História Anything For You - Are You Ready?

-Mãe, precisamos conversar.

-O que está acontecendo minha filha?- se sentou na cama e perguntou preocupada.

-Muita coisa está acontecendo, mãe.- falei seca- Eu vou te esperar na sala pra nós conversarmos. Não demore.- me coloquei de pé e saí imediatamente, percebendo que ela me encarava interrogativa.

 Desci as escadas e me joguei no sofá, esperando por minha mãe. Pouco mais de cinco minutos depois, ela se dirigiu até mim com uma expressão temerosa.

-Então querida, sobre o que quer falar?

-Eu sei de tudo.

-Do que você está falando, Beatrice?- dona Sônia tentava esconder o nervosismo.

-Mãe, eu quero que me diga de que lado você está.- falei segura e calma.

-Do seu, minha filha...sempre!- disse, passando as mãos no rosto de forma aflita.

-Então me ajude a entender a minha situação, a situação da nossa família. Eu não quero herdar...isso.- falei de forma que ela não tivesse escapatória senão me dizer a verdade.

-Beatrice, desde que você nasceu tudo o que eu tenho feito é tentar te livrar desse fardo. Você não tem ideia do quanto eu lutei para que você se tornasse diferente de todos eles.- finalmente, depois de 18 anos, minha mãe deixou que a máscara caísse e resolveu entregar tudo.

-E quanto ao meu pai? O que ele quer exatamente?

-Ele espera que você cumpra seu destino.- disse com tristeza- Mas minha filha, se eu consegui te manter fora disso até hoje, é possível que juntas nós possamos fazer a cabeça do seu pai para aceitar que isso não é o melhor pra você.

-Mas mãe, como ele pode impor que eu me torne uma verdadeira criminosa, sendo que nada me faria mais infeliz que uma coisa dessas.

-Meu bem, ele acha que isso é o melhor pra você e que você acabará encontrando a felicidade.- a cada palavra seu semblante se tornava cada vez mais preocupado e triste.

-Fizeram isso com você também, não é?- fui até ela e a abracei forte,  uma vez que mesmo que eu fosse forçada a tomar frente dos negócios do meu pai, minha situação ainda seria menos angustiante que a dela, que anos atrás foi obrigada por seu pai a se casar com um homem que não amava.

-Beatrice, eu prometo que enquanto eu viver, eu farei absolutamente tudo o que for possível para evitar que você se torne quem eles querem que você seja.

-Eu confio na senhora, mas eu acho que a partir de agora essa guerra não é mais sua. Eu só preciso que você me diga tudo o que sabe, para que eu possa entender melhor isso tudo e tentar planejar uma estratégia.

-O que quer saber, querida?- se sentou no sofá, indicando para que eu me sentasse também.

-Primeiro, o que Cameron tem a ver com isso? E que tipo de relação ele tem com o meu pai?

-Seu pai e Chad, o pai dele, são primos distantes. Eles sempre se deram muito bem, e acabou que Chad se tornou um dos membros da sociedade, que você já deve saber o que é.- assenti com a cabeça.

-E por que meu pai quis que ele ficasse perto de mim?

-Seu pai pediu para que ele te protegesse enquanto você vivesse aqui em Los Angeles. Como você sabe, ele não confia em ninguém, mas o mais perto que ele conseguiu chegar disso foi com Cameron...por causa do que ele fez por você...

-Como assim mãe? O que ele fez por mim.- a cada coisa nova que ela dizia eu ficava mais surpresa e angustiada. Desde o começo eu sabia que nada seria fácil, mas tudo aquilo que minha mãe me dizia só reforçava em mim o medo de não conseguir enfrentar o que estava por vir.

-No ano que você veio pra Los Angeles, quando seu pai e eu viemos te visitar pela primeira vez e saímos com você para um passeio, você quase sofreu um atentado.- falou de um jeito carinhoso e calmo, para que eu me assustasse o mínimo possível com a minha nova realidade.- E ele tomou um tiro pra te salvar.- minha boca se abriu, formando um círculo perfeito.

-Mas, como eu não soube disso. E o que ele estava fazendo perto de nós nesse momento?- tentei entender. Me sentia tão estúpida por ter vivido tão alheia à verdade até agora. Era como se uma guerra estivesse acontecendo a minha volta e eu não pudesse ver nada. Aqueles últimos dias, todos aqueles acontecimentos...era como se de repente o conto de fadas no qual eu acreditava viver se transformasse num livro do Stephen King.

-Cameron também não sabia de nada naquela época. Ele estava andando ali por perto e viu que você estava em perigo, então tentou parar o atirador e acabou sendo ferido. Você já deve ter visto que ele tem uma cicatriz...- assenti com a cabeça.

-Então era isso. Mas eu não consigo entender... Quer dizer, ele me odiava naquela época...

-Talvez não fosse isso que ele sentia por você. Sabe, implicância muitas vezes é sinal de outro tipo de sentimentos...

-Eu não entendo mais nada.- ri pelo nariz, sem humor.- Mas como meu pai o envolveu nisso?

-Seu pai viu tudo naquele dia, e o reconheceu como filho de um membro da sociedade. Então, convenceu Chad a fazer com que Cameron se juntasse à organização, para que assim ele pudesse o encarregar de proteger você. No início Chad não queria envolver o filho, como já tinha feito com o bastardo, mas acabou cedendo ao ver nisso uma oportunidade de Cameron acabar comandando tudo, caso se envolvesse com você.- permaneceu tranquila, como se estivesse tirando um peso enorme de suas costas.

-Então a intenção dele era se apossar de tudo que teoricamente seria meu de direito. É isso que ele quer, não é?

-Sinceramente minha filha, eu não acho. Talvez esse garoto possa ser a chave da sua liberdade...ou da sua ruína.

 Permaneci fitando a parede por alguns segundos, como sempre fazia quando ficava confusa. Dona Sônia se manteve onde estava, esperando que eu digerisse tudo aquilo e estivesse em condições de continuar com as perguntas.

-Mãe? O que você sabe sobre John?- balancei a cabeça, tentando me despertar temporariamente da minha infinita linha de raciocínio.

-Seu noivo?- assenti com a cabeça- Só sei que é fruto de uma traição de Chad com uma inglesa. Acho que nem de longe Chad tinha a mesma afeição por ele como tinha com os dois filhos legítimos. Mas ele sempre admitiu que John tinha uma esperteza acima do normal, por isso não pensou duas vezes antes de o colocar no meio disso. Eu tenho a impressão que ele cresceu com um pouco de inveja dos irmãos, principalmente de Cameron.

-Então eles tem mais um irmão, certo?

-Uma irmã. O nome dela é Sierra.

-E ela tem algum envolvimento com isso?

-Eu acho que nem a esposa de Chad nem a filha sabem de nada.

-Tem mais alguma coisa que a senhora queira me dizer, mãe?- perguntei e ela balançou a cabeça negativamente.- Então eu não quero mais que se preocupe com o meu futuro. Aja com papai naturalmente até que eu pense em um jeito de me livrar da sociedade.- dei um beijo em sua testa e levantei do sofá.

-Filha?

-Hum.

-Se precisar de qualquer coisa, saiba que eu estarei sempre do seu lado.- falou de um jeito doce e eu apenas sorri em retribuição.

-Agora eu vou subir, tomar um banho e dormir um pouco, afinal eu passei a noite em claro.

 Fui até meu quarto, tomei uma ducha demorada e vesti o meu pijama mais confortável. Me joguei na cama e ajeitei o edredom confortavelmente sobre mim, mas meus pensamentos não me deixavam relaxar.

 Eu não fazia ideia do que faria daqui pra frente. Agora eu sabia que minha vida estava sob constante ameaça e que meu pai queria que eu me tornasse uma pessoa sem escrúpulos.  Apesar disso, o pior de tudo ainda era o medo de que eu tivesse me apaixonado por alguém que em mim só via uma forma de conseguir o que queria.

 Com muito custo eu consegui pegar no sono.

 Acordei apenas às 20:00 hrs. Apesar de todo o estresse pelo qual eu estava passando, meu sono havia trago de volta toda a força que eu tinha perdido.

  Me levantei com toda a disposição e tomei um banho rápido. Não me incomodei nem um pouco em ter perdido todo o dia dormindo, afinal sempre fui uma pessoa noturna, minhas ideias ficavam mais claras e pertinentes durante a noite.

 Saí do chuveiro e me enrolei em minha toalha. Sem pensar muito, decidi tirar a noite para relaxar. Depois de tanto drama, eu precisava e merecia fazer tudo como nos velhos tempos. Chamar a minha melhor amiga e me acabar na balada. Vesti uma roupinha casual e peguei meu celular.

 Mesmo que provavelmente Ems estivesse em casa, eu resolvi ligar pra ela, só pra não ter o trabalho de a procurar.

-Ems, vamos para aquela boate perto da praia hoje?

-Me ligou por que? Por acaso não sabe que a gente mora no mesmo apartamento?- Emily disse e, para a minha surpresa bateu na porta do meu quarto e entrou.

-Nossa, você é rápida.- falei rindo, enquanto penteava meu cabelo.

-É que eu estava vindo aqui pra te propor exatamente a mesma coisa.

-Ótimo então. Que horas?

-Marquei com os meninos às 22:30.-disse com naturalidade.

-COMO?- falei alto mas em seguida percebi que não era pra tanto.

-Algum problema?- me olhou sem entender.

-Não. Nenhum. Mas... Quem vai?- engoli seco, tentando disfarçar o temor.

-Nash, os Jacks, Shawn, Matt, Cam e...Taylor.- falou do último toda boba, me fazendo esquecer do nome que veio antes deste.

-Huuuuuuuum. Acho que alguém voltou com o namorado.- tentei dar apoio.

-Nada disso, a gente só está pensando em dar mais uma chance para o nosso relacionamento.- não foi capaz de esconder a alegria só em falar do Taylor- A gente conversou por telefone hoje e ele foi super fofo comigo. Você acredita que ele me chamou de "assassina de corações"?!-continuou com um sorriso bobo no rosto e eu acabei recuperando meu foco.

-Certo... Assassino...- pensei alto.

-O que você disse?- indagou confusa.

-Ah, nada...esquece...eu só... Olha, eu acho que não vai dar pra eu ir.- tentei enrolar, mas Emily não era boba.

-É por causa do John, né? Você acha que vai criar problemas com ele?- disse com um tom compreensivo.

-Hum. É isso mesmo!- menti- Eu não quero desgastar o nosso...relacionamento.- Ems tinha acabado de me entregar a desculpa perfeita.

-Uma saidinha não vai desgastar o seu relacionamento, Bea. Ainda mais que você já fez coisa muito pior.- disse espontânea e eu ri- Além do mais, eu sei que você não está feliz com essa história de casamento e está precisando relaxar. Eu vou te levar naquela boate nem que eu tenha que te arrastar pelos cabelos.

 Resolvi não discutir mais. Eu podia muito bem dizer a ela que eu não queria ir por causa da minha história com Cameron e eu tenho certeza que ela entenderia perfeitamente, porém eu preferia lembrá-la o mínimo possível disso, já que ela já sabia de muita coisa.

 Não iria fazer nada diferente do que sempre fui. Nunca fui de fugir dos problemas, até porque eu sei que eles não vão desaparecer sozinhos. Como sempre, se fosse necessário, eu iria enfrentar Cam e acabar com tudo o que havia de mal resolvido entre nós.

  Vesti uma camiseta branca, uma saia preta, um casaco de mesma cor e um scarpin vermelho. Deixei meu cabelo solto e fiz uma maquiagem não tão pesada.

 Saí correndo pelas escadas já que, como sempre, Emily me esperava impaciente esparramada no sofá.

-Pronto, não precisa mais gritar!- desci o último degrau ofegante.

-Nossa amiga, desse jeito não vai ter pra ninguém! Se eu fosse homem casava com você...-falou com a típica cara safadinha e eu dei um tapa em seu ombro, rindo.

-Idiota! Você deveria é se preocupar com o seu homem, isso sim...

-Não tenho que me preocupar, ele já é meu, querida!- falou, passando mal de rir.- Você está preparada pra enfrentar o ex pai do seu filho?

-Você não precisava ter tocado nesse assunto. Mas eu acho que sim...