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História Após a Morte de Um Panteão - A Deusa dos Parafusos Soltos


Escrita por: BriasRibeiro

Notas do Autor


pra quem ainda não entendeu, nessa fic eu tô usando pronomes ele/o e ela/a com Melog, dando normalmente preferência a ele/o.

Capítulo 3 - A Deusa dos Parafusos Soltos



- She-Ra se tornou um alvo dos imperialistas de Remnant.

O começo do discurso de Catra é categórico, mas mais uma formalidade do que um informativo: todos os acólitos e aldeões já sabem o que aconteceu tintim por tintim.
- Há dois dias, fomos atacados por um grupo de cinco assassinos de Remnant, após duas caçadoras tentarem recrutar a Deusa do Poder para a sua causa. A resposta imediata à recusa nos leva a crer que para eles, se não estamos com eles, estamos contra eles, e portanto devemos ser eliminados.

Silêncio. Adora, parada ao seu lado durante todo o discurso com os dedos entrelaçados aos seus, aperta sua mão.
- Iremos nos mudar, e nada poderá ficar para trás. Melog encontrou um novo local, numa pequena ilha próxima a Ménagerie. Não podemos deixar o menor vestígio de que um dia, nosso templo e nossa vila estiveram aqui.

Catra percebe que algumas cabeças na multidão se abaixam, mas não ouve um protesto sequer.
- Eu, infelizmente, não poderei acompanhá-los durante o seu percurso.

E dessa vez, ela sente os mais de quinhentos olhares presentes simultaneamente sobre si, todos com um único questionamento: por quê?
- Ontem à noite, Melog descobriu que Salem está planejando algo. Para proteger a... paz mundial – Catra se sente incrivelmente estúpida dizendo isso, visto que o mundo se encontra em estado de guerra constante há anos, mas ela sabe que se adicionarem Salem à mistura, o caos que conheceram até então parecerá uma piada – uma intervenção rápida se faz necessária, e todos nós sabemos que Ozpin nunca moveria um dedo por ninguém.

Silêncio. Não há concordância, discordância, protesto, só uma pergunta nos olhos deles: “e quanto a nós?”. Por dentro, Catra se sente mortificada.
- She-Ra e Melog vos protegerão.

Catra dá um passo para trás, se afastando da dianteira do palco, desvencilhando seus dedos dos de Adora, e desce pelo fundo, indo se encontrar com Melog enquanto She-Ra e alguns dos seus acólitos mais importantes tentam acalmar a multidão.
- Hey. Eu sei que você está aí – ela murmura ao ar, caminhando entre as pilastras do templo – apareça logo.

Dito e feito, Melog se materializa à sua frente. Uma corrente de pensamentos e sentimentos dele imediatamente invade a mente de Catra.
- Awn, você vai me dar reforço? Que fofo. Mas se for necessário, você seria capaz de lutar contra a deusa mais pirada que já surgiu com somente uma parcela do seu poder?

Melog possui um dom que Catra gosta de chamar de “semi-onipresença”, só para irritá-la. Ela é capaz de dividir sua consciência em diversos lugares ao mesmo tempo enquanto as mantém conectadas, e teletransportar-se à vontade não somente entre elas, como para qualquer lugar do mundo. O lado positivo é que Catra, She-Ra e os acólitos estão sempre informados de tudo o que acontece no mundo, o tempo todo, sem que ninguém tenha informações sobre eles. O lado negativo, para Melog pelo menos, é que seu poder mágico bruto fica dividido.
- Você que sabe – replica Catra, diante da confirmação de Melog. No momento seguinte, tudo ao redor dos dois desaparece, e gira como se estivessem num redemoinho, e então o redemoinho some e dá lugar a um local completamente novo. Catra cruza o braço sobre o peito, sentindo calafrios. Odeia esse lugar.

O reino de Salem se localiza n’algum lugar de Anima, no supracontinente de Remnant. Poças negras que parecem petróleo se estendem até onde a vista alcança, e vez ou outra uma daquelas criaturas nojentas da Salem, às quais ela chama de grimms, se arrastam para fora. Há alguns séculos, Salem tentara inundar Remnant com essas suas criaturas, dando criação à profissão dos caçadores, mas nos últimos anos, passara a perceber essa estratégia como ineficiente e recolhera suas forças para o coração do seu reino secreto.
- Vamos logo, Melog. Quanto antes sairmos daqui, melhor.

[...]

Um homem-escorpião se levanta subitamente.
- Onde... onde...? – sua cabeça gira em confusão. Ele não é capaz de ver um palmo à sua frente, e tateia ao redor, procurando a beira da maca, cama, seja lá onde for que ele se encontra deitado. Tyrian sente uma presença próxima – general Ironwood?

Uma luz bruxuleante de vela se acende na escuridão, revelando um rosto completamente branco, com o que parecem veias vermelhas o cobrindo, olhos vazios entre negro e escarlate. Tyrian não faz a menor ideia de a qual raça essa mulher poderia pertencer. Ele se lembra de estar muito perto da morte por conta de um bando de religiosos armados com bestas e arcos e uma garota-gato de olhos bicolores. O que houve depois daquilo?
- Levante-se Tyrian. Oh, meu fiel servo, o que fizeram com você?
- Onde está Ironwood? – o homem-escorpião pergunta, esfregando a cabeça em confusão. Ele tem a sensação que suas memórias estão se esvaindo – preciso... reportar... o que houve?
- Ironwood? Você deve estar confuso, Tyrian... não há Ironwood algum aqui.
- Ele é o meu chefe...
- Não, Tyrian. Eu sou a sua mestre.

Os olhos de Tyrian se cruzam com os da figura misteriosa pela primeira vez e ele entende. Sim, está confuso... de onde tirou que algum dia teria servido Ironwood? Fora tão idiota por pensar nisso. Quem é Ironwood?
- Oh, claro... eu estou me lembrando agora – aquele nome, que ele já não lembra mais qual é, some da sua mente. Qualquer rosto que um dia possa ter associado a ele, vai-se junto com o nome.

Salem é sua rainha, e sempre foi.
- Venha, Tyrian. Seus companheiros estão esperando por você – ela lhe dá as costas, se dirigindo para fora da sala escura.
- Minha rainha, se me permite a pergunta... – Tyrian vai logo atrás dela – como nós escapamos?
- Vocês estavam gravemente feridos, mas conseguiram recuar. Hazel os tirou de lá.

Tyrian estava prestes a perguntar quem é Hazel, mas ele logo se lembra. Um homem grande, estoico, poderoso. É claro que ele sabe quem é Hazel, eles sempre trabalharam juntos.
- Todos nós, minha rainha?
- Sim, todos os três.
- Três...? – ele pensa em dizer que tem quatro subordinados, mas não consegue se lembrar quem deveria ser o quarto. Algo em sua mente lhe diz que está sendo estúpido: eles sempre foram um time de quatro.
- Sim, Tyrian – Salem guia seu servo até um corredor e o leva até uma grande porta cor-de-vinho – entre, seu time está esperando.
- Sim, minha rainha...
- E, Tyrian. Não saiam deste quarto até eu mandar. Receberei visitas de uma velha amiga daqui a pouco.
- Sim, minha rainha.

Quando Tyrian adentra o quarto, vê todos eles, são, salvos, sem ferimento algum: Cinder Fall, Emerald Sustrai, Mercury Black. É um quarto simples bom dois beliches, duas mesas-de-cabeceira uma ao lado de cada cama, tapete, janela, cortinas, uma escrivaninha e uma porta que dá num banheiro. Cinder se senta à escrivaninha, escrevendo algo, e Emerald e Mercury se sentam um na beira de cada cama, todos em completo silêncio. Ninguém lhe dá atenção alguma ao entrar.

Tudo está exatamente como deveria ser.

[...]

No momento em que Catra adentra o horrível palácio de Salem, é interceptada logo na entrada por alguns daqueles grimms de aparência lupina dela. A Deusa dos Gatos sorri de lado, debochada.
- Vocês sabem que aquela coisa de que gatos têm medo de cachorros é só um estereótipo, não é? – ela segura seu bastão retrátil escondido às costas, pronta para lutar. Os monstros de Salem não reagem. Catra já esperava por isso, sua criadora nunca se preocupou em lhes dar consciência própria.

Os lobos rosnam baixinho, e Melog começa a assumir uma leve coloração avermelhada, rosnando de volta, crescendo ligeiramente.
- Bem-vindas ao meu reino, Catra, Melog – a voz falsamente educada de Salem corta os rosnados de suas criaturas, que se silenciam. Melog torna a assumir sua coloração azulada padrão e se cala – a que devo a honra?

As civilizações mortais costumam chamá-la de Deusa do Caos, Deusa da Criação e do Conhecimento, Rainha dos Demônios, entre outros nomes, dependendo de onde e quando você pergunta. Catra prefere simplesmente chamá-la de Deusa dos Parafusos Soltos. Os olhos bicolores de uma se cruzam aos rubro-negros demoníacos da outra e, num milésimo de segundo, Catra percorre os cinquenta metros que as separam, parecendo teleportar-se, e posta-se bem diante de Salem, do outro lado daquele grande salão, seus rostos tão próximos quanto Catra faz com Adora quando pretende beijá-la, exceto que dessa vez não há afeição em seus olhos, e sim ameaça.

Salem não parece nem um pouco impressionada.
- Você se esqueceu d'O Pacto – Catra sibila à outra. Por cima de seu ombro, vê Melog se postando silenciosamente atrás dela.
- Essa é uma acusação incrivelmente grave – Salem desanimadamente se finge de ofendida – que provas você tem, oh grande Deusa das Bolinhas de Pelos?

Catra pende a cabeça para o lado. A sua expressão diz que a única coisa que a impede de matar Salem naquele mesmo momento é a sua imortalidade absoluta.
- Não me desafie, Deusa dos Parafusos Soltos. E não me venha pedir por provas como se eu fosse uma idiota. Acha que eu e Melog não mantemos um olho em você desde que assinamos o Pacto? Acha que alguém além dessas aberrações que você cria seria louco o suficiente para confiar em você?
- Só o que eu estou fazendo é reforçar as defesas do meu reino – Salem empurra Catra, afastando-a. Seu tom é falsamente inocente, como se nem sequer estivesse tentando disfarçar. “Cínica”, pensa Catra – você sabe, com todas essas guerras ao nosso redor ultimamente, é melhor estar preparada.
- E a Donzela do Outono? – retruca Catra – como explica seus grimms se encontrarem a milhares de quilômetros daqui para emboscá-la? Todos nós sabemos que você sempre quis roubar o poder das Donzelas, sua mentirosa de uma figa.
- Ah, você sabe... eles têm estado tão agitados ultimamente, posso ter perdido o controle de alguns.  E você sabe como eles são rápidos, resistentes, e não precisam descansar, não é? Eles poderiam facilmente chegar “a milhares de quilômetros daqui”, como você afirma.
- Você não está enganando ninguém, Salem.
- E daí? Quem vai me impedir? – o sussurro de Salem é tão ameaçador quanto o de Catra nesse ponto – quase todos os deuses daquela época estão mortos ou desistiram da própria consciência. Ozpin e Mermista não ligam. She-Ra é só uma garota inocente a quem você manipula a cada renascimento. E vocês dois... – ela solta uma risadinha debochada. Por cima do ombro de Salem, Catra vê seu fiel parceiro aos poucos assumindo uma coloração avermelhada, que se torna cada vez mais intensa, até que ele esteja completamente tomado por um escarlate forte e pareça duas  vezes maior do que quando entraram.
- Não nos desafie, Deusa dos Parafusos Soltos – Catra sibila.

E numa fração de segundo, Catra saca o seu bastão e faz um corte lateral mirando na cabeça da Salem, e ao mesmo tempo dezenas de grimms irrompem pelo salão, e Melog solta um rugido ao mesmo tempo que se vira para enfrentar os monstros, enquanto o golpe de Catra atravessa a cabeça de Salem como se ela fosse feita de fumaça, e seu corpo lentamente se desmaterializa e materializa de novo não muito longe dali.
- Você quer mesmo fazer isso? – o tom de Salem carrega um leve deboche. A resposta de Catra é a ponta do seu bastão sendo enfiada na cara da inimiga, que dessa vez não consegue se esquivar e cai para trás, o nariz sangrando. Estancando o sangramento com a mão, ela encara Catra do solo – você sabe que não faz diferença alguma. Não pode me matar, e não pode lutar contra o meu exército inteiro.

Pelo canto dos olhos, Catra percebe que Melog já lidou com todos os grimms que invadiam o salão há pouco, e seus corpos jazem no chão, gradualmente se tornando fumaça. Pelo tremor da terra no entanto, ela sabe que esses não foram nem o começo.

“Precisamos sair daqui”, Catra escuta as intenções de Melog alto e claro. Catra só tem uma resposta para isso:
- Por cima do cadáver dela.

E avança de novo contra Salem, pronta para desferir mais um golpe de bastão, mas sente um baque nas costas e no instante seguinte, Catra e Melog caem noutro lugar. Há uma camada fina de neve, pinheiros, nenhuma alma à vista.
- Cacete, Melog! – ralha Catra, mas antes que possa continuar sua mente é invadida por uma onda de pensamentos do companheiro. Ela vê Tyrian e os outros assassinos que invadiram o templo aquele dia, vivos, num tipo de dormitório. Vê vários outros homens e mulheres, faunus, elfos e outras raças, e não os reconhece, mas algo lhe diz que deveriam estar mortos – que isso? Melog, que porra é essa?

O deus-felino se senta, encarando Catra como quem diz “o que você acha?”, e a garota-gata grunhe e soca o chão.
- Porra! Filha da puta traidora! Eu sabia que nunca devíamos ter confiado nela! Ela está ressuscitando os mortos, não está?! É isso que você está me mostrando, não é Melog?! Essa é a pior forma de abuso de poder que um deus pode cometer!

Melog emite sons que Catra entende como se fossem palavras. Ela não está apenas os ressuscitando, está manipulando suas memórias e pensamentos, criando um exército dos mais habilidosos guerreiros caídos, sendo servida pelas mais brilhantes mentes do passado, todos eles escravos de sua vontade.
- É claro que ela está! Manipuladora de uma figa, é o modus operandi dela, sempre foi! Porra! E onde tá o Ozpin nisso tudo?! Ele que devia controlar essa ex maluca dele!

A corrente de mensagens seguintes soa como uma bronca.
- Mas eu TENHO um plano! Me conhece há mais de mil anos e ainda não confia em mim?! Eu só ia descer a porrada naquela desgraçada antes de seguir com o meu plano!

O olhar de Melog é como o de alguém que duvida. “Que plano é esse?”, ela lê em sua expressão sem precisar que nada seja transmitido.
- Primeiro, encontramos as Donzelas das Estações antes que aquela bruxa feiosa as encontre. Trazemos elas para a segurança e as mantemos perto de nós. Isso também vai aumentar nosso poderio bruto. Depois, vamos atrás dos deuses que ainda estão vivos e conscientes, começando por Ozpin. Mermista deveria ser o nosso segundo alvo. Ela gosta da She-Ra e controla os mares, se tudo der errado podemos pelo menos isolar o estrago para um único continente. Se trouxermos todos esses que eu citei para o nosso lado, já teremos nove deuses contra uma. Quanto a um exército para parar o dela... ah, meu deus, por que humanos têm que ser tão estúpidos?! Ok, eu penso nessa parte depois, mas temos que começar enrijecendo o treinamento bélico dos acólitos e recrutando mais. Mermista talvez tenha alguns fiéis também, mas eu é que não sou burra de esperar algo assim do Ozpin. Ei, você tá me ouvindo?

Melog se distraía com uma borboleta há sabe-se lá quanto tempo enquanto Catra falava. Ela grunhe em confirmação. Catra não acredita muito, mas deixa sua desconfiança de lado.
- Ok, então você sabe onde está o Ozpin?

Catra sente que Melog quer que ela se aproxime. Assim que ela toca a nuca do companheiro, os dois deuses desaparecem no ar.


Notas Finais


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teorias??????????????? :v


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