História Aprofundando Laços - NARUHINA - Epílogo

As mãos enrugadas e levemente manchadas buscaram-se até se encontrar, sobre o apoio de braço da cadeira de balanço. Era cedinho, de manhã. O médico recomendara que eles deveriam tomar um pouco de sol, todos os dias, neste mesmo horário, logo após a aurora. Fazia bem pros ossos.

As cadeiras estavam dispostas no gramado intensamente verde da frente da casa. Hinata continuava muito caprichosa com suas plantas e, depois da "aposentadoria", Naruto passara a ajudá-la. Na juventude, nunca tinha tido muita paciência para isso, mas descobrira ser uma verdadeira terapia e forma de ocupar o tempo.

Mas não se enganem. Ele não era ocioso. Aquele, definitivamente, não era o tipo de palavra que combinava com nosso herói. Ele ainda participava ativamente dos assuntos da vila, como conselheiro da Kyudaime Hokage, que possuía um apreço e respeito muito grandes pelo Sétimo.

Naruto sentiu o leve ardor do sol em sua pele, inalou profundamente o ar fresco e um pequeno sorriso brotou por entre as marcas de expressão de seu rosto. Gratidão. Viveu muitos momentos tensos e tristes, como ninja e como Hokage, mas Konohagakure estava em paz. O mundo shinobi estava em paz, do jeito que um dia, há tempos atrás, ele prometera que deixaria. Sua missão estava cumprida e sentia confiança na geração que estava responsável agora e na que ainda estava se formando também.

Felicidade. Além de atingir seus objetivos, ele sentia-se completo. Pleno.

Olhou para o lado. Para o perfil dela. Os cabelos haviam assumido um tom lilas clarrissimo, que caia tão bem nela quanto o negro petroleo caira um dia. O corte era semelhante ao de quando se conheceram, ainda muito crianças, com a única diferença de que, agora, ela usava uma franja lateral. Sua pele, tão branca como marfim, tinha alguns vincos e riscos, no entanto, aquilo lhe conferia uma austeridade tão incrível que era comum vê-la arrancar reverências por onde passava.

Os olhos continuavam como um pequeno vislumbre da lua. Eles ficaram mais visíveis quando ela virou em sua direção, atraída pela persistência do olhar dele. As bochechas coraram de leve. Sim, até hoje elas ainda coravam quando Naruto a encarava intensamente e aquilo ainda fazia seu coração bater forte, pelo simples fato de saber ainda mexer com ela a este ponto.

— Naruto-kun… O que foi? Porque está me olhando assim?

Ele sorriu abertamente. Hinata sempre se impressionava com aquele sorriso porque, mesmo sendo emoldurado pela pele um tanto engelhada e manchada e pelos cabelos de algodão, evocava aquele jovem gennin cabeça oca com um sonho nos lábios, o qual fazia questão de gritar aos quatro ventos.

— Não é nada, só me faz bem te olhar.

Ela sorriu, encabulada. Se Boruto estivesse ali, certamente diria que eram dois velhos babões apaixonados. Mas dizia isso com um carinho notório, que sempre fazia Hinata e Naruto se entreolharem e gargalharem. 

Isso havia acontecido no último aniversário de Hinata, há alguns meses, quando a família toda havia se reunido. Era uma família grande, portanto, reuniões assim só aconteciam em ocasiões especiais. Boruto ajudava a Vila pelo lado de fora, seguindo o caminho de seu mestre, então não era sempre que  ele estava por ali. Kushina, a filha mais nova, morava em Suna, mas fazia chamadas de vídeo todas as noites. A caçula, que nascera com os fios vermelhos da avó homônima e olhos lilases claríssimos dos Hyuuga, era pontual nas chamadas e sempre estava preocupada se os pais haviam se alimentando bem, se estavam tomando suas medicações regularmente e seguindo as recomendações médicas. Ela ainda puxara o gênio da mãe do loiro, ou seja, ai deles que esquecessem de alguma coisa.

Kawaki e Himawari moravam próximo, com suas respectivas famílias. Desse modo, suas visitas eram bem frequentes.

Mas as reuniões de família eram o ponto alto para o casal porque podiam ver todos os netos aprontando e virando a casa de ponta cabeça. Cada um dos filhos parecia ter herdado a vontade de fogo dos pais, porque era um total de sete netos. Todos muito apaixonados pelos avós.

Naruto apertou um pouco a mão de Hinata.

— Obrigado, meu amor.

Pega de surpresa, Hinata tornou a virar o rosto em sua direção.

— Pelo quê?

— Por ter me dado a familia maravilhosa que nós temos. Por ter me dado tanto amor e nunca desistido de mim. Obrigado por ter sido meu esteio por todos esse anos e por ter sido essa esposa e mãe perfeitas. Essa mulher maravilhosa, corajosa e guerreira. Obrigado por existir. Sem você, eu jamais seria o que sou hoje. Eu jamais seria feliz como sou hoje. Obrigado por me deixar te amar como eu te amo.

Hinata estava com lágrimas nos olhos.

— Por que está me falando isso hoje?

— Porque eu jamais quero partir sem ter dito como me sinto. A partir de hoje, vou te falar sempre, todos os dias. Nós não vamos viver pra sempre e, um dia, vamos partir.

— Aonde você for eu vou, porque você é o meu sol. Não existo sem o seu brilho. Você realizou todos os meus sonhos e mais. Eu te amo.

O brilho dos olhos azuis tremeluziu, devido às lágrimas que acumularam-se ali. De mãos dadas, em um aperto firme, eles continuaram a se olhar, o olho de um sendo o espelho da alma do outro.

Amor. O mais puro e sublime Amor. Eterno.

— Hinata…

— O que foi?

— Antigamente, na escola, quando perguntaram com quem gostaríamos de passar nosso último dia na Terra… Eu não consegui escrever o nome de ninguém. Eu não conhecia os meus pais e não tinha nenhum amigo. Mas… Agora, eu já sei quem eu escolheria. Eu… quero ficar junto com você.

"A partir de agora, para sempre, até eu morrer. Quero ficar junto com você, Hinata."

Trecho de Naruto: the last

Fim