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História Após a Morte de Um Panteão - Cidade Impenetrável


Escrita por: BriasRibeiro

Notas do Autor


oi gnt. Ent, é o seguinte.

já faz um bom tempo q eu tô com um projeto bem grande de um universo/série de livros de fantasia. Por isso, pouco a pouco eu to convertendo essa fic numa história 100% original, até pq o sistema mágico dela fui eu quem criei e eu tava usando o mesmo sistema nessa outra série. A produção dessa história e do universo está bem lenta por conta do meu trabalho e diversos projetos literários simultâneos, mas tá indo de pouco em pouco. Eu tenho até o cap 24 ou 25 dessa história escrita, mas dps disso eu n pretendo continuar escrevendo ela como fanfic, e sim transformá-la num original. Vcs leriam essa história numa versão original?

por conta de eu estar sobrecarregada e essa história ser extremamente complexa de se desenvolver, levaria um bom tempo para eu terminá-la. Eu vou continuar postando ela enquanto tiver material, mas não sei se vou terminar essa história como uma fanfic. Talvez eu deixe a versão fanfic incompleta e publique a versão original completa depois, mas é um projeto que ainda vai muito longe.

Capítulo 17 - Cidade Impenetrável


O helicóptero de guerra barulhento não é capaz de distrair Yang dos seus pensamentos.

Blake foi capaz de guardar segredo dela, sobre a coisa mais importante da sua vida: o paradeiro de sua irmãzinha, Ruby Rose. Elas estiverem praticamente do lado uma da outra, e Yang só descobriu quando já era tarde demais.

Sua própria esposa.

Se Yang descobrisse que Blake andou dormindo com outras pessoas, não teria se sentido tão traída.

O tal do Levi Cye, o líder da missão, se senta no meio do banco do helicóptero, entre as duas. Yang olha pela janela, absorvendo a paisagem do Reino da Terra, enquanto Blake lança olhares para a esposa vez ou outra, sem nunca ser retribuída. Queria poder falar com ela. Se desculpar. Tentar fazê-la entender o seu ponto de vista, o medo e a dúvida que sentiu.

Levi Cye não parece nem um pouco confortável com a situação.

– Ok, qual é a de vocês duas? A Especialista Schnee praticamente me obrigou a fazer vocês virem no mesmo helicóptero, e vocês me fazem sentar no meio de vocês, e agora ficam com isso? Vocês tão precisando de uma DR aí, se querem saber minha opinião.

– A Weiss... – começa Blake, surpresa.

– Cye, não se mete – retorque Yang, por cima da esposa – quanto falta para chegarmos?

– Estamos quase lá – o homem indica uma cidade no horizonte.

As lendárias muralhas de Ba Sing Se não estão mais lá. Claro, já faz mais de um século que foram derrubadas e substituídas por sistemas modernos de defesa, muito mais eficientes do que aquelas muralhas medievais, mas Ba Sing Se continua sendo chamada de “A Cidade Impenetrável”.

Os relatórios da Coalizão indicam uma guarnição enorme e bem-treinada, programas de treinamento militar e armamento civil, baterias antiaéreas espalhadas por toda a cidade, fortes ao longo das suas fronteiras, e fortes guardas armadas nas estradas.

Não fosse as especialidades mágicas de Veronica Sangie e Levi Cye, provavelmente os helicópteros já teriam sido derrubados.

– Fiquem atentas, garotas – murmura Levi Cye, espichando o pescoço na direção da janela, sem se levantar, para melhor ver a cidade.

Yang e Blake obedecem: não são tolas o suficiente para subestimar as defesas da Cidade Impenetrável.

Exceto pelo som das hélices, um silêncio pesado se abate sobre o grupo. O helicóptero de seus companheiros as segue, de perto. Os postos militares nas estradas não lançam olhar algum em sua direção. Não há tentativa de contato por rádio.

O subúrbio na periferia de Ba Sing Se começa a ser sobrevoado.

Mesmo de longe, é possível ver o quanto o local é pobre: a maioria das casas são mais barracas de madeira construídas improvisadamente do que casas de fato. Boa parte delas parecem cortiços. O local tem um aspecto sujo, infeliz, e as ruas são lotadas de gente em roupas que mais parecem um amontado de panos aleatórios as cobrindo, pois foi o melhor que conseguiram achar revirando as latas de lixo dos bairros ricos.

Algumas viaturas policiais se espalham aqui e ali. São os únicos objetos naquele subúrbio com uma aparência limpa e bem-cuidada, e os oficiais da polícia que se encontram próximos ou dentro dessas viaturas, as únicas pessoas a não ter uma aparência miserável. Muitos são os civis que parecem evitá-los, ou se retraem ao passar por perto deles.

Não é muito diferente das favelas de Vale, pensa Yang.

O helicóptero atravessa o subúrbio e chega ao que parece uma zona industrial ao sul da cidade, contornando ao redor do centro após terem chegado do oeste, e pousa no topo de um galpão.

– Finalmente – Yang pula pra fora do helicóptero, esticando os braços, costas e pernas. Blake a observa de longe. Reflete se deve tentar falar algo: Cye está conversando com os dois caçadores e a equipe de apoio do outro helicóptero. Yang está a sós, bem ali na frente dela, distraída, se alongando.

É só chamá-la para conversar.

– Xiao Long! Belladonna! – o comandante da missão as chama.

– Estou indo! – a loira acena ao trio e logo se junta a eles, e lá se vai a chance de Blake. Suas orelhas se abaixam em tristeza, e ela segue logo atrás da esposa. Ao menos, espera que ainda seja sua esposa.

[...]

Uma semana se passa até que Korra finalmente possa ver sua professora preferida novamente. E que professora, ela suspira.

Naquele dia, Asami aparece na sala parecendo uma verdadeira modelo, usando salto negro de quase 10cm, um vestido simples branco com flores vermelhas, e óculos escuros. Ela remove os óculos assim que entra na sala e oferece aquele sorriso jovial para Korra:

– Bom dia, Avatar. Leu o livro que combinamos?

– Li! Duas vezes! – ela responde animada, tira o livro da pasta e o devolve à sua professora.

– Miyasato Kojuro era realmente genial, não?

– Ah-sim, claro... Miyasato Kojuro – concorda Korra, confusa por um momento. Ela logo se lembra da capa falsa do livro, a história inventada por Asami para que ela pudesse lê-lo sem ser incomodada.

– Bom! Na aula de hoje, vamos fazer um pequeno teste sobre alguns dos fundamentos desenvolvidos por ele. Está pronta?

– Ahhh, professora! Você não tinha avisado que ia ter um teste! – reclama Korra – além disso, eu nem...

– Não se preocupe, é coisa bem simples – Asami a interrompe, e apesar do sorriso macio, Korra percebe os olhos duros de sua professora. É como se eles dissessem: “nem mais uma palavra” – só para checarmos o que você entendeu.

Korra assente, e Asami entrega uma única folha.

Korra assina seu nome, a data do teste, e começa a ler as perguntas.

 

Quais os principais ensinamentos do Mestre Iroh, enquanto Mestre Dobrador de Fogo?

 

Korra deixa o queixo cair por um momento. Arregala os olhos e lança um olhar assustado para sua professora, bem tranquila em sua poltrona, lixando as unhas e com um caderninho aberto sobre o seu colo.

– Sim, Korra? – ela pergunta, a voz tão calma e serena que é como se sequer tivesse notado que o seu teste não menciona engenheiro algum – alguma dúvida?

– Ah-não, senhora.

Korra responde às perguntas, uma a uma, com facilidade, até chegar à última. Aquela última pergunta não havia sido respondida pelo livro.

 

Como Lorde Iroh se tornou e deixou de ser o Grande Lótus?

 

Ok, não é totalmente verdade. Ela sabe responder a primeira parte da pergunta, mas não a segunda.

A sua ficha cai.

O processo de escolha de Iroh para o cargo de Grande Lótus nunca, jamais, envolveu parte alguma de nenhum dos governos da Aliança. Na verdade, as práticas da sociedade eram secretas e desligadas do governo até... cerca de vinte anos atrás. Korra levanta lentamente a cabeça para Asami.

– Professora, eu estou com uma dúvida – ela faz uma pequena pausa. Mais uma vez, aquela sensação de estar sendo vigiada por mil pares de olhos a invade – hã... n-na verdade... huh...

– Diga, Korra – ela sorri. Aquele sorriso leve, gentil, afetuoso. Mais uma vez, combinados àqueles olhos duros, quase imóveis, como se a censurasse.

– Hã, eu... estou em dúvida nessa equação aqui – e aponta para a décima questão da folha. Asami se levanta, vai até ela, e sorri ao ler a pergunta.

– Eu realmente esperava que você fosse perguntar. Nós ainda não estudamos isso – ela diz, dando tapinhas amigáveis nas suas costas – vamos estudar o conteúdo do livro dessa semana, e te darei uma apostila para estudar para a próxima aula, ok?

Ela escorrega uma apostila de exercícios de eletrônica em cima da mesa. Korra guarda o livro em sua pasta sem checar o que tem dentro: já desconfia.

– Então, vamos começar a aula de hoje...

E pelos cinquenta minutos seguintes, Asami fala apenas e exclusivamente sobre o tema que ela é suposta ensinar.

Naquela noite, Korra mal pode esperar para terminar o banho para começar a ler seu livro novo.

 

[...]

 

Fazia tempo que Blake não tinha uma semana tão ruim.

É como se Yang sequer a conhecesse. Mal olha na sua cara, não lhe dirige a palavra, sequer a procurou para que ajudasse com o seu “disfarce” – quando Blake viu, ela já tinha aparecido com os cabelos cortados mais curtos, pintados de preto, lentes castanhas, e uma sutil maquiagem que alongava os seus olhos.

A angústia é grande demais para que Blake consiga admirar esse visual novo de sua... esposa?

Ao menos em teoria, elas ainda são casadas, mas Yang nunca ficou assim antes.

– Deixa que eu falo. Meu sotaque não é tão forte quanto o seu – murmura Veronica Sangie a Blake, sua companheira de infiltração. A ideia é conversarem com os locais e montar um quadro da opinião local sobre a guerra, e principalmente, as figuras de autoridade. Blake assente: imagina como os outros estão.

Yang se recusara a fazer parte do mesmo grupo que Blake.

– Olá, meu bom senhor! – Sangie se faz animada demais. Parece até Ruby, quando elas eram adolescentes. A memória traz um gostinho ruim na boca de Blake – nós estamos passando por aqui, e pensamos...

O homem abordado é um velho de barba cheia, pele escura, que cuida de uma barraca de legumes de aparência ruim entre muitas outras, cujo a expressão neutra rapidamente se transforma numa desconfortável e desconfiada assim que Sangie começa a falar. É como se soubesse desde o começo que elas não pretendem comprar nada.

“Ela não é nem um pouco sutil”, conclui Blake, checando seus arredores. Veronica imediatamente começara a tentar engajar o homem numa conversa sobre sociedade e política. A infiltração deveria ser mais sutil. Ela com certeza é só uma estudante com um semblante conveniente e a extremamente conveniente habilidade de falar a língua do Reino da Terra.

Ainda assim, ela é mais adequada para a missão do que Yang: ela não fala nenhuma língua além de Remnant Ocidental. Não conhece nenhum tipo de processo mágico que possa ser útil numa infitração. Nunca treinou para isso e não tem experiência alguma nisso.

Weiss realmente faria isso por elas? Mesmo sendo uma idiotice sem tamanho?

– Sangie – Blake sussurra, cutucando o ombro da garota, os olhos fixos em dois policiais que caminham entre a multidão. Talvez estejam vindo direto pra elas, talvez seja uma mera coincidência, mas Blake não vai ficar ali para descobrir.

Ah, não sei você, mas eu realmente não concordo com como eles vivem cheios de luxo, num palácio, enquanto mandam nossos jovens para a guerra e mantêm nossos idosos na miséria...

– Sangie – Blake sacode o ombro da garota um pouco mais agressivamente. Ela lhe lança um olhar de censura.

– Calma! Tô tentando uma coisa aqui! – ela sussurra, de mau humor, e Blake indica com a cabeça na direção dos policiais.

– Vamos logo! – Blake puxa a garota pelo ombro e as duas desaparecem entre a multidão. Logo chegam numa viela, onde se abrigam, segura desses policiais estejam eles procurando por elas ou não – Sangie, regra básica: NUNCA fale nenhuma língua de Remnant em público.

– Eu falei baixo – a jovem reclama, cruzando os braços e desviando o olhar, incomodada.

– Não interessa, mesmo falando baixo alguém pode ouvir. Você realmente acha que alguém daqui fala Mistrali?

Sangie encolhe os ombros, como quem tenta esconder o constrangimento. Ainda se recusa a olhar para Blake.

– Seria muito fácil nos identificar como espiãs – continua Blake – nós seríamos...

– Tá, tá, tá. Eu já entendi. Vamos voltar pra base logo.

Blake suspira e segue a caçadora mais jovem de volta ao galpão. Tem a sensação que ultimamente não está fazendo nada além de incomodar as pessoas e sendo uma grande inútil.

Enquanto isso, noutra parte do subúrbio de Ba Sing Se, Yang observa de longe enquanto Levi Cye e Koa Lynx conversam animadamente com um grupo de artesãos. Ao contrário de Veronica Sangie, eles haviam conseguido deixar os locais bem à vontade, e logo todos estão animadamente criticando tudo de errado que o seu governo anda fazendo.

Yang, é claro, não fala uma palavra da língua local, e deve se fingir de surda-muda o tempo todo.

Em vez de estar sendo inútil aqui, fazendo o que menos sabe fazer enquanto caçadora, ela poderia estar em Remnant, sendo útil nas linhas defensivas da costa de Anima e procurando por pistas do paradeiro de sua irmã.

Isso a põe para pensar: que razão Ruby teria para estar naquele templo, às escondidas dela e de Blake?

Pra começar, os governos das quatro principais nações de Remnant, todos negam a existência, atual ou histórica, de quaisquer criaturas divinas, e de repente ela mesma e Blake estavam juntas numa missão de recrutamento. Ok, Yang já fora a muitas missões de recrutamento: tem carisma, força, atitude, é o tipo perfeito para convencer potenciais agentes e aliados a se juntar à Coalizão. Blake, sendo a garota quieta e observadora que é?

Estranho.

Pelo canto do olho, Yang percebe Lynx Koa caminhando rapidamente em sua direção e gesticulando freneticamente. Yang atenta os olhos nele, sem entender o que ele quer dizer, e subitamente ele e Cye desaparecem.

Yang já sabe muito bem que deve ficar parada quando isso acontece: Cye é capaz de esconder a presença de qualquer coisa que toque. Poucos segundos depois, uma mão forte a agarra na parte alta do braço e dois homens surgem à sua frente. Ela sabe que, nesse momento, se torna invisível aos outros.

– Lynx?

– Já está feito.

O tal do Koa Lynx tem a capacidade de estimular as pessoas a desviarem sua atenção de alguma coisa. É perfeito para que se desmaterializem no meio de uma multidão sem que ninguém perceba nada de estranho.

– O que houve? – sussurra Yang. O trio invisível se enfia entre as pessoas e parte numa linha reta para fora do mercado ao ar livre.

– Retirada estratégica.

[...]

Recentemente, Mako deixara o apartamento que ele costumava dividir com Asami, para se juntar a Bolin e outros membros da unidade de guerrilha no subúrbio da cidade.

É um tanto solitário, mas não é algo ruim. A solidão é pacífica. Dá mais tempo para Asami pensar e se concentrar mais em seus planos. Até aqui, tem conseguido ir bem. Ela se lembra de mais cedo, quando antes de entrar para a aula de Korra, um agente Dai Li revistara suas coisas.

– Ok, tudo certo – dissera ele, naquele sotaque rústico, típico do Reino da Terra.

Claro que não havia nada certo. Aquelas não eram apostilas de eletrônica e aqueles testes nada falavam sobre a matéria que ela devia estar ensinando.

Imagina o escândalo que seria se descobrissem que Asami Sato, filha do proprietário de uma das maiores indústrias do Oriente e professora pessoal da Avatar, é versada no estilo de magia ocidental?

Ok, “versada” talvez seja uma palavra forte demais. Ela sabe algumas coisas básicas sobre ocultação, ilusão e convencimento. Consegue fazer as páginas parecerem algo que não são, consegue tornar algumas coisas invisíveis por um curto período de tempo, e de alguma forma, consegue fazer as pessoas confiarem mais nela, como se pudesse aumentar a própria carisma ou passar uma aura mais confiável.

Claro, ela teria conhecimentos muito mais profundos se tivesse estudado esse estilo mágico em que se canaliza a própria força vital, em vez da energia do ambiente, desde cedo, e caso se esforçasse um pouco mais: mas o que tem, é suficiente.

Enquanto Asami espera o seu cup noodles ficar pronto, algo é enfiado por baixo da sua porta. Um envelope. Suspirando, a mulher se levanta, deixa o jornal sobre a mesa e vai pegá-lo.

Não se preocupa em abrir a porta e checar quem pode ter deixado aquilo ali.

Ela abre o envelope.

É um relatório de Ba Sing Se. Aparentemente, uns agentes especiais de Remnant foram localizados pela revolução. Cada página contém fotos e as informações já recolhidas de cada agente. No final, a assinatura do chefe da polícia de Ba Sing Se.

Asami sorri de lado. As chances dos governos da Aliança não terem sido informados é bem grande: o príncipe Wu, do Reino da Terra, está do lado da revolução, e trouxe uma boa parte da força policial e militar estacionada na capital do país para o lado da Lótus Branca – a verdadeira Lótus Branca.

Os tais agentes de Remnant haviam sido vistos em vários mercados e feiras ao longo dos subúrbios da capital. Sua base, se é que existe, não fora localizada. Precisariam de especialistas nessa magia ocidental para conseguir segui-los: eles sempre parecem desaparecer no ar quando percebem estar sendo vigiados.

“Talvez tenha outra forma de estabelecer contato”, pensa Asami. Então, ela fecha os olhos e visualiza o rosto de Korra em sua mente. “Foco”, ela se diz, e deixa o envelope de lado.

Isso é problema deles, não seu. Ela tem que se focar em Korra. Ela foi quem conseguiu passar por todas as muralhas construídas pelo governo do Império do Fogo até a Avatar, e a única que pode lhe dar alguma luz da realidade, algum quê de questionamento à sua situação. Ela é a sua porta de saída. A chave para a desmoralização do Império. Pois quando até mesmo a Avatar criada por eles se voltar contra eles, e revelar a lavagem cerebral que tem sofrido praticamente desde que nasceu, é quando o povo vai se revoltar contra esse governo tirano, totalitário, que mantém o Oriente numa guerra infinita e impossível contra o Ocidente, por razão alguma além de vingança.

Asami suspira em frustração.

Seu próximo passo é importante: fazer Korra entender a natureza de Vaatu e Raava, e em seguida, a verdadeira história da Aang.

História essa que pouquíssimas pessoas realmente conhecem.

 

[…]

 

Yang joga uma pesada sacola junto de várias outras, no canto do galpão ao qual estão usando como base. No fim, a sua especialidade mágica tem tido alguma mínima utilidade, afinal.

Enquanto o networking dos infiltrados ainda não dá resultado, eles estão se preocupando em juntar armamentos, veículos, comida não-perecível e outros suprimentos – boa parte roubadas dos militares e da polícia local.

Ter alguém capaz de carregar várias vezes o próprio peso é bem útil quando se precisa de um burro de carga.

– Hey, você qu-

– Eu tô bem – Yang corta uma sorridente Blake. Se vira pelo outro lado, evitando olhar para ela, e volta ao seu “quarto” (melhor dizendo, os sacos de dormir amontados num dos cantos do galpão, separados uns dos outros por paredes de pano e papelão improvisadas) sem dizer nem mais uma palavra.

– Uau. Que frieza – aquele tal Koa Lynx comenta ao cruzar com Yang. Sendo um homem de mais de 1,90 e corpo forte, ele carrega uma grande caixa de madeira cheia de ferramentas num dos ombros. Yang o ignora e passa por ele, revirando os olhos – já assinaram o divórcio?

A loira dá um dedo do meio pro homem e segue até o seu canto.

Fora um dia produtivo: conseguiram até mesmo um jipe, graças aos semblantes combinados de Blake e Veronica. Yang prefere não pensar nessa parte.

A dor da traição ainda é forte demais. Pior ainda, está presa aqui com ela, do outro lado do mundo, longe de qualquer lugar onde seja possível sua irmã estar.

Seus músculos doem. É um alívio quando finalmente se deita, meio de qualquer jeito, em seu saco de dormir. Sua boca está seca: ah, é. Quando Yang finalmente se atreve a uma olhada de esguelha à esposa, ainda parada perto de onde Yang largara as sacolas com cara de gatinho abandonado, ela vê uma bela garrafa de água gelada em suas mãos.

Suspirando, Yang torna a se levantar e caminha até o lado de fora. O grupo não tem um filtro de água. O único acesso que têm à água potável é em bebedouros públicos ou comprando em lojinhas de conveniência pela cidade.

Tem uma lojinha de conveniência perto de um posto, não muito longe dali. Yang pensa em aproveitar para comprar uma caixa térmica e um saco de gelo. Tinha um bom dinheiro na carteira que aquele oficial deixara no banco do caminhão – quer dizer, parece um bom dinheiro, ela não faz ideia de como a moeda do Reino da Terra funciona.

Ah, que porre.

Há um espaço de uns cinquenta metros livres entre o galpão e a rua. Quando está quase chegando lá, Yang percebe na distância uns jipes militares se aproximando, feito um comboio. Ela se atenta a eles, mas como costuma acontecer, espera que somente passem reto, totalmente ignorantes da sua existência. Yang alcança a calçada e se põe a caminhar na direção daquela loja de conveniência, fingindo a tranqulidade de uma civil que não fez nada de errado e não tem nada a temer. Instintivamente puxa o capuz um pouco mais por cima da cabeça, os ouvidos atentos aos motores dos jipes.

E então, os motores param. Yang espia por cima do ombro: são três carros militares, todos estacionados diante do galpão. Eles vestem os uniformes amarelados do exército do Reino da Terra e aqueles fuzis negros, diferentes dos rifles brancos de Atlas ou das escopetas castanho-avermelhadas do Império do Fogo.

Yang estaca onde está. Ela conta pelo menos uns dez soldados, todos eles se posicionando por trás dos muros que cercam o galpão, como se prontos para atacar. Quatro outros homens, esses em uniformes diferentes – Yang logo os reconhece como aqueles tais de “Dai Li” – descem do jipe que liderava o comboio, olhos predatórios fixos no galpão.

A loira – agora de cabelos pretos – leva a mão ao bolso instintivamente. “Porra”, pensa, ao não encontrar seu rádio.

Uma contra catorze? Parece justo.

– Hey, filhas da puta – ela chama. Em Remnant Odidental, ainda por cima. “A audácia da desgraçada”, pensa Yang, rindo consigo mesma. Ela arranca esse seu horroroso capuz cinza, similar ao que todas essas pobres almas da periferia de Ba Sing Se usam para rastejar, miseráveis, por aí, e revela-se numa regata laranja brilhante, calça cargo, músculos definidos e duas manoplas douradas, uma em cada mão – procurando alguma coisa?

Bem que ela estava querendo algo pra descontar a raiva. Parece que esse “algo” vai ser “alguém”.

Tudo parece acontecer em câmera lenta: pegos de surpresa, os soldados demoram um pouco pra reagir. Os Dai Li é que vêm pra cima primeiro, os quatro dando uma pisada no chão em sincronia e lançando três rochas do tamanho de uma cabeça humana contra Yang.

A caçadora enfia o punho na pedra do meio, enquanto as outras duas passam rente à sua cabeça, e completa o movimento com um disparo da outra manopla, mirando os agentes especiais do Reino da Terra. Uma pequena muralha de pedra se forma rapidamente, bloqueando seu disparo.

Yang sente aquela raiva borbulhante em suas veias, mas a segura. Ainda não é o momento.

Seus olhos brilham em lilás – uma cor nunca encontrada nos olhos orientais. Os Dai Li gritam qualquer coisa que Yang não faz ideia do que significa, criam uma barreira em frente aos soldados e eles abrem fogo contra a pseudo-morena, que se joga atrás dos jipes, se protegendo dos disparos.

Seus companheiros já devem ter ouvido. Logo estarão num combate generalizado bem no meio da cidade e então, não demorará muito para que os caçadores sejam a caça de uma cidade inteira.

Ela quer pelo menos pegar aqueles Dai Li antes que seus companheiros cheguem. Tem alguns segundos, imagina.

Yang pula por cima do jipe e é imediatamente recebida por outra saraivada de balas e, mais uma vez, os Dai Li parecendo dançar em sincronia, que lançam pedaços de asfalto e fazem o chão tremer aos seus pés.

Um tremor não pode atingi-la se ela estiver voando.

E ela voa, usando o capô do jipe para se impulsionar, permitindo que a sua fabulosa aura dourada encubra todo o seu corpo, seus cabelos e braços flamejando majestosamente ao vento, mas ainda contendo a tampa da panela de pressão no lugar.

As balas voam e ricocheteiam em sua aura dourada, tão inofensivas quanto bolinhas de isopor, e Yang desce feito um foguete contra os agentes especiais. Em sincronia, eles criam uma barreira de pedra que a loira atravessa feito papel com um soco e, ao pousar no chão, completa o movimento com um chute alto giratório. Os Dai Li não são burros o suficiente para tentar bloquear o golpe e pulam para trás, o perigoso pé da caçadora passando rente aos seus olhos.

Yang nem bem termina o golpe, já avança contra eles mais uma vez, numa fúria tão amedrontadora que até mesmo os melhores dobradores de terra do planeta ficariam nervosos – ela sabe. Vê em seus olhos.

Um murro no meio do peito de um deles, parcialmente bloqueado por uma parede de terra que provavelmente salvou a vida do homem, arremessa o seu corpo feito uma boneca de pano, vários metros para trás, onde ele cai, ofegante como se todo o ar de seus pulmões tivesse sido expulso de uma vez. O “crack” do momento do impacto deve ser para denunciar algumas costelas quebradas. Os Dai Li gritam coisas que Yang não entende, uma nova saraivada de disparos voa contra ela e mais uma vez, um escudo de aura dourado bloqueia os tiros enquanto ela engaja os três Dai Li restantes.

Pelo canto dos olhos, ela identifica seus companheiros adentrando a luta: Koa Lynx agarra um dos soldados pelo colarinho, arranca o fuzil da sua mão e o arremessa com força contra os jipes. Veronica e Levi Cye abrem fogo de algum lugar que Yang não consegue ver, e os soldados estrangeiros fazem o que podem para se proteger, o que não significa muito: três deles caem sob os disparos, gritando de dor, talvez pedindo por ajuda.

Ela percebe as sombras de Blake tomando o campo de batalha, a verdadeira prestes a atingir os Dai Li distraídos. Yang nunca deixaria uma coisa dessas acontecer, ainda mais agora.

Seus olhos assumem aquela coloração escarlate. Seus ouvidos se ensurdecem aos gritos, uns furiosos, outros amedrontados, naquela língua desconhecida. Ela agarra dois dos Dai Li restantes, um por cada braço interceptando sua dobra e se prepara para arremessá-los ao chão.

Com a força que seu semblante lhe confere agora, um movimento desses provavelmente iria matá-los, mas Yang não consegue mais se importar. Não com essa dor que sente, não com a mágoa da traição, a frustração, a desesperança de nunca ver Ruby de novo, de nunca descobrir o que aconteceu com ela.

Já não bastava Summer, Qrow e sua mãe desaparecendo, um a um.

Ela sente uma lágrima solitária rolar entre as chamas que consomem o seu corpo e evaporar logo em seguida. Yang solta um urro bestial quando começa a arremessar os dois homens ao chão.

O movimento de Yang é interrompido. A loira é arremessada para trás e cai de costas, logo após um violento choque com um borrão preto-e-roxo. Ela tenta desferir um soco contra seja quem for que a impediu de finalizar aqueles Dai Li, mas a mulher desvia.

Uma linda mulher. Blake Belladonna.

Ela agarra os pulsos de Yang e os força contra o asfalto.

– O QUE ESTÁ FAZENDO?! – Yang grita na sua cara. Os Dai Li já começam a se levantar. Eles têm os olhos fixos nas duas: ela precisa se levantar, AGORA.

A expressão de Blake é dura. Não é aquela face de gatinha abandonada, não é aquela aura de culpa e arrependimento.

– Te salvando de você mesma – ela sussurra.

Os Dai Li têm as mãos erguidas na altura do peito, como se em sinal de paz. Os soldados ainda de pé, jogaram suas armas fora ou as seguram junto ao corpo. Veronica, visível novamente, parece ajudar um deles a se levantar e logo começa a tratar os ferimentos de bala na lateral do seu abdômen e braço direito.

– Que porra...?

– São rebeldes, Yang – Blake sussurra – era o que estavam tentando dizer. E você... Yang, a gente conhece a sua força. Aquilo teria matado eles. Você não é uma assassina.

– Estamos numa guerra, Blake – Yang sibila de volta – não vamos fingir que nunca matamos ninguém.

– Nunca executamos ninguém, pelo menos – Blake se põe de pé, muito mais próxima daquela postura altiva que ela costumava ter.

Yang nota suas luvas de ambas as mãos arregaçadas, sua pele em carne viva. Enquanto se vira lentamente para os seus companheiros e os tais rebeldes, ela parece especialmente cuidadosa em tentar se livrar das luvas. Yang flagra uma expressão de dor.

É a vez dela de sentir culpa.

Se não tivesse perdido o controle, não teria machucado sua esposa. Se tivesse sido capaz de checar a situação antes de atacar, não teria ferido e quase matado potenciais aliados.



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