Jungkook’s POV
Estava em meio a um fogo cruzado, me arrependendo muito da hora em que eu decidi que seria melhor se Namjoon e Jimin me ensinassem juntos para não ter que deixar o rosado chateado comigo, porém o Park praticamente tinha declarado uma guerra fria contra o Kim, mesmo o ultimo citado nem parecia notar que Jimin competia com ele a cada instante de palavras.
Estávamos há três dias naquilo, estudando depois das aulas na biblioteca, quando contei ao Park que Namjoon tinha me oferecido ajuda em matemática, o rosado pareceu não gostar nada, mas o falei que tinha aceitado apenas porque tinha sido um pedido do professor Hoseok, tentando assim amenizar a irritação que o mais velho parecia sentir, desculpa essa que não era de toda verdade, afinal eu tinha aceito porque gosto do Namjoon, mas isso o Jimin não precisava saber nem tão cedo, ou melhor, nunca deveria saber enquanto aquele feitiço ainda estivesse sobre ele.
Porque bem, meu tio havia me explicado que quando o feitiço envolvia sentimentos, qualquer coisinha poderia se tornar uma enorme confusão, havia uma pequena possibilidade do enfeitiçado encarar alguém como um empecilho, entender que uma determinada pessoa estava o impedindo de o permitir cumprir as ordens da afanasy, e isso poderia vir a se tornar uma grande bagunça. Essa caneta era destrutiva, fui idiota por tentar usá-la, se eu pudesse, tiraria essa magia do corpo de Jimin neste mesmo instante, mas não era possível, apenas desejava poder pedir perdão a ele por toda essa desordem.
No começo dos nosso estudos o Jimin até tentou não demonstrar que se sentia incomodado com a presença do Kim, mas logo foi impossível para ele fingir que estava tudo bem, pois Namjoon sugeriu ajuda também ao Park nas matérias em que ele ia mal, isso soou para Jimin como uma afronta, mas o convenci a aceitar, pois Namjoon era um professor muito melhor e mais paciente do que eu.
Ao contrário do que eu pensava antes, nem todos os populares são amigos ou colegas, Namjoon e Jimin sequer haviam se falado antes, mesmo que a “fama” de ambos pelo colégio fosse grande, talvez esse tenha sido o outro fato que fez o Park se sentir ameaçado pela presença do Kim ali. Apenas talvez, porque não sei bem, estou trabalhando apenas com hipóteses aqui.
Não sou idiota ao ponto de não notar que Jimin estava enciumado, ele não fazia questão nem de disfarçar isso, enquanto eu não sabia disfarçar a minha admiração pelo Namjoon, parecia um bobo apaixonado, suspirando e o olhando com cara de imbecil a cada palavra que ele dizia, matemática era a última coisa que eu conseguia prestar atenção.
— Não Jungkook, essa é uma equação de grau N, então possui raízes N também. — Namjoon proferiu apontando na folha em que eu respondia os exercícios que ele tinha me passado.
— Oh, ok. — Respondi um tanto desconcertado, álgebra com toda a certeza era algo que eu não entendia e nem queria entender nada.
— Kookie… — Jimin me chamou num tom até manhoso demais para a ocasião, utilizando o apelido que ele mesmo tinha criado após Namjoon começar a estudar conosco. — Você tem que usar o método de substituição aqui, se não, não vai poder determinar as coordenadas corretamente.
— Está bem. — Assenti sentindo que meu cérebro estava perto de explodir.
— Você tem que isolar a incógnita aqui. — O Kim expressou mostrando no papel, aquilo para mim era árabe, porque eu não estava entendo nada.
— Tá bom. — Falei num fio de voz, completamente perdido naquilo.
— As raízes nulas são iguais ao menor expoente da variável, Jungkook! Arruma isso aqui ou o resultado estará errado. — Jimin disse e eu apenas tive vontade de congelar os dois e poder sair dali sem ser notado.
— Vou arrumar isso. — Respondi apagando pela décima vez a mesma coisa, quase rasgando a folha do caderno de tão desgastada que ela já estava.
— Substitui a incógnita isolada por -Y. — Namjoon pediu e eu sentia que aquilo nem era matemática mais, porque naquela folha só tinha letras e quase nem um número.
— Eu termino isso em casa então, já está ficando tarde. — Falei para tentar sair daquilo, ainda era o meio da tarde e minha mãe não era do tipo que controlava o meu horário, ela só não gostava que eu chegasse de noite e não a avisasse com antecedência.
— Verdade, terminamos esse assunto na segunda-feira então. — Namjoon proferiu começando a arrumar o seu material assim como eu fazia, Jimin tinha ficado quieto, apenas nos observando sem expressão.
— Claro, eu até vou revisar sozinho no fim de semana. — Proferi e Namjoon sorriu parecendo aprovar minha atitude.
— Bem, hoje é sexta, então eu não preciso chegar cedo em casa. — O Kim iniciou olhando para mim, o que me deixou um tanto nervoso. — Você quer ir tomar um milkshake aqui em frente?
— Não, valeu. — Jimin disse sua resposta, num tom baixo, sequer olhando diretamente para Namjoon.
— Então vai ser só nós dois, Kook? — Namjoon indagou, sorrindo simpaticamente... E ele me chamou de Kook... Ai, socorro. — Quer ir lá comigo?
— Eu quer- — Tentei responder que aceitava, mas fui logo cortado pela voz de outro.
— Não vai dar, Jungkook e eu já tínhamos combinado algo. — Jimin tomou a frente, colocando a mão em meu ombro e me deixando confuso, a gente não tinha combinado coisa alguma.
— Mas será rapidinho, apenas uma bebida. — Namjoon retrucou, encarando Jimin firmemente, eu estava ali entre os dois me sentindo disputado.
Até que aquilo fez o meu ego se alegrar bastante, mesmo sendo uma situação cômica.
— Ele está indo lá pra casa, minha mãe não gosta de atrasos. — Jimin disse enfatizando a palavra “casa”, como se quisesse mostrar que o convite dele para mim era algo mais intimo.
— Tudo bem então, a gente marca outro dia, certo Jungkook? — Namjoon disse compreensivo e eu apenas assenti várias vezes. — Nos vemos na segunda, tchau.
— Tchau... — Respondi acenando, vendo o mais alto se retirar.
— Não sabia que eram amigos. — Jimin murmurava enquanto ia guardando seus materiais.
— Por que tomou a palavra no meu lugar? O convite foi para mim. — Expressei irritado. — E além do mais, você nem tinha me chamado para ir na sua casa.
— Você queria mesmo ir com ele? — Perguntou arqueando as sobrancelhas, desviando o olhar para a mesa em seguida. — Talvez ainda consiga o alcançar.
— O ponto não é esse, Jimin, você não deveria responder algo por mim. — Retruquei em seguida.
— Que merda, Jungkook! — Exclamou jogando sua mochila sobre a mesa. — É um crime querer passar mais tempo com você, agora?
— Então o convite para ir na sua casa era real? — Indaguei confuso.
— Em parte sim, eu ia perguntar hoje, mas ele chegou e atrapalhou tudo. — Bufou enquanto cruzava os braços, olhando para o lado oposto ao meu. — Desculpa, sei que não devia falar no seu lugar, mas... eu tinha planos para a gente e sei lá, quando fui ver, já estava respondendo.
— A gente passa o horário de entrada, o intervalo e ficamos pra estudar depois da aula juntos, já não é o bastante? — Expressei também jogando minha mochila sobre a mesa, franzindo o cenho.
— Talvez pra você. — Respondeu num tom mais baixo, abaixando o olhar, parecendo se tornar triste.
— Jimin... — Murmurei, porém ele continuou a falar antes que eu concluísse.
— Deixa pra lá, a gente se vê depois.— Expressou, pegando sua mochila e colocando nas costas, se preparando para ir embora.
— Jimin, espera um pouco... — Disse, segurando sua mão, vendo um sorriso lateral nascer em seus lábios... — Quer mesmo que eu vá em sua casa?
— Minha mãe pareceu animada quando eu disse que levaria você, então é um "sim"! — Respondeu, se virando de volta para mim, parecendo tentar segurar para não continuar a sorrir.
— Se o convite ainda estiver de pé, eu aceito. — Falei o vendo agora sua expressão contente tomar conta da sua face.
— Vamos então! — Exclamou mais animado, me puxando pela mão até a saída, depois que peguei minha mochila também.
[.>x<.]
O caminho até a casa do Park foi até que rápido, fomos conversando assuntos aleatórios durante o percurso, o mais velho ainda parecia um pouco chateado pelo que havia acontecido na biblioteca, ele realmente não gostava da presença de Namjoon com a gente mas eu não voltaria atrás em minha decisão, o Kim estudaria com a gente sim, talvez se Jimin permitisse eles até que poderiam se tornar amigos.
Ao chegar em frente a uma casa mediana, próxima ao centro da cidade, Jimin avisou que ali era onde ele morava, o local era bastante calmo e parecia aconchegante, tanto a residência quanto o enorme jardim que havia em frente.
— Mãe, chegamos! — Jimin avisou em alto tom, enquanto passamos pela porta da frente e íamos tirando os nossos sapatos.
— Oh, vejo que trouxe seu convidado. — Uma mulher jovem com traços bem parecidos com os de Jimin apareceu na vindo do interior da casa.
— Sim, esse é o Jungkook que eu lhe falei. — Jimin afirmou sorrindo.
— É ótimo finalmente te conhecer, Jungkook. — A morena falou sorrindo. — O Jiminie me falou muito de você. — Ela disse enfatizando a palavra “muito” o que deixou o rosado um tanto sem graça.
— Prazer em conhecê-la senhora Park. — Falei e eu me curvei educadamente, ela sorriu apreciando o gesto.
— Bem, eu vou trocar de roupa. — Jimin falou enquanto tirava a mochila de suas costas. — Por favor não diga nada para me envergonhar, mãe.
— Até parece que não me conhece, Jimin. — A mulher retrucou rindo soprado.
— É exatamente porque eu te conheço que sei que adora falar coisas vergonhosas sobre mim. — O rosado disse já caminhando em direção as escadas que haviam ali na sala.
— Vai logo, menino! — Disse a senhora Park empurrando o filho para o andar de cima e logo se virando novamente para mim. — Eu pensei que vocês chegariam na hora do almoço, Jungkook.
— Desculpe o atraso, ficamos estudando na biblioteca com um outro colega nosso. — Contei e ela pareceu surpresa, mas depois sorriu.
— Ah, eu fico feliz em saber disso. — Falou se aproximando e me puxando pelo braço. — Vamos para a cozinha, você deve estar com fome.
A senhora Park — que eu descobri se chamar Soyeon — era bastante simpática, ela lembrava a minha própria mãe, tanto na forma de falar quanto no jeito preocupado, a mesma havia feito um almoço especial por saber que Jimin levaria um amigo, o que fez eu me sentir culpado, afinal eu tinha entrado na vida de Jimin tão rápido quanto sairia, dali a um mês e duas semanas ele não saberia mais quem eu era.
— Queria lhe agradecer, Jungkook. — A mais velha proferiu enquanto me servia um suco de laranja.
— Eu? Por quê? — Indaguei desentendido após agradecer pela bebida.
— Faz duas semanas que o seu nome é a palavra que eu mais ouço o Jimin falar, e desde então sinto que houve uma influencia positiva para ele. — Ela contou se sentando ao meu lado. — Essa semana ele me disse que se sentia mais confiante em fazer as provas de recuperação.
— Não acho que seja apenas por minha causa. — Respondi sem graça, olhando para o chão.
— Bem, você tem muito mais a ver do que pensa. — Ela sorriu me olhando. — É a primeira vez que vejo meu filho apaixonado em tanto tempo.
— Ah… e-eu… — Me perdi nas palavras surpreso pela fala da mais velha.
— Desculpe, não queria te deixar sem graça, mas pelas coisas que Jimin me diz, achei que estivessem juntos. — Soyeon disse com uma expressão preocupada.
Mas eu não estava envergonhado, eu sabia bem o que Jimin sentia por mim, porém era complicado falar daquele assunto, pois o Park logo não saberia mais quem eu sou, e agora eu começava a ver que não devia ter aceitado o convite de vir em sua casa, estava entrando na vida de mais uma pessoa que faz parte do convívio com Jimin e apenas ele vai se esquecer de mim, as outras pessoas continuarão se lembrando e com certeza ficariam muito confusas.
Estava me sentindo muito mal, Soyeon estava me agradecendo sem saber que eu era o bruxo irresponsável que enfeitiçou o filho dela por acidente, e também aceitei o convite de Jimin no impulso, não querendo o deixar triste, mas só então comecei a me dar conta do que aquilo significava, acabaria causando ainda mais bagunça, mas já era tarde demais para simplesmente falar que eu precisava ir embora, Jimin ficaria chateado, ele estava muito animado para que eu viesse até sua casa, não poderia dar mais essa mancada com ele.
— Sim, nós ficamos amigos com muita facilidade, o Jimin é alguém muito cativante. — Respondi após uns segundos em silêncio, pensando em tudo aquilo.
— Eu concordo. — Riu soprado. — Sabe, após o falecimento do meu marido há três anos atrás, o Jimin se fechou tanto... — Desviou o olhar que tinha se tornado triste. — Ele não conseguiu superar a morte de seu herói e melhor amigo, e eu acho que não fui o suficiente para ele encontrar amparo.
— Eu sinto muito. — Sussurrei me sentindo desconfortável, eu sequer deveria estar sabendo de sua vida.
— É, eu também. — Deixou um longo suspiro escapar. — Mas é tão bom ver meu Jiminie voltando da aula empolgado de novo. — A mulher expressou, sorrindo levemente. — Agora ele chega sempre todo sorridente me dizendo o quanto foi legal passar um tempo estudando com você, isso me deixa cheia de esperanças.
— Não tem que me agradecer por nada, o Jimin também me ajuda bastante nos estudos. — Falei sincero, ela parecia mais leve depois de desabafar comigo, ele confiava em mim...
— Oh sim, imagino, Jiminie era muito aplicado nos estudos... — O olhar dela abaixou e depois voltou a me fitar. — Acho que você em apenas catorze dias conseguiu o que eu tentei fazer por quase três anos, fico contente de vê-los juntos.
— A senhora lida com a sexualidade dele com tanto respeito, não são muitos pais em nossa região que agem assim, infelizmente. — Expressei, sorrindo levemente. Soyeon era um amor de pessoa.
— Ah Jungkook, eu só quero que o meu Jiminie seja feliz, não importando se ele estará com uma garota, um garoto ou até mesmo numa relação poliamor, desde que exista confiança e que essa pessoa retribua o que o Jimin sente e o trate bem, eu vou estar satisfeita. — Ela proferiu de forma calma, suas palavras haviam me deixado muito feliz. — Mas e os seus pais, Jungkook?
— Eles sempre me aceitaram bem, são ótimos pais. — Falei sorrindo, me lembrando do casal de pessoas que sempre me deu todo o carinho... Isso me lembrava que eu precisava ligar para o meu pai.
— Ei, não estão falando de mim, né? — A voz de Jimin entrou no ambiente, nos fazendo rir baixo.
— Claro que não, meu amor. — Soyeon disse piscando de forma cúmplice para mim.
— Hm, sei. — Resmungou desconfiado, vindo para o meu lado. — Vamos Jungkook, quero te mostrar a casa!
— Claro. — Falei sentindo a mão dele segurar a minha e me puxar para os outros cômodos.
Sua mãe tinha um belo sorriso no rosto enquanto nos via se afastar, aquilo fez eu me sentir ainda mais culpado, eu não deveria estar ali, não deveria conhecer Jimin, eu só queria poder voltar no tempo e mudar tudo.
[.>x<.]
Após me mostrar toda a sua casa, Jimin me levou para conhecer o seu quarto, lugar esse que passamos as últimas duas horas jogando um jogo qualquer em seu videogame, o Park estava mais relaxado e espontâneo, afinal aquele era o seu lugar, seu refúgio, e me senti bem em dividir aquele cantinho com ele por algumas horas.
Eu tentava não pensar no futuro naquele momento, queria apenas aproveitar aquele tempinho com um novo amigo e tentar esquecer de todos os problemas que eu tinha e ainda iria ter pela frente, viver o agora era mais fácil do que ficar sempre pensando no amanhã.
— Você é péssimo nisso, Jungkook! — O rosado comentou rindo da minha inexistente habilidade para jogos eletrônicos.
— São muitos controles, ok? E esse negócio não vai na direção certa quando eu aperto os botões, deve estar quebrado. — Inventei desculpas o fazendo rir ainda mais.
— Não culpe o coitado do console pela sua péssima desenvoltura. — Ele brincou me fazendo fingir estar emburrado, cruzando os braços e fechando a cara.
— Para de rir de mim! — Exclamei fazendo um bico nos lábios, mania que eu tinha desde criança toda vez que ficava chateado com algo.
— Ei, desfaça esse biquinho. — O mais velho falou soltando o seu controle e se aproximando de mim. — Ou quer que eu mesmo o desfaça?
— Como é? — Questionei confuso, só nesse instante notando que ele estava bem próximo, olhando para o meu rosto fixamente, mais especificamente para os meus lábios.
— Você é tão bonito. — Ele expressou levando sua mão em direção ao meu rosto, tocando minha pele devagar, afundando seus dedos ali em minha bochecha, seu polegar desceu até minha boca, e senti aquele digito contornar meus lábios bem lentamente.
Jimin parecia hipnotizado, concentrado em meu rosto e eu em suas expressões.
— Jimin… — Murmurei me sentindo tão tentado a ir em sua direção, mas fui interrompido pelo barulho da porta do quarto se abrindo repentinamente.
— Jiminie, o jantar já vai ser servi-… — A voz da mãe do Park invadiu o cômodo, porém a mesma cortou sua fala ao ver em qual situação nos encontrávamos. — Oh meu Deus! Me desculpem, eu não queria atrapalhar nada.
— Tudo bem, mãe. — Jimin falou, mas a decepção em sua voz era clara, eu estava pra lá de envergonhado em ter sido pego no fraga de certa forma, mesmo que não estivéssemos fazendo nada. — O que queria?
— O seu irmão veio para jantar com a gente, vim chamar vocês. — Soyeon proferiu, parecendo estar sem graça, mas não tanto quanto eu estava. — Sei que devia ter batido antes, desculpem.
— Sem problemas, nós já estamos indo. — Jimin disse e a mulher assentiu logo se retirando.
— Não sabia que tinha um irmão. — Comentei tentando disfarçar toda a minha vergonha com outro assunto, felizmente ele não comentou sobre o acontecimento anterior também.
— Ele é mais velho, não mora mais com a gente faz anos, já é casado. — Jimin explicou se levantando das almofadas em que estávamos, fiz o mesmo.
— Ah sim. — Murmurei o seguindo para fora do quarto.
— Você vai gostar de conhecê-lo. — O rosado expressou sorrindo, novamente segurando minha mão e me guiando até o andar de baixo.
Chegando na sala da casa, logo notei um homem alto sentado no sofá, o mesmo não aparentava ter mais de vinte e cinco anos, ele era de uma beleza invejável, também tinha uma pinta de empresário, usava roupas de grifes caras possivelmente, o cabelo estava num topete bem arrumado e o homem também tinha uma expressão amigável.
O rapaz sorriu ao ver Jimin entrar na sala e rapidamente se levantou para lhe abraçar, o homem foi apresentado a mim pelo nome de Park Seokjin e logo foi questionando se eu era o “famoso Jungkook” que tanto era citado naquela casa, o que me fez ver Jimin corando forte pela primeira vez e adquirindo uma pose mais defensiva, acabei rindo soprado ao notar tal coisa, afinal era adorável o ver assim.
Seokjin era bastante simpático e foi bem educado comigo, porém quando disse que estava feliz por Jimin estar “tomando jeito” na vida novamente, pareceu incomodar bastante o rosado, tentei amenizar o clima que tinha se instalado perguntando sobre o casamento de Jin, questionando se a pessoa com quem ele era casado tinha vindo ao jantar.
— Sim, ele está lá fora estacionando o carro, meu marido ama a comida da nossa omma, sempre vem para jantar, né Jimin? — Jin indagou fazendo o rosado assentir.
Me surpreendi por saber que Seokjin era casado com um homem, mas era muito bom saber a forma acolhedora e livre de preconceitos com que Soyeon tratava seus filhos, e também ver que Jimin ao menos encontrava conforto e respeito em sua casa, algo que com certeza não era da mesma forma no ambiente escolar para ele.
E não digo somente pelo fato dele ter repetido de ano duas vezes, mas por toda a má reputação que havia adquirido, com certeza ele não seria visto da mesma forma se suas conquistas amorosas se limitassem somente ao gênero feminino, chamariam ele de "pegador" e fim, mas como ele se relacionava com as pessoas independente de seu gênero, era tido como alguém libertino por muitos LGBTfóbicos de nosso colégio.
— Jin, eu odeio manobrar esse seu carro, ele tem coisas automáticas demais para o meu gosto. — Uma voz bem conhecida por mim chegou ao local, nos viramos para ver o recém chegado que passava pela porta de entrada indo retirar os seus sapatos.
— Professor Jung? — Indaguei perplexo vendo Hoseok ali.
— Jungkook? — O Jung também pareceu surpreso ao me ver.
— Oh, o Hobi dá aula pra você também? — Jin questionou sorrindo e minha mente deu um nó.
— Eu não tinha comentado que o Hoseok hyung é meu cunhado? — Jimin perguntou possivelmente percebendo minha expressão surpresa.
Eu estava descobrindo coisas demais em um dia, era muito para um Jungkook só assimilar.
[.>x<.]
Durante o jantar ambos explicaram que se conheciam desde o ensino médio e namoravam desde então, estavam casados a cerca de cinco anos — tiveram que se casar em outro país, mas não deixa de ser válido — e ao meu ver eram um casal feliz, entretanto o senhor Jung me pediu para não contar a ninguém sobre aquilo, já que ele preferia manter o segredo de seu casamento na escola, afinal sabia o quanto grande parte da população do nosso país ainda é preconceituosa e ele preferia evitar situações desconfortáveis.
O resto da refeição correu bem, se não fosse pelo dois homens mais velhos que aparentemente estavam bem dispostos a fazer Jimin e eu ficarmos envergonhados, as piadinhas sobre o que nós dois “poderíamos ter” ou no quanto o Park mais novo gostava de falar sobre mim foram os temas mais conversados, Jimin parecia querer se esconder debaixo da mesa e eu queria ir com ele.
A senhora Soyeon achava graça das brincadeiras, mas foi a primeira a pedir para parar quando o nosso constrangimento engraçado estava começando a se tornar um desconforto compartilhado, agradeci a ela mentalmente por ter os feito parar.
No fim da janta eu me ofereci para lavar a louça juntamente com o senhor Jung, — que já havia me pedido para chamá-lo apenas de hyung — aquilo era sem dúvidas algo muito estranho, nunca que eu imaginaria que estaria lavando louça com o professor que eu achava que me odiava, o mesmo que tentei enfeitiçar com um bilhete mágico que nunca devia ter sido escrito.
Só de pensar que se tudo tivesse dado certo, quem estaria gostando de mim seria o Hoseok e não o Jimin, chegava a me causar uma tremedeira de nervoso e aflição, pois eu iria acabar com o casamento dele e alguns meses depois o mesmo nem se recordaria do que aconteceu, do porquê perdeu seu marido, e isso com certeza seria um peso muito maior do que o que eu já estava carregando.
Talvez alguns males realmente venham para o nosso bem ou até mesmo para nos fazer aprender com eles.
— Está estudando com o Namjoon? — Hoseok me questionou após bons minutos num silêncio, enquanto ele lavava as louças e eu as secava.
— Sim, ele, Jimin e eu estudamos depois das aulas agora. — Expliquei e vi o mesmo parou de enxaguar o copo que segurava nas mão e me encarou.
— Estão namorando? — Indagou me surpreendendo.
— Nós somos amigos. — Respondi abaixando o olhar, encarando o pano de prato em minha mão como se fosse a coisa mais interessante do mundo no momento.
— Jungkook, eu amo o meu cunhado, o conheço há oito anos, e o Jimin é como um irmão mais novo para mim. — Falou num tom manso, me deixando muito desentendido. — As vezes na juventude a gente costuma acreditar que nossa primeira paixão vai ser pra vida inteira ou idealiza um príncipe encantado, coisas assim, e meu cunhado já teve algumas decepções, então seja o que esteja acontecendo entre vocês, deixe as coisas claras para ele. Você é meu aluno há três anos, sei de seus princípios, não quero o ver magoado, e nem o Jimin, seja cuidadoso.
— Eu sei me cuidar, professor. — Falei um tanto sem graça, sem saber o que responder.
Eu entendia sua preocupação com o fato de Jimin ter tido algumas atitudes questionáveis em antigos relacionamentos, mas não cabia a mim ou a ninguém o julgar antes mesmo de ter os devidos detalhes de cada acontecimento, e eu também sabia que Jimin não estava apenas tentando brincar comigo, eu que o tinha colocado numa grande bagunça.
— Acredito nisso, só que quando eu tinha a sua idade, agia por impulso e era guiado pelo coração muitas vezes, o que me fazia ficar cego para as coisas que estavam bem debaixo do meu nariz. — Hoseok falou levando sua mão até o meu ombro. — Eu não quero ser chato, apenas estou te dando um conselho, seja sincero com o que você quer com o Jimin, para ele saber que não é apenas uma brincadeira para você.
— Obrigado, seguirei seu conselho. — Proferi e ele sorriu. — Mas me diga uma coisa. — Mudei o assunto rapidamente. — Como o Jimin conseguiu o convencer a me dar provas extras?
— Ah, eu estava devendo a ele alguns favores. — Disse rindo soprado e eu fiz uma expressão de dúvida sobre tudo aquilo. — Bem, o pai do Jimin o ensinou tudo o que sabia sobre mecânica, e como o meu carro vive quebrando eu sempre o peço para dar uma olhada para mim, porém o Jimin nunca aceita que eu o pague o conserto, apenas diz que eu fico o devendo.
— Seu carro vive quebrando porque é uma lata velha que já devia estar num ferro velho há anos. — Fomos interrompidos pela voz de Seokjin, que entrou na cozinha com um sorriso ladino nos lábios.
— Não fale assim do meu carro, ele tem muita história, você sabe que antes de mim ele foi do meu pai, e bem antes disso foi do meu avô. — Hoseok contou num tom de voz nostálgico, Jin apenas revirou os olhos.
— Por esse motivo mesmo já deveria ter aposentado aquele carro, sabe que eu acho perigoso usar aquele troço ainda, amor. — Seokjin disse andando até Hoseok e o abraçando por trás, deixando o seu queixo se apoiar no ombro do Jung, aquilo era um claro sinal de que eu deveria sair dali.
— Bem gente, acho que já está tarde, tenho que ir pra casa. — Falei coçando a cabeça, disfarçando meu desconforto. — Vou me despedir do Jimin.
— Ele foi tomar banho, deve estar no quarto dele já. — Jin contou e eu assenti, logo agradecendo e me retirando da cozinha onde eu tinha ficado de vela.
Saí daquele lugar rapidamente e andei em passos rápidos até o quarto de Jimin, eu apenas queria pegar minha mochila e voltar para a minha casa, porque para ser sincero, eu estava quase em pânico ali, mais duas pessoas conhecidas saberiam do que Jimin e eu estávamos tendo e com certeza ficariam confusos ao ver o Park me esquecer do dia para a noite.
Só precisava me enfiar debaixo de um chuveiro e pensar nas maneiras de me livrar de tudo isso, talvez após o fim do ano escolar, eu decidisse me mudar para outro estado e começar uma faculdade lá, ir para bem longe e ficar livre de questionamentos de terceiros tinha virado o meu objetivo.
— Jimin? — Chamei enquanto entrava no quarto. — Eu já estou indo pra casa.
— Mas já, Jungkook? — Questionou o Park enquanto saia do banheiro de seu quarto, com uma toalha na cabeça, secando os cabelos úmidos, vestido apenas numa cueca boxer.
Que sensação de déjà vu.
— Sim, já é umas oito da noite, minha mãe não gosta que eu chegue tarde assim. — Expliquei procurando o local que eu tinha deixado minha mochila, porém quando a avistei e tentei a segurar, o Park foi mais rápido, pegando a bolsa e “escondendo” atrás do seu corpo.
— Mas amanhã é sábado, dorme aqui hoje, Kookie. — Pediu de uma forma manhosa que não era o seu comum, o que me fez rir soprado.
— Não posso, hyung. — Respondi o vendo se aproximar mais um pouco, colocando a toalha que segurava sobre um de seus ombros.
— Vai, Jungkook! Eu peço para minha mãe ligar e conversar com a sua. — Veio andando e dizendo até chegar em minha frente, foi quase impossível não abaixar o olhar e admirar o seu corpo, principalmente aquela tatuagem que tanto me chamava a atenção.
— Não sei se ela vai deixar. — Falei mais olhando para o seu tronco do que para o seu rosto, notando um pequeno brilho metálico que havia na ponta de seus mamilos, eram piercings?
E por que eu estava olhando para aquilo? Sou um descarado, minha nossa!
— Se você olhasse para o meu rosto seria mais fácil de conversar. — Jimin expressou segurando o meu queixo e elevando o meu rosto, senti automaticamente minhas bochechas esquentarem, fui pego na flagra, mesmo que nem disfarçando eu estava.
— D-Desculpa. — Eu disse me afastando repentinamente dele, que sorria ladino.
— Você me acha bonito, Jungkook? — Indagou com uma calma na voz que me deixava inerte e também morrendo de vergonha.
— Sim. — Murmurei com o olhar em meus pés, não tinha porque mentir mesmo, eu já estava na chuva e o que me restava fazer era deixar ela me molhar.
— Quer tocar? — Perguntou num tom mais baixinho, seu olhar parecia ainda mais felino.
— Jimin… — Murmurei seu nome querendo o pedir para parar de falar daquele jeito, meu rosto parecia que ia explodir de tão quente que estava.
— Coloquei esses piercings semana passada, ainda está um tanto dolorido, sabe? — O seu rosto se aproximou do meu, porém seu destino não foi o meu rosto, e sim o meu ouvido, onde ele sussurrou descaradamente num tom de voz rouco: — Notei que estava olhando para eles.
— E-eu não… — Tentei me defender mas nem conseguia achar palavras para isso, o arrepio que sua voz sussurrada me causou tinha me deixado ainda mais perdido e desejoso.
— Fale com sua mãe. — Disse indo para outro assunto, como se nada tivesse acontecido, o vi ir tirando o meu celular da minha mochila e logo jogando a bolsa em qualquer canto.
— Ok. — Respondi já afirmando que eu queria ficar para dormir.
Mandei algumas mensagens para a minha mãe que disse que estava tudo bem eu dormir na casa de um amigo, fiquei contente e ao mesmo tempo desapontado, eu queria dormir ali mas ao mesmo tempo estava torcendo para que ela não deixasse, sentia um certo receio de permanecer ali, porém eu também permanecia com vontade de aceitar, minha mente parecia querer entrar em colapso.
— Ela disse que tudo bem. — Comuniquei ao rosado, que estava sentado sobre a cama, ainda de somente de boxer, esperando as resposta de minha mãe.
Será que ele não podia colocar logo algumas roupas?
— Ótimo, vou falar a minha mãe que você vai ficar. — Disse se levantando. — Quer tomar um banho?
— Claro. — Assenti me sentindo novamente constrangido.
— Pode usar o meu banheiro, tenho sabonetes sem uso dentro do armário pequeno. — Falou e eu apenas aceitei entendendo, Jimin sorriu e novamente andou até mim, ficando cara a cara comigo e seus braços vieram para cima dos meus ombros. — Vai ser ótimo ter você aqui a noite toda.
— E-eu… Vou adorar ficar. — Falei sorrindo fraco, sem saber muito bem o que falar, Jimin me deixava parecendo um palerma.
— Que bom! Eu vou lá falar com ela. — Proferiu se afastando, mas não antes de me puxar para mais perto de novo, colocando seus lábios em minha orelha, meu arrepio foi bem mais forte que o anterior ao sentir a respiração quente que ele soltava contra minha pele enquanto sussurrava: — Bom banho, Kookie! Qualquer coisa é só me chamar.
E na mesma rapidez com que ele falou tais palavras, se retirou do quarto, Jimin estava claramente brincando com a minha sanidade, e eu me via seduzido por ele sem que o mesmo precisava fazer muita coisa, mas meu dever era manter na minha mente que o Park na verdade não sentia interesse nenhum por mim e se esqueceria de tudo no final.
Suspirei frustrado com tudo aquilo enquanto ia tirando as minhas peças de roupa e deixando sobre a cama, um banho naquela altura do campeonato era tudo o que eu mais precisava para tentar relaxar um pouco.
[.>x<.]
Talvez eu tenha tomado um banho até que longo demais, a água estava tão quentinha e aquele sabonete tinha um cheiro tão gostoso que eu acabei me esquecendo do tempo, meus pensamentos voaram longe enquanto a água escorria sobre minha pele.
Tentei não pensar naqueles meus problemas já tão conhecidos, em como seria quando esse feitiço acabasse e os questionamentos que todo mundo faria, não quis pensar também na prova extra que eu teria que fazer e em como aqueles estudos com Jimin e agora também Namjoon não estavam me ajudando tanto assim, afinal eu odeio exatas e nem que eles fossem os melhores professores do mundo iriam me fazer gostar.
Mas tentar não pensar nisso fazia todos os meus pensamentos irem exatamente para isso, claro que também lembrei dos meus problemas pessoais, eu tinha fugido das aulas de magia com minha mãe naquelas duas semanas, a mesma não estava nada feliz com isso, mas ela respeitava meu espaço e não me forçava a estudar quando eu dizia não estar com vontade.
Eu ficava incrivelmente feliz por ter uma família compreensiva, e por esse motivo mesmo que o meu medo de os decepcionar era enorme, coisa essa que eu já estava fazendo há tempos, eu tentava culpar qualquer coisa e inventar desculpas, mas comecei a ver que o verdadeiro culpado era eu, pois não me empenhava para aprender realmente, sabia que eu era um grande desinteressado naquilo tudo, tentava mudar e me esforçar, mas não era como se a vontade fosse aparecer do dia para noite.
Sair debaixo daquele chuveiro pareceu ser a tarefa mais difícil do meu dia, porém eu tive que fazer, pois não estava em minha casa e não deveria ficar me aproveitando tanto assim, porém foi só quando a água já tinha sido desligada e o box sido aberto que eu notei que não havia toalhas no banheiro.
Não tinha nem toalhas de rosto ou alguma peça de roupa, sequer tapetes no chão, alguma cortina no basculante ou ao menos aqueles jogos de banheiro cafonas feitos de crochê que tem na casa das avós. Nem um simples papel higiênico tinha ali! O que eu iria fazer?
Comecei a andar de um lado para o outro pensando no que eu poderia fazer, a minha roupa tinha ficado sobre a cama porque tenho mania de sempre deixar a roupa suja no quarto antes de entrar no banheiro para tomar banho, minha varinha tinha ficado na mochila, então eu também não poderia simplesmente fazer toalhas brotarem ali.
Já havia chamado por Jimin algumas vezes, mas não veio respostas, significava que possivelmente ele estava no andar de baixo e não me escutaria nem que eu ficasse gritando naquele banheiro, o que eu com certeza não iria fazer, era melhor sair logo daquele jeito mesmo, pegar alguma roupa ou toalha e me cobrir.
Abri uma pequena brecha na porta do banheiro vendo que realmente não havia ninguém no quarto, em passos rápidos eu andei até a cama, fazendo um rastro de água pelo chão, mas depois eu secaria. Minhas roupas não estavam mais ali, no lugar tinham uma camiseta, um short e uma boxer, possivelmente pertencentes ao Jimin.
Agradeci mentalmente por ele ou sua mãe terem colocado aquelas roupas ali, peguei primeiro a camiseta e a analisei, era larga e de algodão, do tipo que eu também usava e claro que não podia deixar de notar o cheiro de Jimin por toda a peça, e só talvez eu deveria ter vestido logo aquilo e não parado para examinar a peça de roupa, se não tivesse feito, talvez não teria acabado naquela situação constrangedora que veio logo em seguida:
— Você me chamou, Kook? — A voz de Jimin chegou de supetão aos meus ouvidos, me fazendo dar um pulinho de susto e perder a coragem de olhar para trás e lhe encarar abrindo a porta.
Naquele instante eu só conseguia pensar em duas coisas:
A primeira era que eu ainda estava sem roupas e a segunda era que eu estava convencido de que o senhor universo me odiava muito.
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