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História As Leis do Sol - Amigos e Idiotas


Escrita por: Tulyan

Notas do Autor


Alo pessoal! Oia mais um capítulo aqui! Minino... preparem-se pra uma montanha-russa de emoções D:

Capítulo 32 - Amigos e Idiotas


Fanfic / Fanfiction As Leis do Sol - Amigos e Idiotas

167

 

Eu lhe dou alguns bons segundos antes de virar o rosto pra trás, pra gueparda que agora é acompanhada por outros dois Nanci, um chacal e um baixinho feneco que me espiam ao lado dela.

— Acho que ele não tá aqui. Será que foi dar uma volta?

Mas, logo depois que me viro ouço os panos sendo movidos. Apenas um pouquinho dessa tenda se abre com uma mão amarela, branca e preta. As garrinhas brancas puxam o tecido pro lado e revelam um rosto assustado, os seus olhos verdes sobem e arregalam como a sua boca cada vez mais que sobem pelo meu corpo.

— Deuses eu bebi demais... – lentamente, ele se recolhe de volta ao interior. – Nem em mil anos o Celeste...

— Naji. – cara como eu seguro pra não rir.

Um engasgo soa de lá de dentro e com pressa vejo a sua cabeça sendo posta pra fora outra vez. Os olhos arregalados me encontram em negação, acho que posso ser uma vista em tanto, né?

— C-celeste!

— Oi. – aceno. – Vim ver como você tá.

— Ahm... como eu...

— Vim ver se você tá bem. Faz tempo que não nos vemos, e eu soube de você por outros, queria vê-lo com os meus próprios olhos.

Sou bem direto pra ajudá-lo a entender. Por isso as minhas mãos param de balançar com as correntes.

— Celeste, eu... eu não sei o que dizer.

— Pode me deixar entrar?

Quase como se eu tivesse lhe dado um susto as suas orelhas se levantam.

— Ah, claro! Não é muito espaçoso, mas, o senhor é muito bem-vindo.

Essas palavras fazem um sorriso envergonhado surgir no meu rosto, é bom que ele tenha voltado pra sua tenda, ele não viu. Logo depois que ele passa eu vou depois, abaixo pra passar e encontro um lugar bonitinho e aconchegante.

O formato cônico não ajuda muito, mas, um saco de dormir fica no canto oposto da porta e antes que eu entrasse mesmo, me lembro. Sento-me logo na entrada pra tirar essas minhas sandálias e as deixo do lado de fora. Mas o que importa está aqui dentro.

— Ahm, sente-se onde quiser, Celeste.

Naji me oferece com as mãos de um lado a outro e só agora noto, ele está com uma cara abatida. Ele se senta à direita, por isso eu ocupo o outro lado com todo cuidado que posso juntar, a cada lado daqui há almofadas pretas cheias de penas de ganso, pelo que sinto quando eu me sento num par delas, bem embaixo de tudo por onde o guepardo cruza as patas há um tapete grosso que o separa do chão.

O final do teto tem as pontas de hastes de madeira que trazem um pouco de luz direta, mas a maioria da iluminação é a que passa pelo tecido mesmo, e aqui dentro parece fresco, eu imaginava mais frio, quer dizer, mais quente. Nas “paredes” da tenda há penduricarios de corda fina ou algum tipo de fio natural que formam símbolos bonitinhos, geométricos ou de coisas religiosas, não sei bem. E num canto, do lado que ficaria sua cabeça ao se deitar no seu saco de dormir há uma bolsa de couro avermelhado que tem a boca amarrada por um fio dourado e alguns nós.

Mas eu não fico observando de tudo, não quero parecer intrusivo. Encontro o olhar nesse Nanci que usa seu shenti de forma muito mais despreocupada, na verdade, acho que ele acabou de colocar, mas, seus ombros baixos, o olhar que não passa da altura do meu peito e a forma que as suas mãos estão inquietas e suas patas tentam se esconder atrás das suas pernas me dizem algumas coisas.

— Naji. – tiro a corrente de trás da nuca pra poder levar a mão até ele. Alguns fios meus arrebentam no processo, mas não ligo. – Tá tudo bem?

— S-sim. Eu estou.

— Não, não está. – não me seguro. – Não precisa ser tão forte, não pra mim. Eu sei o que aconteceu e isso foi meio que culpa minha, né?

— Sua? Porquê? – suas orelhas se levantam em revolta.

— Se eu não tivesse aqui, você não teria aquele documento.

— Não! Foi... – ele fica confuso consigo mesmo. – Eu fui um idiota por aquilo, eu estava tão animado, eu adorei conhece-lo. Mas não devia ter anotado nada.

— Estava anotando sobre o que, especificamente?

— Ahm, sobre como você é diferente, por fora e por dentro. Eu fiz anotações de como a sua personalidade é agradável e amistosa, mas, infelizmente acho que terá de confiar nas minhas palavras.

— Porquê? O que houve?

— Queimaram o meu diário, agora são nada além de cinzas. – e isso o entristece por dizer. – É isso.

— Não parecem que pararam nisso. O que fizeram com você?

— Fui interrogado, Celeste. Minha lealdade ao reino foi duvidada e isso... vai me marcar pra sempre, não importa o que digam, o quanto me absolvam, ser um suspeito nesse tempo de guerra é o suficiente pra que amigos meus... me olhem...

Seus olhos se abaixam, as suas mãos apertam contra as suas pernas cruzadas e ele morde os lábios um contra o outro.

— Estão te olhando diferente. – resumo.

— Parecem me acusar, eu não consigo falar com eles sem me sentir inferior, um criminoso que não sofreu o que merecia. – seus olhos apertam, ele baixa a cabeça um pouco mais. – Às vezes eu acho que seria melhor ter sido condenado.

— Não fala uma merda dessa. “Melhor ter sido condenado”. – resmungo só pra mim. – Essa é a coisa mais burra que eu já ouvi de você! Que se dane quem ficar te encarando assim, você é um traidor? É um espião?

— N-não. – quase um chiado de choro vem com a sua voz.

E esses olhos tristes me dão uma vontade insana de abraça-lo. E a menor parte desse meu desejo é por ser fofinho.

— Então é o que importa. O seu reinado e você sabem disso, sabem que não é o que lhe acusam com os olhos, e para os que acusam, que vão a merda. – a minha convicção parece lhe transbordar de algo como esperança, não sei. – Não se importe com o que eles todos pensam, se importe com o que as pessoas importantes pra você pensam.

— Importantes pra mim?

— Sim, se importe por como as pessoas que você gosta pensam de você. Os outros não se importarão com você, não vão vir aqui pra conversar contigo, vão só se afastar.

— Hm... eu sei disso. – as suas orelhinhas caídas para os lados me enchem de dó com a sua voz. – Mas parece que eu me tornei um inimigo, gente que eu conhecia a muito tempo não me olha mais, parece que somos estranhos.

— Que bom. – a minha resposta o assusta.

Seu olhar triste se torna surpresa e ele me observa melhor com a boca meio aberta pra um inspirar falhado.

— Bom? I-isso é bom?

— Agora você sabe quem são parceiros de verdade. Quem vai te apoiar e quem não vai.

— É injusto medi-los assim, Celeste. Eu entendo porque estão assim comigo.

— Nem por isso é bom. Não se rebaixe por isso Naji, eu soube que entrou numa briga pra proteger a honra da Sha, sei que escreveu coisas que não devia, mas foi só isso. Você não é inimigo de ninguém aqui.

Falar isso faz a sua cabeça voltar a se erguer, o seu braço esquerdo limpa os seus olhos e focinho antes que qualquer coisa escape do seu semblante que tenta ser firme.

— Mas... parece que eu sou.

Toco o seu joelho esquerdo com gentileza, só pra chamar sua atenção mesmo. Eu sei que sou mais quente que ele, tanto que a sua perna me parece fria, só que o seu olhar em mim foca com relutância.

— Pra mim não, tanto que eu vim só com a Jaya, se eles ou eu mesmo achasse que você é menos que confiável, não estaria aqui, estaria?

A sua mão toca na minha e seus dedos apertam contra a minha pele, suas garras quase me deixam riscos se não fosse o seu cuidado. Deixo os joelhos sobre esse tapete e toco o seu ombro direito com a outra mão.

— Você não vai ficar aqui sozinho mais, me visita na tenda do Tsaida, eu vou adorar poder conversar com você mais um pouco.

— A-a Jaya veio? – e eu acho que é só isso que ele ouviu mesmo.

— Veio, ela tá lá fora, mas, ela tá um pouco envergonhada de vir aqui. – e lhe dou mais um pouco de conforto com o aperto das minhas mãos. – Disse que não teve a sensibilidade de vir antes, não como eu tive.

— Você é um bom amigo, Celeste. – e o sorrisinho trêmulo que exibe nos lábios negros desse guepardo me faz sorrir igual. – Agradeço.

— Aí, me escuta bem. Se preocupa com isso não, eu vou vir aqui sempre que eu puder se você não puder vir até mim. Teremos muito o que conversar, não fica sozinho de novo, tá bem?

— Hm, tá bem sim. – ele baixa os olhos logo depois. – Eu te agradeço muito pelas palavras, por vir aqui, e-eu sei que estou péssimo e mal apresentado, desculpa.

— Eu que vim sem avisar. Mas eu tava preocupado, então, faria de novo! – me dou uma boa convicção na voz e me afasto. – Só que, eu só posso te oferecer a minha mão, se quiser.

— Hah, Celeste isso é mais que todo mundo fez. – ele segura a minha mão que antes estava no seu joelho e a une com as suas duas. E leva a sua testa enquanto baixa o focinho pro chão. – Eu te agradeço imensamente. Gratidão, Celeste.

— Hah, é o que amigos fazem pelo outro. – toco nas suas mãos que circundam a minha, lhe dou toquinhos suaves. – Mas, olha, eu preciso encontrar a Sha.

— Minha Dat’al Katish?! – seu olhar retorna até mim com um pouco de medo. – Ela vai encontra-lo na sua tenda?

— Hm, não... eu vou encontrar ela numa reunião que vamos fazer agorinha, porquê?

— E-eu posso te pedir uma coisa? Por favor?

— Depende. – brinco. – Mas eu posso te ouvir sim.

— A-a minha senhora, por favor, diga a ela que eu sinto muito pelos problemas. Eu não a queria dar ainda mais dor de cabeça.

— Isso eu já tenho certeza que ela sabe. Quando perguntei, ela me deu certeza que você não era um espião. – falar isso parece lhe dar força, e eu adoro ver isso nele. – E outra, eu quero que você tenha coragem agora. – e o meu indicador toca o seu peito macio de pêlo mais branco. – Você precisa dizer isso pra ela pessoalmente, tenha coragem! Eu tenho toda certeza que você vai se sentir melhor.

Os seus olhos ficam estáticos, quer dizer, tremelicam procurando algo em mim até que ele suspira rapidamente e assente.

— Sim, tem razão, Celeste, tem toda razão. Toda.

— É... mas ein, eu vou indo por agora, já te atrapalhei demais.

— N-não, senhor! – e um sorriso surge no seu rosto na minha iminência de ficar de pé. – Eu nunca pensaria que pudesse tê-lo na minha humilde tenda. Isso é simplesmente mágico pra mim, é uma honra! Aliás, e-eu gostaria que pudesse ficar com isso.

Sua mão estica junto com ele ao ficar de pé também, fica um pouco mais apertado, eu acho que caberia mais uma ou duas pessoas de pé aqui, não sei.

— Eu faço essas coisinhas aqui. – ele passa as mãos pelos penduricalhos variados que se penduram no teto. – Minha família vive de vender elas, bom, eles usam metais caros e uns tipos de pedras preciosas que eu não tenho. E eu sei que você não gosta de usar as coisas que nós Nanci gostamos, então, posso te...

O olhar dele me vasculha dos pés a cabeça, bom, fica nos pés. Os seus olhos travam ali como se tivesse vendo uma cascavel entre nós.

— C-celeste...

E ele não para de olhar.

— Hm?

— A-a sua t-tornozeleira, é igual a da m-minha Dat’al Katish Sha. É-é muito igual.

— Ela me deu, ficou bom? – atraído a sua atenção com essa simples pergunta eu quase travo esse guepardo.

— S-sim, ficou bonito. Com todo respeito, claro.

— Valeu cara. Eu não sei bem o que representa pra vocês, mas, eu gostei do presentinho. – movo o pé direito um pouco pra que ele possa ver as pedrinhas e a concha, mas, só agora eu lembro o que significa essa parte pra eles.

— Presente... receber isso da Dat’al Katish Sha é uma honra. Eu tenho inveja de você, do senhor, Celeste. – ele corrige. – Desculpe.

— Nada, eu quero um presente seu também, não se importe com o valor material, o que importa pra mim é o que representa.

— O que representa? – ele perde o hipnotismo daqui de baixo e olha pra cima engolindo seco. – Bom, todos eles representam algo pra mim, mas... – ele se abaixa e naquele saco de couro vermelho amarrado com fios dourados ele puxa um outro. – E-esse aqui.

É como um daqueles caçador-de-sonhos.

Na verdade, é bem mais que isso. Eu conheço toda a mística de um, ao menos lá do meu mundo, mas parece haver algo igual por aqui. Mas a teia é cheia de pequenas pedrinhas e o círculo é formado pelo par de asas de uma fênix que é moldada com algum tipo de papel, e as cores são incríveis, o interior do círculo é de um vermelho escuro que alaranja e até amarela nas bordas das penas que já são de um azul-claro lindo. Todo um corpo, pescoço longo e cabeça de uma é feito com extremo cuidado e do quadril pra baixo pelas longas de vários tipos exibem preto nas bordas e laranja do centro, outras é preto e amarelo, há ainda algumas pequenas azuis e outras que sei que são de pavão e são totalmente carmesins. É como segurar uma obra de arte.

— Representa o quê?

— Representa você.

Meu rosto é escondido pela minha mão, eu não contenho o sorriso largo que dou por ouvir algo tão fofo assim. Me acanha pensar no tempo que ele gastou fazem esses detalhes e pra achar algo que simbolize a mim, simplesmente maravilhoso.

— Maravilhoso. – repito pra fora agora. Pra que ele ouça. – Eu adorei. – uno esse gesto de carinho entre as mãos contra o meu peito. – Muito obrigado, Naji.

— O senhor é a nossa fênix, não é?

— Por enquanto só sei colocar fogo em papel. – brinco com ele e um sorriso. – Quando eu tiver asas lindas assim e poder renascer, você vai ser o primeiro que eu vou avisar.

— Vou ficar muito feliz de saber disso, senhor Celeste.

E não digo mais nada, lhe dou um abraço apertado e não deixo esse presente ainda mais maravilhoso ser arriscado. Todo Nanci parece hesitar no primeiro momento, mas, os seus braços me envolvem também e ele retribui.

— Muito obrigado, Naji.

— Quem deve agradecer sou eu, Celeste. Você é realmente uma benção pra todos nós.

 

 

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“Você é realmente uma benção pra todos nós.”

As suas palavras ainda ecoam na minha cabeça quando aceno pra ele um “até logo” com a mão, a cabeça e um sorriso. Deixo sua fênix-dos-sonhos contra a barriga pra não dar a mínima chance de alguém esbarrar.

Só que há tanta gente ao redor agora que a Jaya quase se mistura. As orelhas baixas dela são de quem não pretendia chamar essa atenção toda, mas deve ter o quê? Trinta pessoas aqui?

Todas elas me encaram com curiosidade e euforia, dá pra ver o que são de primeira vista e quem já me viu algumas vezes. É como aquelas filmagens de famosos no meio da galera, como o tumulto se acumula e mais olhos tentam conseguir espaço por entre todos esses outros soldados.

Mas é a gueparda que sai dessa multidão e chega perto.

— Celeste... o que é isso?

— Um presente, bonitão, né? – mostro pra ela com todo meu entusiasmo.

— Ahm, sim, é do Naji?

— Ele que fez! – quase anuncio. – Aposto que ele fez um pra você também. – comento.

Mas só depois entendo a merda que falei, digo, não é exatamente errado, só...

— Pra mim?

— Hm, ele faz pra representar quem ele conhece, vocês dois foram nossos conjuradores naquela viajem, não é?

— Ah Celeste, ainda estou tirando areia dos olhos de tanto dirigir aquela carruagem. Mas, olha. – ela quase me envolve com os seus braços. – Precisamos ir, deve saber bem porquê, não?

— Ah, simbora! – atiço ela sem conter a minha felicidade, cara como eu adoro ter feito ele sorrir.

— Isso, “simbora”.

Pela sua boca, vira algo como “xindorá”, é bonitinho demais pra que eu corrija. Tem horas que você só aceita o sotaque e segue o baile.

Nós dois passamos pelos soldados juntos, dá pra ver como alguns se aprontam e meio que fazem a nossa escolta, bom, impedem que os mais animados cheguem perto demais ou se acumulem demais no caminho. Eu e a Jaya nos apressamos até um ponto que nenhum dos soldados avançam mais.

Isso porque há mais a frente uma tenda grande como a que eu moro, mas essa é branca e é toda isolada, há guardas nas seis pontas, apesar de eu só poder ver três. A única entrada é vigiada por dois, dois Nanci leopardos que portam lanças longas e armaduras de metal cinza escuro e couro bege de sempre, mas, em especial os seus elmos fechados tem runas azul-claro ao redor dos olhos e outra linha que passa por entre ficaria as sobrancelhas e vai pelo centro na vertical de todo o elmo.

A gueparda já me puxa pelo pulso mesmo, mas porra, ela corre muito rápido!

— Jaya! – chamo a sua atenção. – Calma!

— D-desculpe, Celeste! – ela vira o seu rosto cheio de preocupação. – É que, desculpe.

Ela desacelera enquanto eu respiro rápido, por sorte o ar tá gelado, ajuda e muito. Mas é foda pra um sedentário ficar bem uma corridinha dessas, ainda mais acompanhando uma gueparda!

— Vamos... acho que a reunião já começou. – ela aponta pra porta com o indicador esquerdo e sua outra mão solta o meu pulso. – A minha senhora disse que vai dar um sinal para quando formos entrar. Mas, nesse meio tempo, vem!

Outra vez damos uma corridinha pra outra tenda, uma tenda aberta em três dos seus quatro lados que tem um cheiro maravilhoso vindo do fundo onde alguém cozinha. Várias mesas longas e seus bancos de madeira escura são como aquelas de piqueniques que eu vi tantas vezes em filmes, mas todas estão posicionadas exatamente na mesma distância uma das outras e nenhuma está sequer com um grão de areia encima.

Mas a Jaya me leva pra lá e no primeiro lugar oferece um assento e já estende a mão e sua voz.

— Ei! Traga um pouco de água fresca e algo doce, você vai servir o Celeste hoje.

As suas palavras acompanham a minha curiosidade, o kha lagarto parece arrepiar as suas escamas amareladas e vira o rosto de uma vez pra nós. Seus olhos procuram e assim que me encontram paralisam.

— Jaya... tá tudo bem.

— Fique tranquilo.

— A-a-a a senhor... Celeste? – ele aponta pra mim gaguejando com uma faca, mas logo que percebe isso a recolhe para trás de si. – Oh! Celeste! – ele anuncia pra si mesmo. – Eu v-vou servir sim!

— Viu? – e ela toca o meu ombro.

— Ai... e aquele problema de veneno, parece que ninguém tá se preocupando.

— Ah sim! Passamos a purificar os alimentos antes de servir a todos. – a gueparda se senta sobre a perna esquerda ao meu lado. – Sinceramente, Celeste, acho que ajudou a levantar a moral, o sabor ficou mais agradável e seguro. Foi bom.

Ela até leva a mão a sua pata esquerda, os seus dedos deslizam pela sola branca e assim que chegam as suas almofadas parecem reagir com ela mesma, seus dedos apertam. Será que Nancis conseguem fazer cócegas em si mesmos? E outra, como ela “esqueceu” disso?

— Hnf. – o sorrisinho dela faz o seu rosto virar a mim. – Celeste. Está bem?

— Ah, com a garganta seca, mas tô legal.

— A minha senhora pode... perguntar o que o senhor fez antes e...

— Eu tive uma conversa agradável com um amigo meu, assim como eu estou tendo com uma agora.

— Hah... e esse objeto? – ela aponta pra minha fênix.

— É um presente, que nem esse aqui, ó.

Já que ela fez, eu também faço. Coloco o tornozelo direito sobre a coxa do outro lado, no mesmo instante a gueparda aperta os olhos e olha pra outra direção, mas, como se lutando consigo mesma ela demora pra olhar. A reação é igual ao do Naji, o seu susto é preenchido por uma ansiedade que não sei de onde vem.

As suas mãos lutam pra manter os dedos entrelaçados, e eu não acho que ela tá olhando pro que uso. Não no primeiro momento, pois assim que vê ela quase perde o ar.

— A-a... é da.

— Uhum, presente. – e aponto pro caçador-de-sonhos-fênix. – Presente também.

— A minha senhora... lhe deu a sua... deuses que inveja. – ela ri pra si mesma.

— O Naji falou o mesmo.

— Agora me sinto tentada a lhe dar um presente também, Celeste.

— Não se sinta, presentes legais são dados porque você quer, não porque acha que precisa. – comento.

— Ah sim! Fui tola. – e o seu olhar abaixa um pouco. – Tem toda razão.

— É. E poxa, isso ficou muito bom. – admito ainda mais essa fênix com o olhar, é muita dedicação.

— Celeste. – uma voz nova me chama.

O timbre da voz Kha é quase o de quem tem a língua presa, é um pouco mais “fria”, eu diria. Mas esse lagarto que traz uma bandeja de madeira parece mais nervoso que criança no primeiro dia de escola.

— Oi! – aceno.

— Ah, oi! – seus olhos se enchem. – É uma honra conhece-lo, por favor. Trouxe um copo de água e doces, fique a vontade. Espero que goste, é-é receita Kha.

— Receita Kha? – pergunto e com os olhos direciono pra Jaya.

— Doces Kha são os melhores. Só perdem para os Ancyllion, sem ofensas. – o seu olhar vai pro outro lado do ombro.

— Não me ofende, senhora, os doces Ancyllion são realmente insuperáveis!

Estendo a mão pra pegar um deles da bandeja, é como uma maria-mole com frios finos de algum líquido avermelhado como calda de morango. Eu não pergunto o que é, parece um pedaço de nuvem e quando coloco na boca o gosto doce e ácido se misturam, a textura é de nuvem mesmo, explode com suavidade, o sabor de limão acompanha o de outras frutas que não sei o nome, mas tenho certeza que já provei.

— Hm! Cara! Muito bom! Como chama?

— Taini Ga, da língua Kha, Nuvem-Enrolada.

— Nuvem... faz muito sentido! – e pego outra.

— Me deixa muito feliz que goste, Celeste.

— Hm! Se puder, e não for pedir muito, pode fazer algumas pra eu levar? Por favor?

Pedir isso parece quase uma ofensa, seu olhar confuso encontra a Jaya e depois a mim de novo, não parece saber como reagir direito.

— Sim senhor! Farei mais agora mesmo! – ele baixa a cabeça deixando o seu shenti quase cair da cintura, mas ele agarra com pressa e um arrepio.

A Nanci traz pra mim o copo de água e o dela. Também compartilha comigo outro Taini Ga. Quase o brindamos, se é possível fazer isso.

— Hah, Celeste... parece que não são só Nancis que ficam inquietos contigo.

— Achei ele muito gente boa. E cozinha muito bem, po-

Contenho o xingamento. Na verdade, eles não entenderiam nada perto disso, mas eu não quero contaminar ninguém com isso.

— Hm, é... mas, Celeste. – a forma que ela suspira firme é de quem decidiu. – Eu posso te pedir uma coisa?

— Uhum. – não falo mais por estar de boca cheira.

— Posso te dar um presente? – engulo.

— Ah, tá, que presente?

A mão dela que antes ia pegar outro doce desce para conseguir a minha. Seu polegar dança pela minha palma e outra onda de coragem urge nela.

— V-vou deixar que toque a minha pata. Só dessa vez. – ela tenta ser tímida.

— O-oi? – acho que o susto todo é meu.

— Todos te deram presentes, como você mesmo disse eu tenho que te presentear porque quero. E eu... gostaria de te sentir. – eita papo estranho. – Só, por favor não faça cócegas, eu...

— É bem sensível, eu vi.

— Viu? – a sua surpresa não é nada genuína.

— Tá bem. – desato o seu agarro da mão e faço de uma vez.

O pêlo curto da sua pata escorre pela minha mão, os meus dedos passam por cima do peito e o polegar passa pelo centro da sola toda. Ela automaticamente parece perder o ar e seus dedos apertam com medo e ansiedade, mas eu deslizo até as suas almofadas marrons, a pouca areia que resta contra elas é limpa por eu passar a mão com toda gentileza que posso juntar. Eu sei o quanto é íntimo pra eles, e vou respeitar isso sendo contido em apertar essa almofada maior pra que os seus dedinhos grandinhos espalhem e eu posso sentir entre eles com o meu polegar, são geladinhos e macios mesmo com a pouca areia que encontro, na verdade.

— Obrigado por... – afasto a mão. – Por deixar que eu tocasse.

Quando olho pra ela, suas mãos estão apertando a tábua do assento, o seu focinho pra cima encontra o nada com os olhos fechados e um suspiro vacilante.

— Ah, Celeste, sua mão é tão... macia. – sua voz treme na última frase. – Eu que agradeço.

— Hah, gosto dos presentes de vocês, muito variados.

— Desculpe se sujei a sua mão.

— Que nada. – bato ela na calça. – Aliás, aquilo ali é o quê?

Aponto pra tenda branca de reunião, e há um soldado que está com a lança não mais do lado esquerdo do corpo, ele move pro outro ombro, isso é bem normal, mas ele parece bater o cabo da lança contra si mesmo algumas vezes.

— Ah, é o sinal! – a gueparda se levanta de uma vez. – Vamos!

— Eita!

Bato as mãos nos joelhos e me levanto junto com ela.

Dessa vez a gueparda não segura a minha mão, na verdade, ela me acompanha com mais formalidade, acho que com toda que pode juntar em si. Sua postura elegante acompanha a cauda que dança atrás dela, minha fênix é o meu escudo de frente e ao chegar perto, não consigo me acalmar o bastante. Isso me lembra quando eu fui apresentar meu TCC, puta que pariu que nervoso, mas agora é bem menos sinistro e tenso, quando vejo que já está participando eu sinto a minha barriga gelando um pouco, mas não me deixo levar por isso.

Os meus olhos encontram a Sha e nela ficam até que eu passe pelos guardas de cada lado da porta. Dou uma breve vista aqui, além da Dat’al katish Sha, o Aksus Brali, e o Elna se mantém do outro lado de uma mesa redonda e negra com um mapa velho sobre ele. Pesos de vários objetos diferentes mantém suas seis pontas esticadas e há no anto, no vértice da tenda, ou seria uma aresta...

Merda eu nunca me lembro. Foda-se, nos cantos altos dos panos há uma estrutura de cordas que sustentam luz por todos os lados, seis lamparinas de luz branca sextuplica toda a pouca sombra que eles tem, mas, não são só os nós cinco aqui, há um trio de soldados também, soldados que eu nunca vi, sinceramente, mas eu aceno com os dedos balançando pra todo mundo.

— Oi.

— Sha, o que isso significa? – Elna é quem aponta pra mim com a mão direita e a outra fica sobre o mapa.

Todos aqui vestem roupas bonitas, túnicas das cores brancas junto a tecido azul que creio ser seda, colares e outros objetos nos pulsos, orelhas e pescoços ficam apenas nos Aksus, Sha e os outros três do fundo parecem bem mais limpos disso, bom, fora aquele brinco que todos usam na orelha esquerda, usam as caneleiras e sandálias adaptadas para as suas patas. Quer dizer, feitas, as minhas que foram adaptadas aqui.

Apesar de nunca ter visto os três do fundo, conheço esse porte mais soberbo, convivi com um por muitos dias. Um lince de pelagem escura que está com as mãos para trás de si, de peito cheio todo imponente, mas que tem um olhar meio arredio, acho que se eu bater palmas ele sairia correndo daqui, há também um leão de pêlo branco que tem em cada braço, mesmo que esconda eles atrás de si também, tecido ciano envolvido por metal bronze que tem no peito uma tatuagem iradíssima feita nas cores vermelhas e preta, e eu acho que se pudesse ver, estaria estendida bem mais além, mas as suas vestes tampam bastante. E pra coroar o Trio-Parada-Dura, uma tigresa que está mais no fundo, de olhar sério e as mãos com cada ponta de dedo unido ao seu par da outra enquanto os cotovelos se mantêm sobre os joelhos, e há nos seus braços manoplas negras, diferentes das outras cinzas de metal, as dela são pretas e vitrificadas com algo que acho ser obsidiana.

— Para aqueles que não o conheceram, ao menos não acordado. Celeste.

Sha me apresenta com todas as honras que pode, mas isso atrai os olhares que a pouco estavam em mim pra ela, só que é por poucos instantes.

— E quem de nós o convidou? – Brali fala logo depois.

— Meu senhor, eu o fiz. – Sha até baixa a cabeça e o olhar um pouco, só que o levanta bem depois. – Com todo respeito, nós definimos seu destino o tempo todo, até mesmo nós cometemos erros terríveis. – com o focinho, mira na tigresa que parece se incomodar por ouvir isso pra ela. – É sensato e justo que ele possa ao menos argumentar nessas decisões.

— Ele não possui aplicação teórica nem posto para falar aqui.

 A minha barriga antes fria pela ansiedade começa a aquecer, eu realmente não gosto desse tigre caolho. Só quem já conviveu com gente ignorante assim sabe como é, é um saco.

— Ah, falar eu posso, olha só como eu to falando. – o desafio com o olhar fixo nele. – Se for pra cagar pra opinião das pessoas, com a maior vontade do mundo eu ignoro a sua. – “babaca” é a palavra que eu adoraria fechar.

Mas, por educação não digo, mas a vontade era imensa.


Notas Finais


Nenhuma patinha foi abusada na construção desse cap... eu acho XD


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