História Arraiá bão sô! - Olha a cobra! É mentira.

— Olha a cobra! Ah não, é só o Donghyuck. — Gargalhou com seus amigos, os únicos que riam com as falas irritantes e sem graça de Minhyung.

— Eu vou socar a cara desse moleque. — Fechou os punhos com raiva.

— Se controla, Hyuck, é exatamente isso que ele quer, te tirar do sério. Vamos. — Jaemin passou o braço pelos ombros do moreno e continuaram seguindo para a quadra da escola.

A aula de educação física começaria em poucos minutos e todos já sabiam o que lhes seria proposto, afinal, junho chegou, trazendo consigo a festa junina da escola, a qual sempre foi obrigatória a participação em pelo menos uma atividade. Para a infelicidade de Donghyuck, ele esqueceu de se juntar a qualquer outra coisa que não fosse a quadrilha, quase pulou do pé de alface da hortinha da sua avó quando percebeu que as inscrições para tudo havia chegado ao fim.

— Bom dia alunos, como sabem, quem já está responsável por jogos, comida e outras coisas podem ir para as arquibancadas combinar tudo com seus colegas, quanto a quem não se juntou a nada, vamos ensaiar a dança.

— Droga, eu esqueci de me juntar a outra atividade, me diz que você também esqueceu e vai fazer par comigo porque eu não tenho amizade com mais ninguém nessa sala.

— Foi mal, Hyuck, mas eu não esqueci não, eu e Jeno convencemos o professor a deixar a gente fazer uma barraca do beijo.

— Como que vocês conseguiram esse feito?

— Bem, só expomos os fatos, muita gente quer beijar eu e o Jeno, então isso vai arrecadar bastante dinheiro para a escola. — disse convencido.

— Fique longe de mim depois que a festa acabar, não to afim de pegar sapinho.

Jaemin foi se juntar ao namorado, teriam eles mesmo que montar a barraca, deixando Haechan no meio da quadra com o professor e os azarados que teriam de dançar, se questionando do porquê eles tinham que fazer toda essa palhaçada estando no último ano do ensino médio.

— Muito bem, vamos começar formando os pares, sobraram mais garotos do que garotas, então alguns garotos terão que dançar juntos e não quero ouvir ninguém reclamar. — disse o professor Chittaphon com um sorrisinho presunçoso no canto da boca. Começou com os pares mistos até sobrar apenas os meninos, Haechan que apenas agora percebeu Mark ali e se desesperou por dentro, qualquer um menos ele. Pensou. — ...e por fim, Minhyung e Donghyuck.

Dois pares de olhos assustados encararam o professor, depois se olharam entre si, assumindo uma expressão raivosa.

— Não vou dançar com esse idiota, professor, por favor, qualquer um menos ele!

— Eu muito menos, não vou dançar com esse viadinho!

— Ora, seu…

Haechan estava prestes a avançar no pescoço do garoto preconceituoso, mas Chittaphon entrou no meio.

— A menos que não queiram ficar com zero neste semestre, vão dançar sim. E você Mark, cale a boca antes que eu te coloque na detenção pelo resto do mês por ser um preconceituoso de merda.

Todos presentes na quadra ficaram perplexos com a fala do mais velho, que tinha a expressão calma, mas as palavras saíram carregadas de irritação.

Demorou um pouco para o clima pesado entre o professor e o aluno passar, mas logo todos se voltaram a suas ocupações e Chittaphon começou a passar a coreografia, Haechan e Mark não falaram nada para não irritar mais o professor, mas de longe se via o ódio no olhar deles um para o outro.

— Que desgraça! Eu vou chegar em casa e esfregar minha pele até sair o cheiro de hétero top homofóbico nojento do Mark, só de falar o nome dele me da vontade de vomitar! — gritou para os amigos sem se importar com quem mais ouvisse pelo corredor.

— Não sei não, ele ‘tá mais ‘pra gay encubado que quer te pegar, você não é o único homossexual da escola e ele só implica com você. — Jeno concluiu, parecendo realmente considerar essa ideia.

— Não, você ‘tá viajando, e outra, ele sendo ou não, eu nunca, nunquinha na minha vida vou beijar ele, nem que me paguem!

No caminho para casa eles pararam para comer juntos em um restaurante, estavam comendo quando viram o professor Ten com um outro homem, pareciam bem íntimos, até seguravam as mãos.

— Ele é gay? — O casal explodiu em gargalhadas, deixando Haechan confuso.

— Primeira vez que vejo um gay que não reconhece o outro. Lógico que ele é, por mais qual outro motivo ele teria dito aquilo na aula hoje? Fora que sempre foi óbvio. —  disse Jaemin

— Ah, calem a boca! Eu não fico especulando a sexualidade dos outros… Ainda não entendi o porquê dele ter me colocado com o Mark, além de preconceituoso ele vive pegando no meu pé, o professor já viu acontecendo várias vezes.

— Assim como eu ele deve achar que o Mark gosta de você e não sabe se expressar, ele só está dando um empurrãozinho ‘pra vocês.

— Por Zeus! Ele não gosta de mim e eu odeio ele!

Os dias foram se passando, Donghyuck percebeu que Mark não havia implicado mais consigo, o que para ele é estranho, pois antes em qualquer mínima oportunidade o canadesce estava em seu encalço, agora este até aparentava estar o evitando, nas aulas de educação física eles não trocavam uma palavra, mas o mais velho percebia que o moreno evitava ao máximo encostar em si, nunca o olhava nos olhos e quando tudo acabava ele ficava aliviado por não precisar mais estar ao seu lado. Talvez Haechan estivesse até mesmo sentindo falta de ser perturbado, mas bem, bem lá no fundo.

A intenção de Mark nunca foi fazer Haechan ter aversão de si, eram só algumas implicâncias aqui e ali, ou será que já havia passado dos limites? Talvez sim, no começo era pouca coisa, mas com o incentivo dos amigos ele acabava mesmo fazendo alguns comentários maldosos, até ele mesmo se sentia reprimido ao lado daqueles que chamava de amigos.

— Merda, hoje tem educação física, vou ter que ficar perto daquele idiota de novo, eu não aguento mais isso, não vejo a hora de acabar. — Escutou a voz diferente e bonita de Donghyuck, ele havia acabado de entrar no banheiro com Jaemin, parecia não ter percebido que uma das cabines está ocupada.

— Dá um desconto pro garoto, ele até parou de te encher pelos corredores, faz tempo que ele não faz nada, quem não para de falar nele é você. — disse de modo sugestivo.

— Está querendo insinuar o que? Quando isso acabar não quero ver ele nem pintado de ouro na minha frente, nem mesmo se ele tiver ingressos para o show do Red Velvet!

Jogou o papel o qual secou a mão no lixo e saiu do banheiro junto com o amigo. Mark pensava em como poderia reverter essa situação depois de tanto tempo, Donghyuck o odiaria para sempre?

— Ótimo! Encerramos por hoje, no sábado cheguem uns minutinhos antes do início da festa para repassarmos, estão dispensados.

O professor Ten disse e o sorriso de Haechan poderia iluminar a quadra se estivessem em um desenho animado, até mesmo esqueceu de desenroscar seu braço do de Mark, quando percebeu fez uma careta e se soltou do canadense, mas antes de poder dar o primeiro passo para longe do mais velho foi segurado pelo mesmo.

— Ei, me larga! — Puxou seu braço com facilidade, pois Mark não o segurava com força.

— Eu só quero conversar, só isso.

— De jeito nenhum, quanto mais tempo eu passo longe de você, melhor pra mim. — Começou a andar em direção a saída da quadra.

— Mas…

— Não. — Nem mesmo se deu o trabalho de olhar para trás e seguiu seu caminho.

Mark suspirou pesado olhando o moreno sumir de sua vista e depois fechou os olhos, inclinando a cabeça para cima.

— Eu sabia que aí tinha coisa. — disse o professor ao parar ao lado de Minhyung, o assustando e olhando confuso para o tailandês. — Ser preconceituoso não é a melhor forma de se aproximar e de conquistar alguém, na verdade é burrice mesmo. Você deveria para de andar com aqueles seus “amigos”, — Fez aspas com os dedos. — e parar de se esconder de si mesmo garoto. E eu ainda espero que Donghyuck te dê um belo tapa na cara. — disse por fim, também tomando rumo para fora da quadra, deixando um Mark pensativo para trás.

O dia da festa junina chegou, quase todos trajando roupas com malha xadrez, alguns com chapéu de palha, as barraquinhas de comida já vendiam, mas as demais de jogos e outros entretenimentos esperavam, o verdadeiro início se dava depois da dança, o professor estava apenas esperando uma confirmação de que poderia ligar a caixa de som.

Quando começou os alunos entraram na quadra com sorrisos no rosto, diga-se de passagem, mas Chittaphon os ameaçou com notas baixas se dançassem com caras sérias ou de tédio, estava difícil para Haechan manter o sorriso forçado, entretanto, logo acabou.

— Finalmente essa palhaçada acabou! — exclamou feliz aos amigos que estavam prestes a abrir a barraca do beijo deles que já tinha fila. — Urgh, não vou ficar aqui vendo vocês pegarem sapinho, até depois otários. — Jeno e Jaemin reviraram os olhos e enfim deram início a barraca, sorrindo e se olhando cúmplices, afinal, parte do dinheiro seria deles.

Donghyuck estava indo comprar fichas para as barraquinhas de comida quando foi puxado para a direção contrária, não demorou para reconhecer quem era, bufou e puxou seu braço.

— ‘Tá querendo o que agora? Que droga, esquece que eu existo, ‘tá legal? 

Mark nada disse, puxou o moreno outra vez, dessa vez pela mão. apesar dos protestos, entrou em uma sala do primeiro ano que era a mais afastada da quadra, fechou a porta e se virou para um Haechan confuso e bravo. suspirou, sabendo que falar com ele não seria muito fácil.

— Você pode só me escutar? Sei lá.. três minutos é tudo que preciso!

O mais novo ergueu a sobrancelha e pegou seu celular no bolso, o desbloqueou e virou o ecrã em direção a Minhyung, ele havia dado início a um cronômetro.

— Isso é sério?

— Se eu fosse você falava logo, o tempo ‘tá passando. — Cruzou os braços.

— Desculpa, ok? Eu… No começo, nas primeiras vezes que te vi, eu só queria me aproximar de você, te irritar obviamente não era a melhor forma de conseguir sua amizade, mas eu não sabia como. Não sei, eu talvez só estava tentando negar a… atração que talvez eu tenha por você desde que te vi. — disse com um pouco de dificuldade por ter que assumir em voz alta. — As coisas foram saindo dos trilhos, encontrei meus amigos de infância aqui e eles meio que não são caras legais, nem minha família, é difícil explicar, fui na onda deles e passei de te irritar para te humilhar ou ser preconceituoso, negando a mim mesmo tudo que estava sentindo. Depois de ver e sentir o quão ruim é a sensação do cara que eu gosto não me querer nem respirando o mesmo ar que ele, eu “acordei” pra vida. Eu entendo se não me desculpar, eu só não queria ficar sem dizer.

Encarou os próprios pés com receio, os três minutos já tinham se passado e Haechan estava quieto, Mark sem coragem de o olhar, mas este se assustou quando um tapa estalado acertou a lateral de seu rosto, sua mão prontamente foi para o lugar que começou a arder e olhou assustado para Donghyuck.

— Isso é por você ter sido um imbecil, idiota. E isso… — Puxou a gola da camisa xadrez do canadence, o trazendo para bem perto de si e selou brevemente os lábios finos e vermelhinhos dele. — Na verdade eu não sei, mas podemos pular essa parte.

Mark nada disse, colocou a mão destra no rosto bonito de Haechan, a canhota em sua cintura e o beijou, mais do que um simples selar, não sabiam por quanto tempo ficaram naquilo, muitos beijos, poucas palavras, mas não parecia que elas eram necessárias, se entendiam apenas com o olhar e os gestos. O mais novo estava sentado em uma das carteiras da sala, com Minhyung entre suas pernas, ainda presos ao ósculo do beijo quando a porta da sala foi aberta, ambos olharam assustados para a figura pouco mais baixa que eles, está que riu soprado ao vê-los.

— Eu ‘to vendo, mas não estou acreditando. — riu mais uma vez e nada mais disse a eles, apenas fechou a porta depois de sair da sala. — ‘Bora Johnny, essa ‘tá ocupada. — Ouviram o professor dizer e passos se distanciando.

Se entreolharam e apenas gargalharam juntos para depois voltar a festa, ao chegar lá Hyuck avistou o casal de amigos beijando um baixinho e Mark viu seu primo também aos beijos dentro da prisão improvisada com o melhor amigo.