História As pontas de um iceberg. - Se eu não te encontrasse...

Se eu não te encontrasse
           Nem sentisse este amor
  Eu jamais iria supor
            Que a vida é o maior bem
 

Em um beco os dois discutiram.

 -Nós precisamos conversar.

-Podemos fazer isso depois.

-Se prefere assim...

Afrodite virou-se e parou após alguns passos. Falava em voz baixa, tentando conter uma lágrima teimosa que embaçava sua  vista.

-Só quero dizer que está tudo bem, sabe? Entre nós. E fico feliz que tenha encontrado finalmente alguém pra dizer que ama. Sempre torci por sua felicidade. E não seria diferente agora.

-O que? Espera Dite, você acha que...

Afrodite já se virara e saia quando Tito segurou sua mão.

-Não é nada disso Afrodite. Você está enganado. Helena e eu somos...

Afrodite soltou-se e interrompeu o canceriano.

-Não me importo com o que sejam, contanto que você esteja feliz. Fique atento, logo mais teremos que batalhar. Até logo.

Saiu pisando duro, deixando um italiano confuso e chateado para trás.

-Não é ela quem eu amo Dite... Não dessa forma.

Se eu jamais te visse
Desde o dia em que eu vi
Não veria que você
É o que faltava em mim
 

Passou direto por ele e caminhou como se não houvesse ninguém ali. Frodi estava chocado com tal atitude.

-Lyfia...

As lágrimas percorreram seu rosto. Não havia como controlar. Ciúmes, a sensação de ser desprezado, o sentimento da rejeição, tudo isso impedia Frodi de ver o que realmente estava acontecendo.

Nem identificou o cosmo estranho que estava por trás da presença da moça.

Lyfia chegou até a câmara dos mortos. Um guerreiro deus mascarado estava ali. Havia uma espécie de altar no local.

Enquanto isso, Frodi sentiu a movimentação dos guerreiros dourados e caminhou de volta até a câmara que guardava. Seu peito doía, uma dor física que vinha da dor emocional. Observava a estátua que deveria defender. Sua cabeça doía, enquanto passavam flashes em sua mente.

O dia que a olhou pela primeira vez.

Quando tiveram sua primeira conversa.

A risada dela e a satisfação com coisas simples.

Tudo era tão dele... Tão deles...

Se aquele maldito cavaleiro de Atena não tivesse aparecido...

-Então você é o guardião dessa câmara?

O sangue de Frodi ferveu nas veias. Seu cosmo explodiu ao virar-se e dar de cara com Aioria.

Faria ele pagar com a própria vida o que fizera com a relação dele e Lyfia.

Onde há tanta falsidade
E terror no ar
Eu só vejo a verdade
Ao olhar
No seu olhar
 

Afrodite observara atentamente a movimentação estranha.

Após ver Helena ser levada, ele bateu na porta da casa da moça. Os pequenos abriram a porta, assustados ao encarar o jovem loiro.

-Oi moça.

-Moço, menino. Sou homem.

-Mas com essa camisa rosa?

-Você usa batom? –perguntou a mais nova.

-E perfume de flor? –perguntou uma outra garota.

-Detalhes queridos, detalhes. Sua irmã, para onde foi?

-Disseram que iam levar ela pro hospital. Ela pediu pra nós nos cuidarmos. Mas estamos com medo.

Afrodite entrou e observou o cômodo simples.

-Vocês terão que ser fortes e se cuidar viu?

-Nossa irmã... Vai ficar bem?

-Eu sei que vai. Mas vocês se mantenham firmes até ela voltar. Vocês tem dinheiro?

-Sim! O homem com a bolsa que fede pinga tem nos dado dinheiro.

Afrodite riu.

-Bolsa que fede pinga?

-É, tem um moço que anda fedendo pinga por aí, que ajuda nossa irmã. A sacola dele fede pinga também.

-Hum... E esse moço e a sua irmã... Eles são namorados é?

O menino mais velho deu uma risada gostosa.

-Nãooooo. Não da pra eles namorarem.

Afrodite ficou surpreso com a espontaneidade do menino.

-Por que não?

-Por que o moço que fede pinga disse que namora tem muito tempo. Disse que o amor da vida dele estava por perto, e ele não queria que a gente nem brincasse dizendo que a mana ia namorar ele.

-E ele disse... Como era esse amor dele?

O menino tentou lembrar enquanto os outros olhavam.

-Disse só que era uma pessoa muito bonita, e ele não sabia por que ela gostava dele. Disse que era sempre muito bem cuidado, e se não fosse essa pessoa, ele teria morrido aqui quando chegou. E ele falava assim sabe, com os olhos bem brilhantes.

-Não era por que estava bêbado?

-Não, era diferente. Ele falava sério sabe? Com uma voz feliz, um jeito feliz.

Para Afrodite, aquilo bastava. Fora apenas saber do paradeiro da jovem e saíra com uma informação muito mais do que valiosa.

Afagou gentilmente a cabeça de cada um dos pequenos e falou com o mais velho.

-Eu vou deixar umas rosas vermelhas ali na frente. Um buquê bem grande. Se chegar algum estranho que assuste vocês, joga uma pétala na direção deles. Eles vão dormir. E essas rosas são especiais, não vão murchar por muito, muito tempo.

-Sério?

-Sério, pequeno. Não saiam daqui até um adulto conhecido ou a irmã de vocês chegar, de acordo?

-De acordo.

Afrodite despediu-se dos pequenos e saiu com uma sensação de alívio. Depois de descobrir o sequestro de Helena, ele não pode mais ficar parado. Por que sabia que ela havia sido sequestrada.

Vestindo sua armadura, ele localizou a presença de Fafner, um dos guerreiros deuses. Um oponente sujo a seus olhos.

A situação complicou-se quando, ao tentar resgatar Helena e os outros, Afrodite deparou-se com Andreas, o usurpador da governança de Asgard. Ele descobrira que a Yggdrasil, uma árvore lendária que continha uma semente maligna que ao brotar geraria um fruto que destruiria o mundo, estava sendo alimentada pelo cosmo e poder dos cavaleiros de ouro. Com um plano em mente, após revelar uma nova habilidade de se comunicar com plantas, Afrodite quase colocou o lugar abaixo. Seu plano estava saindo quase que em perfeita ordem, não fosse um detalhe.

Sentiu a cosmo energia de Máscara da Morte por perto.

“Se ele está aqui... É por que descobriu sobre a moça! Então ele realmente a ama...”

Afrodite pulou para fora do local onde Fafner estava sugando a energia vital dos moradores da região. Andreas o seguia, manipulando as raízes da árvore sagrada para feri-lo, mas ele escapava habilmente. Ao avistar o canceriano, ele gritou.

-Cuide dela!

Trazia Helena nos braços. Muito fraca, a moça mal respirava. Afrodite só tivera tempo de jogar a jovem em direção ao outro dourado, e então sorriu ao ser atingido por uma das raízes manipuladas por Andreas.

-AFRODITE!

O grito que o italiano soltou revelou em apenas uma palavra tudo que ele realmente sentia.

Mas era tarde.

Aparentemente, mais do que tarde.

E quero agradecer
Tantas coisas me fez ver
E o destino
Quis que eu te encontrasse
 

Dohko travou uma batalha com o guerreiro deus mascarado. Ele controlava os mortos, e um exército zumbi deu trabalho ao libriano.

Foi então que Lyfia despertou. E Andreas fez uma revelação.

Uma revelação que deixou todos embasbacados.

-Lyfia reviveu os cavaleiros de ouro. Em Asgard, todos sabem que existe um tabu: quem trás um guerreiro de volta do mundo dos mortos deve ser executado. Reza a lenda que isso trás azar para nossa terra natal. Portanto, a ordem agora é de executar a traidora.

Frodi estava batalhando com Aioria. Os dois pararam abruptamente, estarrecidos com a revelação. Nesse instante Lyfia adentrou na câmara em que Aioria e Frodi batalhavam. Estava agora consciente de sua situação.

-Frodi, sua missão como guerreiro é acabar com a traidora. Mate-a.

O guerreiro deus levantou sua espada. Aioria dispôs-se a defendê-la. Mas ao encarar aqueles olhos...

Doces como sempre.

Tão seus, tão perto e tão longe...

Frodi não teve coragem. Fincou sua espada no chão. Lyfia pegou a arma e apontou para o próprio pescoço, mas Aioria a impediu. Andreas tentou controlar Frodi com o poder da nova safira de Odin, mas o asgardiano se recusou e lançou um ataque sobre si, destruindo a joia e o controle de Andreas.

Quando todos acharam que agora poderiam entender-se e travar uma batalha contra o verdadeiro inimigo que aos poucos se revelava, algo inesperado aconteceu.

Frodi e Aioria gritaram quando o guerreiro deus mascarado da câmara dos mortos aplicou um golpe de espada em Lyfia.

Ao ser atingida, ela foi amparada por Aioria. Frodi estava congelado, incrédulo com a cena diante de si.

Lyfia estava prestes a morrer. Bem ali, em frente aos seus olhos, e sem que ele nada pudesse fazer.

Pior do que isso, estava morrendo nos braços de outro. E olhava para ele tão ternamente, tão docemente...

De um jeito que ele nunca imaginou que ela pudesse olhar para alguém.

As lágrimas corriam enquanto ele gritava seu nome, no momento que ele julgava que seria a última vez.

Se eu não te encontrasse
Nem sentisse este amor
Eu jamais iria supor
Que a vida é o maior bem
 

Dentro da Yggdrasil, eles conversavam entre si, através do cosmo. Afrodite os despertou sutilmente, deixando o italiano por último.

“O que... O que houve?”

“Tito, acalme-se e oculte o cosmo. Estamos dentro da Yggdrasil. Chega a hora de despertamos!”

Rapidamente ele elucidou toda a história. Loki, o deus das trapaças, armara toda uma situação para tomar o controle da terra durante o eclipse que Hades causara. Achando que não haveria rival para combatê-lo, ele ressuscitara os dourados e usara seus poderes para despertar a árvore lendária.

Mas eles não permitiriam isso. Para isso eram os cavaleiros da esperança.

“Mas Dite... Como nós... Eu vi você...”

Afrodite tentou parecer tranquilo.

“Eu sou imune a qualquer veneno de planta lembra-se? Loki errou em me capturar primeiro. Agora é hora de despertar e lutarmos!”

“Juntos outra vez?”

“Juntos! Como sempre!”

E quero agradecer
Tantas coisas me fez ver
E o destino
Quis que eu te encontrasse
 

Sobreviveram apenas Frodi e Sigmund dos guerreiros deuses. Então todos descobriram que Loki, o deus das trapaças e artimanhas possuíra o corpo de Andreas. Seu plano era obter o poder do fruto da Yggdrasil para que assim, aproveitando-se do enfraquecimento de Atena e Hades, ele pudesse dominar o mundo.

Hilda revelou todo o plano. Frodi e Sigmundi a defendiam dos servos de Loki. Os cavaleiros dourados batalhavam contra o falso deus mas estavam a passos de serem derrotados.

Quando um milagre aconteceu.

Lyfia voltou a vida. Agora eles descobriram que ela era a nova representante de Odin, na verdade, seu receptáculo. Dessa forma, ela começou a concentrar-se em oração, convocando quem estivesse vivo para ajudá-la nisso. Os guerreiros de ouro, revividos por Odin, sentiram suas energias renovadas e deram seu máximo, começando assim a assustar o trapaceiro deus Loki.

Mas apesar dos doze cavaleiros de ouro estarem reunidos, eram homens contra um deus. Foi com a intervenção de Atena que eles despertaram o poder divino de suas armaduras.

E então, nos céus acima de Asgard, doze estrelas douradas cintilaram juntas, pondo fim a ambição de uma estrela negra.

O nosso amor tem grande emoção
E nos alegra o coração
O ódio e o medo tem poder destruidor
Só conduzem à inútil agressão
Mas ouça o coração que tem razão.
 

Lado a lado, Peixes e Câncer batalharam dessa vez. Junto com os amigos ele ultrapassaram seus limites e despertaram armaduras divinas. Com o auxílio de Atena, e das orações dos habitantes de Asgard, eles obtiveram forças para vencer.

-E agora?

-Agora? Estou satisfeito por ter vingado Helena.

O italiano pegou na mão do loiro e segurou com força. Os outros dourados despediam-se de Hilda, Freya e dos outros. Lyfia e Frodi estavam lá também.

Shaka revelou que uma vez que a ameaça fora vencida, eles iriam voltar ao sono eterno. Pouco a pouco eles iam se despedindo. O italiano fez graça.

-Poxa. Eu gostaria de aproveitar um pouco mais. Gostei de ficar aqui de novo.

Afrodite o puxou pelas costas da armadura, fazendo com que os outros rissem.

-Não senhor. Nós temos que sair de forma bonita. Vamos embora.

Para os presentes, eles haviam se dissolvido em luz, mas na verdade eles moveram-se na velocidade da luz e foram até o deserto de Asgard, local onde julgaram ser o melhor para devolver as armaduras remanescentes ao Santuário. Poseidon os contatara, dizendo que enviaria as armaduras de Sagitário, Aquário, Libra, Leão e Virgem ao submundo, aos campos Elíseos onde os guerreiros de bronze batalhavam. As outras, como um acréscimo ao favor, retornariam ao Santuário.

Após as retirarem, os dourados afastaram-se um pouco, cochichando entre si, par por par. Saga e Aioros, Shura e Aldebaram, Mu e Aioria, Shaka e Dohko, Milo e Camus e Afrodite e Máscara da morte.

Ou melhor, Dite e Tito conversavam.

-Então... Conseguimos. Salvamos o dia mais uma vez.

-Sim. Mas o mais importante é que estamos juntos de novo.

-Dite... Eu sei que está chegando a hora... Mas eu queria dizer...

-Shiu... –Afrodite levou um dedo a boca do italiano, que o encarava com os olhos arregalados.- Não precisa falar nada Tito.

-Mas eu queria... Preciso falar Dite. Eu tenho um sentimento em mim... Que... Tudo que mostrei agora... Olhando esse ambiente gelado, me lembrou. Tudo que mostrei pra você é só a ponta do iceberg. Aqui dentro, onde eu não mostro tudo...

Ele levou a mão do sueco ao peito.

-Aqui dentro tem muita coisa encoberta. Que eu quero botar pra fora. Dite, eu...

O silêncio tomou o ambiente quando todos encaravam o casal entrelaçado que trocava um beijo carinhoso e lento. Sorriam, aliviados por finalmente todos estarem resolvidos.  

E mesmo que fosse um final, dessa vez seria um final feliz para todos.

Se eu não te encontrasse...
(Eu vou sempre bem dizer...)
Nem sentisse este amor...
(Do momento de te ver...)
Eu jamais iria supor...
(Dure o tempo que durar...)
Que a vida é maior bem...
(Vou desfrutar...)
 

Lyfia despediu-se de Aioria. Os outros dourados partiram, com um sorriso de agradecimento no rosto.

Frodi havia se afastado, junto com Hilda, Freya e Sigmund. Mas ainda teve tempo de ver Lyfia cair de joelhos ao se despedir do leonino e interromper uma declaração que ele sonhava ouvir dirigida para si, não para outro.

Hilda e Freya seguiram em frente, ao perceberem que Frodi congelara e de seus olhos as lágrimas rolavam sem impedimento. Sigmund acenou com a cabeça para que elas continuassem, e se aproximou do amigo.

-Frodi...

O moreno respirava fundo, os ombros sacudindo. Além do estresse da batalha, estava sofrendo por amor.

Um amor que ele julgava não correspondido.

Com a cabeça baixa, ele não respondeu o outro guerreiro deus. Sigmund passou um braço por seus ombros e o trouxe para junto do corpo.

-Sabe... Chorar nem sempre é ruim.

Ele abraçou o amigo e ali decidiu que seria a última vez que derramaria lágrimas por causa de Lyfia. Após alguns minutos, ele encarou Sigmund e fez essa promessa.

-Agora vamos embora. Temos uma cidade inteira para reconstruir e novos guerreiros deuses para treinar. Parece que somos tudo que sobrou de um exército.

-Isso pode esperar Frodi...

-Não Sigmund, não pode. Agora percebi o quanto estamos despreparados, se nem identificar a quem servimos nós conseguimos... Olhe no que acabou tudo isso. Eu vou dedicar toda minha energia e força em cuidar de Asgard. E preciso de sua ajuda nisso.

Sigmund conseguiu ler nos olhos de Frodi a súplica. Para que avançassem. Para que o foco mudasse.

E em respeito aos sentimentos do amigo, concordou com um aceno de cabeça.

-Então vamos até Hilda. E comecemos essa nova etapa em nossas vidas.

O nosso amor tem grande emoção
E nos alegra o coração...
O nosso amor tem grande emoção
Que o medo só causa a destruição...
Mas ouço o coração que tem razão
Tem razão.
E quero agradecer (Quero agradecer)
Tantas coisas me fez ver...
 

Frodi observava os prados gelados de Asgard. Algum tempo havia se passado após a revolta de Loki. As terras geladas do norte da Europa estavam revivendo gradualmente. A nova geração de guerreiros deuses que defenderiam as terras nórdicas estava sendo treinada. Tudo parecia em ordem novamente. Chegaram notícias do Santuário de Atena avisando que o planeta fora salvo, e os deuses após uma breve conferência, devolveram a vida aos guerreiros mortos em batalha, mais especificamente aos guerreiros de Atena. Hilda fora chamada para a Grécia para interceder pelos guerreiros deuses, tanto os novos quanto os antigos que morreram por culpa da ambição de Poseidon e Loki. Mas ao invés de ir, ela enviou Lyfia.

Frodi não falou mais com a moça após o último dia de luta. Decidira nunca mais ter contato com ela, uma vez que achava que apenas faria mal a ambos se tentasse se aproximar outra vez.

Embarcou de cabeça na missão de reconstruir Asgard. As poucas notícias que tinha ou ouvia vinham através de Sigmund.

Estava caminhando pelas propriedades de sua família, torcendo em seu íntimo para que os seus companheiros recebessem a graça da ressurreição. Perdido em pensamentos, não notou que uma pessoa se aproximava por trás. Sua surpresa só foi maior quando virou-se e constatou que a dona da voz que o chamara era Lyfia.

-Frodi? Podemos conversar?

Após tanto tempo separados, sem nenhum contato, Frodi não reagiu como gostaria. Sentiu o sangue correr mais forte no rosto, e percebeu que ficara corado. Seu coração disparou, parecia que ia saltar pela boca. Após alguns segundos, sua voz saiu fina e tão baixa que ele teve que repetir a frase.

-Lyfia... Eh... Sim, diga o que quer.

Ele a observou de cima abaixo. Os cabelos não estavam presos como habitualmente. Soltos, eles emolduravam seu rosto de uma forma que a deixava mais bonita ainda, se é que isso era possível. Seu sorriso meigo e doce o encantou por alguns segundos, e ele quase se esqueceu que não queria mais nada com ela.

-Eu... Eu fui ao Santuário a pedido da Srta. Hilda. Estive com Atena, e outros deuses, e tenho boas notícias.

Frodi apenas a encarava. Conseguia exibir uma expressão de desinteresse, mas por dentro estava derretendo. Ela continuou apesar do silêncio do moreno.

-Os seus companheiros... Os guerreiros deuses serão revividos. E parece que...

Frodi não ouviu mais nada. Apesar de tentar, ele perdera o domínio sobre os sentimentos e sobre o corpo. Quando se deu conta, sua vista estava turva por conta das lágrimas. Lyfia falou por um bom tempo até se dar conta de que o rapaz chorava. Julgou ela que era emoção pelos amigos.

Ledo engano.

-Oh, Frodi. Não precisa disso, aqui, todos estão bem e...

Ela levou a mão até o rosto dele e secou um dos caminhos de lágrimas. Ele virou-se bruscamente, ficando de costas para ela.

-Frodi, sou eu. Não precisa agir assim, nós nos conhecemos há uma vida toda e...

-E NÃO! NÃO FALE MAIS NADA!

Não dava pra continuar se enganando.

-Frodi...

Lyfia estava assustada com a reação do rapaz. Ele deu alguns passo até uma árvore e se apoiou ali.

-Eu não choro por eles. Eu choro por mim. Por ter sido idiota por toda minha vida. Por ter me apaixonado por você, e não ser correspondido. Choro de raiva de achar que tinha banido esse sentimento de mim, mas ele continua aqui. Bastou te olhar e tudo voltou.

Lyfia sorriu ternamente.

-Frodi, você nunca foi idiota...

-Claro que fui. Eu deveria ter percebido que você não queria nada além de amizade comigo Lyfia. Eu forcei situações... E quando eu vi você com o cavaleiro... Tudo foi revelado. Eu percebi do momento em que você o viu até o momento em que se despediu que o que eu sentia por você, você sentia também... Por ele. Eu juro, eu estou tentando me livrar desse sentimento mas...

Quando abriu os olhos, ela estava em sua frente. A moça tomou seus lábios em um beijo doce, calando-o e deixando o rapaz embasbacado.

Retribuiu de forma tímida, mesmo após ela ter jogado os braços ao redor de sua nuca. Ela deu continuidade ao beijo, e quando se soltou o encarou de maneira gentil.

-Frodi... Me desculpe por ter passado as impressões erradas. Quero que saiba que eu me dei conta de que amo você. E isso não é algo que aconteceu recentemente.

Ele piscou algumas vezes, ainda embasbacado.

-Lyfia, não faça isso. Se diz essa coisas por pena ou gratidão, eu...

-Não é nada disso. -Ela balançou a cabeça- Eu nunca me achei... Nunca achei que fosse merecedora de fato dos seus sentimentos. Sempre tive medo, essa era a verdade. Após essa situação com Loki, eu pude enfim perceber o que realmente se passava em meu coração.

-Lyfia, não minta para mim. Eu vi como você olhava para Aioria... Eu ouvi sua declaração quando ele se foi... E sua ida para a Grécia só me fez crer que vocês iriam se resolver enfim...

Ela revirou os olhos.

-Homens... Nunca entendem nada.

-Eu entendi. Eu te amei, você amava ele. Ponto.

-Frodi, chega disso. Preste atenção.

Ela o puxou gentilmente pela mão. Encararam-se.

-Eu senti uma forte atração pelo cavaleiro de Leão. Sim, não nego isso. Mas eu descobri algo durante nossa luta, e esse algo foi confirmado quando fui a Grécia. Aioria já era uma pessoa comprometida quando chegou em Asgard. Não haveria a menor possibilidade de ficarmos juntos.

-Eu vi que ele correspondia a seus sentimentos... Não tente me enganar Lyfia, eu...

-Me deixe terminar Frodi. Aioria é grego, sabia?

-A maioria dos cavaleiros é.

-Pois bem... Ele além de nativo grego, também o é em um de seus costumes. Entende o que quero dizer?

Frodi a fitou profundamente, não entendendo o que ela dizia.

-Lyfia, o que... Eu não estou...

-Aioria tem um romance com outro cavaleiro Frodi. Nunca ele quis nada do tipo que você está pensando, comigo.

Frodi levou algum tempo para processar a informação. Quando a ficha caiu, ele estava boquiaberto.

Lyfia sorriu outra vez.

-Eu estive com ele. Conversamos, e eu não me lembro de ver alguém tão apaixonado assim desde... Nunca. Enfim, em nossa conversa, eu confessei a ele o que sentia, e acabei vendo que o que me atraiu nele foi algo que eu tinha ao meu lado toda a vida.

-Então... Então vocês nunca... Estiveram juntos? Ele nunca quis você, e nem você a ele?

-Agora você entendeu?

-Mas então...

-Frodi... Você conhece as geleiras que cercam nossa terra. Sabe que há muitos icebergs por aqui. Sabe o que eles são, certo?

-Oras... Imensos blocos de gelo flutuantes. Em que a ponta nunca permite enxergar a real dimensão do que está encoberto pela água.

-Exato. O que você achou que viu dos meus sentimentos... Não era o que realmente estava por vir. Eu sempre fui apaixonada por você, mas nunca me achei digna de corresponder a esse sentimento. Tentei me enganar, achar que se eu me envolvesse com outro, eu te esqueceria. Mas logo na primeira tentativa, já percebi que não funcionaria. Eu fui feita para você Frodi, e você pra mim. Tudo que quero é ficar junto com você.

-Lyfia...

-Se você me perdoar pelo que eu te causei... E estiver disposto ainda... Eu gostaria... De te fazer o homem mais feliz do mundo. Se eu não puder ter essa chance, eu entenderei mas... Quero que saiba que estou aqui e...

Frodi se jogou nos braços de Lyfia. Não precisava nem queria ouvir mais nenhuma palavra.

Colou seus lábios aos dela. Perderam-se naquele beijo, que tinha gosto de eternidade e simbolizava o início de uma nova vida.

Finalmente, os dois jovens corações tornaram-se um.

Ouço o coração
Que tem a razão.
E o destino
quis que eu te encontrasse...
 

FIM