História Antreya - Interativa - Teaser 006 - Escuridão e Vazio

Era uma escuridão massiva e sufocante. Por não ter um pingo de luz, quando Lurion despertou, ele estava cego pelas trevas. E isso não era tudo. Lurion não conseguia sentir seu corpo. Ele não conseguia ver, ouvir ou sentir nada, e isso era extremamente perturbador, pois ele tinha uma vaga lembrança nublada que o dizia sobre sua morte.

Então se ele estava morto, onde ele estava? Onde ficava essa imensidão vazia e escura, que ele estava atualmente? Isso era a única coisa que ele conseguia pensar naquele momento. Lurion sentia que quanto mais ficava ali, naquela imensidão, ele sentia estar sendo consumido e se tornando parte da vasta escuridão. Como se estivesse lentamente sendo devorado. Por isso, naquele lugar, Lurion percebeu o quanto o vazio era assustador.

Suas memórias estavam nubladas e falhando, mas Lurion se lembrava vagamente que havia poucas coisas que o deixavam assustado quando estava vivo. Ele que era astuto e orgulhoso, teve uma morte que chamariam de "morte digna para um vilão". Mas, ao seus olhos, foi uma morte ridícula que poderia ter sido evitada se ele tivesse sido mais cuidadoso.

Se ele, se Lurion ainda estivesse vivo, o que mais ele poderia ter conquistado? Até onde mais ele teria conseguido levar sua influência?

Mesmo após a morte, sua vontade estava enraizada em sua alma, seu desejo por mais, os anseios mais primitivos e fortes que os seres vivos possuem, queimavam lentamente e de maneira uniforme em seu ser.

Ela, a governante daquele domínio, não deixaria de notar isso e não deixaria aquela chama de vontade, que permaneceu acesa mesmo após a morte desaparecer.

"Você quer viver novamente?"

Na completa escuridão, Lurion que ouviu uma voz repentina ecoar no vazio, assustou. Mas, aquela voz foi como um raio de esperança para Lurion, que a cada momento sentia se afogar na escuridão.

Ele que não conseguia falar ou se mexer, pensou com todas as forças, orando para que suas palavras chegassem a voz misteriosa feminina, não importasse quem fosse.

"Sim."

Foi uma única palavra, mas na mente nublada e confusa de Lurion, foi algo difícil de formular. Por algum motivo, ele se sentia terrivelmente cansado, como se algo o obrigasse a dormir.

Inesperadamente e de maneira lenta, a escuridão foi se dissolvendo e a imensidão vazia foi se revelando em várias estrelas e nebulosas. A repentina luz queimou a visão estranha de Lurion e ele caiu no chão depois de ver um trono, a única coisa disposta naquele espaço.

— Você não possui mais um corpo, ou seja, uma forma física, então é normal que tudo esteja estranho._ a mesma voz de antes disse, e soava estranhamente divertida, como se estivesse se divertindo com seu sofrimento. — Em forma astral tudo é diferente._ comentou e Lurion finalmente conseguiu se adaptar com a claridade  e encarou a pessoa no trono, piscando os olhos ao notar que não a conseguia ver nitidamente.

A aparência do ser a sua frente mais parecia uma miragem. Às vezes ele via uma jovem de estranhos e curiosos cabelos incolores que pareciam criar reflexos de arco íris, como se a proporcionarem a dispersão da luz, era brilhante e ofuscante. Já outras vezes, ele apenas via um longo cabelo preto, não conseguindo enxergar sua face.

Era estranho, confuso e um pouco perturbador. Essa dispersão deixava sua cabeça dolorida. "Por que sua aparência é tão confusa?" Ele pensou inconscientemente se apoiando no chão repleto de estrelas.

— Hm._ Chroma com um das mãos no queixo, sentada de maneira desleixada, ela soltou um som nasal como se estivesse pensando. — Talvez por estar em forma astral e em meus domínios, seja capaz de ver minhas duas manifestações._ comentou nem um pouco interessada na pergunta do humano. — Uma constelação superior quase sempre manifesta mais de uma forma física, não é algo incomum._ acrescentou entediada.

"Constelação?  Formas físicas?" A confusão em seu rosto era evidente. E depois de dar uma espreguiçada, Chroma disse ao se sentar corretamente no trono.

— Está interessando em se tornar um deus, Lurion Tanluez?_ perguntou maliciosamente. — Estar acima de todos enquanto reina em absoluto?_ acrescentou sorrindo. — Posso lhe dar uma chance única, algo que nunca seria possível para sua existência inferior._ explicou lhe encarando com os olhos semicerrados e Lurion sentiu como se todo o seu ser estivesse à mercê daquela pessoa.

— Uma única chance de viver em Antreya junto dos outros deuses._ falou indicando o número 1 com o dedo. — Vai aceitar essa minha oferta?_ perguntou não tirando os olhos do rapaz.

"Eu tenho escolha?" Ele perguntou rapidamente, focando seu olhar sem medo na miragem da deusa.

— Naturalmente._ respondeu. — Eu não gosto de forçar ninguém._ explicou levianamente encarando o espaço estrelado que havia feito por capricho, apenas para conversar com os futuros jogadores. — Por isso, não o forçaria a participar do meu jogo, criança humana._ acrescentou dando um pequeno sorriso.

"Jogo?"

— Sim. Isso é um jogo._ falou estendendo a mão para a aparência astral ajoelhada de Lurion. — Se quiser um trono nos céus e se tornar um dos inúmeros deuses do Panteão, você terá que entreter as constelações e vencer seus desafios._ expôs sem esconder seu escárnio. — Não será fácil, mas para se ter algo maior que o valor da sua mísera existência criança humana, naturalmente você terá que sofrer._ revelou não se importando com as expressões do humano à sua frente.

"Não há nada de graça, não importa onde estivermos, isso não mudará, certo?" Pensou acreditando ter sorrido. Lurion estaria mentindo se afirmasse ter entendido tudo, mas o essencial já havia sido cravado em seu ser. Ele sorriu novamente, desta vez, com um sorriso maior e cheio de contentamento. Lurion concordou com o que aquela mulher, fosse lá quem fosse, havia dito.

Aquela era a maior chance de sua vida. A chance de descobrir seus limites e até onde poderia ir. Desta vez, não havia ninguém para lhe impedir. Ninguém para condenar suas ações. Lurion era um vilão e sendo um vilão, ele iria escalar o que fosse não importa qual fosse a maneira necessária.

Tendo recebido seu consentimento, a alma do humano brilhou e uma pérola azul escura apareceu nos dedos de Chroma no momento que ele desapareceu. — Um humano repleto de orgulho._ Chroma comentou ainda de olhos na pérola e no segundo depois a soltando entre os dedos, lhe deixando cair nas mãos do ser que estava sentando no chão e encostado no trono.

Lurion não conseguiu vê-lo, mas o anjo estava ali desde a aparição de sua mestra, sentado na escuridão, não ousando quebrar a conversa dos dois, mesmo querendo partir a alma do humano em pedaços por ousar olhar para sua mestra. — Isso não é bom? A senhora não prefere os orgulhosos?_ perguntou segurando a pérola com descaso, enquanto se levantava rapidamente e ficava na frente de Chroma, esperando suas instruções.

— Seres orgulhosos são sempre os mais interessantes Mefisto._ Chroma respondeu se levantando e fazendo o anjo levantar a sobrancelha em dúvida. — O que foi? _ perguntou não ligando para o humor do anjo que sempre a serviu e já sabendo o que havia em seus pensamentos.

— Não acho que seja necessário descer todo esse caminho até Rêverie apenas para levar essa alma humana para o senhor Void._ comentou. — Para essas coisas banais, apenas peça a mim ou aos meus irmãos._ acrescentou deixando claro que não gostava da ideia de saber que sua deusa se dava a tanto trabalho por uma existência inferior.

Passando a mão sobre os cabelos do anjo e os bagunçando no processo, Chroma riu, nunca se cansando da atitude do anjo. De todos os anjos que a serviam, Mefisto era de longe o mais sério e calmo. Os anos passavam e ele sempre continuava o mesmo, nunca mudando. 

— Quem disse que estou descendo?_ retrucou, rindo mais uma vez ao ver o rosto confuso do anjo. — Se há um vilão, tem que haver um herói, não concorda?_ perguntou sorrindo e encarando as estrelas.

Seria um jogo muito divertido, estava na hora de convocar aqueles que jogariam Antreya no caos.