de fora, e Adira deu-lhe um beijo suave, sentindo que seu tempo acabaria ali. Quando ela abriu os olhos, o rosto dele parecia marcado por mil tragédias. Mas ele conseguiu sorrir.

— Adira — Um homem alto, envolto em seu jaleco branco entrou em seguida, dando um sorriso encantado para eles. — Está na hora.

   Adira deu um sorriso trêmulo, anuindo para o médico. E ela apertou a mão de Jeon como se não quisesse soltá-la nunca mais. Não havia mais tempo. A vida era curta, pensou ela. E os dois sabiam disso melhor que qualquer um. Aquela era a escolha certa, sua oportunidade. Estou fazendo a escolha certa agora, Bobby, disse Adira em pensamento antes de ir.

Quando Adira fora levada, depois de ter assistido os seus olhos fecharem ao colocarem uma máscara no seu rosto, lhe lançando um último olhar, Jeon retirara a carta de seu bolso e a lera sozinho no quarto frio e vazio.

 

 

  As portas duplas envidraçadas tiniram, e alguém passou por elas, trazendo-o de volta ao mundo que havia escurecido. Jeon Jungkook ouviu alguns murmúrios e as portas tiniram outra vez. Ele virou a cabeça muito lentamente ao ouvir os passos cessarem não muito distante dele. Ali estava uma figura feminina, de cabelos escuros espalhados pelos ombros suavemente; sandálias marrons cobriam os pequenos pés e um vestido azul cobria seu corpo. Jeon o reconheceu como sendo o que ela havia usado em seu aniversário, leve e pequeno, se expandindo até os joelhos em leves ondas. O olhar contemplativo dela estava voltado para o céu, como se estivesse captando cada molécula das gotas de chuva, como se fosse a primeira vez que via tal fenômeno.

   Ela apertou a alça de uma bolsa preta, presa firmemente no ombro direito, deu um suspiro longo e trêmulo, quase de emoção, e ela abriu um enorme sorriso ao admirar tudo que os olhos podiam ver. Tudo que o mundo podia oferecer.

Os olhos escuros e brilhantes de Adira pararam em Jungkook quando ela notou sua presença estática. Ela afrouxou o aperto na bolsa e deu um sorriso simpático para ele.

— Boa tarde — Cumprimentou ela gentilmente, acenando com a cabeça.

      Jungkook não desviou os olhos dela. Ele registrou o sorriso dela, tão igual ao que ele lembrava que era. O olhar de Adira era gentil, e ela continuou a sorrir para ele. Aquele sorriso que ele tanto amava. Sua garganta estava mais apertada do que nunca, e em certo ponto Jeon achou que fosse sufocar.

— Boa tarde. — Ele conseguiu responder, repuxando com esforço o canto da boca em um sorriso melancólico.

Adira assentiu e esperou. Ele viu os pais dela passarem, carregando algumas malas, mas Jeon se limitou a sorrir, pedindo que não dissessem nada silenciosamente. Haviam conversado sobre aquilo. 

Ela estava ali, do seu lado, admirando a chuva tão sorridente que seu sorriso parecia iluminar o dia. Ele percebeu o anel no dedo dela, reluzente como o seu sorriso.

— Que chuva, não é?

Adira concordou, levantando as sobrancelhas para o céu, sorrindo levemente.

— Eu gosto da chuva. — Disse ele, sem expressão.

   Adira olhou-o por alguns instantes, sua expressão nada a revelar. Ele a encarou de volta, sentindo o coração martelar nas costelas. E então as portas tiniram e Jeon viu a figura de Beth sair com a última mala. Ela viu Jeon e apenas disse que a família estava pronta. Adira sorriu para a irmã, pegando a mala dela.

Se virou para Jeon e sorriu, acenando com a mão, desejando-lhe um feliz ano novo e seguiu a  irmã. Antes que ela pudesse desaparecer, Jeon se viu chamando-a.

— Espere!

Adira parou e se virou, a expressão curiosa, mas sorridente.

Jeon apertou a carta e a folha que estavam esmagadas na sua palma.

— Obrigado por tudo... — Agradeceu ele, sorrindo duro, e torceu para que seu tom não a fizesse estranhar.

Adira pareceu levemente confusa quanto ao que ele estava agradecendo. Contudo, devolveu-lhe o sorriso, abriu um guarda-chuvas e puxou a irmã para perto, indo embora.

   Ele se viu sozinho, parado na porta do hospital como um pobre coitado. Ele caminhou em frente, arrastando os pés, penetrando no território da chuva. Suas roupas se encharcaram rapidamente e os cabelos pesaram, molhados no rosto. Ela havia ido embora. Havia esquecido dele e perdido boa parte de sua memória, talvez até mais. Ela estava linda com seu vestido azul, feliz e sorridente. Ela viveria sua vida agora. Ela teria a vida que havia sido roubada dela também.

   Jeon não evitou mais as lágrimas. Parado ali, entre os bancos do pequeno parque que ficava em frente ao hospital, permitiu-se chorar, deixando que as lágrimas se misturassem à chuva. O chiar estridente encheu seus ouvidos, e ele desejou que aplacassem todo e qualquer som externo, que ficasse intocado.

— Jeon.

Ele congelou. Aquela voz suave chamando seu nome baixinho em meio à chuva. O dia estava sem cor e cinzento e, girando lentamente os calcanhares, ele viu a silhueta de Adira parada logo atrás dele, com seu vestido empapado de água. Os olhos dela estavam vidrados nele, vítreos. Ela segurava uma carta nas mãos, e na outra a pequena folha amarelada.

— Seu nome — Disse ela, apertando levemente os olhos. — É Jeon Jungkook.

A voz dela saiu tremida por conta do frio. Estava tão encharcada quanto ele, mas parecia não sentir.

   Ele assentiu, paralisado. Pensou que talvez ela tivesse visto seu nome na carta, e se perguntou quando ele havia deixado que deslizasse pelas suas mãos sem que percebesse. A carta estava aberta, o que indicava que ela havia lido. Lembrou-se das exatas palavras em cada linha dela, agora tão claras como se ele as estivesse lendo-a de novo.

Jeon, espero que goste das poesias que escrevi para você, nossos momentos, nossos desejos nunca vividos e tudo que nós falamos um ao outro. Sei que muitas vezes queremos planejar metodicamente o curso de nossas vidas, mas, até quando a vida desanda, ela pode ser maravilhosa, não é?

   Sei que um dia as pessoas se vão, sem aviso prévio, e nos deixam suas lembranças e histórias,assim como Bobby, Yerin e Menahen. Acho que a vida é feita disso, de belas e infidáveis oportunidades de encontro. Nós nos encontramos, e aceito isso como um grande presente em troca da minha vida. Agarrei-me aos nossos vestígios por todo esse tempo, e você estará eternizado em mim, você nunca será apagado da minha memória.

   Espero que encontre o melhor para você, porque sempre te desejei as melhores e maiores coisas dessa vida, mesmo que eu não faça parte disso. Seus sonhos podem ser realizados, finalmente. Espero que sempre possa reler as minhas palavras, que sinta que meu amor ainda é vivo, não importa onde esteja. Porque eu sempre fui sua por todos esses meses. E, se eu morrer, não carregue nossos erros. Nosso tempo foi curto, é verdade, mas carregue apenas o que foi bom, o que rendeu histórias e poesias. Mesmo que nossos caminhos não se cruzem mais, ainda terei você comigo.

   E mesmo com os temores encovados de que tudo nos dividiria, e principalmente com os segredos plantados, eu amei você. Você era uma linha paralela para mim, Jeon Jungkook, mas ainda era a linha que eu queria escrever. E sempre será a poesia mais linda que eu terei escrito. 

 

Adira.

 

 

Ela piscou, franzindo o cenho.

— Jeon Jungkook — Repetiu ela. — Jeon... Jeon.

Ele não se mexeu. Não sabia ao certo se estava respirando.

— Sim? — Perguntou ele, sentindo não um frio na barriga, mas um polo-norte inteiro.

Ela piscou de novo, os olhos ainda vítreos, como se um turbilhão  de coisas passassem por eles.

Ela deu um sorriso célere e mínimo, que revelara somente um pouco dos dentes.

— Jeon.

E então ele entendeu.

   Ele disse o nome dela e agarrou seu corpo molhado, abraçando-a debaixo da chuva, com o aperto no peito se desfazendo e se transformando em chuva. O corpo gelado dela, da mesma temperatura que o dele, fez seu corpo vibrar, e, depois de algum tempo, ele sentiu os braços dela retribuírem o abraço timidamente. Eles se afastaram, com os olhos dela levemente arregalados, com pequenas rugas se aprofundando em volta dos olhos. Eles ignoraram os passos da família dela procurando pela filha, encarando-os incrédulos.

   Dizem que quando uma porta se fecha, uma janela se abre. Uma porta havia sido fechada implacavelmente para eles. E talvez o último adeus resuma-se em se perdoar, conseguir perdoar quem se foi e dar um novo sentido à vida. E ele a perdoou. Adira ficou na ponta dos pés e os lábios encontraram-se com os dele, gentis, ternos, e os dois tremeram junto ao toque, sentindo o gosto da chuva, das lágrimas, de mil sonhos e esperança. A carta havia caído das mãos de Adira, ao mesmo tempo que a folha havia voado, planando céu acima.

E ali, uma janela se abria

 


Fim
 


Notas Finais


Muito obrigada a todos que leram and, a todos os comentários e carinho que recebi. Lembrarei de cada um e de cada palavra linda que recebi, vocês salvam vidas, é sério, amo vocês muitão ♥♥♥

Obrigada à júlia, que amou And beeem no comecinho e me ajudou muitoo! Muito obrigada Rainha, serei eternamente grata a você, te amuh ♥
À minha amiga Loma, que também desde o comecinho me acompanhou e me presenteou com um trailer maravilhosoo! Muito obrigada, Loma, acima de tudo por ser minha amiga, amo você ♥

É difícil terminar esses personagens, mas acima de tudo, And foi uma terapia para mim, e algumas delas, eu acrescentava conforme eu precisava ouvir e sentir durante 2018. E espero que assim como me ajudou, tenha ajudado a todos que leram, e de alguma forma sentiram algo. Sou uma pessoa bem sentimental, então me perdoem por talvez ter deixado que esses sentimentos escapassem demais de mim para And.

Desejo um Feliz 2019 para todos vocês, que seja repleto de amor, esperança, alegrias e escolhas certas. E, que mesmo se errarem, saibam que nunca é tarde demais para começar de novo ;3

Obrigada por tudo e Feliz ano novo, bye bye~~
♥💛✨


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