História Antreya - Interativa - Teaser 005 - O Castelo da Morte

O interior era escuro, graças às poucas velas lançando sombras bruxuleantes de azul sepulcral nas paredes tão escuras quanto o piso, onde não era nem possível enxergar os próprios pés. A névoa da cidade não poupava nem mesmo o castelo de seu governante e era vista em todo o corredor, deixando o assustador castelo, com uma aparência mais sinistra.

— Este lugar continua assustador, não importa quantas vezes eu venha._ a constelação comentou passando as mãos nos braços como se estivesse arrepiado.  — Fico surpreso por não se perder nesses corredores idênticos. _ acrescentou suspirando pelos péssimos hábitos do deus da morte. 

A mulher inexpressiva ao seu lado, ganhando uma aura misteriosa por causa das luzes azuis das velas, virou o rosto lentamente, sem diminuir os passos. — É normal se perder, até mesmo os anjos dele se perdem de tempos em tempos._ comentou indiferentemente. — Há  corredores aqui ligados a várias partes de Rêverie, então seria estranho alguém não se perder aqui._ concluiu e os barulhos de seu salto ecoavam no corredor.

— E quanto a você?_ perguntou com seu rosto gentil como sempre, Valquiria tentou se lembrar se alguma vez o viu sem um único sorriso. — Como não se perde?_ acrescentou tombando sua cabeça para o lado de maneira fofa, fazendo pela milésima vez Valquiria pensar que ele não combinava com aquele lugar.

— Bom, eu cresci aqui, então não é estranho que eu não me perca._ respondeu já conseguindo enxergar uma grande porta, onde ficavam os aposentos daquele que ela às vezes chamava de pai.

Uma luz mais forte saia das frestas da porta, os fazendo piscar um pouco os olhos por causa da luz repentina. E não era apenas a luz que escapava das frestas da porta, onde a neblina também saia, como se escorresse como a água de uma cachoeira. A quantidade era tanta que fez os dois se perguntarem  se por acaso, toda a névoa de Rêverie se originou daquele cômodo e escorreu pelo escuro castelo até infestar toda a cidade.

Há poucos passos da porta, a constelação ao lado da Valquíria se questiona, parando de andar por um momento. — Devemos bater antes?_ perguntou se lembrando do humor inconstante do soberano da morte.

— Não._ a resposta da mulher foi automática. — Ele não gosta que batem na porta, diz que o barulho lhe incomoda._ acrescentou de boa fé querendo tranquilizar o outro.

Ao terminar de responder, Valquiria junto da constelação da vida abriram a porta e adentraram no cômodo. O quarto que normalmente era desprovido de qualquer tipo de luz, para que o preguiçoso deus pudesse dormir sossegadamente, para a surpresa de Valquiria,  possuía uma quantidade anormal de velas.

O silêncio do cômodo era tão grande que a respiração dos dois ecoava. Graças ao recente som, um barulho surgiu de dentro da enorme cama de dossel, que ficava na lateral do quarto. Um suspiro foi ouvido e uma mão apareceu fora do dossel, cujo tecido era estupidamente grosso e como quase tudo naquele castelo, preto.

— Duas visitas em um mesmo dia._ o homem com um rosto sonolento se arrastou da cama, até o divã perto da mesa, indicando preguiçosamente com a unha para se sentarem no sofá à frente. — Se a intenção é me torturar lentamente, não há necessidade de tanto trabalho, apenas traga aquele velho irritante._ comentou, sua voz rouca de sonolência. — Eu morreria se tivesse que ouvir sua voz novamente._ concluiu se sentando vagarosamente no divã.

— Duas visitas?_ a constelação da vida perguntou, se sentando tranquilamente de frente ao deus que é naturalmente considerado seu oposto. — Quem?_ perguntou curioso. Afinal, a poucos que podem chegar ao castelo de Void e o obrigar a sair da cama, principalmente se a conversa fosse lhe entediar. — Poderia ser Chroma?_ deduziu lhe olhando de soslaio.

— Quem mais poderia ser?_ respondeu com outra pergunta, soltando um longo e cansado suspiro. — Se não fosse pelo seu interessante jogo, pensaria que seu objetivo era arrancar os ossos de algumas constelações e pendurar em várias partes do Panteão, apenas para causar o caos fazendo os inferiores pensarem que os semideuses voltaram._ falou com uma das mãos no queixo enquanto ria da sua própria fala, não sendo acompanhada pelos dois a sua frente.

— Seria realmente um caos se tal coisa fosse acontecer._ Zoi comentou já acostumado com as falas do outro.

Rindo um pouco mais, Void dirigiu seu olhar novamente para os dois e perguntou nem um pouco interessado: — E então? O que minha adorável filha e esse ser de luz infindável, estão fazendo aqui no centro decrépito de Rêverie?_ apontando o dedo para Zoi, o deus da morte acrescentou: — Espero que não tenha segundas intenções com minha cria, saiba que mesmo sendo você, eu não vou a entregar._ concluiu tentando parecer sério.

O deus da vida já conhecendo o temperamento do amigo e seu gosto por provocar os outros, não levou suas palavras a sério. Valquiria era a mesma e por ter vivido tanto tempo ao lado dele, ela sabia que se não falasse algo, Void continuaria a dizer bobagens e cada vez ia se tornar mais mórbido, até ele conseguir mencionar suas típicas frases de morte, totalmente sombrias.

— Não diga bobagens._ falou inexpressivamente. — Vim como guia, já que todos acabam se perdendo ao chegar no castelo._ acrescentou, encostando as costas no sofá. — A medida que o tempo passa está ficando cada vez mais parecido com aquele anti-social._ concluiu dando um singelo sorriso ao ver a expressão de escárnio no rosto de seu pai.

— Me comparando com aquele pirralho hein?_ comentou cruzando os braços, enquanto balançava a cabeça em reprovação. — Acho que devo lhe mandar para ficar um tempo com aquele velho sádico._ falou sorrindo. — Um dia com ele com aquele péssimo hábito e você vai pedir para encontrar o sono eterno._ expressou fazendo uma careta só de lembrar.

O recinto ficou silencioso por alguns minutos, enquanto Valquiria permanecia indiferente às falas de Void, concentrando sua atenção para suas unhas. E Zoi sorria achando a situação divertida. Ao ser encarado pelo deus da morte alguns segundos depois, a constelação da vida, com sua aparência inocente e calorosa, exibiu uma expressão séria.

— Chroma me disse já ter encontrado duas almas perfeitas para participar dos jogos._ explicou o motivo de sua chegada em poucas palavras. — Elas já estão aqui?_ perguntou não tirando os olhos do amigo de longa data e também seu oposto.

— Sim, elas os invocou de um mundo distante, suas almas estavam vagando pelo que disse._ contou tirando duas pérolas azuis de dentro das vestes, uma sendo mais escura e a outra mais clara. As pérolas brilhavam de uma maneira misteriosa e não só atraiu a atenção de Zoi, mas também fez a Valquíria tirar os olhos de suas unhas.

— Que tipo de almas são?_ o deus da vida, com seu rosto infantil perguntou semicerrando os olhos, tentando enxergar além das pérolas.

Achando aceitável a curiosidade do outro, Void fechou as mãos e impediu o outro de dar mais uma olhada. — Eles não estão vivos, estão não irá conseguir ver nada._ comentou soltando um bocejo e dando uma leve espreguiçada. — Pelo pouco que vi antes de cair no sono, são mortais interessantes, um herói despreocupado e piedoso, assim como um vilão implacável e orgulhoso._ explicou se levantando, sendo copiado por Zoi. — Fico empolgado só de imaginar o que conseguiram fazer nos jogos.

— Então vamos começar?_ aquele com a autoridade absoluta da vida e o senhor da morte, saíram lentamente do cômodo para começar a arte secreta da reencarnação. Uma reencarnação diferente da costumeira seria feita, já que normalmente quando os mortais vão reencarnar, eles têm suas lembranças apagadas e vivem os três ciclos da vida, até inevitavelmente, cair nos braços da morte. Mas, a arte secreta não apenas ignorava isso, como também os reencarnava em qualquer ciclo da vida que aquele que usasse a arte quissese, e nesse caso o auge da vida da alma.

Void e Zoi poderiam matar sem piedade qualquer constelação que ousasse tentar essa arte secreta proibida, mas para o divertimento de todos, eles estavam mais que dispostos a usarem nos selecionados pela deusa do vazio. Além disso, se Chroma a constelação que mantinha a ordem no Panteão permitisse, qual o problema em usar essa arte proibida?

Se os dois soubessem o que isso acarretaria ao futuro, talvez pensassem duas vezes antes de aceitar os caprichos de uma constelação entediada.