História Antes de Partir - O pôr do sol

Enquanto esperava os fornecedores, Sehun ligou o aparelho de som do local, deixando tocar Stay, uma música que escutava quando estava aproveitando a companhia do marido. Adorava ouvir o marido cantar a melodia, sentia que Luhan colocava seu coração na música, por isso, Sehun sempre se emocionava. 

Aquele momento o fez refletir sobre muitas coisas em sua vida, no que seu casamento havia se transformado, nos que Luhan havia se tornado para ele. Foram tão felizes no início, que procurou em sua memória o momento exato em que deixou de amar aquele que jurou estar junto até que a morte os separasse, mas simplesmente esqueceu o porquê não quis mais cumprir com o juramento. 

Sehun foi até a máquina que fazia cappuccino e se lembrou do favorito de Luhan, chocolate com chantilly. Quando o marido tomava, sempre ficava a marca do chantilly em seus lábios e ele aproveitava para roubar um beijo do marido, na justificativa de que estava limpando sua boca. Foi inevitável sorrir enquanto preparava a bebida. 

— Será que ele está melhor pra tomar? — Se perguntou e balançou a cabeça negativamente. — Melhor não... 

Um tempo depois, seu celular tocou e viu na tela a foto do amante, que para ele, estava mais como um namorado mesmo estando casado, do que um simples amante. Sorriu, atendendo em seguida. 

— Oi amor...

— Tô te esperando com aquela fantasia que comprei, lembra? A surpresa que vou fazer pra você, bebezão — disse com a voz infantilizada, fazendo Sehun morder o lábio. Ele ficou mudo por uns instantes, pensando que não podia deixar Luhan com Taehyung sozinho enquanto passava mal, o filho poderia ficar agitado vendo o pai em péssimas condições de saúde. 

— A-amor... Hoje não vou poder ir. Estou no café esperando os fornecedores, tenho que pegar o Tae no colégio e preciso fazer o balanço do mês para entregar pro meu contador. 

— Ah amor... Mas é o Luhan quem pega o moleque no colégio todo dia, poxa. Você disse que viria hoje — Baekhyun fazia biquinho do outro lado da linha tentando convencer o namorado. 

Sehun segurou o fôlego na garganta. Toda vez que Baekhyun era contrariado, chamava Taehyung de moleque e isso o deixava com raiva, mas para não brigarem, sempre dava um jeito de fazer as coisas que o amante mimado queria, porém, aquela vez ele não faria. 

— O Luhan está na casa dos pais dele, não vai poder buscar o Tae. Eu disse que buscaria. 

— Então eu posso ir pra sua casa, que tal? Finjo que sou seu primo e podemos ficar juntinhos. 

— Você realmente não tem juízo, não é? — Sehun o repreendeu, mas Baekhyun continuou. 

— Por isso estamos juntos há dois anos. Amor, seu marido sabe de nós. Liga pra ele e pede pra buscar o Tae. Fica comigo hoje, por favor?  — Sehun suspirou profundamente, pois viu que Baekhyun não ia desistir. Enquanto analisava a situação, os fornecedores haviam chegado, obrigando-o a encerrar a ligação sem dar uma resposta fixa, o que de certa forma, o deixou aliviado.

— Tá bom, tá bom, vou ver o que faço e te ligo. Preciso desligar. 

— Tá bom, vou te esperar. Te amo. 

— Eu... Eu também. 

Desligou o telefone, atendendo os fornecedores. Sehun conferiu a mercadoria uma a uma, mas seus pensamentos iam e voltavam de sua casa, em Luhan e em Baekhyun e mais uma vez ele estava confuso. Após os homens irem embora, avisou Luhan por mensagem que buscaria Taehyung. 

“Estou indo no colégio buscar o Tae. Quer alguma coisa? Sua dor de cabeça passou? Precisa de remédio?”

Logo após alguns minutos, Luhan que estava se arrumando, respondeu:

“Estou melhor. Já tomei um remédio pra dor. Obrigado.”

O mais novo deu um leve sorriso olhando para a mensagem do marido, tirou a roupa e voltou para cama. Ainda estava enjoado e um pouco tonto, os mesmos sintomas da doença que ele conhecia bem. Sehun pegou Taehyung, voltou ao café e resolveu levar o cappuccino favorito do marido, se aquilo era uma forma de tentar se redimir por alguma coisa, ele não sabia, mas sentiu que deveria fazer algo diferente como havia combinado com Luhan, já que ele havia pedido apenas quarenta dias. Viu um lindo sorriso se formar nos lábios do filho quando o pequeno perguntou para quem era a bebida. 

— Papai, leva uma rosa também. Ele vai ficar feliz.

Sehun sorriu bagunçando os cabelos do bebê e saíram do café. Eles pararam numa floricultura e Sehun fez o que o seu pequeno pediu, comprou uma rosa para o marido e dali, foram direto para casa. Taehyung correu até o quarto do pai, que dormia com certa dificuldade para respirar, ele acabou acordando com o peso do menino sobre seu corpo e sorriu. 

— Oi amor... — Suspirou profundo e sorriu. 

— Você está quente papai. Por quê? 

Luhan estava febril, mas preferiu não dizer nada, pegou uma das cápsulas que tomava e a garrafinha d’água que deixava ao lado da cama, tomou o remédio e sorriu para o filho. 

— Daqui a pouco passa. É porque o papai estava coberto. 

Sehun apareceu no quarto, sorriu levemente vendo Taehyung no colo do pai, aproximou-se da cama e entregou a rosa e o café para Luhan que parou por alguns segundos o olhando, sendo retribuído com o mesmo olhar. 

— Ainda é o que você gosta? O... O cappuccino? 

Sehun perguntou e Luhan tirou a tampinha do copo, vendo o chantilly por cima da bebida, levou até a boca e sorriu por ter se sujado, mas não esperava que o marido lhe roubasse um beijo, pensou querer demais já que Sehun estava cumprindo o combinado. 

Estava de bom tamanho.

— Sehun, você faria algo por mim e pelo Tae agora? 

Perguntou e viu o marido confirmar com a cabeça. 

Luhan pediu para ir até a casa de praia dos pais de Sehun, gostaria de aproveitar a beleza daquela vista enquanto ainda podia, passando o resto do dia e voltar somente no dia seguinte, na tentativa de esquecer os problemas que os rondavam. Ao ver que o marido concordou com a ideia, um lindo sorriso surgiu em seu rosto e no rosto do filho, emocionando qualquer um que assistia a cena. 

Chegaram a casa, o ar puro entrava nos pulmões de Luhan, fazendo-o sentir a vida novamente por alguns minutos. Taehyung corria pela casa rindo à toa e Sehun deixava estampado em seu rosto a alegria que sentia vendo a felicidade do filho e consequentemente, a alegria de Luhan. 

Fizeram o jantar, brincaram com o filho até que a criança alegou estar cansada, Sehun lhe deu banho e o colocou para dormir. Ao voltar do quarto, viu Luhan sentado nas escadas da casa, olhando para o mar e as estrelas que já começavam a surgir no céu. O mais velho aproximou-se do marido, sentou-se ao seu lado e olhou na mesma direção que ele, porém, ficaram em silêncio durante um tempo. 

— O céu está bonito, não é? — Sehun resolveu quebrar o estranho silêncio. 

— Sim, queria te agradecer por hoje. O Tae ficou muito feliz. Viu como ele brincou? 

Sehun sorriu se lembrando da bagunça que Taehyung fez mais cedo.  

— Ele gostou de ter vindo pra cá. 

— E você? Gostou? 

O mais velho olhou nos olhos do marido, milhares de pensamentos passaram por sua mente naquele instante e seu coração batia descontrolado. Sehun tinha seus medos também, mesmo que fingisse ser forte o tempo todo e não reconhecesse, Luhan lhe transmitia força e paz. 

— Sim. Eu adorei... 

Luhan sussurrou algo que Sehun não conseguiu entender, mas também não perguntou. Sentiu o marido entrelaçar o braço no dele, deitando a cabeça em seu ombro e admiraram o pôr do sol, a única testemunha dos corações pulsando juntos, sendo preenchidos por um novo sentimento. 

Naquele dia, Sehun sentiu pela primeira vez, o arrependimento por tudo o que havia feito a Luhan.