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História Atirei O Pau No Tae - Único: Entre bolas de pelo e friozinhos na barriga


Escrita por: baeptae

Notas do Autor


— FELIZ ANIVERSÁRIO, HILLZITA DO MEU CORAÇÃO!!!!! Espero que você goste dessa fanficzita feita com muito amor, gatinhos, taekook e fluff <3
— Obrigada nicole, aka rainha da minha vida, por ter lido em primeira mão e me ajudado quando minha criatividade falhou miseravelmente. Te amo tanto que não cabe nem dentro de mim <3;
— Obrigada @jimiel pela capa lindíssima (e desculpa pela demora em usá-la <3);
— Espero que gostem e desejem a Hill um feliz aniversário nesta data lindíssima que é só dela.

Capítulo 1 - Único: Entre bolas de pelo e friozinhos na barriga


Jeon Jeongguk tinha um problema gigantesco em mãos — ou melhor, problemas.

Olhando de soslaio para as pequenas bolinhas de pelo que havia encontrado há alguns quarteirões de distância de seu prédio, o calouro se perguntava como ia conseguir manter mais seis bocas em sua casa quando sequer tinha dinheiro o suficiente para pagar o kimchi nosso de cada dia. Some-se a isso o fato de que seu prédio adotava uma política de tolerância zero a animais — e isso incluía as bolinhas de pelo adoráveis dentro daquela caixa de papelão — e você poderia ter uma breve noção da enrascada sem precedentes em que o Jeon havia se metido.

Mas também, pudera, o que é que o universo esperava que ele fizesse quando, ao voltar da faculdade em um dia chuvoso, encontrasse seis filhotinhos de gato precisando desesperadamente de sua ajuda? Que ele simplesmente fosse embora como se nada tivesse acontecido e deletasse aquelas patinhas adoráveis e gorduchas de sua mente?

Óbvio que não! Impossível!

Se bem que, sendo sincero, por um breve momento Jeongguk bem que tentou resistir àqueles olhos pidões e focinhos cor de rosa. Ele bem que tentou ignorar os miados sofridos que saíam de dentro daquela caixinha encharcada. Ele bem que tentou seguir com sua vida e não pensar em como aqueles animaizinhos deveriam estar com frio, fome e sono. Jeon Jeongguk tentou. Contudo, sendo o coração mole que sempre fora e tendo esse pequeno abismo por felinos, ele acabou, entre uma tentativa e outra, cedendo de uma vez e levando a caixa de papelão consigo.

Agora, ensopado e com seis gatinhos travessos correndo por seu apartamento, ele se perguntava se teria feito a escolha certa. (Essa pergunta, no entanto, foi prontamente respondida quando Paçoca — sim, ele já havia dado nome a alguns deles — agarrou sua perna com as garrinhas afiadas e soltou um miado fraco).

— Aish, o que é que eu vou fazer com vocês, pestinhas? — ele se perguntou em voz alta, colocando uma de suas mãos na cintura. — Se o Taehyung descobrir…

E foi aí que o cérebro do Jeon deu tela azul. Parou de funcionar. Pifou de vez.

Tudo isso por causa de um simples nomezinho que havia jogado os seus planos para a puta que pariu.

Droga! Como é que conseguira esquecer de um ponto tão fundamental no meio daquela empreitada aparentemente à prova de falhas como Kim Taehyung? Logo Kim Taehyung, o seu colega de quarto que conseguia ser tão irritante quanto era irresistível? O mesmo Kim Taehyung que ralhava toda vez que ele esquecia a toalha molhada em cima da cama, corria por dentro do apartamento ou mesmo passava a madrugada inteira vendo séries?

Ugh, Kim Taehyung (e sim, você podia imaginar o Jeon revirando seus olhos dolorosamente toda vez que esse nome em particular aparecia na sua mente).

Do jeito que o garoto mais velho sentia um prazer indescritível ao ver o moreno tomando no cu das piores maneiras possíveis — e não do jeito que ele preferia estar tomando no cu, diga-se de passagem —, Jeongguk tinha quase 100% de certeza de que o maldito sairia gritando para a República de Estudantes inteira escutar que ele havia trazido seis gatinhos clandestinos para dentro do dormitório.

Tudo isso para vê-lo sendo expulso e conseguir um novo colega de quarto, ele tinha certeza.

— Ok, calma, eu só preciso pensar um pouco — disse de maneira audível, tentando organizar seus pensamentos.

No momento, Paçoca estava agarrado à sua perna, Jujuba se pendurava na toalha de mesa da cozinha e os outros quatro diabretes Indeterminados (ele precisava de nomes urgentemente) estavam longe de serem encontrados. O assoalho imaculadamente branco estava marcado por uma trilha enlameada de patinhas e a chaleira apitava de maneira estridente, indicando que o leite que o moreno havia colocado para esquentar já havia ficado pronto.

Em linhas gerais, o apartamento estava um caos e ele teria sorte se o seu hyung apenas lhe defenestrasse dali.

— Eu posso dar conta disso. — Continuou tentando se convencer do impossível. — Eu sei que vou conseguir arrumar tudo antes que Taehyung chegue. Absolutamente. Sem sombra de dúvi–

Mas é claro que, como já poderia ser previsto, tudo deu errado simplesmente porque ele se recusava a acreditar que as coisas poderiam acabar assim. Sem aviso prévio, Jeongguk escutou o exato momento em que as chaves do Kim tilintaram do outro lado da porta e, lentamente, abriram-na.

Oh, merda. E pensar que a história do Jeon com os filhotinhos só havia durado uma sinopse e uma breve introdução. Que destino cruel!

— O que é que está acontecendo aqui?

A voz grave do outro rapaz preencheu o local. Prostrado no batente da porta com um olhar que era, no mínimo, confuso, Taehyung quase deixou sua mochila cair no chão ao perceber o caos que o rodeava. Assim como o mais novo, ele estava com os cabelos e as roupas molhadas devido à chuva fora de época, mas, diferentemente de Jeongguk — que parecia, como sua mãe dizia, “um pinto molhado” —, suas roupas colavam de maneira sensual sobre seu corpo.

O Jeon quase salivou, mas lembrou-se que aquele era seu inimigo ideológico e que um pensamento desses sobre um cara que (supostamente) odiava era inadmissível.

— Não é o que parece — em meio ao pânico, aquela foi a primeira coisa que disse.

— Então quer dizer que não tem uma ninhada de gatos correndo desgovernadamente pelo nosso apartamento que, por acaso, não permite a presença deles? — O rapaz de cabelos acobreados arqueou uma sobrancelha inquisitiva, observando seus arredores com uma calma calculada.

Jeongguk engoliu em seco.

— Ok, talvez seja exatamente o que parece.

— São quantos filhotes ao todo? — ele perguntou, molhando seu lábio inferior com a língua.

Aish, o Kim tinha aquele hábito irritante que era incrivelmente atraente e desconcertante. Jeongguk o odiava por causa disso, embora não mais do que se odiasse por ficar todo bobo quando o tal do inimigo ideológico decidia brincar com aquela língua nervosa.

— Seis.

— E você acha mesmo que conseguiremos morar aqui com seis filhotes sem sermos descobertos? — O Jeon acenou positivamente com a cabeça. Taehyung suspirou. — Você tem noção de que está com eles há menos de um dia e já conseguiu virar nossa casa completamente de pernas para o ar, certo?

— Na verdade, estou com eles há vinte e sete minutos — corrigiu, orgulhoso.

O Kim limitou-se a abrir um sorrisinho sarcástico, fechando a porta por detrás de si com o pé e correndo as mãos pelos seus cabelos úmidos.

— Jeongguk, você percebe que acabou de piorar sua situação, certo?

O garoto soltou um muxoxo.

— Hyung, por favorzinho, não conte nada a ninguém — implorou, e estava bem perto de ficar à beira das lágrimas. — Sei que você não tem nenhum motivo para me ajudar, mas não diga a síndica que eu contrabandeei gatinhos para o nosso apartamento. Por favor, por favor, por fav–

— Por que eu contaria isso a síndica? — ele lhe cortou, fazendo uma careta e se sentando no chão logo em seguida.

— Por que você me odeia e às vezes acorda parecendo que tá com vontade de infernizar o diabo?

Jeongguk não sabia o que esperar de Taehyung em seguida, mas certamente não foi uma gargalhada. O mais velho, parecendo achar toda a situação bastante divertida, jogou sua cabeça para trás e riu até ficar sem ar, atraindo a atenção de todos os gatinhos daquele apartamento para si — e sim, o Jeon estava incluído nessa conta.

— Eu não faria algo tão desalmado com essas coisinhas fofinhas, Jeongguk — o acobreado assegurou, pegando um dos filhotinhos em suas mãos e posicionando-o de frente para o seu rosto.

Não que Jeongguk fosse admitir nem nada, mas aquela era possivelmente a cena mais adorável que já tinha presenciado em toda a sua vida.

— Você já deu nomes para eles? — perguntou, despertando-o de seus pensamentos.

— Apenas para dois. Esse — Apontou para o felino cor de areia — é o Paçoca, e essa — Gesticulou em direção à gatinha cinza — é a Jujuba.

— Por que os únicos nomes que você deu tem a ver com comida, Jeon?

O mais novo sentiu-se ligeiramente — para não dizer muito — insultado.

— O que é que você tem contra os nomes Paçoca e Jujuba? — Bateu o pé no chão, parecendo uma criança de cinco anos. — Eles são fofos!

Que nem você — sussurrou, aproximando o gatinho que ainda não havia sido nomeado de seu rosto e fingindo que ia morder seu focinho.

— O quê? — o moreno inquiriu, sentindo suas bochechas arderem. Talvez tivesse levado muita chuva e agora estivesse com febre, fazendo com que delirasse. Isso decerto explicaria o porquê do Kim estar sendo tão compreensível e meigo consigo — coisa que nunca tinha sido, nem mesmo quando Jeongguk se oferecera para lavar, passar e cozinhar para eles por um mês em troca do perdão por ter atrasado o aluguel.

— Eu disse: bom pra você. — Taehyung revirou os olhos, tão frio quanto um bloco de gelo no meio do Ártico. É, devia ter sido só um delírio seu mesmo. Como se Taehyung fosse ser legal consigo, ah, tá. — E então, alguma ideia de como nós vamos chamar os outros?

— Nós?

— Sim, nós. — Ele fez uma careta, mas o moreno podia jurar que viu suas bochechas ficarem rosadas. — Esse aqui, por exemplo, tem cara de Napoleão. É menor que os outros e muito mais invocado.

— Nós não vamos chamar essa criaturinha adorável de Napoleão, hyung.

— Alguma ideia melhor?

Ele deu de ombros.

— Que tal Pipoca? — sugeriu.

— Outro nome de comida? Definitivamente não!

A briga entre os dois novos papais de primeira viagem persistiu por mais algumas horas, com ambos os idiotas querendo nomear os gatinhos como bem entendiam. Por um lado, Jeongguk parecia não perceber que tinha animais em casa, não um armário repleto de guloseimas e condimentos; e por outro, Taehyung parecia determinado a atribuir nomes de figuras históricas a cada filhote que encontrasse, como o bom graduando em História que era.

    No final das contas, decidiram dar o braço a torcer e acatar algumas das escolhas do outro — do contrário, era provável que ainda estivessem ali, sentados naquela sala de estar suja enquanto suas roupas encharcadas molhavam o chão e os filhotes destruíam tudo em seu caminho. Com muita relutância, falta de criatividade e concessão, ficou acertado que as pestinhas se chamariam Paçoca, Jujuba, Bola de Neve, Napoleão, Channel e Whisky  — e, mesmo que seus amigos dissessem que aqueles nomes eram simplesmente horrendos, os colegas de quarto não poderiam estar mais orgulhosos.

O primo de Taehyung, Kim Namjoon, constantemente dizia que apenas esperava que os idiotas fossem ter um pouco mais de senso ao nomearem seus filhos — do contrário, conseguia prever com clareza algumas crianças bastante revoltadas com seus pais por nomes como “Nietzsche” ou “Honey” terem sido colocados em suas certidões de nascimento.

Antes que percebessem, Jeongguk e Taehyung — os tais colegas de quarto que odiavam com todas as suas forças a presença do outro — começaram a passar mais e mais tempo juntos: se revezavam para trocar a caixinha de areia, se acobertavam quando um precisava voltar para casa urgentemente a fim de dar um jeito nos felinos e, até mesmo, faziam compras juntos.

Eram como um casal recém-casado, ainda que relutassem a admitir.

Foi apenas quando, em uma sexta-feira nublada, decidiram ir ao supermercado, que finalmente pareceram se dar conta dessa perigosa situação. Ou pelo menos Jeongguk se deu conta.

Seu caminho para esse descobrimento ó-tão-inimaginável (mas que na verdade já estava bem óbvio para todo mundo), começou com o seguinte diálogo:

Skittles?

Seokjin, o caixa, contemplou a quantidade absurda de doces que o garoto despejou no balcão. Ela era consideravelmente maior que o estoque que o Jeon já mantinha debaixo da cama e nos armários da cozinha, e, se Taehyung descobrisse que estava torrando aquele dinheiro suado em doces, ia ser um baita de um problema.

No mínimo duas semanas sem Overwatch e isso se o mais velho estivesse se sentindo piedoso.

— Então? — O Jeon gesticulou para a montanha incrivelmente grande de guloseimas que separava os dois. — Não vai registrar?

— Quando eu pedi pra você dar uma passadinha aqui no trabalho e me trazer um lanche, eu não quis dizer que você deveria dar uma passadinha pela ala de doces e alimentar ainda mais essa sua obsessão doentia — ele ralhou.

Seokjin e Jeongguk eram amigos de infância e, embora o rapaz houvesse se disposto a oferecer desconto nas compras dos estudantes devido à toda aquela situação peluda em que o mais novo tinha lhes metido, doces não foi muito bem como imaginou que o dinheiro seria gasto.

— O Taehyung sabe que você está torrando suas economias em guloseimas ao invés de ração? — continuou.

O moreno apenas lhe encarou com olhos mortos por alguns segundos antes de responder:

— Eu sou o cliente aqui, Seokjin. E você é o empregado, então acho melhor registrar toda essa minha belíssima fonte de problemas de saúde antes que eu vá reclamar para o seu gerente.

— Realmente me toca o coração ter um amigo tão bom quanto você, Ggukie. — Ele revirou os olhos enquanto começava a passar item por item.

— Anda logo, Jin. O Taehyung só foi fumar um pouco — já imaginou se ele chega aqui e me vê a um passo de adquirir diabetes? — sussurrou a última parte, como se toda aquela situação fosse um grande segredo.

— E desde quando você se importa se o Kim briga com você ou não? Vocês sempre estiveram em pé de guerra. — Jin deu de ombros, colocando as compras em uma sacola de plástico e lendo o valor no visor. — A ração de gato mais a diabetes tipo 2 deu sessenta e sete dólares e vinte e três centavos.

— Eu não me importo se ele brigar comigo ou não. Nem um pouquinho. — Jeongguk agitou seus braços, dando uma intensidade dramática onde certamente não existia nenhuma. — Não é como se eu achasse ele lindo ou atraente, ou mesmo como se meu coração se apertasse toda vez que vejo ele brincando com o Napoleão. Então pode ficar descansado qu– Espera um momento, você disse sessenta e sete dólares? — O caixa fez que sim com a cabeça. — Eu não vou pagar tudo isso! Caralho, e aquele desconto para amigos e família, hein, Jin?

— Olha, posso fazer por sessenta e seis.

Um dólar de desconto?! Eu sou o seu melhor amigo, sem falar que nos conhecemos a tanto tempo que eu poderia ser família! Eu sou amigo e família!

— Ggukie, você está atrasando a fila. — Jin apontou para as pessoas atrás dele que já começavam a reclamar pela demora. O mais novo limitou-se a cerrar os olhos e, visto que suas lamúrias pareciam não surtir nenhum efeito, abriu sua carteira e retirou as notas furiosamente.

Agarrando suas inúmeras sacolas de Skittles e comidas para gato e bradando seu dedo do meio para seu suposto melhor amigo, fez o que gostava de chamar de saída triunfal — com direito a cabelos ao vento e tudo mais.

Parado na frente da loja, Taehyung se encontrava com um cigarro parcialmente acabado entre seus dedos, dando uma longa tragada. Ao ver que o mais novo se aproximava, abriu um sorriso de lado.

Sentindo seu coração bater descompassado, o Jeon tentou se lembrar o caminho inteiro de volta para casa que na verdade o odiava com todas as suas forças e o motivo para tal agitação era a fúria que estava sentindo por Jin — embora, lá no fundo, tivesse plena certeza de que isso não era nem um pouco verdade.

Foi numa noite relativamente fria no centro de Seul — o termômetro na parede de seu apartamento havia acabado de marcar incômodos seis graus — que tudo mudou para Taehyung, Jeongguk e seus seis filhotinhos.

— Hyung, é só eu ou você também está sentindo muito frio? — o Jeon perguntou, esfregando seus braços a fim de obter nem que fosse um pouquinho mais de calor.

O típico arrastar de pés pelo assoalho indicou que o mais velho se aproximava. Jeongguk não sabia exatamente quando havia começado a reconhecer a presença de Taehyung por coisas tão simples — um arrastar de pés, uma colônia um tanto amadeirada no ar, um resmungar —, mas, em algum ponto de sua convivência, havia acontecido. Era apenas algo que havia internalizado dentro de si e dificilmente conseguiria se livrar.

Verdade seja dita, ele não sabia se queria se livrar.

— Mais ou menos — o castanho disse, mas sua voz estava levemente anasalada, fazendo com que soasse mais como “bais ou benos”.

— Será que você pode interfonar para a síndica?

— Por que eu deveria? — Arqueou uma sobrancelha.

— Porque não queremos virar picolé, Taehyung.

Jeongguk esperava mais um de seus típicos confrontos. Eles eram mais raros ultimamente, com todos aqueles diabretes peludos correndo pela casa e o medo de serem descobertos pairando constantemente pelo ar, mas ainda estavam ali. (Ele desconfiava que, de certa forma, sempre estariam).

O que recebeu, no entanto, foi completamente diferente do esperado.

— Mas eu não gosto de falar ao telefoneeeee — Taehyung choramingou, prolongando a última palavra como se fosse uma criança e batendo os pés no chão.

Jeongguk quase podia observar seus lábios formando um beicinho.

Adorável.

— Taehyung, você tem vinte e dois anos. Ligue para a síndica.

Mas eu não quero!

Ele cruzou os braços, e qualquer um que avistasse aquela cena no momento diria com visível certeza de que ele era o hyung entre os dois, não Taehyung.

— Taehyung, eu estou mandando você falar com a síndica agora. Eu não ligo que você tem alguma espécie de fobia ao falar ao telefone; eu estou esquentando o leite para os filhotes e tentando me manter aquecido pela força do ódio que estou sentindo no momento, então acho bom não me provocar.

Ele não olhou na cara do castanho, mas imaginou que tivesse ficado no mínimo assustado, pois, no segundo seguinte, estava discando furiosamente o número da síndica no interfone e soltando baixos resmungos irritados. Jeongguk escutou o modo como Taehyung falava ao telefone como se estivesse, na realidade, escutando a música clássica — cada sílaba proferida pelo rapaz de voz mais grave soava como música para seus ouvidos, desconcertando-o por completo e quase fazendo com que derramasse o leite quente em cima de si duas vezes.

Com as seis bolas de pelo finalmente tomando algo quente para conservarem a temperatura e enrolados em cobertores de lã que Jeongguk guardava no fundo de seu armário, o rapaz se deu a chance de descansar e cuidar um pouquinho de si.

Taehyung, sentado em cima do tapete felpudo da sala ao lado dos filhotes e com uma manta esfarrapada que quase não lhe esquentava, lhe lançou um olhar confuso quando ele tomou o lugar ao seu lado e passou um edredom sobre seus ombros.

— O que a síndica disse? — Jeongguk perguntou, como se os olhares desconfiados de Taehyung não fizessem seu estômago embrulhar nem nada.

— Ela vai vir mais tarde consertar o termostato. Aparentemente houve um problema no de alguns prédios e ela está indo de andar em andar com um técnico para ajeitar.

— Precisamos esconder os nossos piticos antes que ela chegue — lembrou.

— Óbvio, Jeongguk. — Ele revirou os olhos, mas ao mesmo tempo se aconchegou mais no mais novo, fazendo com que um calafrio percorresse sua espinha. (O que Jeongguk jurou, em nome de todos os santos que conhecia, que foi apenas por causa do frio, lógico). — Você acha que ela vai demorar?

— Espero que não, eu quase não consigo sentir meus dedos dos pés — admitiu. Seus dentes batiam, as pontas dos seus dedos estavam dormentes e seus lábios estavam rachando.

Jeongguk já havia escutado falar em dias frios em Seul, mas aquilo parecia mais uma adaptação de Frozen bem na sala de estar deles.

Pelo menos seus filhotes estavam alimentados, sonolentos e bem aquecidos — diferentemente dele e de Taehyung

— Sabe — começou o Kim, limpando sua garganta e rompendo o fino silêncio que havia se estabelecido —, eu li num livro uma vez que as pessoas se abraçam quando está muito frio — falou entre fungadas, e foi só arriscar um olhar de esguelha para o lado que Jeongguk percebeu que o garoto estava completamente rosado. Fofo. — Não que eu queira abraçar você ou algo do tipo. Pfff. Não mesmo. É só pra trocar calor e não morrermos congelados. Se você quiser.

Jeongguk precisou morder a bochecha a fim de conter o sorrisinho que ameaçava escapar de seus lábios.

— Não é como se eu quisesse abraçar você também — disse teimoso, embora aquilo não tivesse lhe impedido de passar os braços ao redor da cintura fina do mais velho e aconchegar a cabeça na curva de seu pescoço.

Tão quentinho...

— Você acha? — Taehyung perguntou divertido.

Ele franziu as sobrancelhas.

— Acho o quê?

— Que eu sou quentinho?

— Eu não — rebateu envergonhado. Desde quando Taehyung havia virado telepata? — Por que eu acharia isso?

— Porque você acabou de dizer, Gguk. — Gargalhou, cutucando a ponta de seu nariz com os dedos frios. Ele sentiu suas bochechas arderem, mas nem mesmo a parte consciente de seu cérebro ficou feliz por aquele tantinho mais de calor. — Sério que você nem percebeu?

O mais novo bufou.

— Talvez eu tenha congelado meu cérebro.

— Veja pelo lado bom: pelo menos não congelou a boca, já que não cansa de tagarelar.

Honestamente, Jeongguk não sabia o que havia se apoderado de si naquele momento, pois, antes que pudesse sequer pensar no que estava dizendo — o que só contribuía para a sua teoria de que havia, de fato, congelado o seu cérebro —, abriu a boca e murmurou de forma um tanto manhosa:

— Ih, acho que congelei sim. Quase não consigo sentí-la, hyung.

— E é, Jeon? — perguntou, sua voz calma, contida. Era quase como se ele estivesse se controlando, e aquilo fez um sorriso brincar na boca do garoto. — E o que você quer que eu faça?

— Não sei. Você não tem nenhuma ideia de como possa aquecê-la não?

Taehyung sorriu ladino, inclinando-se na direção de Jeongguk enquanto suas respirações se mesclavam, inebriando-o por completo.

— Talvez eu tenha uma.

No começo, tudo que Jeongguk sentira fora um leve roçar de lábios. Era novo, assustador e lhe deixou ainda mais trêmulo do que já estava (se é que aquilo sequer era fisicamente possível). No segundo seguinte, contudo, a boca de Taehyung se moveu contra a sua e ele pôde sentir todo o ar ser arrebatado de seus pulmões. Por um momento, tudo que conseguia sentir era Taehyung: seus lábios quentes e macios, seus dedos longos e sua respiração. Instintivamente, o Jeon passou seus braços ao redor de seu pescoço, trazendo-o mais para perto.

Se soubesse que tudo que precisava fazer para derreter o coração do Kim era de alguns gatinhos e um termostato quebrado, talvez tivesse tomado algumas providências semanas atrás.

Tão rápido e avassalador quanto o beijo dos dois tinha começado, no entanto, chegou ao seu fim. Com Bola de Neve sentindo-se deixado de lado pelos dois donos e reclamando como nunca, foi preciso que Kim e Jeon se separassem, sorrindo como os idiotas que decerto eram.

— Jeongguk? — chamou Taehyung após alguns segundos, sua respiração finalmente se acalmando e causando leves arrepios na pele do mais novo.

— Hm?

— Posso te beijar de novo?

Jeongguk lhe encarou com as bochechas coradas, sem conseguir discernir se estava tremendo por causa do frio lá fora ou do calor que Taehyung havia feito correr por todo o seu corpo. Ele abriu a boca, mas nenhum som sequer conseguiu ser formado; estava estático, não iria mentir.

Foi apenas depois de sentir aqueles olhos amendoados repousarem sobre si com um misto de ânsia e nervosismo que finalmente se desfez em um sorriso arteiro, tirando coragem de algum lugar que até agora ele desconhecia possuir.

— Por quê? Você não conseguiu se aquecer só com aquele?

O mais velho sorriu.

— Na verdade, diria que me aqueci até demais.

— Então porque quer outro? — perguntou, sentindo suas respirações se entrelaçaram novamente.

— Talvez porque eu goste de você, Jeon. — Sorriu. — Gosto do modo como sua bagunça é completamente contrária a minha organização. Gosto do modo como você é tímido por natureza, mas faz questão de ser petulante quando quer me irritar. Gosto do modo como você sorri, como resmunga, como chora, como cuida dos tais "piticos" e até mesmo como xinga. Gosto de você e quero te beijar de novo. Posso?

— Ugh, você é um chato, Kim Taehyung — resmungou, mas mesmo assim lhe puxou pela gola da camisa e deixou que tomasse seus lábios mais uma vez, derretendo-se por completo.

No final das contas, o casal recém-formado entre aspas (pois, segundo seus amigos, aquilo já estava na cara fazia tempo) e seus seis filhotes acabaram sendo descobertos pela Senhora Choi, que pode ou não ter aparecido para salvar o dia e consertar o termostato, pegando os garotos no meio de um beijo de tirar o fôlego e de uma ninhada resmungante de gatinhos. E, embora tivesse sido cientificamente provado que a carinha rechonchuda de Napoleão poderia derreter até mesmo o mais duro dos corações, ainda assim acabaram sendo expulsos.

Verdade seja dita, Taehyung tentou convencer a síndica de que os gatos em seu apartamento eram, na realidade, alienígenas vindos de um planeta desconhecido e que, caso não fossem bem recebidos na Terra por seus diplomatas, destruiriam o planeta e toda a raça humana. Jeongguk concordou veemente com sua teoria. A Senhora Choi achou que estavam tirando uma com sua cara e colou a foto 3x4 ampliada dos dois no saguão da República de Estudantes com os dizeres “BANIDOS ATÉ SEGUNDA ORDEM”.

Pelo menos eles tentaram.

Mas existem alguns males que vem para o bem e, com um apartamento novo e mais espaçoso — e que oficialmente aceitava a presença de animais, é preciso acrescentar —, agora tanto Taehyung quanto Jeongguk podiam realmente chamar aquele lugar de lar. Não era sempre calmo, organizado ou livre de discussões, mas era deles.

E com seis gatinhos que podiam ser usados facilmente como armas para aliviar a raiva de um dos garotos quando tinham uma discussão um tanto quanto acalorada, não havia nada mais que pudessem querer.


Notas Finais


#HillrielÉRealQueNemVkook


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