História Anything For You - Life

-Tudo bem. Você me pegou Sr. Bomer, eu não pretendo me casar com a sua filha simplesmente por amor. Nós dois sabemos que eu comandar a companhia seria de fato o melhor pra todos.- engoli seco, um de meus maiores medos acabava de se tornar realidade. Mas a decepção não poderia afetar minha capacidade de executar minha estratégia. Era a minha vida e meu futuro que estavam em jogo.

 Julguei que o melhor a fazer seria me fingir de boba e agir como se tudo se mantivesse na mais perfeita ordem. No entanto, não suportaria continuar escutando aquilo, por isso decidi intervir.

-Pai!- fui até a porta do meu quarto e bati a mesma, para simular que estivesse acabando que sair dali.

-Minha filha, eu ainda não terminei.- meu pai disse num tom quase rude, bastante impaciente, mas eu fui obrigada a passar por cima de sua autoridade.

-Me desculpa pai, mas eu acho que já foi dito o suficiente. Eu entendo que queira me proteger, e aprecio muito isso, mas agora nós precisamos ir.- desci as escadas altiva e dei um beijo na bochecha de meu pai.

-Garoto, não se esqueça de que ainda temos muita coisa pra acertar.- soou amistoso, mas sem perder o ar ameaçador.

-O senhor pode se instalar no quarto de hóspedes. Nós só vamos acertar algumas coisas para a cerimônia e eu já volto pra casa.- falei, antes de sair do apartamento.

 Permanecemos em silêncio enquanto esperávamos o elevador e eu mantive a expressão sisuda, para disfarçar a dor que sentia pelo que havia ouvido momentos atrás. Apesar de tudo, não iria me abater por aquela revelação que, de certa forma, já era esperada.

-Tudo bem, Bea?- perguntou enquanto entrávamos no elevador vazio. Eu apenas assenti com a cabeça em resposta.- Não parece.- falou sorrindo malicioso ao mesmo tempo que me pressionava contra aquela parede de metal segurando meu rosto.

-Nem tudo é o que parece, não é verdade?- sorri cínica.

-O que está acontecendo com você? Antes de virmos pra cá você estava toda carinhosa com o seu futuro marido.- Não se abateu pela minha frieza, se mantendo na mesma posição e até arriscando me dar um selinho.- O que foi?

-Nada, só não acho que aqui é lugar pra isso. A qualquer hora alguém pode aparecer.- o afastei de mim com as mãos, e só então me dei conta de que não podia agir de maneira estranha, afinal ele não podia desconfiar de que eu sabia do que ele havia dito.

-Beatrice, eu não acredito que você está preocupada com isso.- riu fraco.- Essa definitivamente não é você.

-Eu só estou um pouco confusa.- selei nossos lábios rapidamente. Deus, o que eu não daria por um cigarro agora...- Nada que um passeio não resolva.- sorri timidamente e a porta do elevador se abriu.

 Cameron entrelaçou nossas mãos enquanto seguíamos em direção ao carro, e eu fingi contentamento.

-Onde você quer ir primeiro, Bae?- falou de um jeito fofo, mas eu me obriguei a manter o foco e me desligar o máximo possível dos efeitos daquele homem sobre mim.

-Não sei. Acho melhor marcarmos a cerimônia primeiro.

-Sobre isso... Eu acho que minha mãe faria questão de um casamento na igreja.- falou divertido, mas um tanto sem jeito e eu revirei os olhos sem conter o riso. Entramos no carro.

-Pode até ser, mas dessa vez vamos nos restringir a parentes e amigos mais próximos. E eu não quero ter que ficar fingindo coisas pra sua mãe.

-Quem disse que você tem que fingir?- me olhou por poucos segundos, antes de voltar seu olhar para a estrada novamente.

-Ah sim, realmente, acho que o melhor seria mesmo dizer: "Olha sogrinha, por mais que eu esteja me casando com seu filho aos 18 anos de idade, para evitar ter que eu tenha que assumir sozinha uma sociedade que trafica mulheres inocentes, eu espero poder te dar 15 netos saudáveis".- Cam gargalhou e eu permaneci o encarando com uma falsa seriedade.

-A história dos 15 netos saudáveis não seria má ideia.- disse com um sorriso sacana e eu dei um tapa em seu braço, me rendendo ao riso.

-Eu nem sei se vou sobreviver até o casamento...- falei do nada, sem a mínima noção de que de fato eu corria perigo de vida, agora mais que nunca.

-É claro que vai. Eu já te disse que enquanto eu viver nada vai acontecer com você.

-Será mesmo, Cam? Até que ponto vai a sua sinceridade?- indaguei, mas logo me arrependi do que disse.

-Você tem todo o direito de desconfiar de mim, Bea, mas se realmente quer que isso dê certo você vai ter que disfarçar...- falou, finalmente perdendo a paciência.

 Cada palavra que saía de sua boca me lembrava do que eu havia ouvido há pouco. Não que eu esperasse que ele me amasse mais que sua própria vida ou alguma coisa assim, mas por um momento eu tinha me dado conta de que eu realmente queria que fosse verdade. Eu estava perdidamente apaixonada por um personagem. Talvez cada gesto seu desde o dia que nos conhecemos não tenha passado de uma farsa.

"I used to think that I could trust you

I was your woman

You were my knight and shining companion

To my surprise

My loves demise was his own greed and lullabies

With your big eyes

And your big lies"

Eu pensava que podia confiar em você

Que era sua mulher

Você era meu cavaleiro radiante

Para a minha surpresa

O legado do meu amor era sua própria ganância e suas canções de ninar

Com seus grandes olhos

E suas grandes mentiras

                                           Lana del Rey- Big Eyes

...

2 Semanas Depois

-Bea, vai dar tudo certo. Relaxa, você deve estar esperando um encontro com a família Addams, mas são só meus pais. Seus sogros.- falou calmo, e riu do meu pavor em encarar a situação.

-Ok, eu só estou preocupada porque não é todo dia que eu tenho que fingir que sou normal.

-Você não é normal, você é muito melhor que isso.- falou de um jeito fofo... Foco Beatrice!- Só se lembre de que a relação dos meus pais é complicada, portanto evite qualquer assunto que possa chegar de alguma forma a uma briga entre os dois.- saiu do carro e deu a volta para abrir a minha porta.- E antes que eu me esqueça. Você não sabe que meu pai tem um filho fora do casamento, você nunca foi noiva de ninguém, e você não sabe que é herdeira de uma conspiração multimilionária que trafica mulheres.- falou sério, mas não pude conter o riso.

-Uau! Acho que com tanta sinceridade junta eu nem vou precisar mentir.- ironizei.- E se alguém perguntar quem é meu pai ou o que ele faz?- saí do carro e entrelacei nossas mãos.

-Você diz exatamente o que sabia sobre ele há meses atrás. E não se esqueça que meu pai sabe quem você é, e ele acha que você não sabe, então provavelmente ele vai ficar extremamente satisfeito com o nosso casamento.

-Cam, quanto mais você fala mais nervosa eu fico.

-Tudo bem, vou parar com isso.- apertou a campainha- Agora, nade ou morra afogada.- falou sorrindo de um jeito divertidamente malvado e eu o encarei em reprovação.

-Sejam bem vindos!- Gina, mãe de Cameron, disse assim que abriu a porta com um largo sorriso no rosto.- Até que enfim eu vou conhecer a mocinha que roubou o coração do meu filho.- me abraçou carinhosamente, o que de alguma forma me tranquilizou em relação às minhas expectativas.

-É um prazer conhece-la Sra. Dallas!- tentei ser o mais doce e simpática possível.

-O prazer é todo meu, filha.- passou a mão pela lateral do meu rosto afetuosamente.- Você é mesmo linda!-  nem em minhas teorias mais positivas eu imaginava que minha sogra fosse uma pessoa tão gentil e amorosa.

 Definitivamente chegava a ser revoltante pensar que aquela doce criatura pudesse ser tão negligenciada pelo marido. Pelo que Cam me contava, seu pai possuía inúmeras amantes, e por diversas vezes chegou a agredir a esposa, além do fato que era um grande criminoso por trás daquela pose falsa de pai de família.

-Entrem!- Gina disse entusiasmada e Cam passou para o lado de dentro da casa, praticamente me arrastando junto.

-Cam!- uma moça desceu as escadas gritando e abraçou meu noivo calorosamente.

-Sierra, essa é Beatrice, minha noiva. E Bea, essa é a minha irmãzinha, Sierra.- Cam disse e a garota me abraçou empolgada.

-É um prazer conhece-la, Sierra.- mantive no rosto um sorriso leve e receptivo.

-Meu Deus, nem acredito que teremos mais alguém na família! E eu exijo sobrinhos...pra ontem!- disse sem qualquer filtro e eu ri sem graça.

-Vamos até a sala de estar. Seu pai está impaciente.- Gina disse e nós a seguimos. Enquanto andávamos pelo largo corredor, Cameron segurava forte a minha mão, quase como se temesse alguma coisa.

 Chegamos à sala de estar, que era apenas um dos inúmeros cômodos de mesma finalidade naquela casa gigante. Nos deparamos com o pai de Cam, que fumava um charuto de frente para uma janela grande.

 Assim que nos ouviu chegar, Chad se virou e depositou seu charuto em um cinzeiro que ficava em um aparador imponente no canto da sala.

-Pai, essa é Beatrice, minha futura esposa.- Cameron falou num tom um pouco mais baixo que o normal, quase com medo, e pudemos presenciar um sorriso satisfeito se formar nos lábios de Chad.

-Mas que notícia incrível é essa do seu casamento, meu filho! Estava um tanto incrédulo com relação ao fato de VOCÊ se casar, mas agora que conheci sua noiva consigo entender. É mesmo extraordinária a beleza desta moça!- com certeza Chad, mesmo que indiretamente, se referia ao fato de eu ser filha de quem sou, e não à suposição de eu ser uma sereia que hipnotiza os homens com o meu rostinho bonito.

 Para a surpresa de todos na sala, o pai se aproximou e me deu um beijo nas mãos. Gentileza claramente inusitada de sua parte.

-Srta. Bomer, seja bem vinda à família.

...

 O grande dia finalmente chegou.Meu grande dia chegou. O dia em que minha vida deve mudar para sempre.

 Não que eu esteja realmente feliz com toda essa situação, nem que eu alimente uma falsa ilusão de que depois do casamento nós possamos fugir para uma ilha paradisíaca e criar nossos 14 filhos lá. Mas, apesar de tudo, nos últimos dias eu aprendi a aceitar meu destino, e aceitar meus sentimentos. Ao meu discurso de aceitação, eu dei o nome de "Aquilo que eu gostaria de ter dito".

 Decidi me conformar com o fato de que meu futuro é bem questionável, portanto eu quero ter a segurança de que, aconteça o que acontecer, Cameron vai saber o que eu sinto. Pode ser que não signifique nada para ele, mas é importante para mim que eu faça tudo o que puder para torna-lo humano.

 Sem mais pensamentos perturbadores, eu devo ir. Todos os que estavam comigo já partiram para o local da cerimônia, e o motorista da limusine que me levará até a igreja já está me esperando há quase uma hora, e eu não quero adiar mais esse momento.

 Tento enfiar todo o tule do meu vestido para dentro do carro, mas paro antes de entrar. Meu celular toca insanamente, e eu atendo.

-Bea, pronta para se casar com o cara mais gostoso do mundo?- uma voz extremamente convencida me fala pelo telefone.

-Eu sei que o noivo não pode ver a noiva antes do casamento, mas deve existir alguma regra quanto a isso tambem...- falei divertida, enquanto enfiava aquela bola de tecido para dentro do veículo e me sentava no banco de trás.

-Ems acabou de me dizer a mesma coisa, mas Eu acho que todo o azar que poderíamos ter tido nós já tivemos, meu amor...- Cam disse, e eu percebi quem era o motorista, que me olhava com um sorriso maroto pelo retrovisor.

-John...- murmurei incrédula.

-Desliga o celular, Bea.- ordenou enquanto dava partida no carro e eu acatei.