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História As Leis do Sol - Servo da Areia


Escrita por: Tulyan

Notas do Autor


Helooo, para os teoristas de plantão, sim, hoje algumas foram respondidas... ou n, hihihihihi. Boa leitura!

Capítulo 25 - Servo da Areia


167

 

É manhã quando observo o Tsaida rezar o seu Atom, prostrado sobre o tapete avermelho que estendeu e cuidou com tanto esmero, o espero sentado ao lado da gaiola enquanto o Naji termina de verificar os últimos ajustes feitos por aqueles outros três conjuradores da Dat’al Katish Sha.

Não é apropriado que fiquem espiando enquanto ele reza, mas, o Naji sozinho, avaliando o serviço de costas, foi mais sensato.

Ontem lhe dei a minha centésima sexagésima oitava sabedoria, hoje seria a sétima, mas eu não tô no clima pra isso. Eu sei que é o trabalho dele, sei que ele tem ordens de fazer isso, mas eu não deixo de ficar preocupado.

— Celeste, está tudo pronto. Reduziram para duas barras apenas, pode testar?

Bato as mãos nos joelhos pra me levantar dessa cadeira que me mantive o tempo todo, eu não quis atrapalhar mais do que já estava. Apesar de ter dormido logo ao lado dessa Gaiola de Faraday, me sentiria mais seguro se pudesse ficar dentro dela nesse caso, sei lá, sinto o meu corpo estranho, e talvez essas algemas já não sirvam num futuro próximo.

— Se afasta um pouco dela. – alerto o guepardo que dá dois passos para trás.

Naji está apenas com o seu shenti, descalço e sem as túnicas que o diferenciam de um soldado comum, até posso imaginá-lo assim num churrasco de domingo. Mas eu prefiro ele estando um pouco mais seguro também.

Adentro a gaiola com pressa e já puxo o cordão com a chave das algemas do peito, dou um instante apenas depois que a porta se fecha, giro as chaves e espero o calafrio, mas, não vem. Dessa vez eu deixo o metal cair mais longe dos meus pés, sobre as almofadas que compõem o meu cantinho pessoal.

Aqui dentro eu sinto o meu corpo reverberando uma energia intensa, é uma sensação mais que maravilhosa, não sei se consigo colocar em palavras, mas, é relaxante e empolgante, não preciso me mover ou fazer alguma coisa, apenas, deixar fluir.

— Como se sente?

Aqui dentro, a voz deles é bem mais difícil de diferenciar, por isso me viro achando que é o Naji, mas, ele está afastado, de olhar baixo para o guepardo de pé a poucos palmos desse bronze e vidro leitoso.

— Bem melhor. É como se eu tivesse tirado muito peso dos ombros.

— Fico feliz que esteja se sentindo melhor, Celeste. Estarei indo após o almoço, por isso gostaria de lhe pedir a sabedoria de hoje.

O seu olhar pra mim é tão admirado que eu mal consigo sentir raiva disso, na verdade, eu esperava que tivesse mais preocupado que isso, não que pareça ser do seu feitio demonstrar isso.

— Eu te-

— Celeste, eu prometo que cumprirei o nosso pacto, seu esforço não será em vão.

— E eu lá tô preocupado com esse pacto? Lembra que eu não estava na organização disso? Não participei, mas aceitei por cortesia. Tsaida, a questão não é você cumprir esse pacto ou não, a questão é q-

— Senhor Tsaida!

Alguém lá fora corta a minha palavra, não que eu seja impedido, mas, quem viria aqui pra chama-lo se não fosse menos que muito importante? O guepardo parece entender isso ao mesmo tempo que eu, suas orelhas se levantam e o Naji tem pressa de sair da frente mesmo que tivesse as costas contra o tecido avermelhado da tenda. Ajoelhado no canto sobre os tapetes que passou as noites, Siqat não tem muito pra onde ir ou fazer, os grilhões nas suas patas já não estão mais presos a gaiola por motivos de segurança, mas agora são presas a um vergalhão de ferro enterrado no chão.

— Um momento, Celeste. – Tsaida se move pra fora logo depois de acenar pra mim com a cabeça. – Diga logo! – a mudança de postura está além do abrupto.

Dá pra ver como os seus ombros, suas orelhas e a sua cauda ficam empostadas, como se fosse atacar quem estivesse lá fora. A sua saída daqui precede o silêncio que se torna, eu não teria como acompanhar e nunca fiz isso agora que paro pra pensar.

— Celeste. – a voz do Naji me tira dos pensamentos. – Poderia me dar um momento, pra perguntar uma coisinha...

O olhar dele se perde sutilmente, suas mãos atrás das costas acompanham os passos lentos que dá pra mim. Eu já fico voltado a ele, é um momento importante, parece.

— O que foi?

— Ahm, o-o senhor falou de mim pra Jaya, por acaso? – os seus olhos dançam de um lado pra outro, envergonhadinho.

— Não exatamente, porquê?

— Ela está me olhando estranho, de forma positiva, claro. – ele tosse, pra arrumar o tom. – Eu devo agradecer.

— Olha, digamos que eu abri a porta, pra vocês dois. Agora só falta vocês passarem, não estraga tudo! Ouviu?

— Sim! Claro! Eu nunca pensei que chegaria nesse ponto, mas, muito obrigado, eu não vou decepcionar!

— Naji. – o chamo de volta a realidade com a cabeça caindo pro lado sutilmente. – Não é assim, isso não é uma avaliação, nem uma competição. Não pense em decepcionar ou algo do tipo, pense em fazer dela a Nanci mais feliz desse reino todo, só isso.

O seu olhar cai um pouco, não por vergonha, mas, por pensar nisso bem nos poucos segundos que temos pra isso.

— Acho que estava mesmo pensando errado, agradeço de novo Celeste, sua sabedoria é infinita.

— É só o bom-senso, fiote.

Só reparo no que essa última palavra pode significar a ele quando diz.

— Já sou adulto, Celeste, tenho minha Atyria. – no braço direito, há esse mesmo paninho azulado amarrado que o Tsaida tem.

— É essa a simbologia? Mas olha, não é exatamente um filhotinho, ao menos não nesse sentido.

— Ahm, bom, senhor, eu tinha que agradecer de toda forma. Como eu não posso lhe pagar e duvido que precise de alguma coisa material minha, posso oferecer os meus serviços, se aceitar, claro.

— Aceito a sua amizade. Que tal?

Surpreso, suas orelhas levantam sutilmente enquanto os seus olhos arregalam, seu peito amarelo, branco e cheio de bolinhas pretas se enche, mas não há palavra além.

— Amizade, Celeste? Bom eu não seria ousado o bastante pra pedir isso, e-eu não sei o que dizer.

— Apenas aceite, eu sei que ser amigo do Celeste pode ser estranho, mas é só ser sincero comigo que vai dar bom.

— Apenas ser sincero? – ele repete. – Bom, acho que posso fazer isso, Celeste, será uma honra.

Aceno a ele um joinha, é o máximo que podemos fazer por hora, pois logo depois disso o guepardo vira as orelhas para trás e se coloca de lado, novamente de costas a tenda e não deixa os olhos de pé, isso acontece pelo Tsaida atravessar a entrada rapidamente e com um olhar estranho.

— Celeste!

— Oi?!

Parado ali com a respiração séria, quase “rosnando” pra um felino, ele aperta os olhos e os punhos.

— Mandei trazerem pra cá. – ele aponta pra trás com o focinho. – Por favor, me diga que isso não é coisa sua.

— Mas que caralho, me fala o que houve?

— Aquele lince, foi capturado a alguns minutos por batedores, ele disse que veio oferecer seus serviços ao “Senhor Franklyn”. – e o suspiro pesado dele traz todo o problema. – Me diz que vai dispensá-lo.

— Tá me dizendo que o Rajza andou isso tudo só pra me ver? Que cara dedicado!

— Celeste! Não é esse o ponto!

— Cara, isso é incrível.

— Celeste!

— Ele pode ser um espião? Sim! Pode ser um assassino? Sim também! Ou só pode ser um cara tentando ser salvo, Tsaida!

— Por favor, Celeste, o que acha que vão pensar com esse assunto?

—  Estou curioso, me diga o que pensarão? O que a criatura vinda da explosão da nossa guerra iria querer com um lince maltrapilho que aparecer do nada no deserto, caralho bem capaz que eu vou usar ele pra colocar fogo nesse deserto. – e sou dramático na fala. – Eu vou trazer os espíritos do dia e da noite e puta merda, vou explodir nessa caralha, o Celeste ficou doido!

— N-não! Celeste, não confie demais num ladrão do deserto, por favor, me ouça.

— Estou ouvindo, mas parece que você não. Eu só vou confiar nos meus amigos, eles são poucos, e pode ser melhor assim. Se eu vou ou não aceitar isso, Tsaida, é um assunto meu, ou vão querer decidir por mim?

Sei que isso o machuca, me sinto mal de usar isso no instante que digo, mas, parece fazer o efeito óbvio. O guepardo baixa a cabeça sutilmente e arruma o seu shenti com cuidado, como uma criança que acabou de levar bronca da mãe.

— Desculpe, não foi essa a minha intenção.

— E qual foi?

— Me preocupa que essa... Celeste, não sei se é intencional ou se você faz assim por que quer, mas, notou como todos que o conhecem querem ficar perto de você? Sha me pergunta sobre você sempre que a vejo pelo acampamento. Meu senhor Elna nunca encerra as suas cartas sem citar o seu nome. – e ele nota como peço com o olhar que vá ao ponto logo. – Nenhum Nanci nesse acampamento que já lhe tenha sentido o cheiro, visto, conversado ou algo que o valha sai dessa interação sem lhe considerar de extremo valor.

— Eu sou um cara legal pra conversar? Que legal!

— Mais que isso, Celeste você atrai as pessoas até você. Eu tenho certeza que esse sorriso no seu rosto é genuíno. Pessoalmente, adoro a ideia de você ter mais com quem conversar, seja a Jaya, o Naji, até mesmo esse escravo, não importa. Sinceramente? Fico muito feliz. Mas, um ladrão do deserto, não merece sequer estar sob o mesmo Sol que você.

— Tsaida, fico muito feliz que se preocupe tanto, e realmente, agora que você disse, eu também notei essa atração. Isso é algo natural de mim, só sou como eu sou. E como eu posso dizer que cumpri o meu juramento de proteger a vida se eu deixo um rapaz morrer no deserto assim?

— Ele não vai ser largad... – os pensamentos do guepardo parecem lhe fazer realizar. – Eu sei que não vou mudar sua ideia, não sei porque ainda tento.

— Você é um ótimo oponente, Tsaida.

— Mentiroso.

No instante seguinte, pela entrada da tenda aquele soldado axcell adentra e já baixa a sua cabeça.

— Dat’al Katish Tsaida! Trouxemos o prisioneiro.

— Tragam ele pra dentro.

O olhar amarelo dele passa do soldado pra mim, mas quando volta é com um pouco mais de tolerância, eu presumo.

Acompanhado de dois tigres vestindo armaduras leves sobre seus pêlos curtos, a situação do lince é bem parecida com como o encontrei pela primeira vez. Suas mãos estão atadas nas costas, vendas e uma mordaça, mas não suas pernas, parecem tê-lo deixado andar o caminho todo, mas, pelo gesto do guepardo o jogam de joelhos sobre o tapete de peles e o próprio Tsaida lhe tira a mordaça.

— Parece que sempre nos encontramos com você amarrado, ladrão. – ele rouba a minha deixa.

— Não parece que eu tenho escolha. Bom ver você de novo. Hahah...

“Ver”, não foi só eu que peguei a piada, o Naji só esconde bem por trás dessa postura toda formal.

— Temo que eu não posso dizer exatamente o mesmo, ladrão. Mas, aparentemente a sua teimosia teve algum resultado, você está diante daquele que pediu que encontrasse. – e ao falar, o lince levanta o focinho e cheira o ar. – Você ficará ajoelhado, sugiro não se levantar nem fazer movimentos bruscos.

— Pode ter certeza que eu não vou. – a empolgação na voz dele quase passa a educação que tenta manter.

— Oi Rajza.

— Franklyn, me desculpa chegar assim, desculpe também, senhor Tsaida.

— Te deram água? Tá com sede? – pergunto.

— Ahm... na verdade, estou sim.

— Siqat. – chamo o chacal que só agora levanta as orelhas. – Pegue um copo de água e dê ao Rajza.

Apesar de eu ter digo, o olhar tímido dele vai ao seu dono, que permite com um gesto de cabeça para trás.

— Ah, muito obrigado. Inclusive, eu sei que não gostam de eu estar aqui, mas, eu passei os últimos dias pensando nisso e não tive outra conclusão. Franklyn, você salvou a minha vida a alguns dias e eu mal pude agradecer. Eu não tenho muito, não tenho dinheiro ou algo do tipo a não ser o meu corpo e o que eu sei fazer com ele, então, me permita te ajudar assim.

— Diga de uma vez o que quer, ladrão. – Tsaida está impaciente, é óbvio o motivo.

— Eu passei os meus últimos meses perdido, eu notei que sou feito pra seguir, não pra liderar os caminhos. Pode ser um pedido egoísta de um Nanci sujo como eu, mas, se estiver disposto a me ter como seu servo, eu sentiria que poderia retribuir o favor.

— Rajza, olha. – apoio as mãos sobre a parede da gaiola. – Eu adoraria o te aceitar assim, rapidamente, mas o Tsaida tem razão em alguns pontos, não teria como eu tê-lo aqui sem que os líderes permitam, você não faz parte dos soldados, então, iria ficar aonde? Ta vendo como o Tsaida é bravo?

— Ce- Franklyn! – quase que sai.

— Isso significa que eu o aceito sim, só que essa é uma decisão que eu quero compartilhar com o Dat’al Katish Tsaida. Eu moro na tenda dele, participo de um pouco do seu dia, eu acho justo ele decidir, não acha?

— Você sabe muito bem que eu não aprovo um ladrão vivendo com você, mas, as nossas conversas provaram que eu nem sempre estou fazendo o correto por mais que eu acredite nisso. – eu não sei se deveria falar disso na frente de todo mundo, mas, o guepardo parece ignorar esse fato. – Então, faça como achar melhor, Celeste, se esse lince o servir bem e ser mais do que um verme do deserto, bom. Se ele fizer algo errado contra você, eu mesmo irei lhe crucificar no meio do deserto.

— Crucificar, eita.

— Muito obrigado, eu garanto que não vou decepcionar, eu juro a minha lealdade a vocês.

— Vocês não! – Tsaida se irrita. – Jure sua lealdade completa ao Celeste Franklyn, e só a ele!

— Celeste? E-ele é o Celeste?

— Sou sim, Rajza. Se me der a sua lealdade, esteja preparado pra que eu a use e desafie. Eu nunca tive servos, então, seja um bom exemplo.

— Eu fico muito feliz, meu mestre, eu juro a minha lealdade ao senhor. Me faça útil como preferir. – isso pego mal, ao menos pra mim.

— Tsaida?

O guepardo me chamava a atenção com a mão, parecia ansioso pra falar algo.

— Quero adicionar algo, Celeste. – parece que o meu título não vai mais ser um segredo. – Para que o ladrão não tenha problemas durante a sua estadia, ele usará um item de rastreio mágico. Normalmente seria uma coleira, mas, em respeito a quem ele serve, providenciarei uma tornozeleira, acha justo?

— Se importa de usar uma, Rajza?

— Ahm... se não houver correntes, for só a algema, e-eu topo sim.

— Viu só.

—Esse ladrão agora pertence a você, isso é uma responsabilidade, Celeste. Tem seu lado bom e ruim.

— Vai ser um bom treino, então. – comento.

— Ele tem a minha permissão para passar as noites na minha tenda, mas, vou pedir que o faça se manter aqui dentro com um dos grilhões do escravo.

— Os grilhões?

— Sim, vou lhe dar a chave, libere uma das patas do chacal e a outra algema será usada para manter o seu ladrão aqui dentro. Sabe muito bem porque eu lhe peço isso.

Caso algo aconteça, não poderão lançar a culpa nele.

— Tá tudo bem pra você, Rajza?

— Senhor, o que decidir que eu faça eu vou fazer. Olha, eu realmente não gosto de ser preso, mas se é necessário.

— Você estará mais livre que eu, lhe garanto.

Suas orelhas levantam de uma vez, Tsaida e o Naji me olham com esse mesmo tom de pena que eu dava ao lince até agora a pouco.

— Vai usar esses itens para que esteja seguro, sabe como soldados são, né? – brinco só pra mudar a cara dos dois aqui. – Naji, pode desamarrar ele, por favor?

Sei que não estou no comando aqui, mas, tá começando a me irritar eles sempre pedindo ao Tsaida, mesmo com o olhar. Essas hierarquias, te contar viu...

— Sim senhor.

O guepardo só age depois que é permitido pelo outro, alguns movimentos simples e as mãos do lince são soltas com a corda sendo deixada logo atrás. E logo depois, a mão do nosso conjurador toca a nuca do Rajza e pede permissão de novo ao seu superior.

A venda é retirada sem desatar, apenas puxando pela nuca do lince que aperta os olhos por estar apertado. Ansiedade surge na minha barriga, não só por ser a primeira vez que ele pode me ver, é a minha primeira vez que posso ver os seus olhos.

O castanho claro parece aquele arenito avermelhado de onde nos encontramos na primeira vez. Seu olhar rola para os cantos, aos dois guepardos a cada lado seu, mas, no instante seguinte, quando voltam-se pra mim, suas pupilas dilatam, parece procurar algum sentido nessa gaiola de bronze e vidro opaco, ou procurar sentido no que eu sou, na pessoa que acabou de dar sua lealdade.

— O-o senhor...

— Surpresa! – sorrio como posso e levo as mãos para os lados. – Chocado?

— E-eu nunca vi uma...

— É, eu sei, me chamam de Celeste, mas, o meu nome é Franklyn Müller. Não quero que me chame de mestre, me chame de Celeste, Franklyn ou senhor Müller, está bem?

— Sim senhor.

— Naji, traga uma tornozeleira de rastreio, dê a chave para o Celeste, e quanto a esse. – ele aponta as correntes no chão que levam até o chacal que esperava silencioso com um copo de água na mão. – Celeste, lhe darei as chaves, por gentileza, mantenha os dois aqui dentro durante a noite, é a única regra que lhe peço pra seguir. Certo?

— Certinho.

— Ótimo. – e o guepardo Naji apenas baixa a cabeça e use os punhos antes de sair dessa tenda com rapidez. – Já que estamos resolvidos, espero que você aprenda a se comportar também, ladrão, servo do Celeste ou não, eu estarei vigiando você.

— Sim senhor, eu agradeço a gentileza, dos dois.

— Vou pedir algumas roupas melhores pra você, ladrão, se vai acompanhar o Celeste, terá de se apresentar a altura. Ele é um ser único, lembre-se sempre disso, você serve um ser único.

— E-eu estou entendendo isso, senhor. Mas eu já tomei a minha decisão, minha lealdade está com ele. – e sua cabeça se abaixa um pouco. – Eu o escolhi como meu senhor mesmo sem saber disso, agora que eu sei, entendo ainda mais a minha responsabilidade.

— Ótimo.

— Aliás, Rajza, o Siqat tá segurando esse copo a uma década. – aponto ao rapaz logo a sua esquerda mais atrás.

— Ah, perdão.

Como se fosse uma relíquia, o lince recebe o copo de água e é bem nítido como controla seus instintos de só virar tudo. Só depois que o Tsaida comentou que eu percebi que ele está peladinho, bom, pelo que sei Nancis ficam assim rotineiramente, não tem a mesma modéstia que um humano, e pessoalmente gosto disso, são um povo mais natural, eu acho.

— Bom, eu acho que preciso te explicar algumas coisas, não é?

— Enquanto faz isso, Celeste. – Tsaida chega próximo a gaiola e a chave azul está na sua outra mão. – Aqui está. – uma chave pequena e preta é entregue por um dos vidros mais abaixo. – Eu irei agora, então, vou almoçar com a Sha e estarei indo, vai ficar bem com esses dois?

— Eu vou sim. – falo mais baixo, pra combinar com o seu tom. – Melhor voltar logo e bem, se não eu mando o Rajza colocar fogo na sua cama.

Um riso singelo soa desse guepardo tão sério, são esses momentos que eu gosto de lembrar.

— Estarei aguardando ansioso sua sabedoria, Celeste, e se eu voltar e sentir o cheiro do seu ladrão na minha cama, o amarrarei no Sol por uma semana.

— Hah, acho que ele não faria nem se eu mandasse. – brinco só pra deixar ele mais calmo. – Quando voltar, me traz uma lembrancinha do lugar, vai ser legal.

— Pensarei nisso, Celeste. Bom, me despeço.

— É um até logo.

As minhas palavras fazem o seu olhar retornante ao rumo da porta parar, ele volta a mim e não para de me observar por três segundos, três segundos que também parece guardar pra si.

— É um até logo. – minhas palavras se repetem por ele.

E um aceno meu leva boas esperanças pro guepardo que já havia calçado suas sandálias tão preciosas, mas não se vestia com armadura, apenas aqueles panos multicoloridos que o vi usar tantas vezes. Ele realmente é um Nanci bonito, talvez por ser o único que posso observar por tanto tempo eu não tenha muitas outras amostras, mas, eu realmente quero que ele volte bem.

Por isso me dá um calafrio, a minha barriga esfria e contorce, eu tenho um pressentimento ruim...

Os panos da tenda lufam com a passagem do guepardo, e dois segundos depois, outro entra com rapidez. Naji traz consigo uma pequena caixinha de madeira e me procura com os olhos.

— Senhor Celeste, trouxe a tornozeleira de rastreio. – e por isso, o lince parece incomodar com essas palavras. – Posso colocar no seu servo?

— Uhum, Rajza. – chamo o lince que balança a cabeça concordando.

— Sim senhor.

Naji se ajoelha na frente dele, apenas o seu joelho esquerdo fica pra cima enquanto o outro toca o chão macio pelo tapete. A caixinha de madeira é posto para que eu veja e de dentro retira um círculo de metal bronze como as barras dessa gaiola, mas, diferentemente delas tem alguns fios brancos, principalmente quando é aberto tal como uma algema.

— Pise no meu joelho, por favor. – Naji pede.

O lince está visivelmente incomodado, mas obedece e deixa a pata sobre o joelho dele com os dedos apertando contra o pano do shenti branco. O metal é posto no seu tornozelo e não estende esse momento para além de um som de clique, isso arrepia o meu servo como se fosse feita de gelo, mas, uma pequena chave entra na lateral e tranca aquilo.

Com todo o cuidado de tocá-lo nessa parte tão sensível, Naji acena e cutuca a sua pata com a ponta da chave.

— Pode tirar agora, está firme?

— Ahm, tá bom. – seu incômodo mostra quando testa a pata no chão algumas vezes. – Não parece que vai ficar balançando.

— O seu mestre ficará com a chave. Se afastar do acampamento, ela irá soar e brilhar.

— Vai machucá-lo? – pergunto daqui de dentro enquanto me sento sobre as almofadas.

— Ele sentirá uma eletrocussão forte, provavelmente a sua perna ficará paralisada e bem dormente, então, sim, pode doer.

— Hm... ele não vai sair do acampamento mesmo, tá tranquilo. – comento.

— Sim senhor. Bom, se não precisar de mais nada, voltarei a minha tenda para descansar.

— Claro!  Poxa, muito obrigado pela ajuda, Naji.

— A honra é minha, Celeste. Trarei algumas roupas para ele, com sua licença.

— Claro, obrigado de novo.

O guepardo baixa a cabeça levemente e se dirige pra fora com rapidez, eu me pergunto o quanto ele está interessado nesse momento, agora que o Tsaida está partindo, nós podemos trocar mais informações juntos.

Só que há outros problemas pra resolver, e esse problema é um lince nu que olha pra sua pata com atenção, e balança ela algumas vezes pra testar a tornozeleira que usa agora.

— Rajza, sei que tem muitas perguntas, e olha, nós temos muito tempo. Aliás, antes você não podia saber que eu era o que sou, mas, puxa uma cadeira, vamos conversar.


Notas Finais


E enton... sim, eu n podia deixar ele sumido n, adorei o lincezineo :D


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